No município de Concórdia do Pará, no Estado do Pará, aconteceu a culminância do trabalho "Reconstruindo a história e a memória da Comunidade Negra de Campo Verde", na localidade de Campo Verde, no dia 05 do corrente. O resgate foi fruto dos alunos matriculados na 1ª série, 2ª e 3ª, através do recurso metodológico da História Oral. Os alunos entrevistaram os moradores mais antigos da comunidade, lideranças locais, professores e outros, sob nossa coordenação dos Professores Valdecir Silva, Ribamar Oliveira e Júlio Neto. Eis o resumo da atividade apresentada para comunidade em geral.
Governo do Estado do
Pará
Secretaria Estadual de
Educação
Secretaria Adjunta de
Ensino
Departamento de Ensino
Médio e Ensino Profissional
Sistema de Organização
Modular de Ensino
Prefeitura Municipal de
Concórdia do Pará
Secretaria Municipal de
Educação
EEEFM “Campo Verde”
Diretora da EMEF “Campo
Verde”
Iris Welen Machado de
Holanda
Vice-Diretora
Maria de Jesus Cardoso
Coordenadora Pedagógica
Alice Maciel da Silva
Diretora da EEEFM “Amabílio
Alves Pereira”
Marly Sanches Cardoso
Coordenação do SOME no
Município
Antônia Cilene Costa de
Lima
Coordenação Geral do
SOME
Joseana Dias Monteiro
Coordenação,
Sistematização e Revisão Textual do Projeto:
José Ribamar Lira de
Oliveira – Historiador (SOME)
Valdecir Silva –
Filosofia (SOME)
Júlio Gomes de Araújo
Neto – Biólogo (SOME)
Alunos - Pesquisadores
Abraão Trindade Barbosa
Alandra Maria da Trindade Barbosa
Alicia Maciel da Silva
Ana Joice Rodrigues da Silva
Brenda de Fátima Pereira Mendonça
Breno Pereira Mendonça
Camila Santiago da Trindade
Cleito Costa Cardoso
Erlete Conceição Silva
Denilson do Carmo Galo
Denilson Silva Guimarães
Diel Santos Mendonça
Elisâma da Silva Lima
Erlete Conceição Silva
Getúlio Cordeiro Lima
Gracilene Batista Cordeiro
Iranilce Lima da Silva
Irael Cordeiro Lima
Izaiane Lima da Silva
Jaqueline Conceição Silva
Jeferson Ferreira Trindade
Joseane Londres de Santana
Joselma Ferreira Pereira
Lia Mota da Silva
Márcio José Rodrigues Pereira Junior
Maria Beatriz Silva Mendonça
Maria Deonata Silva Trindade
Mariane Trindade dos Santos
Maria do Socorro Cardoso da Silva
Naielem Oliveira Amaral
Penéllope Silva da Silva
Rafaela Cardoso Costa
Rafael Cardoso Costa
Raimundo do Socorro Cordeiro
Renata Mata da Silva
Roseane Londres da Silva
Sabrina Sanches Cardoso
Tayssa Lima Cordeiro
Vanessa Cordeiro Lima
Wesley Guimarães da Silva
SUMÁRIO
Apresentação...............................................................................................07
Dedicatória..................................................................................................08
Agradecimentos..........................................................................................
09
Histórico......................................................................................................10
Aspectos
Geográficos..................................................................................11
Educação......................................................................................................14
Atividades Econômicas................................................................................28
Cultura..........................................................................................................30
Ervas Medicinal............................................................................................33
Movimentos Sociais e
Entidades..................................................................34
A importância da mulher
na comunidade.....................................................35
A Estética do
Cabelo.....................................................................................39
Religião.........................................................................................................43
Personagens importantes
da Comunidade....................................................49
Informantes...................................................................................................53
Anexos..........................................................................................................54
Lei do
SOME................................................................................................66
APRESENTAÇÃO
Tendo como suporte metodológico a História Oral, onde levo na
bagagem a troca de experiências nas diversas localidades por onde desenvolvi
minhas atividades pedagógicas, através do Sistema de Organização Modular de
Ensino – SOME, chego pela primeira vez na comunidade negra agrária de Campo
Verde, no município de Concórdia do Pará e lanço a proposta para os profissionais
de trabalho e alunos das três séries, para desenvolver a pesquisa com vários temas
relacionados a esta comunidade e prontamente aceitaram.
Através dessa troca de experiências com a comunidade, vejo
como a melhor forma de conhecer a localidade, é buscando suas origens,
histórias e memórias com os membros mais antigos, que revivem o passado
longínquo, tão perto do presente.
Ressalto que diante do processo ensino-aprendizagem, podemos
perceber que os discentes alargaram seus horizontes, oferecendo oportunidades
de pesquisar, construir, aperfeiçoar, identificar e diferençar alguns conceitos
que são fundamentais no crescimento intelectual.
Quando assumimos esse compromisso, juntamente, como o 1º, 2º
3º ano dos alunos matriculados no IV módulo, do Sistema de Organização Modular
de Ensino – SOME, ano de 2017, sabíamos que teríamos alguns desafios, entre
eles registros que poderiam contribuir com o desenvolvimento dessa constituição
e construção da história e memória dessa localidade.
Vários temas foram divididos nas três séries para que
pudessem fazer o levantamento dos dados, conforme, o tema da equipe que foi
sorteado, com os informantes que poderiam contribuir com esse resgate histórico
e cultural, tendo a história oral, como recurso metodológico utilizado durante
o processo desse levantamento para a pesquisa. Com essa fonte oral, o
informante revive e pontua aspectos que servem como elemento, que será
transcrito e refeitos com parágrafos que o grupo ficou responsável.
José Ribamar
Lira de Oliveira
Historiador
AGRADECIMENTOS
A Secretaria de Estado de Educação (SEDUC) que realizou
convênio com o município de Concórdia do Pará, proporcionando a oportunidade
aos alunos da localidade de Campo Verde e circunvizinhas de estudar o ensino
médio;
A comunidade escolar e diversas pessoas das diversas
localidades em torno de Campo Verde que contribuíram direta ou indiretamente
para que fosse desenvolvido esse trabalho;
Ao educador Valdivino Cunha da Silva pela revisão geral deste
trabalho.
A Professora Fátima Rodrigues com sua contribuição nos
aspectos geográficos.
Somos gratos aos alunos do ensino médio do IV Módulo do ano
de 2017, que dispuseram a pesquisar, colher e contribuir na construção desta
Coletânea de Textos;
Ao Sistema de Organização Modular de Ensino (SOME) em
proporcionar essa oportunidade em contribuir na História de Concórdia do Pará e
do Estado do Pará;
Aos informantes, pois sem eles não teríamos fontes para a
construção e conclusão do Trabalho.
HISTÓRICO
Segundo a equipe responsável pelo levantamento e pesquisa sobre
o histórico da Comunidade Agrária Negra Campo Verde, surgiu por volta da década
de 70. Com base coletada dos dados, a história da localidade se confunde com a
história da Igreja Católica, sendo que, primeiro surgiu o grupo Fé em Deus,
depois Deus é por nós e com muitas reuniões apareceu o Centro Comunitário, com
o Presidente Sancler e depois Zito Polinário, com poucas pessoas, com um total
de 35 famílias. As reuniões eram realizadas na casa do Senhor Otácio e antes
disso, as famílias se reuniam na casa do Senhor Lázaro Modesto dos Santos, pai
do seu Canuto. Com o surgimento do Centro Comunitário, teve a origem da
Comunidade Campo Verde, o nome vem em homenagem ao igarapé, que na época se
chamava Campo Verde.
Nesse período as pessoas que estavam à frente do grupo de
evangelização se chamavam Monitor, a partir daí a comunidade é devoto de São
Thomé, seu santo padroeiro.
Muitos comunitários se dedicaram espontaneamente e sem ônus
nenhum ao trabalho da Comunidade, como o Lazarão,
Manoel Trindade (Bolota), Guilherme Chaves, Ponciano, Socorro entre outros.
Após
muita luta reuniões e organização, o povo conseguiu construir a
Igreja, tendo a frente da Presidência do Centro Comunitário o Senhor Miguel
Modesto da Silva.
Aspectos Geográficos
Segundo a Professora Fátima Rodrigues, a Comunidade
Quilombola Agrária Campo Verde é uma área úmida que cobre uma pequena parte do
município de Concórdia do Pará, na região nordeste paraense.
Para a referida Professora, a conhecida expressão quilombola
é considerada uma das comunidades mais organizada do dito município e, também
possui uma grande biodiversidade.
11
Seu solo é considerado pobre com uma fina camada de
nutrientes, porém, o humo formado pela decomposição de matérias orgânicas, como
folhas, flores, frutos e animais, torna-se rico em nutrientes utilizados para o
desenvolvimento das espécies e da vegetação.
Seu clima é o equatorial, ou seja, marcadas por elevadas
temperaturas e grande índice pluviométrico (Chuvas).
Além disso, Campo Verde fica as margens do rio Bujaru.
Formado por uma floresta tropical fechada; por árvores
grandes, médios e pequenos portes, devido a pouca incidência de luz solar, não
há muita vegetação rasteira. E, sim, uma diversidade de várzeas e igapós, em
épocas cheias (Inverno) muitas famílias ribeirinhas se locomovem através de
canoas (Pequenos barcos construídos ou fabricados de madeira). Dessa maneira,
os animais que vivem em sua floresta são de pequenos e médios portes e em sua
maioria rasteiros.
Seus problemas ambientais são diversos, estes causam o
desequilíbrio de seu ecossistema, tais problemas são as disputas pela terra, os
desmatamentos, as queimadas, os assentamentos humanos, a caça e a pesca ilegal
e, a disputa por compra e venda de entorpecentes. Sendo que, este é o mais
agravante, pois o mesmo induz uma grande partícula de crianças, adolescentes,
jovens e até mesmo alguns adultos, da mesma e de outras comunidades vizinhas a
tal prática.
Portanto, segundo a Professora Fátima Rodrigues, que fez essa
grande contribuição, a comunidade tem como principal objetivo persistir no
fomento de seu desenvolvimento na região.
ATIVIDADES ECONÔMICAS
Segundo os alunos pesquisadores, a base da economia da
Comunidade é a produção da mandioca, da farinha e açaí.
Como primeiro passo, para produzir a farinha, tem-se que ter
a dimensão da área, inclusive, medindo o tamanho da área, depois o processo é
de roçar esse espaço e espera por um mês vindo a derrubada, a seca da derrubada
varia de 15 dias a 2 meses dependendo do local, depois vem a queimada, daí
começa o processo de limpeza para o plantio. Geralmente, divide 100 m² em 4
partes de 25 m² nos 75 m², planta a maniva. Antes de plantar a maniva, espera o
arroz desenvolver seu crescimento em até ½ m de altura, para começar a plantação
de maniva junto com o arroz e alguns tajás de banana.
Para a primeira limpeza, espera a maniva crescer 30cm de
altura, espera mais 4 meses para a segunda limpeza (Capinação), quando chega a
quarta limpeza a maniva deve está com um ano.
Quando a área é mato fino, leva 7 feixes de 70 árvores de
dois metros de altura; em mato grosso, 5 feixes com 70 árvores de 2 metros,
essa maniva é cortada de 25 a 30 cm que gera uma quantidade de 3.220 unidade
por tarefa.
No segundo passo, segundo os alunos pesquisadores, na
produção da farinha, arranca a mandioca, “decota”, limpa a mandioca
desbarbeando, carrega pra água, espera de 4 a 6 dias para amolecer, enquanto
isso, carrega a lenha para o retiro, no 5º dia vai buscar mandioca dura para
misturar com a mandioca mole, porém, para entrar em processo de mistura é
preciso motor e tarísca.
Uma carga de mandioca em média dura de 4 a 6 horas para ser
descascada, dependendo da quantidade de pessoas.
No 6º dia, retira a mandioca mole da água descascando, depois
carrega para masseira onde é triturada, em algumas casas de farinhas que ainda
não tem motor, depois põe a mandioca triturada pra secar na prensa ou tipiti,
com uma duração de uma hora de tempo, daí faz o fogo embaixo do forno para
aquecer, enquanto o forno é aquecido é penerada a massa que estava na prensa,
depois de penerada coloca a massa no forno pré-aquecidoo, esse é o processo de
torração da farinha, com um rodo empurra a massa pra lá e pra cá até ficar bem
torrada durante uma hora, estando torrada, tira a farinha do forno para o
depósito chamado de cama de farinha, espera esfriar para poder embalar.
A equipe de alunos pesquisadores entrevistou a Diretora da
Escola Municipal de Ensino Fundamental e Médio da Comunidade de Campo Verde,
Iris Welen Machado de Holanda, tendo como principal tema a mulher na
comunidade.
Para a informante, a mulher tem um papel crucial na
sociedade, é a mulher que toma conta e gerencia as famílias, portanto, não
sendo uma função exclusiva dos homens, são as mulheres que tem as maiores
responsabilidades tanto em casa, quanto no trabalho, além de contribuir
decisivamente com a sociedade, principalmente, quando estão envolvidas
politicamente nos movimentos sociais e populares.
Segundo Iris Welen, quando se trata de família, a mulher tem
uma contribuição muito grande, tanto na questão do trabalho que gera renda e a
vida doméstica. Para ela, a contribuição na renda familiar é significativa.
Já quando se trata da questão política, segundo Iris, a
política está em todo lugar, principalmente, quando questiona, procura entender
seus direitos e os seus deveres. Não é filiada em partido nenhum, apesar de sua
simpatia, mas acredita que sua política estar voltada para o social.
Na vida profissional, como Diretora da Escola, onde funciona
o Sistema de Organização Modular de Ensino – SOME, desenvolve sua atividade com
carinho e dedicação, procurando incentivar a valorização da mulher, já que tem
duplas jornadas mais do que os homens, ocupando muitos cargos e funções, sem
ser valorizada pela sociedade, independentemente, da quantia de tarefas que ela
tenha, sendo inferiorizadas.
Uma questão importante, também,
abordada pelos alunos pesquisadores foi quanto à participação da mulher na vida
política. Para a informante, a política está em todos os lugares, quando você
questiona, procura entender seus direitos, os seus deveres, estamos fazendo
política, frisou a Diretora. Apesar de não ser filiada em partido nenhum, faz
política social.
A educação atual, para Iris Welen,
esbarra em não investimentos pelos governos nas políticas públicas, não dando
apoio necessário para se ter uma melhoria significativa na educação. Segundo a
Diretora, a educação vai melhorar quando a sociedade se conscientizar que é
através do voto, podemos colocar nos cargos públicos realmente pessoas que
venham trabalhar em prol da mulher e da educação.
A função que desenvolve na Escola, como Diretora, faz com
dedicação, profissionalismo e carinho, procurando incentivar a valorização da
mulher, já que a mulher tem uma dupla jornada mais que os homens, mesmo assim,
a mulher é desvalorizada e a sociedade não olha para ela para o cargo que
ocupa, sendo sempre inferiorizada.
Para equipe responsável pela atividade, ressaltou as
seguintes observações: De acordo com a entrevista da Diretora Iris Welen, a
mulher é um ser muito importante para a sociedade em geral, já que no mercado
de trabalho, na política ou em outro ramo, ela está conseguindo conquistar seus
direitos pouco à pouco, além de estar derrubando barreiras, como o machismo,
que a equipe acredita que ainda não acabou, mas pelos menos diminuiu, como no
mercado de trabalho a diferença salarial entre homens e mulheres, que recebem
menos que eles.
A mulher, atualmente, com a “liberdade” que a sociedade diz
que ela tem, mesmo assim, paga um preço alto, como a violência doméstica,
sexual e outras, onde é demonstrado claramente o racismo, machismo e
preconceito... Para a equipe, que fez produziu essas considerações importantes,
são atos inexplicáveis, mas a mulher tem a esperança que um dia vai acabar em
uma sociedade mais racional.