segunda-feira, 27 de março de 2023

Assombrações ribeirinhas vividas pelos professores do SOME da equipe: Emos e Abir Arievilo

 

      

           *Flávio Filho

           **Ribamar Oliveira

 

      Os dois professores lotados no Sistema de Organização Modular de Ensino – SOME, política pública desde 2014, após muita luta da categoria dos professores pelo reconhecimento do projeto de educação pública, que surgiu em 1980 para implementação do 2º grau nos rincões do Estado do Pará, até então.  Emos e Abir Arievilo, professores já lotados no sistema modular, receberam as suas cartas de apresentações para a região das ilhas tocantinas, onde desenvolveriam suas práticas pedagógicas, numa determinada ilha, onde a casa dos professores ficava ligada diretamente à escola de funcionamento desta importante política pública, a qual tem ampliado o desenvolvimento intelectual da sociedade paraense. Os alunos e alunas chegavam em rabetas e cascos a remo, já que a região era essencialmente ribeirinha e quando terminavam as aulas, pegavam os transportes e se deslocavam para suas residências, ficando só os professores na casa de moradia, e a escola, que pertencia ao município, não tinha vigia e nem sequer energia, já que as turmas só funcionavam no turno da tarde.


       Os dois professores possuíam características físicas bem diferentes , sendo que o Emos era de cor negra, baixo, mas de cabelo liso, uma espécie de mistura de negro com povos originários; enquanto o professor Abir era de pele clara, olhos azuis, com estatura mediana e que sempre estava de sapatos esportivos, o que lhe davam um corpo atlético.  Esse professor era sempre muito ativo em suas atividades e práticas esportivas. Portanto, ambos eram completamente diferentes fisicamente, repito. Apesar disso, o Emos era muito mais corajoso do que o  Abir.


       Em uma das noites, os dois ficaram em claro, conversando até bem tarde, de repente   terminou o querosene da lamparina da sala da casa dos professores, e eles não possuíam  nenhum outro instrumento de luminosidade que pudesse lhes ajudar naquela escuridão intensa para se situarem dentro do recinto ,  já que os dois estavam com redes atadas atravessadas entre a sala e o corredor da casa. Nesta noite, após longas conversas, e após se situarem dentro da escuridão que se formou com a ausência da parca luz de lamparina e encontrarem suas respectivas redes, dormiram tarde, depois da meia noite. Dormiam profundamente e roncavam muito alto, já que tinham cozinhado e se alimentado, no início da noite, de carne de jacaré guisado com feijão preto, tudo feito no fogo a lenha, portanto, estavam bastante “cheios”, como falam os ribeirinhos da região.


       Em determinado momento da madrugada, um deles, o Emos, se levanta para urinar, já que estava bastante fria a noite, mesmo sonolento, abre a porta da sala para fazer suas necessidade fora da casa, se retira um pouquinho a mais da casa para se sentir mais à vontade,  e quando olhou para o rio,  viu um barco brilhando com pessoas todas brancas olhando para ele, porém, percebeu que a embarcação de dois andares não fazia barulho e que estava caminhando para o trapiche da escola, foi quando deu uma corrida para casa,  não conseguindo concluir  o seu intento. Fecha a porta da casa e chama o amigo que roncava loucamente e começa a brechar pela janela o que estava acontecendo lá fora. O amigo acorda neste momento, querendo saber o que estava acontecendo o amigo manda ele ficar quieto e é obedecido. A embarcação encosta próximo da escola, segundo o olhar de quem estava brechando, mas não encosta no trapiche, jogam uma tábua bem grande da embarcação para a terra e as pessoas começam a travessar indo direto para o terreiro na frente da escola, todos brancos e com roupas brancas, inclusive os sapatos. O professor que estava olhando aquela marmota, não estava entendendo nada, do lado de fora fizeram um grande círculo e começaram a dançar, depois de mais de uma hora.  Nesse momento, o dito professor percebeu que uma luz desceu do céu e que pessoas muitas parecidas e com as mesmas vestimentas das que tinham saido da embarcação desciam de uma nave redonda com uma luz muito forte, e o interessante é que focavam para a janela onde ele estava e pareciam conversar entre eles, mas ficavam fazendo aqueles rituais dançantes sem entrarem ou mexerem na casa. Foi quando o outro professor resolveu levantar pra ver o que estava acontecendo, justamente quando os seres brancos e estranhos foram embora, uns saíram para a embarcação e outros para a nave clareada de luzes coloridas. O segundo professor,  quando tentou olhar, não chegou a ver mais nada,  e ficou sem entender e acreditar no colega, e ainda  ficou gozando da cara do colega, dizendo o seguinte: - Rapa, estás é ficando doido! Abriu a porta da sala normalmente e saiu pra fora para fazer sua necessidade fisiológica e o outro ficou sem nada entender.  


      Emos e Abir voltaram para casa, fecharam a porta da casa, se deitaram e Emos ficou pensativo no que tinha visto durante aquela noite; enquanto, Abir pegava no sono pesado e rapidamente, já Emos custou a dormir, pois ficara incrédulo diante do que tinha visto, ou sonhado, ou imaginado, sabe-se lá o que, e só ao amanhecer é que conseguiu cochilar, mesmo assim, preocupado com o ocorrido. De uma coisa ele tinha certeza, teria presenciado essa estranha visão em plenas águas tocantinas, nas quais reinam o “boto branco”, conhecido por ser femero e emprenhador de moça virgem, e também da “cobra grande”, que vira embarcações, aterrorizando os pescadores e navegantes, e de onde já apareceram esses seres brancos e fazendo um estranho ritual em pleno terreiro da escola? Mistério da nossa vida Moduleira!!!!!

              

*Professor do Sistema de Organização Modular de Ensino - SOME (SEDUC/PA) e **Editor deste Blog. 


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