Dia das Mães: brasileiras têm menos filhos e adiam gravidez por profissão
13/05/2012 -
10h36
Amanda Cieglinski
Repórter da Agência Brasil
Brasília – Da década de 60 até o início deste século, houve uma mudança
significativa no perfil das mães brasileiras. A mulher está deixando a
maternidade para mais tarde e optando por ter uma família bem menor do que
tiveram suas mães e avós. Dados do Censo 2010 do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a taxa de fecundidade no Brasil cai a
cada ano: na década de 60 era superior a seis filhos por mulher e em 2010 chegou
a 1,9 filho por mulher.
Vários fatores explicam essa mudança no perfil das mães no Brasil, aponta a
demógrafa e professora da Universidade de Brasília (UnB) Ana Nogales. “Os
principais são o aumento da escolarização das mulheres, a urbanização e a
participação feminina mais forte no mercado de trabalho”, indica a pesquisadora.
A demógrafa acredita que, além dos fatores ligados à evolução do papel da mulher
na sociedade, há uma influência cultural que fez mudar o padrão reprodutivo. “Na
década de 80 e 90, falou-se muito em um padrão de família ideal. A mídia e as
telenovelas brasileiras sempre apresentavam famílias menores e como esse modelo
trazia vantagens para os filhos”, diz.
Atualmente, a taxa de fecundidade brasileira se assemelha à de países
europeus como a Dinamarca, Suíça e Noruega e é inferior à dos Estados Unidos. “A
redução no Brasil foi muito acelerada e sem uma política governamental para
controle da natalidade, como ocorreu no México ou na China. Os países
desenvolvidos não tiveram esse processo tão rápido como vemos aqui, em que a
mudança ocorre de uma geração para outra”, aponta Ana.
O modelo de família com poucos filhos, entretanto, ainda não é padrão em
todas as regiões do país. Enquanto a média nacional em 2010 foi 1,9 filho por
mulher, no Norte ficou em 2,47 – superior à taxa de fecundidade que o país
registrou dez anos antes. O menor índice foi registrado no Sudeste: 1,7 filho
por mulher, inferior à média de países como a Bélgica, o Reino Unido e a
Finlândia. Ainda assim, foi no Norte e no Nordeste que se contatou as maiores
reduções na taxa de fecundidade entre 2000 e 2010 (21,8% e 23,4%,
respectivamente).
O Censo 2010 também destaca uma mudança, ainda que menos acelerada, no
chamado padrão etário da fecundidade. Até o ano 2000, a tendência era um
“rejuvenescimento” no perfil das mães, com maior concentração de gestações entre
as jovens de 15 a 24 anos. Mas, na última década, segundo o IBGE, observou-se
uma reversão desse movimento. Em 2000, os grupos das mulheres mais jovens, de 15
a 19 anos e de 20 a 24 anos, concentravam 18,8% e 29,3% da fecundidade total,
respectivamente. Esses patamares passaram para 17% e 27% em 2010. Ao mesmo
tempo, no grupo de mulheres com mais de 30 anos, a participação na fecundidade
total da população subiu de 15,85% para 18% entre 2000 e 2010.
“Na última década temos visto que a mulher está prorrogando o momento de
iniciar a vida reprodutiva. Além da entrada no mercado de trabalho e da maior
escolarização, nós tivemos mudanças nas relações. As mulheres estão mais
independentes e quando você tem filhos isso traz mais responsabilidades com
relação ao seu lar, a sua família”, explica Ana Nogales.
A Agência Brasil entrevistou mães de diferentes perfis –
desde jovens que pretendem ter apenas um ou dois filhos a mulheres que adiaram
os planos de engravidar para se dedicar à vida profissional. Elas falam sobre os
desafios da maternidade e a experiência de ser mãe.
Daniella
Goulart, professora universitária, 43 anos. Mãe de Gabriel, 1 ano.
Eu nunca tive como projeto de vida ser mãe. Para mim, a maternidade não era
uma questão de realização. Sempre me dediquei muito às realizações
profissionais. Apesar de toda resistência, a maternidade veio na hora certa. Me
sinto madura o suficiente, não tenho aquele sentimento de que posso estar
perdendo alguma coisa, de que poderia estar em outro lugar ou que o filho me
limita. Depois de ter tido meu filho, descobri que tenho vocação para ser mãe e
estou muito realizada. Eu acho que o ponto positivo de ser mãe na minha idade é
que nós saímos na frente em matéria de informação e maturidade. O lado ruim é
que eu fico calculando: quando meu filho estiver com 17 anos eu já vou estar com
60. Estou considerando que terei um filho só. Sei que ele vai pedir um
irmãozinho, que poderá se sentir sozinho, mas essa é a realidade dele.
Poliana
Santos Castro, fisioterapeuta, 42 anos. Mãe de Lucas, 2
anos.
Passei sete anos fazendo tratamentos e diversos exames para conseguir engravidar. Esse período foi marcado por muita angústia e uma expectativa constante. Sempre tive o sonho de ser mãe e, depois de muitos anos tentando, eu finalmente engravidei. Foi uma época muito feliz. A minha primeira alegria foi quando o exame deu positivo. A segunda, quando ouvi o coraçãozinho dele batendo. E a terceira e definitiva alegria foi quando meu pequeno nasceu. Até hoje olho para meu filho e me emociono muito. Ele é uma criança linda, esperta, sapeca. Meu filho convive muito com o irmão por parte de pai e isso me alivia porque ele não fica tão sozinho. Pelo fato da maternidade tardia, não sei se terei outro filho naturalmente, mas agradeço muito por ter um tão abençoado. A maternidade representa uma vida antes e outra completamente diferente depois. Antes, eu era apenas filha de uma mãe maravilhosa e, depois do parto, parece que nasci de novo. A carreira profissional é muito importante, mas para ser uma mulher completa eu precisava ser mãe.
Claudilene
Meireles Torres, 21 anos, grávida do primeiro filho.
Estou grávida do meu primeiro filho e não pretendo ter mais. Tive que parar
de estudar e vou ficar cuidando dele pelo menos até que complete seis meses.
Estou feliz por estar grávida, mas tive que parar minha vida. Pretendo voltar a
trabalhar e estudar assim que for possível. Acho que um filho está de bom
tamanho. Quero me estabilizar financeiramente e, quando ele for maior, me
dedicar à vida profissional. Agora sei que tenho uma responsabilidade muito
maior, tenho alguém que depende de mim. Hoje em dia, o custo de vida é alto e
pretendo dar um bom estudo para meu filho. Eu não tive oportunidades e quero
oferecer isso para ele. Prefiro ter só um filho e poder dar uma educação de
qualidade. Quero ensinar para ele que não é preciso ter irmãos para ser feliz,
se ele quiser brincar, se precisar conversar, eu estarei sempre com ele.
Rosa
Dias dos Santos, 85 anos, dona de casa. Mãe de 11 filhos.
Eu tive 17 filhos, mas seis morreram e criei apenas 11. Sou da Bahia. Eu e
meu marido viemos para Brasília para tentar dar uma educação melhor para os
nossos filhos, que são meu porto seguro. Para mim, meus filhos são meus pés e
minhas mãos, me sinto realizada por ter criado todos tão bem. Quando era jovem
pensava que ser mãe era o maior sofrimento do mundo, mas hoje ser mãe é a razão
da maior felicidade. Eu tive meu primeiro com 20 anos e o mais velho, com 44
anos. Nunca trabalhei fora até porque, quando eu era jovem, o marido tinha
obrigação de sustentar a casa. E como eu tinha muitos filhos era impossível
trabalhar fora. Hoje em dia os pais nem sempre conseguem educar os filhos
direito porque ambos precisam trabalhar e não podem acompanhar o que as crianças
estão fazendo. Nunca me arrependi de ter tido tantos filhos, valeu a pena e se
eu pudesse teria criado alegremente os 17. Os dias mais felizes da minha vida
são quando reunimos a família inteira, é uma festa muito grande.
Ana
Maria dos Santos, trabalhadora doméstica, 23 anos. Mãe de Mel Ketleyn, 8 anos, e
grávida de João Luca.
Sou muito feliz por ser mãe. Vejo muitas pessoas tentando engravidar há anos
e eu tenho essa sorte. Já tenho uma filha e ela é minha companheira, somos muito
amigas e, às vezes, as pessoas pensam que eu nem sou mãe dela. Eu engravidei aos
14 e não foi planejado. Eu era uma criança e só não foi tão ruim porque morava
com os meus pais e eles estavam sempre ao meu lado. Me apoiaram e cuidaram da
minha filha até 2 anos de idade. Eu mesma não tinha preparação nem a mínima
ideia de como cuidar de um bebê. Agora estou grávida do segundo e é um menino,
também não foi planejado. Por mim, só teria um filho, por causa da situação
financeira, ainda mais agora que eu não moro mais com os meus pais e meu marido
me abandonou no quarto mês de gestação. Quem me ajuda muito são as pessoas da
igreja que frequento. Criar um filho sozinha é muito difícil, dois então é mais
complicado ainda. Quero estudar e correr atrás do tempo perdido, mas vou ter que
esperar um pouco mais.
Edição: Juliana Andrade e Lílian Beraldo
Fonte: Dilma.org.br
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