quarta-feira, 26 de julho de 2023

26/07/1953: Primeira tentativa de poder em Cuba pelas forças revolucionárias

 




“Todos os cubanos que sonharam e sonharão, com a liberdade são, sem exceção, poetas” .  Arciniegas

 

       Com a expansão da elite europeia em busca de privilégios, terras, riquezas e fortunas em outros continentes a partir do século XV, além da política econômica utilizada através do Sistema Colonial, que criaram um conjunto de medidas  através da intervenção do Estado impondo seus princípios em que as colônias teriam que obedecer. Com a chegada no Novo Mundo, algumas características principais vão ser enfatizadas através dos metais preciosos e a sua prática, assim como, o início da exploração colonial. Neste primeiro momento, com algumas mudanças diante da nova realidade foi através do tráfico e comércio, com o ultramar. Portanto, uma nova ordem estava sendo imposto pela Europa Ocidental.


       Diante do contexto frisado e levando em consideração todo o processo de um novo sistema vigente, o continente latino-americano vai fazer parte deste cenário que inclusive vai atingir o mar do caribe, em 28 de outubro de 1492, com a chegada Cristóvão Colombo à querida e principal Ilha de Cuba, no arquipélago, incluindo a Ilha da Juventude e outras, com aproximadamente 200 mil habitantes. Em virtude de sua localização privilegiada e com chuvas tropicais, esta Ilha, é considerada um paraíso para os turistas e uma das mais visitadas do mundo, atualmente. Cuba teve a ocupação e colonização pelos espanhóis só a partir de 1510, sendo o centro estratégico de organização que possibilitou novas conquistas, como o México e outras regiões entre a Flórida e o norte da América do Sul. As ocupações realizadas tinham como base as encomienda, mecanismo utilizado para manutenção das relações entre os espanhóis e os povos originários. Segundo algumas estimativas em relação aos povos originários cubanos antes de 1492 variam em 100 mil a 500 mil.  

             

       Desde a chegada de Cristóvão Colombo, Cuba torna-se uma colônia espanhola, mesmo assim, durante todos esses anos, os nativos se organizam politicamente e criam movimentos pela sua independência, como aconteceram em vários momentos no século XIX, sem sucessos em suas investidas. Logo depois, Cuba passa para dominação norte-americana. Com a Paz de Paris, Cuba passa a pertencer a Flórida, tratado assinado no dia de 10 de fevereiro de 1763 entre França, Portugal, Espanha e Grã-Bretanha.  


       Por ter o privilégio estratégico e geopolítico, desde o início da colonização, Havana, passar a agregar o intercambio comercial, principalmente, por ter o seu porto como base das trocas, aglutinando as embarcações que faziam os transportes das mercadorias das colônias para as metrópoles, tendo o açúcar, café e o tabaco como os principais produtos. Com isso, faz com que a Ilha de Cuba se transforme em feitoria, proporcionando mudanças profundas no ambiente, como a utilização da mão de obra, concentração de terras e sua importância para o mercado. Como esta torna-se a Ilha do açúcar e dos escravos proporciona um mercado satisfatório para a Espanha, que era uma das principais potências neste período na América, assim como o resto da Europa. Vale destacar, que um breve período de dez meses, em 1762, os ingleses se apropriaram de Havana e vizinhança, inclusive introduzindo 10.000 escravos negros vendidos aos colonos sob seu poder por preços baixos. Importante frisar que os colonos cubanos recebem o recado das elites, que teriam que produzir o máximo possível da produção de açúcar para o país inglês que seriam recompensados, mesmo não sendo estimados e provocando saques em terras que não concordassem com sua forma de dominar o território. Com o decreto da liberação do livre comércio no continente, levando com que os mercadores percebem que tem apenas que competir com seus concorrentes inglês, em outras áreas percebem que não é o ideal, como viam Jamaica e Barbados.


       Com a saída dos ingleses dos territórios do mar do caribe, os proprietários de engenhos cubanos mesmo sendo muitos fortes, ainda tinham dúvidas, em virtude de algumas situações que aconteciam como o momento que passou Saint-Domingue francês (Haiti), onde os negros expulsam seus proprietários, levando a criação de um Estado livre a escravidão, governados pelos nativos, ex-brancos e ex-escravos.  

 

       “Antemural das Índias e chave do Novo Mundo” era a denominação dada pelos espanhóis a Cuba e até 1898 foi colônia da Espanha, portanto, três séculos subordinado ao capital metropolitano europeu. Com este contexto, Cuba cresceu bastante, só para ter ideia, entre 1787 e 1841, a sua população passou de 176 mil para quase um milhão, segundo o Instituto de História de Cuba, do ano de 1994. Também enfatiza que neste período, a composição racional  o número de brancos caiu de uma ligeira maioria para 41,5%, havendo então 43,3% de escravos e 15,2% de negros e mulatos livres.


        Logo a dependência nas relações de Cuba com EUA, contribui efetivamente com o último, principalmente, quando se mantem a ligação entre os oceanos Pacífico e Atlântico. Assim, os EUA precisavam manter as áreas do mar do Caribe, através da criação das bases militares e garantiu a proteção para construção do canal do Panamá, no ano de 1914.


       Neste contexto, a resistência cubana continua em defesa de sua independência e um dos momentos considerados importantes neste processo histórico, temos a do início de 1895, sob liderança de José Marti. Este era um poeta, intelectual, pensador, ativista político, professor e jornalista, que utilizava as táticas de paralisações dos trabalhos nas fazendas; além de provocar incêndios nos canaviais. Com toda essa pressão que vinha da produção da cana de açúcar, principal produto explorado nas fazendas para o mercado europeu e espanhol, a potência espanhola se ver obrigada conceder a independência para Cuba, em 25 de novembro de 1897. Em pouco tempo, em 1º de janeiro de 1899, portanto, dois anos, uma junta militar americana assume o governo, tendo um general no comando, mas em 1902, as forças militares americanas são retiradas, porém, com a tutela do EUA, com a emenda Platt, tratava que Cuba não poderia fazer acordo sem autorização dos EUA e intervenção interna dos EUA em Cuba, em caso de necessidade.


       Vale ressaltar que neste momento decisivo pela consolidação de sua independência, o pensador José Marti enfatiza o sentimento de Simón Bolivar, um dos principais líderes pelas independências na América latina, que disse o seguinte: - Os Estados Unidos (...) parecem destinados pela Providência a disseminar a miséria na América em nome da liberdade”. Frase produtiva e real da conjuntura vivenciada. Logo em seguida, os Estados Unidos anunciaram a Doutrina Monroe, em 1823, com a possibilidade de policiar o hemisfério. Então, o poeta José Marti faz suas reflexões, em que no ano de 1891, produz seu ensaio, chamado de “Nossa América”, em se tratando de América latina, advertindo a ameaça dos EUA na América. E diz: Nossa América está correndo outro risco que não vem de dentro, mas surge de diferença em origens, métodos e interesses entre as duas metades do continente (...). O desprezo do nosso terrível vizinho, que nos desconhece, é o maior perigo para nossa América (...). Por sua ignorância, ele pode nos cobiçar (...).


       Na década de 1930, os  descontamentos populares iniciam indo atingir a Universidade, que tinha sido fechada em 1931; greve geral nas fábricas, inclusive um geral, em 1933 sob liderança do ditador general Gerardo Machado. Com essa situação, Fulgêncio Batista como chefe do exército e respeitado do país através de sua base militar, com a aprovação da nova Constituição, em 1940, em Cuba, Batista é eleito Presidente e doze anos depois retorna através de um golpe depondo Carlos Socorrás. Com o poder na mão e membro do Partido Liberal controla a política cubana neste período com interesses para os norte-americanos.


     A partir do início da década de 1940, a guerrilha foi o caminho para os revolucionários e para a oposição da revolução, sendo a principal forma de luta revolucionária para o terceiro mundo, portanto, a partir deste período todos estavam voltados para a guerrilha, além, das táticas sendo divulgadas pelos ideólogos da esquerda radical e críticos da política soviética.


       Durante a década de 1950 foi recheada de lutas guerrilheiras no terceiro mundo, tendo acontecido nos países que foram colônias, sendo a resistência da descolonização não sendo pacífica.  

               

     Com um golpe militar, em março de 1952, um ex-sargento do exército de nome Fulgêncio Batista retorna à presidência da república de Cuba, tendo no seu governo, como característica a corrupção sistêmica, sendo o principal beneficiado por esse jogo de interesses, sendo o poder e dinheiro suas principais prioridades. Como cordeirinho dos EUA, Batista, debela toda fortuna que pudesse alcançar. Neste momento, a base militar de Guatánamo, tinha sido consolidado pelos norte-americanos a partir da intervenção bélica na guerra de independência cubana contra os espanhóis , em 1903. Como a Ilha de Cuba tinha uma produção de açúcar significativa, rum, charutos e esportistas para o mercado americano, sempre recebia a visita dos grandes empresários. Importante destacar que entre os cubanos tinham os descendentes dos escravos africanos que produziam no cultivo da cana-de-açúcar, porém, pagavam altos preços para suprir suas necessidades. O cenário cubano era que a pobreza era generalizada; além de que os clérigos católicos não tinham a preocupação com a questão social; a criminalidade era alta e o aproveitamento escolar era baixo, com exceção da minoria rica.


       Com a situação vigente, a sociedade cubana possui os seus diversos seguimentos que se organizam politicamente, como o Partido Ortodoxo. Diante da conjuntura política, para Fidel Castro, acreditava que um golpe de estado sendo feito por pequeno contingente de revolucionários armados era o suficiente para reverter a situação de Cuba, já que em 1952, como principal liderança do Partido do Povo, saiu candidato e frustrado com a participação dos membros do Partido, desligando logo em seguida.


       Em 26 de julho de 1953, reivindicou, mobilizou e organizou uma ação armada juntamente com os revolucionários, atacando o quartel de Moncada, principal do exército de Santiago de Cuba. Alguns militantes e revolucionários foram assassinados, torturados e outros foram presos, como foi o caso de Fidel Castro, no julgamento que aconteceu, como advogado,  fez seu discurso espetacular, que no final diz: - A História me absorverá. Após pressões de todos os lados, é anistiado por Batista e conseguiu fugir para o exterior em busca de apoio e financiamento para organizar um novo golpe. Como sabemos, a ampliação do plano de ação, neste dia, teve também três ações, como a tomada do quartel de Bayamo, do hospital civil Saturnino Lora e do Palácio da Justiça, que infelizmente, não foi possível se efetivar. 

 

       A militância e o/a cidadão/cidadã consciente politicamente em defesa e solidariedade a Cuba através das associações, entidades, partidos políticos progressistas, movimentos sociais e populares reconhecem esta data, como uma das mais importantes para Ilha e toda a esquerda da América Latina. Mesmo com ações e tentativas frustradas dos combatentes, a partir deste momento, passou a denominar “Movimento Revolucionário 26 de Julho” – MR 26-7 e foi o início da Revolução Cubana. 


       Viva a Rebeldia Cubana!

       

 

Referências

 

CHOMSKY, Aviva. História da revolução cubana. Veneta. 2015.

LEITE, Maria do Carmo Luiz Caldas. Cuba Insurgente: Identidade e Educação. Editora CRV. 2023.       

POMER, Leon. As independências na América Latina. Editora Brasiliense. 4ª Ed. 1983.

SERVICE, Robert. Uma História do Comunismo Mundial Camaradas. DIFEL. 2015.

VALLADARES, Eduardo & BERBEL, Márcia. Revoluções do século XX

quinta-feira, 13 de julho de 2023

O meu primeiro módulo





Por: José Ribamar Lira Oliveira

O convite do companheiro de lutas e sonhos Eládio Carneiro Neto, editor do grupo Modular Notícias, deixou-me motivado e estimulado a escrever sobre as memórias do início do meu trabalho no Sistema de Organização Modular de Ensino –SOME. 

No final da década de 80, do século passado, com a conclusão do Curso em Licenciatura Plena em História, pela UFPA, com várias informações de colegas que já participavam do Projeto, submeti ao processo de seleção para ingressar neste maior projeto de inclusão social da Amazônia. 

Para quem era efetivo ou temporário, passava-se por esse concurso, fazendo testes relacionados a educação, projetos de intervenções na comunidade e entrevistas. Quando ingressei foram doze candidatos para três vagas e fui um dos selecionados para trabalhar, recebendo logo depois formação burocrática, metodológica e didática no Centro de Treinamento de Recursos Humanos “Arthur Viana” – CTRH, em Marituba, com as técnicas Sandra Paris, Rosa Gomes (Coordenadora do SOME), Ana Conceição, Ester Oliveira, Gloria Rocha e Delmo Oliveira. 

No final da formação fui comunicado que meu circuito seria Terra Santa, no primeiro módulo, Afuá, no segundo, Juruti, no terceiro e Almeirim, no quarto. Me surpreendi com o recebimento para onde teria que deslocar, já que não conhecia nenhuma dessas localidades. Neste momento, o entreposto seria Santarém, ainda, com uma ressalva, o meu calendário ficava entre um módulo e outro. 

Recebi minha passagem de avião até Santarém para o dia 13 de maio de 1989, no voo de 5h30. Cheguei na cidade uma hora depois, porém no mesmo horário que sai, já que tem diferença no fuso horário. Passei o dia todo na casa de uma amiga de minha mãe, D. Feliciana, esperando o barco que saia 19 horas, com destino a Oriximiná. Cheguei nesta, 4h30 da manhã, esperei amanhecer para poder tomar informações como chegaria em Terra Santa. 

Interessante, o que marcou era que o porto estava cheio de água, quando desci com minhas sacolas, a primeira foi para água, era que continha o material dos alunos e livros, não conseguindo salvar quase nada. As 16horas passa o barco para o meu primeiro módulo, chegando por volta das 23 horas. Os dois colegas da minha primeira equipe já estavam dormindo, quando bati na porta, se assustaram, então falei que era o novo colega de trabalho deles. 

Na verdade, os colegas era um casal, o psicólogo Kleber e a pedagoga Zuleide. Ela veio abrir a porta, então começamos a conversar sobre a estrutura e funcionamento do SOME nesta localidade, chegando portanto, no dia 14 de maio. Iniciei a trabalhar na segunda-feira, no Curso do Magistério, uma excelente experiência que obtive com a comunidade escolar. 

A comunidade foi bem receptiva. Os dois colegas concluíram seu módulo, chegaram mais dois: Ribamar Cunha, de Educação Física e Milton, de Geografia. Todos eles com vivência de sobra sobre o cotidiano do Modular. Conclui meu módulo em Terra Santa, fui para o município de Afuá, hospitaleira e cheias de pontes de madeiras. A comunidade local e escolar, também, foi bastante receptiva, ficávamos no Hotel de Dona Olga, que nos tratava como filhos. Uma excelente pessoa, como sua família. As equipes eram as mesmas. 

Em Afuá trabalhamos, também, com projetos incluindo a formação de professores do município. Aprendi muito, mesmo. No terceiro módulo, em Juruti, a cidade era bastante calma, diferente de Terra Santa e Afuá. Na primeira semana, sempre utilizando discurso revolucionário, fui convidado para trabalhar com formação dos trabalhadores rurais, com apoio da Igreja Católica e Sindicato dos Trabalhadores Rurais em dois finais de semanas. 

Com alunos do SOME, iniciei orientações com resgate da memória e história da localidade. Nessa atividade, o destaque foi o aspecto cultural. O último módulo foi no município de Almeirim, considerado nesse momento um dos municípios que recebia uma das maiores arrecadações do Estado. Tínhamos nossa casa na Vila, juntamente com o Juiz, o Médico e o Promotor; além de receber um salário mínimo a cada quinze dias. 

Nessa localidade, trabalhamos diversos projetos com a comunidade local, além do resgate da memória e história com os alunos do Ensino Médio Modular, trabalhamos com curso preparatório para os funcionários da Prefeitura que eram temporários, ressaltando que o curso foi financiado pela mesma. Outro projeto foi a formação de professores que atendiam o município. O ano de 1989 foi o último ano do Some na localidade, sendo implantado o Regular no ano de 1990. Gostaria de agradecer esse convite de poder externar o primeiro módulo e ampliar o ano que comecei minha trajetória profissional no SOME.

Via:📰 Modular Notícias