quinta-feira, 26 de julho de 2018

III Marcha de Mulheres Negras em Belém do Pará








A Presidente do Brasil, eleita pelo Partido dos Trabalhadores - PT, Dilma Rousseff, sancionou a Lei que criava o Dia Nacional da Mulher Negra., no dia 25 de julho.






O Dia 25 de julho é considerado o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, que foi comemorado com a III Marcha de Mulheres Negras, em Belém do Pará, ontem, com participação significativa de diversos coletivos e entidades que representam o movimento negro no Estado do Pará.





A concentração iniciou à partir das 16 horas na Av. Tucundunba, em frente a Unidade Propaz Integrado, na Terra Firme, com encerramento na Praça Benedito Monteiro. 





Durante o trajeto da Marcha, as intervenções das principais lideranças dos coletivos e entidades foram abordadas diante da conjuntura do passado e atual da mulher negra na sociedade. 






Nas falas ficou claro que, a realidade é cruel e violenta na rotina das mulheres negras pobres e da classe trabalhadora, que continuam inviabilizadas diante da sociedade racista, machista, excludente e LGBTfóbico, em todos os sentidos, onde a burguesia branca e racista, os patrões e seus governos de marionetes, utilizam políticas de massacre, exploração, exclusão e inferiorização desde a escravidão. 





Segundo alguns panfletos distribuídos pelos coletivos e entidades, dizem que "O mapa da violência revela, mais uma vez, que a Mulher Negra lidera o ranking das vítimas de homicídios: Um aumento de 71%. Em dez anos, aumentou o assassinato de mulheres negras em 15,4%, enquanto que entre as não negras houve uma queda de 8%". E Continua, o panfleto do Movimento Nacional Quilombo Raça e Classe:" Desde o governo Dilma (PT), que ampliou o prazo de estabilidade no emprego para se receber o seguro desemprego e agora Temer aprofunda os ajustes com aprovação de leis que retiram direitos como a Reforma Trabalhista e da Lei das Terceirizações, que nos jogou nos subempregos com condições precárias e na turma de desempregados do país, que só cresce a cada dia. Se a Reforma da Previdência for aprovada, vamos trabalhar mais e morrer sem se aposentar".






Ressalto, também, segundo a Fonte Patrícia Galvão, 59,4% , em 2013, foram registrados de violência doméstica no serviço referem-se a mulheres negras.


A III Marcha de Mulheres Negras marcou o Dia Internacional da Mulher Negra Latina Americana e Caribenha e o Dia Nacional de Tereza de Benguela, importante líder quilombola.


O Blogueiro como descendente de Mulher Negra não poderia de participar, do evento que foi um sucesso, pelo fim da violência contra as mulheres negras, contra o extermínio dos jovens negros, que as mulheres negras tenham acesso à saúde, educação digna e moradia de qualidade.

sexta-feira, 13 de julho de 2018

A Religiosidade em algumas localidades do SOME





Diante da conjuntura atual, a religiosidade no Estado do Pará  é muito forte e teve   influência imposta pelo processo de colonização no Brasil, assim como a importância da imigração, neste contexto, com a formação de pequenos lugarejos e ampliando com a chegada de várias pessoas, percebemos a expansão do cristianismo.


Durante esses 29 anos  nas várias localidades que desenvolvi minhas atividades pedagógicas, na política pública do Sistema de Organização Modular, pude constatar a diversidade da religiosidade na Amazônia.


No cotidiano vivenciado nas localidades, algumas expressões são muitas utilizadas no linguajar dos alunos e comunitários, como “A paz de Cristo”, “Deus te ajude”, “Deus te proteja”, entre outras. Essas saudações tem efeito peculiar em cada localidade que passava e logo demonstrando o credo de cada uma.


Sabemos que a religião é um aspecto cultural, que é formada conforme necessidade de cada sociedade, onde muita delas a imposição dominou tai a religião predominante na Europa que veio como uma das principais instituições, assim como, as forças militares, para invasão da América ficando permanentemente. Mesmo assim, com discriminação as outras religiões, sobrevivem.


Nas aulas sempre encontrava esse tipo de diálogo, que inclusive ficava até instigante e produtiva com os alunos, até porque as manifestações e práticas da religião, principalmente, católica e evangélica se fazem no dia a dia escolar.


A religiosidade nas localidades de funcionamento do SOME, tem características que só percebemos quando vivenciamos a realidade. Quando chegava às localidades, as instituições que nos davam impactos era a praça pública, ao redor uma Igreja e a Escola, enquanto na periferia ficam as residências dos moradores das localidades. Portanto, a Igreja como a escola tem uma função social na comunidade.


Na maioria das localidades que trabalhei, notei a predominância da influência do catolicismo. Isso traduz nos nomes dados para as localidades, como: Em Bujaru, São Raimundo, São Lopes, São Sebastião; em Baião, São Joaquim do Ituquara; Em Tomé Açu, trabalhei em Nova Olinda, predominância da Igreja Evangélica, que cortou o avanço de vários outras localidades de nomes de origem do catolicismo, São Pedro, São Paulo e outros. Na localidade de São Raimundo, em Bujaru, o nome se relaciona com o Santo Padroeiro do fundador, Sr. Raimundo Piniche, que permanece até o momento. Algumas dessas localidades, os rituais são praticados sob a liderança de leigos, às vezes a pessoa do Padre, vai uma vez por ano, e quando vai, nem nas festividades que são realizadas vai.


Apesar da hegemonia do catolicismo nas localidades onde funciona o Some, que passei, ressalto que diversas religiões têm avançado nos interiores, principalmente de origem evangélica, como a Igreja da Assembleia de Deus, Deus é amor e Igreja Quadrangular, nas localidades de Guajará de Beja, em Abaetetuba; Vila Nova Providência, em Bujaru, Vila Inácia, em Concórdia do Pará, Nova Olinda, em Tomé Açu, entre outras. Cada uma com seus rituais e práticas religiosas.


Portanto, a Igreja tem um papel crucial na formação e organização das localidades, mesmo sendo de origem europeia. A Umbanda, religião cultivada em algumas localidades, assim como as de origem indígenas, como orientais, em menor escala, sofrem o preconceito e o discurso do bem e do mal, muito utilizado nos interiores do Estado.


A Religião nas localidades onde trabalhei, pelo Some, enquanto elemento cultural é cheio do sincretismo religioso, fruto de um processo histórico.

domingo, 1 de julho de 2018

MEMÓRIAS E HISTÓRIAS DE VIDA (Some x aposentadoria)





Ocupação da Av. Augusto Montenegro/11/2017


No início dos anos 80, o conjunto de rock Pink Flloyd, explode com a música “The Wall”( O Muro”), que mexe bastante comigo, relacionando com as diversas leituras que fazia naquele momento, que vão influenciar definitivamente nas minhas ações e práticas educativas, já que a música (letra) trata dos sistemas de ensino de ditaduras políticas e a relação entre aluno e professor.




Encontro em Bragança


Com essa visão mais ampla, iniciei no magistério na década do sucesso dessa música, que corresponde metade de minha idade, por isso, tenho direito, como um cidadão e trabalhador à tão esperada aposentadoria.




Ure de Santarém/1990



Histórias não contadas



A partir de hoje, passo a pertencer à família dos sexagenários, um dia especial para mim, é um prazer e privilégio poder narrar momentos vivenciados ao longo desse processo histórico, já que a memória continua como sendo de um informante ativo, possuidor de um perfil de tendência de esquerda, inclusive, incomodando quem deseja a permanência de uma sociedade conservadora e capitalista. Agora, terei mais tempo, para refletir o passado que foi construído. Esse é o ciclo da vida. 





São Sebastião/ Bujaru/2013



Ao longo dessa trajetória profissional sempre procurei conciliar teoria e prática. Na década de 80, estava fazendo parte do movimento estudantil, onde estive em 1985 e 1986, na Secretaria de Esporte, do CA de História, inicio de 90, o debate sobre Rádio e TVS comunitárias são efervescentes, no Conjunto Maguari. Década de 90 e 2000, Conselho Escolar, Centro Comunitário do Conjunto Maguari, Coordenação pedagógica e Coordenação Geral do Some, sem contar apoio e envolvimento total nas decisões da categoria nas Assembleias, juntamente com o Sintepp, entre outras funções que trago nas vivências. Isso me faz muito feliz, que aprendo no dia a dia.



Abaetetuba/2007




Sistema de Organização Modular de Ensino - SOME


No dia 17 de maio que passou, completei 29 anos nesta importância política pública que desenvolvo minhas atividades pedagógicas com filhos dos campesinatos, quilombolas, indígenas e ribeirinha. O Some pra mim, foi uma escola de vida, já que quando entrei, praticamente, não tinha      experiência nenhuma, onde irei fazer algumas considerações.





Mojuí dos Campos/1990





O Sistema Modular me proporcionou conhecer uma parte do Estado. Olhem aí: Terra Santa, Juruti, Almeirim, Afuá, Aveiro, Fordlândia, Quatipuru, Bujaru, Canaã do Carajás, Cachoeira do Piriá, Castanhal, Maracanã, Tomé Açu, Concórdia do Pará, Brejo Grande do Araguaia, Goianésia, Novo Repartimento, Tailândia, Salinópolis, Alenquer, Barcarena, Abaetetuba, Cametá, São Félix do Xingu, São Domingos do Capim, entre outros municípios e localidades.  Teve municípios que trabalhei mais de uma vez. Conhecer e andar em lugares diferentes contribuiu bastante nas motivações, conhecimentos e lazer nas práticas educativas, por onde passei. Esse rodízio facilitado pela estrutura, funcionamento e organização do Módulo me faz pensar que cada município e localidade possuem suas particularidades, como por exemplo: Na região do oeste do Pará, um termo muito utilizado pela população é a “piracaia”, enquanto o nordeste paraense denomina de “avoado”. Termo utilizado para comer peixe assado, com farinha e pimenta, cachaça e tocando violão ou ouvindo músicas. Em Abaetetuba, uma das características do município é a pesca, enquanto em Bujaru, a base da produção econômica é a agricultura. Em Juruti, a base da alimentação é o pirarucu, pela facilidade que os moradores encontram para pescar no Rio Amazonas , enquanto em Goianésia a base é a carne do boi, assim como em Almeirim é a carne de búfalo. Essas reflexões tornam o cotidiano escolar mais enriquecedor pelo acúmulo de informações adquiridos nesses deslocamentos. Enquanto, no ensino regular os professores não têm essas oportunidades e, nós temos essa história de vida.



Mojuí dos Campos/1991



Em 1989, quando entrei nesta modalidade, passei por processo seletivo, onde uma das etapas seria falar sobre um projeto que desenvolveria na comunidade.  Uma das marcas do módulo sempre foi deixar para a comunidade ou escola atividades pedagógicas que contribuíssem para vida das pessoas daquela localidade. Vivenciei práticas educativas que nunca e nem imaginava que existiria, nem a universidade me ensinou. Na prática, adquiri experiências como elaborar um projeto de intervenção para escola ou comunidade. Além da sala de aula, sempre os educadores deixavam uma feira de ciências, feira agrícola, festivais, feiras de cultura, seminários envolvendo a comunidade, jogos estudantis, jogos de xadrez, concursos de pipas, campeonatos internos e entre comunidades, encontros dos alunos, visitas pedagógicas, resgates da história e memória das localidades, curso de formação para professores, curso preparatório para concursos públicos, formação de lideranças e políticas, entre outras atividades. Ao longo desses 38 anos, o Some, ou seja, os educadores se envolveram e influenciaram em vários municípios, em várias decisões, como culturais, econômicas e políticas. Vários professores foram diretores de escolas, secretários de municípios, vereadores, prefeitos e assim por diante.



36 anos do Some: Forquilha - Tomé Açu/2016
                                           


Esse relato do ano de 1989, no Sistema de Organização Modular de Ensino – Some, foi no município de Juruti, geograficamente, faz fronteira com o Estado do Amazonas, perto da famosa cidade de Parintins, cidade turística dos bois Caprichoso e Garantido. O deslocamento de Belém para Juruti se dava de avião até o município de Santarém, depois ficava aguardando a embarcação que passaria, onde o percurso de viagem seria de 14 horas, contra a maré, pelo maior rio da Amazônia, o Amazonas.  



Vila do Galho - Concórdia do Pará/2013



Destaco uma das experiências muito gratificante, ainda em Juruti, fui convidado por algumas entidades representativas do município, entre elas o Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Igreja Católica, para o Curso de Formação para trabalhadores rurais, como instrutor. Assumi o compromisso com as entidades que seria em um final de semana. Interessante, perceber o bom nível de organização política desses trabalhadores rurais semianalfabetos. Além de terem o poder de discernimento e compreensão para transformar a sociedade




Vila São Raimundo - Bujaru



As práticas políticas em que atuei em defesa da categoria, sempre foram participando das principais atividades sindicais diante das decisões dos trabalhadores da educação do Estado. Entre 2007 a 2010, no governo do Pará, fui indicado por decisão da maioria dos educadores do Some, para Coordenação Geral. Com uma equipe eficiente,  assumi o compromisso de organizar e defender a continuação dessa modalidade de ensino, nos rincões do Estado.



Agradecimento




Teria muito mais considerações, porém, vou ficar sempre fazendo essas reflexões sobre o Sistema Modular, já que foi essa política pública que serviu como laboratório pedagógico e de pesquisas para este professor. Agradeço a todos pelas considerações e respeito durante esse período que fiquei no Some. No mês de agosto, estou me afastando da sala de aula, ou seja, me aposentando de uma das atividades mais enriquecedoras do mundo, que é a educação, portanto, O Muro, de Pink Flloyd, mexeu mesmo, já que “Os anos passam... As lembranças são eternas, a saudade permanente e nossos olhos em busca de tempos vividos...”.