Carlos Alberto T. Prestes
Que é a História para que alguém possa moldar
a sua essência dentro de sua própria particularidade e perspectivas? Histórias
dos povos, culturas, costumes, tradições, línguas, descobrimentos, guerras
heróis imortalizados, história de gente, do anônimo que escreveu a história sem
saber que fazia (faz) parte dela.
O tempo relaciona-se intrinsecamente
com a história, deixando mesmo de ser uma abstração indefinida para tornar a si
e ao fato histórico algo palpável e concreto, com períodos cronológicos que
definam mais o objeto de estudo. No entanto, história não é simplesmente uma
disciplina que narra fatos cronológicos ou coisas do passado. Nesse contexto,
ela estaria perdida, relegada ao conteúdo de um livro morto, com suas páginas
amareladas, esquecido em algum lugar de uma biblioteca pública ou particular. Como
a gramática padrão da língua portuguesa, presa ao conteúdo de um livro com
regras fixas, que não consegue acompanhar o avanço da linguagem, tendo mesmo
que passar por revisões de nomenclatura periodicamente, a fim de não ficar tão
desatualizada em relação à língua falada. Ao invés disso, história é a constante
transformação de pensamento, de ideias, de atitudes, de hábitos e costumes
culturais, de conhecimento e perspectivas; nunca está satisfeita consigo mesma,
e quer ir sempre além de onde já chegou.
Enquanto o olhar do profeta procura
desvendar os acontecimentos futuros, a mente do historiador procura estudar os
acontecimentos passados para entender o presente. Isso obriga o historiador,
acima de tudo, a ser um cientista minucioso, detalhista, cuidadoso, atento e
perseverante, para que seu objeto de estudo apresente provas fidedignas de sua
legitimidade enquanto fato histórico.
História é ciência, e a História como
ciência não pode ser confundida com um documento qualquer estagnado no tempo,
sem função, repetitivo e decoreba... Não pode ser entendida apenas como uma
marcadora de datas, de acontecimentos importantes. História é infinitamente
maior que isso. É ler, ver, ouvir, contar o outro que está diante de nossos
olhos, mas que não percebemos por causa de nossa cultura, nossos costumes,
nossa educação que nos impõe um ensino-aprendizagem ainda formal, não
questionador e absolutista, camuflando a verdadeira história, os personagens
reais, o herói comum que o historiador, auxiliado pela arqueologia,
antropologia, paleontologia, literatura, sociologia, registros escritos ou desenhados, objetos e outros, tenta tirar da
inércia do tempo para a dinâmica de um mundo novo, onde o homem é um
questionador por excelência. Assim, a ciência da história é feita das minúcias
que envolvem o homem em seu meio social.
Logo se vê que a ciência da Educação
tem contribuído muito para oficializar a história patriótica de grandes heróis
e das nações, parecendo que os fatos se deram de maneira isolada, sem a
participação popular. Por isso,
A escola,
núcleo resistente da sociedade, espaço feito de tijolos, ideias e
virtualidades, mesmo se é “avançada”, mesmo se desfruta de meios de ensino de
última geração, mantém seus atores e suas atrizes (ditos por alguns agentes) em
constante atuação, produzindo cenas que são a expressão de um conjunto de
normas e regras que a sociedade e essa máquina chamada educação pensaram para
eles (LOPES; GALVÃO, 2001, p. 24).
A disciplina História da Educação não
tem, necessariamente, suas origens ligadas à ciência histórica ou conhecimento,
mas é importante salienta-la, pois nasceu dentro das escolas normais, no final
do século XIX e, posteriormente, nos cursos de pedagogia, nas faculdades de
filosofia, como uma prática pedagógica restrita a essa área da educação, a
partir da necessidade de se conhecer mais especificamente e profundamente, os
mecanismos que regem tão complexo termo chamado “Educação”, elementos fundamentais
para reflexão e entendimento de outras disciplinas e ciências que participam da
construção (ou reconstrução) do pensamento humano.
Assim, percebe-se que a História e a
História da Educação estão interligadas por fontes de pesquisas as mais
diversas possíveis, análises e investigação cuidadosa dessas fontes que, de uma
maneira ou de outra, possam contribuir para a verdade histórica do período que
se está vivendo.
O
homem, não importa a que classe social ele pertença, é um ser histórico, pois a
história nasceu com ele, só existe em função dele, e é a ele a quem ela serve.
Aliás, as ciências só existem porque o homem existe; sem ele, não haveria
conhecimento, nem ciência... Não haveria história pra ser estudada, pesquisada,
analisada nem contada.
A teoria do conhecimento nos convida a
refletir sobre a Verdade, levando-se em consideração que, o sistema
educacional, compreende o Conhecimento ou a Verdade como descoberta. Porém,
conhecimento não é uma palavra mágica, transcendental, que cai do céu de uma
hora para outra.
Por trás dessa “descoberta” há um
processo de construção do conhecimento que requer estudo, leitura, pesquisa,
investigação, e que pode durar anos e até a vida toda. Nenhuma descoberta vem
do acaso. Isso só pode vir a acontecer quando o estudante não recebe
informações sobre a produção do conhecimento científico, a fim de capacitá-lo a
desfazer mitos e tabus, e a construir uma História mais coerente, lógica e
verdadeira.
Deste modo, reconstruímos a história
pouco a pouco, concordando aqui, discordando ali; errando aqui, acertando ali,
para que um dia a humanidade possa olhá-la e reconhecer-se como parte
integrante e fundamental dela.
Ao passo que a história enquanto
ciência estuda o homem, a sociedade em que vive, sua cultura em diferentes
épocas, momentos e lugares, sempre optando por uma investigação rigorosa dos
fatos, análise de objetos encontrados e pesquisados para se chegar a um
conhecimento mais aprofundado do objeto de estudo, a História da Educação está
particularmente atrelada ao campo do ensino. Isso não quer dizer que ela não
seja importante para se compreender o passado das sociedades. É claro que ela é
importante, pois muito do que ela nos diz sobre instituições escolares, suas
metodologias, práticas pedagógicas, objetos de sala de aula, recursos
materiais, entre outras coisas, são provas testemunhais importantíssimas que
moldam uma época, o lugar, os costumes, as pessoas. Na verdade, a história que
conta a história da Educação tem um caráter utilitarista, voltado para a
formação de professores e professoras, e é isso que dificultou sua constituição
como uma área de pesquisa propriamente dita.
Entre os anos 50 e 60, temos
conhecimento dos primeiros campos de pesquisa na área de História da Educação.
Foram criados, por exemplo, o centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais, no
Rio de Janeiro, e os Centros Regionais de Pesquisas Educacionais, nos estados
de Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul. Estes
centros tiveram contribuição importante para o desenvolvimento de pesquisas na
área de educação, assim como impulsionaram a realização de investigações em
História da Educação.
De
que maneira essas fontes poderiam contribuir para um melhor entendimento da
disciplina História da Educação, analisadas pelos olhos da história enquanto
ciência? É que, além das fontes escritas, existem outros tipos de documentos
arrolados em processos históricos, que evidenciam e comprovam determinado fato
histórico. Podemos encontrar isso nos próprios costumes de uma época: o ritual
das fardas, as meias com sapato preto, as carteiras perfiladas, a mesa do
professor, o formato do lápis, da caneta, a estrutura interna e externa da
escola, a arquitetura da construção do prédio escolar, a roupa do professor, o
modo de dar aula, o hasteamento da bandeira, os alunos perfilados para cantarem
o hino nacional antes do início das aulas, etc.
É claro que, hoje, no Brasil, como em
outros países, o campo da pesquisa está muito mais avançado do que a algumas
décadas atrás. Hoje, temos outras fontes de estudo que nos ajudam a compreender
melhor a História da Educação, que são, por exemplo: a Sociologia, a Antropologia,
a Teoria Literária e a Linguística. Estas ciências, também estudam o objeto da
educação através de pesquisas que possibilitam ao historiador ter uma visão
mais próxima e concreta da realidade do objeto de observação, e que está, no
momento, em estudo.
Bem, a história sempre será uma
constante busca do conhecimento e da verdade. Sempre estará atrás de evidências
que possibilitem formar um raciocínio lógico e verdadeiro a respeito de
determinado assunto. Será sempre uma ciência crítica e investigativa à procura
de fragmentos para justificar, assim como contribuir para o reconhecimento da
História da Educação como ciência, além de ser trabalhada como disciplina de
curso.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GLENISSON, Jean. Iniciação
aos estudos históricos: capítulo I: O conteúdo do termo História. 3ª ed.
Rio de Janeiro: DIFEL, 1979.
______. Iniciação aos
estudos históricos: capítulo II: O tempo da História. 3 ed. Rio de Janeiro:
DIFEL, 1979.
LOPES, Eliana Marta Teixeira;
GALVÃO, Ana Maria de Oliveira. História da Educação: Introdução, Rio de
Janeiro, 2001.
CORTELLA, Mário Sérgio. A
escola e o conhecimento: fundamentos epistemológicos e políticos. 3 ed. São
Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire, 2000, Coleção Prospectiva.