sexta-feira, 1 de maio de 2020

Juruti: Seus cantos, encantos, tradições e rituais (II)






Outra atividade pedagógica voltada para a cultura local realizada no município de Juruti, em 2001, com os alunos  matriculados no primeiro ano médio do Sistema de Organização Modular de Ensino – SOME: Laura, Aparecida, Luciely, Cristina, Jomara, Jackison, Onielzio e Vânia apresentado em sala de aula foi sobre a gêneses da Tribo Mundurukus.




A Associação Folclórica Tribo Mundurukus teve inicio, segundo o Diretor de Arte da Tribo Munduruku, na época (2001) era bacharel em direito formado pela Universidade Federal do Pará – UFPA, o Senhor Edvander Veiga Batista. Segundo o informante tudo começou: “Era julho de 1993, precisamente no dia 04, quando um grupo de jurutienses liderados por Carmem Barroso, Adecias Batista, Edvander Veiga e Júnior Batista, resolveram lançar uma dança folclórica para concorrer ao VIII Festival Folclórico de Juruti”. E, continua: “Na época o ápice do festival era a disputa das danças folclóricas, idealizadas por diversos grupos, sendo as mais tradicionais a dança “Ou Vai ou Racha” e a dança “O Cangaço”“. “Sendo que para aquele ano a dança O Cangaço, liderado pelo artista Clemente Santos, resolveu não mais apresentar-se, vindo seus componentes a unir-se com os jovens que sonhavam e apresentar uma dança inovadora, de cunho totalmente amazônico”. E assim, “Estava, portanto formada a “união” entre as pessoas que mais tarde proporcionaria ao município a projeção regional e nacional a partir de sua riqueza cultural”.




Para o informante assim será chamada... ”Naquele momento, sabia-se que a nova dança, viria exaltar o Maravilhoso Universo Indígena, faltando apenas sua denominação”. 




E continua: “Reuniram-se então, os lideres dos grupos para escolherem o futuro nome. E como num ritual de ‘Nominação’ que acontece em diversas tribos amazônicas, por ocasião do batismo da criança, escolheram como seria chamada a recém-criada Dança Jurutiense ‘Mundurukus’...’Mundurukus’...Assim será chamada.. – Alguém falou. Não importa mencionar quem havia falado, o que importava é que a nova dança, já tinha um nome e era Mundurukus. Que segundo os jovens lideres viria a homenagear a tribo Munduruku que por volta de 1818, sob a liderança do Padre Jesuíta Manoel de Sanches e Brito, deu origem ao núcleo de povoamento, que futuramente seria o embrião de nossa amada Juruti”.




Muito interessante o que o informante continua abordando: “Louvável foi à escolha da denominação, pois através da diversão, os brincantes da dança Mundurukus, homenageariam os seus ancestrais, que num passado glorioso, deram origem ao município”. Nascia assim, a marca “Tribo Mundurukus de Juruti”.




Sendo os primeiros passos rumo à realidade o informante continua: “Envolvidos na nova onda do momento aproximadamente 60 brincantes, começaram a ensaiar primeiramente na quadra de esportes da Paróquia e  no perímetro compreendido entre as ruas Joaquim Gomes do Amaral e Marechal Rondon, da Rua Lauro Sodré. Já na última semana que antecedia o Festival, os ensaios foram realizados na quadra de esportes “Hudson Rabelo”, local onde acontecia a disputa de danças. Ao som de um pequeno gravador, os jovens ensaiavam atentos as coreografias tribais idealizadas por Clemente Santos, Jim Jones Batista, Edvander Batista e outros. A música escolhida para reger a nova dança foi a toada indígena “Yamãnd” de Ronaldo Barboza, compositor do Boi Caprichoso, de Parintins. A temática escolhida para a dança desenvolver-se foi Mundurukus 93: “A Ira dos Deuses”. Em linhas gerais seria o desenrolar de uma revolta dos deuses contra a Tribo Munduruku, que encontrava-se em guerra interna, ocasionadora assim da fúria dos deuses da mitologia indígena, tais quais, Tupã, Jaci, Guaraci, entre outros”. Sendo que a primeira indumentária utilizada pelos brincantes: ”Assim que terminava o ensaio, os brincantes saiam aos arredores da cidade em busca de bambu (Palmeira naturalmente pintada de verde e amarelo) e sementes de seringa para confeccionar a indumentária que iam se apresentar no Festival. Basicamente as peças eram: saiote de bambu cortado em pequenas partes, adornados com penas coloridas, Uma gargantilha longa no mesmo estilo, acompanhado de cocar”.   




Da imaginação, o sonho de um artista: “Fazer uma pequena quadra municipal, transforma-se em um palco a céu aberto, para apresentar um espetáculo que Juruti jamais viu..Este era o sonho dos lideres do grupo Mundurukus. E foi assim que os coordenadores imaginaram um grande templo tribal, onde aconteceria a ‘Ira dos deuses’”. 




Quem eram aqueles guerreiros: “Na antiga residência de Adecias Batista, os componentes da Tribo, no início da noite de 31 de julho, começaram a transforma-se em guerreiras e guerreiros Mundurukus. Pareciam que iam para guerra, pintados com cores enegrecidas, muitos arcos e flechas, adornados de cocares, colares e belamente vestidos com as indumentárias de bambu. Em poucas horas não se reconhecia mais ninguém, pareciam que haviam perdido a identidade, esquecido sua civilidade e seus costumes. O visual era inesquecível, parecíamos estar diante dos primitivos e temidos Índios Mundurukus”.




Da pajelança sonho realizado: “Das tabas guerreiras runfa tamurá/Aldeias inteiras, um canto no ar”. Assim era o canto, que ecoava na quadra municipal na noite do dia 31 de julho, revelando como num passe de mágica, em passos totalmente tribais a Tribo Munduruku, que freneticamente fez o povo das arquibancadas delirarem, com a nova dança. Na beleza da porta estandarte, que sustentava com orgulho, um humilde pano pintado com as frases, “Munduruku: Em a Ira dos Deuses”, na beleza das fantasias dos destaques especiais, no som que ecoava no bater dos pés do Mundurukus, estava portanto dado início a primeira apresentação da tribo, que completou-se com a chegada do pajé e a aparição de deus-tupã, representando todos os deuses, no alto de uma alegoria representando o “templo dos deuses”. Entre fogos, danças, emoção, o pajé desenvolveu sua pajelança apaziguando a cólera dos deuses, transformando desunião em paz e festança na aldeia Munduruku. No resultado final a Tribo Munduruku que empatou com a dança “Ou Vai Ou Racha”. Isso foi importante, já que: “Mas muito mais importante que isso é que Juruti, havia ganhado uma inovadora, cheia de garra e emoção. Dança esta que mais tarde veio revolucionar a cultura local. Com bastante criatividade, originalidade e a cima de tudo humildade”.

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