quinta-feira, 5 de junho de 2025

DIÁRIO DE UM USUÁRIO MADRUGADOR DE BANHEIRO.

 


 De Paulinho Rodrigues um Zero mas à Esquerda

Toda Vida Importa — Reflexão sobre Dor, Mídia e Justiça


O trágico atentado ocorrido em Washington, que vitimou dois funcionários da embaixada israelense, é um episódio que, como toda perda de vidas humanas, deve ser lamentado. A morte é sempre um golpe na dignidade da existência, e o sofrimento que ela gera não tem fronteiras, etnias ou religiões. No entanto, o modo como essa tragédia foi noticiada e o contraste com outros conflitos em andamento nos convida a uma reflexão mais profunda sobre como o mundo — especialmente a mídia burguesa e as potências políticas capitalistas — escolhe quais vidas merecem luto e quais podem ser ignoradas.

Há uma dor seletiva sendo alimentada. Enquanto dois jovens mortos em Washington recebem cobertura global e declarações de chefes de Estado, mais de 54 mil palestinos mortos na Faixa de Gaza seguem sem nome, sem rosto e, muitas vezes, sem destaque. A cobertura desequilibrada revela uma hierarquia invisível de humanidade: alguns mortos chocam o mundo, outros parecem estatísticas descartáveis. Isso não é apenas uma questão de imprensa, mas de ética global construída do capitalismo.

Além disso, o episódio evidencia como o termo "antissemitismo" tem sido frequentemente instrumentalizado por Israel e seus aliados para blindar o Estado de críticas legítimas à sua política colonial e violenta contra os palestinos. Denunciar crimes de guerra, ocupação e apartheid não é antissemitismo — é um dever moral. E ironicamente, os verdadeiros semitas palestinos — árabes, muçulmanos, inclusive cristãos — são assassinados diariamente por bombas e balas financiadas pelos Estados Unidos, num pacto militar que sustenta o poderio israelense e perpetua o genocídio. O sangue palestino é derramado com armamento norte-americano, em cumplicidade direta com a máquina de guerra imperial.

É preciso lembrar também um capítulo histórico pouco divulgado: durante o Holocausto, foram os judeus pobres, trabalhadores e marginalizados que pereceram nos campos de concentração, enquanto setores da elite judaica europeia negociaram com o regime nazista. Foi o chamado Acordo Haavara, firmado entre sionistas e nazistas na década de 1930, que permitiu a transferência de judeus ricos e suas fortunas para a Palestina, onde foram acolhidos e protegidos por árabes muçulmanos locais. Isso desmonta a narrativa que tenta justificar a violência israelense atual com base exclusivamente na dor do Holocausto, ocultando as alianças econômicas e geopolíticas feitas às custas da própria população judia empobrecida.

Nesse cenário, o atirador de Washington a princípio pode ser retratado como um “lobo solitário”, alguém com distúrbios e inquietudes mentais. Mesmo que isso não o isente da responsabilidade, a sua ação não surge no vácuo: ela é fruto de um desespero coletivo e acumulado, da revolta diante da impunidade de um massacre transmitido ao vivo e naturalizado pela comunidade internacional. O gesto de um indivíduo não pode ser isolado da dor de um povo inteiro, que vê crianças sendo estraçalhadas por bombas dia após dia, sem que nenhuma instância global efetiva tome medidas reais para deter essa carnificina.

O que esse episódio escancara é a hipocrisia do discurso democrático ocidental, que se cala frente aos crimes de seus aliados, mas se agita quando suas estruturas de poder simbólico são atingidas. A violência é sempre condenável — mas ignorar as raízes que a alimentam é escolher manter o ciclo de morte.

Por isso, a solução não virá de alianças oportunistas, de acordos entre potências ou de remendos diplomáticos. A única saída viável e duradoura é uma transformação estrutural profunda, que coloque fim à exploração, ao colonialismo, à dominação dos povos e ao uso da religião como instrumento de opressão. Essa saída tem nome: SOCIALISMO.

O socialismo propõe uma sociedade baseada na igualdade real entre os povos, no fim da dominação imperialista e na defesa da soberania dos territórios e culturas. Só com a superação do sistema capitalista-imperialista, que lucra com a guerra e financia massacres como o de Gaza, será possível construir um mundo onde toda vida — de fato — importe.

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