quinta-feira, 24 de junho de 2021

História da Música Brasileira: Modinha (Parte 1)

 

 

DESCORTINANDO A HISTÓRIA DA MÚSICA BRASILEIRA – PARTE 1

DO SÉCULO XVIII AO SÉCULO XIX: A MODINHA


Por Carlos Alberto Prestes

 

“Modinha é a mais rica das formas pela qual se manifesta a inspiração poética do nosso povo” (José Veríssimo, 1857-1916)

 

 I - ORIGENS DA MÚSICA BRASILEIRA

Consta que, até por volta do século XVIII as manifestações populares se concentravam ou no meio rural ou no meio urbano. Neste período, não existiam impressões de partituras no Brasil. Por isso, encontrar documentos que tratavam sobre a música popular era muito difícil, muito raro e escasso. As músicas deste período, tinham o tempo de vida da memória humana e morriam abafadas pelas novidades, ou seja, ou duravam o tempo de vida da memória de uma pessoa e morriam com ela, ou eram abafadas por novos gêneros musicais e preferências artísticas. A música popular apresenta um caráter essencialmente urbano, enquanto que a música rural apresenta um caráter essencialmente folclórico.

Os povos nativos indígenas que habitavam as terras que mais tarde se chamariam Brasil, antes mesmo dos portugueses chegarem aqui, já tinham os seus costumes, já tinham a sua musicalidade, já faziam os seus sons, ritmos, canções, ou seja, já havia aqui no Brasil uma cultura musical com características ritualísticas voltadas pra natureza e pros astros (chuva, sol, estrelas, lua, noite, dia) com o sentido de adoração e desejo de boa sorte na caça, na pesca, na colheita, na guerra.

Para Oliveira (2000, p. 22):

Apesar de musicais a sua própria música era ainda muito elementar. Continha desenvolvimento rítmico, porém o som era de acentuada pobreza melódica, repetido em uníssono geralmente coral. [...]. Desprovidos de interesse estético, os seus cantos se difundiam aos movimentos rítmicos do corpo, como o bater de pés no chão. Dançando em círculos ou em filas eram acompanhados por instrumentos de percussão ou mesmo de sopro cujo som mal se distinguia de ruídos. Oneyda Alvarenga, a propósito, diz o seguinte: “A música dos aborígenes brasileiros, como qualquer música primitiva, foi e é essencialmente religiosa, ligada a cerimônias e atividades de que dependia diretamente a vida da tribo: cantos e dança de guerra, de caça, de pesca, de invocação e homenagem às entidades sobrenaturais de que se consideravam dependentes, animais totens e espíritos, e finalmente de celebração dos fatos sociais, morte, doença, etc.”

Sem dúvida alguma, a música se desenvolveu consideravelmente com a chegada do homem branco e sua cultura dominante, mas, também, com os costumes e ritmos trazidos pelos negros. Quando os portugueses chegaram em terras brasileiras, aconteceu uma misturas de culturas, de ritmos, canções, cantos, uma vez que o europeu também tinha a sua cultura musical com ritmos que animavam as suas festas, inclusive com outros tipos de instrumentos. Levando-se em consideração toda essa contextualização, é quase que imperativo indagar:

O que herdamos do índio em nossa formação musical? Os chocalhos usados nas orquestras de dança, a voz anasalada do canto caipira, segundo Mário de Andrade, o ritmo discursivo que converte certas músicas em meros recitativos, a variedade de temas em oposição à predominância amorosa das cantigas de Portugal, alguns bailados como os caboclinhos do carnaval nordestino, ritos de pajelança, a imitação de alguns animais em algumas danças, a festa do Sairé de Alter-do-Chão, em Santarém, no Pará, ou pouco mais do que isso (OLIVEIRA, 2000, p. 24).

Esse encontro de culturas é uma característica marcante da população brasileira, por causa da sua miscigenação provocada pela vinda de imigrantes portugueses, Italianos, alemães, holandeses Japoneses, judeus, açorianos, escravos africanos, etc., e isso caracterizou a música brasileira e seus ritmos diversos, diferenciados, principalmente, pelo espaço geográfico das regiões dentro do território brasileiro, bem como pela cultura desenvolvida e conservada dentro desse espaço territorial, propiciando a preservação de tradições e costumes da música de origem folclórica e o aparecimento de novos estilos musicais. Por isso, enquanto na região Norte (Amazonas, Pará, Acre, Rondônia, Roraima, Amapá, Tocantins), as tradições musicais são marcadas essencialmente pelo ritmo do Carimbó (que é uma manifestação indígena, com influência do batuque africano, e também tem influência das músicas folclóricas lusitanas), o Calypso (música agitada, com influência afro-caribenha) e a Marujada (que surgiu de uma festa em louvor a São Benedito; a dança era feita pelo negros, com os seguintes instrumentos musicais: tambor, cuíca, pandeiro, rebeca, viola, cavaquinho e violino) e músicas com temáticas regionais; já no oeste paulista, norte do Paraná, Minas Gerais e Goiás as tradições musicais já apontam para uma temática sertaneja, que teria sua origem a partir da música caipira (do campo, da zona rural), pois segundo o pesquisador Zuza Homem de Mello, a música caipira é uma parte da música sertaneja. No Centro-Oeste (Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal), a música sertaneja sofre influência de danças como o cururu, a polca de carão, o siriri, o catira (ou cateretê) e o sertanejo; no Nordeste (Maranhão, Piauí, Rio Grande do Norte Ceará, Paraíba, Bahia, Pernambuco, Alagoas, Sergipe), o baião, o xaxado, o frevo, o maracatu, o axé; na região Sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul), os estilos são, praticamente, o bugio, o vanerão, o xote, a valsa e o chamamé (de influência paraguaia), além das músicas folclóricas como balaio, tatu, facão, pau de fita com temas que procuram preservar as tradições culturais das terras de onde imigraram, seja de regiões do próprio Brasil, seja da Europa; na região Sudeste (Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo), temos a predominância do samba, a bossa-nova e o pagode.

Por isso, além da cultura musical que já existia no Brasil, difundida pelos povos indígenas, os portugueses também trouxeram povos escravizados do continente africano, em navios negreiros. Estes dois povos – africanos e indígenas – lutam até hoje pra manter suas tradições vivas, seus ritmos, suas festas, seus ritos, seus costumes. E manter essas culturas tradicionais não foi nem está sendo uma tarefa fácil, uma vez que o seu território estava sendo invadido e dominado por povos europeus, principalmente, os portugueses.

No entanto, o paraense Alfredo Oliveira, mais uma vez, nos remete às origens nativas que influenciaram profundamente e especificamente o território paraense. Ele diz:

A fonte indígena serviu de motivação a conhecidas obras musicais, no cancioneiro amazônico de Waldemar Henrique encontramos a terna “Tambatajá” inspirada por uma lenda dos Macuxis. A popularidade nacional dessa canção cresceu após a gravação de Fafá de Belém realizada em 1976 (LP Tambatajá, Philips, 1976). “O Paraná”, baseado em canto dos Tchukarramãe do Xingu, de nostálgica beleza, foi gravado na França pela cantora paraense Nazaré Pereira (LP Natureza, Cezame, 1980). A “Nozanina”, de Villa-Lobos, foi composta por um texto indígena fornecido por Roquete Pinto. O cantor Milton Nascimento gravou-a em CD (Tchai, CBS, 1990) onde inclui outros interessantes registros de índios caiapó, Suruí, Waiápi e Yanomami, feitos em suas próprias aldeias (OLIVEIRA, 2000, p. 24).

Para esses povos – escravos africanos e indígenas – era muito importante conseguir adaptar-se a essa nova realidade, porque disso dependia sua sobrevivência, não somente cultural, tradicional, de hábitos, costumes, mas a sua própria existência física mesmo, no caso de vir a perder sua identidade. Porque nossa identidade são nossas origens, raízes históricas, culturais e antropológicas.

Alguns ritmos que surgiram dessa aculturação entre o europeu, o negro escravo e o índio: a Modinha, o Lundum e o Maxixe, que seguem o mesmo contexto histórico.

II – A MODINHA

2.1 PANORAMA HISTÓRICO

Desde o início de nossa colonização, os países europeus, e aqui tratamos especialmente de Portugal, que deu início a um processo de aculturação das populações indígenas no recente território “descoberto”, a que veio a chamar-se, posteriormente, Brasil, nome dado por achar-se, neste território, grande quantidade de árvores, cuja madeira tinha uma cor abrasada. Essa imposição de uma cultura dominante, inclusive, afetou a própria língua materna (Tupi-guarani), ao ser subtraída por deixar de ser ensinada nas escolas da época, dando lugar, por imposição, à língua falada e escrita do país colonizador, ou seja, Portugal. De acordo com Lima (2001, p. 46): 

Com crescimento populacional que vinha se acentuando desde o início do século XVIII e a formação de centros urbanos (tais como Salvador, Ouro Preto, Rio de Janeiro, dentre outros), a demanda por um certo tipo de entretenimento por parte de uma classe média emergente era condição imperiosa para a manutenção de um modelo de cultura que a metrópole, no caso Portugal, vinha impondo à colônia.

Esses entretenimentos que começaram a acontecer por volta do início do século XIX em Portugal, mais tarde vieram a se popularizar no Brasil, através das mais variadas formas de lazer, como as óperas para a classe nobre, as festas profanas, representadas pelos aniversários de cidades, aniversários de membros da nobreza ou classe dominante, festas religiosas populares que até hoje tem um cunho social, e, ainda, os saraus, que faziam parte da realidade da classe média, a qual era uma forma de lazer para fugir um pouco do cotidiano das famílias que tinham posses. Nesses saraus, se reuniam artistas amadores e profissionais, que se apresentavam para uma plateia seleta, bem como jovens moças que aproveitavam para mostrar seus talentos no dedilhar do piano, ocupação que fazia parte do aprendizado doméstico das famílias de classe média no Brasil, influenciados pela cultura portuguesa, mas, principalmente, pela francesa. No período medieval, as festas nos grandes salões nobres e mesmo as festas populares, eram animadas pelos chamados jograis (artistas que declamavam poesias ao som de instrumentos musicais) e menestréis (artistas que, além de cantar ou declamar a poesia, também tocavam o instrumento musical).

Portanto, conforme Lima (2001, p. 48):

 

O gosto pela música e, por consequência, pelo canto, parece ser uma constante na cultura dos europeus vindos para o Brasil. O negro, por sua vez, mesmo em condições sub-humanas, sempre cultivou a música, seja em sua forma ritualística longe dos olhos ocidentais, ou como divertimento nos terreiros e praças públicas. Desta forma, sem querer adentrar nas discussões sociológicas quanto às condições sociais das diversas camadas que residiam no Brasil em meados do século XVIII, ainda que altamente europeizada, a colônia, aos poucos, foi construindo seu próprio caminho musical à medida que as vilas se desenvolviam.

Por conseguinte, a família real chega ao Brasil em 1808, fugindo das ameaças de invasão de Portugal por Napoleão Bonaparte, e se estabelece no Brasil. Em 1822, o Brasil torna-se um país politicamente independente de Portugal, estabelecendo como forma de governo uma monarquia constitucional parlamentarista, e D. Pedro I, filho de D. João VI, torna-se o primeiro Imperador do Brasil. No ano de 1889, cai o regime monárquico (o Segundo Império, que tinha na figura de D. Pedro II, seu líder máximo) e começa a República. Em 17 de outubro de 1847 nasce Francisca Edwiges Neves Gonzaga, mais conhecida como Chiquinha Gonzaga, autora da primeira marcha carnavalesca, chamada Ô abre alas, bem como a primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil. E os movimentos artísticos no Brasil, tais quais os gêneros musicais, vão se desenvolvendo em meio a conflitos de guerras e revoluções.

2.1.1    Principais acontecimentos no Brasil e no mundo do século XVIII

- 1701 a 1704: Guerra da Sucessão Espanhola.

- 1703: Tratado de Methuen ("Panos e Vinhos"), entre Portugal e Inglaterra.

- 1707 a 1709: Guerra dos Emboabas no Brasil.

- 17010 a 1711: Guerra dos Mascates em Pernambuco.

- 1713-1715: Tratado de Ultrecht - foi, na verdade, dois acordos que puseram fim à Guerra de Sucessão Espanhola e mudaram o mapa da Europa e das Américas. No primeiro Tratado, em 1713, a Grã-Bretanha reconhecia como rei da Espanha o francês Felipe de Anjou. Por sua parte, a Espanha cedia Menorca e Gibraltar à Grã-Bretanha. O acordo também repercutiu na América, pois estabeleceu as fronteiras entre o Brasil e a Guiana Francesa e foram definidos os limites do Amapá. O segundo Tratado de Utrecht, assinado em 6 de fevereiro de 1715, desta vez entre Portugal e Espanha, restabeleceu a posse da Colônia do Sacramento a Portugal.

- 1720: Revolta de Felipe dos Santos em Minas Gerais.

- 1740-1748: Guerra de Sucessão Austríaca.

- 1751 a 1772: é escrita a Encyclopédie na França pelos filósofos Diderot e d’Alembert.

- 1753: fundação do Museu Britânico, um dos mais importantes museus do mundo no século XVIII.

- 1757: proibição, de forma oficial, da escravidão indígena no Brasil.

- 1774: Leis Intoleráveis nos Estados Unidos.

- 1756 a 1763: Guerra dos Sete Anos (entre a França, a Monarquia de Habsburgo e seus aliados, de um lado, e a Inglaterra, Portugal, o reino da Prússia e Reino de Hanôver, de outro).

- 1760: começo da Revolução Industrial na Inglaterra.

- 1764: O Parlamento Inglês decreta a Lei do Açúcar.

- 1764: James Hargreaves inventa a máquina de fiar.

- 1768: invenção do tear mecânico por Edmund Cartwright.

- 1767: O Parlamento Inglês aprova novas taxas sobre o chá, vidros, papel e tintas. O decreto afeta diretamente as colônias inglesas na América, causando grande insatisfação.

- 1775: Nas colônias americanas (futuro EUA) ocorre o Segundo Congresso Continental de Filadélfia. Nesse mesmo ano, os colonos americanos declaram guerra à Inglaterra.

- 1776: Declaração de Independência das Treze Colônias dos Estados Unidos.

- 1787: Revolta dos Notáveis.

- 1787: Convenção da Filadélfia.

- 1789: Revolta do Terceiro Estado.

- 1789: Queda da Bastilha e início do processo da Revolução Francesa.

- 1789: Inconfidência Mineira em Minas Gerais.

- 1792: Tiradentes é executado.

- 1792: Prússia e Áustria invadem a França.

- 1794: Conjuração do Rio de Janeiro, também conhecida como Conjuração Fluminense e Conjuração Carioca.

- 1798: Conjuração Baiana (também conhecida como Revolta dos Alfaiates) na Bahia.

- 1799: Napoleão Bonaparte dá o golpe do 18 do Brumário.

2.1.2 Principais acontecimentos  no mundo do século XIX

a) Fatos importantes

- 1801: Eleição do presidente americano Thomas Jefferson, responsável pela Declaração de Independência dos Estados Unidos, publicada em 4 de julho de 1776.

- 1803: Início da guerra entre Inglaterra e França, conhecida como Guerras Napoleônicas.

- 1806: A França faz o bloqueio continental da Inglaterra, através do Decreto de Berlim. O bloqueio não permitia que navios do Reino Unido e da Irlanda chegassem aos portos franceses trazendo produtos importados.

- 1811: A Venezuela e o Paraguai se tornam países independentes.

- 1825: Inicia a Guerra da Cisplatina, batalha entre a Argentina e o Brasil pelo domínio da Cisplatina (território atual do Uruguai).

- 1839: Início da Primeira Guerra do Ópio, após a China proibir a entrada no país do ópio vindo da Inglaterra.

- 1848: Começo da Rebelião Francesa que deu início à Segunda República.

- 1861: Início da Guerra da Secessão (Guerra Civil Americana), o conflito entre a unificação e a emancipação do país.

- 1864: Assassinato do presidente americano Abraham Lincoln.

b) Acontecimentos na arte e na filosofia

- 1810: Franciso de Goya inicia as gravuras de Os desastres da Guerra.

- 1824: Ludwig van Beethoven compõe a Nona Sinfonia.

- 1848: Publicação do Manifesto Comunista (de Karl Marx e Friedrich Engels).

- 1859: Lançamento da obra Teoria das Espécies (Charles Darwin).

- 1866: Publicação de Crime e Castigo (Fiódor Dostoiévski).

- 1869: Lançamento de Guerra e Paz (Liev Tolstói).

- 1875: Claude Monet pintou Mulher com sombrinha.

- 1889: Van Gohg pinta A noite estrelada.

- 1893: Edvard Munch pinta O grito.

c) Os pintores que mais marcaram a história do século XIX foram:

- Francisco de Goya (1746-1828)

- William Turner (1775-1851)

- Eugène Delacroix (1798-1863)

- Gustave Coubert (1819-1877)

- Edward Charles Barnes (1830-1882)

- Camille Pissarro (1830-1903)

- Édouard Manet (1832-1883)

- Edgar Degas (1834-1917)

- Alfred Sisley (1839-1889)

- Paul Cézanne (1839-1906)

- Claude Monet (1840–1926)

- Pierre-Auguste Renoir (1841–1919)

- Vincent Van Gogh (1853– 1890)

- Alphonse Mucha (1860-1939)

- Gustav Klint (1862-1918)

d) Entre os filósofos e pensadores mais conhecidos que viveram no século XIX estão:

- Auguste Comte (1789-1857)

- George Hegel (1710-1831)

- Charles Darwin (1809-1882)

- Karl Marx (1818-1883)

- Friedrich Engels (1820-1895)

- Herbert Spencer (1820-1903)

- Fiódor Dostoiévski (1821-1881)

- Charlie Sanders Peirce (1839-1914)

- Friedrich Nietzsche, (1844-1900)

- Sigmund Freud (1856-1939)

e) Invenções, criações e descobertas

- 1816: Surgimento da fotografia. Louis Jacques Daguerre criou o modelo de processamento fotográfico que ficou conhecido como Daguerreótipo, lançado em 1839.

- 1824: Criação do Braille, o sistema de leitura utilizado por pessoas com deficiência visual (Louis Braille).

- 1846: Invenção da anestesia por William Morton.

- 1875: Carl von Linde cria a geladeira.

- 1879: Werner von Siemens cria a locomotiva elétrica.

- 1886: Karl Benz inventa o primeiro automóvel (Benz Patent-Motorwagen).

- 1894: Criação do cinematrógafo, atribuída aos irmãos Lumiére.

- 1895: Descoberta do raio-X por Wilhelm Conrad Röntgen.

- 1898: Descoberta de dois elementos químicos importantes, Rádio (Ra) e Polônio (Po) por Marie Curie.

2.1.3 Principais acontecimentos no Brasil do século XIX

a) Acontecimentos históricos

- 1808: A Corte Portuguesa chega em terras brasileiras.

- 1822: Declaração da Independência do Brasil.

- 1824: Promulgação da 1ª Constituição do Brasil.

- 1831: Dom Pedro I abdica do Trono.

- 1835: Início da Guerra dos Farrapos no Rio Grande do Sul.

- 1847: Golpe da Maioridade. Dom Pedro II assume o trono brasileiro.

- 1850: Publicação da Lei Eusébio de Queiroz que proibiu o tráfico de escravos.

- 1864: Início da Guerra do Paraguai.

- 1888: A princesa Isabel assina a Lei Áurea que aboliu a escravidão.

- 1889: Proclamação da República.

b) Acontecimentos artísticos

- 1810: Padre José Maurício compõe a Missa de Nossa Senhora da Conceição.

- 1844: Publicação de A Moreninha (Joaquim Manuel de Macedo).

- 1857: Publicação de O Guarani (José de Alencar).

- 1861: Victor Meirelles pinta A primeira missa no Brasil.

- 1870: Carlos Gomes compõe a ópera O Guarani.

- 1875: Lançamento de A Escrava Isaura (Bernardo de Guimarães).

- 1881: Publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas (Machado de Assis).

- 1882: Publicação de Fanfarras (Teófilo Dias) que inaugurou o parnasianismo no país.

- 1888: Pedro Américo pinta Independência ou Morte.

- 1890: Lançamento do livro O cortiço (Aluísio Azevedo).

- 1893: Benedito Calisto pinta Proclamação da República.

- 1899: Publicação de Dom Casmurro (Machado de Assis)

 

2.2 A MODINHA:

Tornou-se muito conhecida entre os séculos XVII e XVIII, num período em que estavam acontecendo diversas mudanças nos vários âmbitos do Brasil. Um ritmo chamado “Moda” que significa “canção”, foi trazido de Portugal (onde era considerada uma música aristocrática, feita para alegrar a aristocracia) para o Brasil e, aqui, se misturou com outros ritmos, nascendo, assim, a “Modinha” brasileira, que é um canto branco de salão, com um caráter lírico e sentimental, que privilegia um ritmo com tom melancólico, triste, um pouco mais lento, usualmente tocada com instrumento de corda, com acordes menores, e as letras dessas canções acompanham o ritmo melancólico, triste, geralmente falando de amores perdidos, denotando sofrimento. São composições com letras bastante rebuscadas. Era uma música pra ser ouvida, pra ser cantada. Da modinha derivou-se, por exemplo, a serenata (MONTEIRO, 2018).

Os instrumentos usados, inicialmente, para tocar a Modinha, eram “o cravo e a voz empostada” (ARAÚJO, 1963, p. 30). Após se tornar popular, passou a incluir o violão e, também, a fazer parte das rodas de seresteiros e românticos.

Segundo o blog da Paula musique (2020, p. 4):

Existe um consenso entre a maioria dos estudiosos explicando que foi o poeta e músico mulato brasileiro Domingos Caldas Barbosa (filho de um português com uma mulher angolana escravizada) o responsável pela introdução da modinha brasileira em Portugal, pois, após passar sua juventude em contato com modinhas e lundus no Rio de Janeiro, vai a Lisboa e lá difunde estes gêneros, passando a ser cultivados nos salões por compositores eruditos.

Domingos Caldas Barbosa foi compositor de modinhas e lundus. Exemplo de modinhas: Música “Quis debalde varre-te da memória (Plínio de Lima e Xisto Bahia).

Aqui, no Brasil, na transição da Monarquia para a República, houve muitas mudanças políticas, econômicas e na própria estrutura do Estado Brasileiro, como a assinatura da primeira lei eleitoral da República, que tinha à frente o Marechal Deodoro da Fonseca. Marcondes (1998) comenta que a Modinha atravessa esse momento histórico libertando-se dos salões fechados da elite brasileira e ganha as ruas, fundindo-se em outro ritmos, como a serenata ao relento das noite enluaradas, acompanhada pelos acordes inseparáveis do violão.

Lima (2001) observa que o estilo musical chamado de moda surgiu em Portugal, mas ao ser importada para o Brasil-colônia junto com os europeus lusitanos, que se apossaram desta terra até então desconhecida para o resto do mundo civilizado, a moda adquiriu outras características pela aproximação com outros ritmos africanos, até adquirir identidade própria, tornando-se em Modinha, que era um tipo de música cantada em saraus e bailes da elite, mas que foi se aproximando do lundu, que era uma música cantada nos meios populares. Na verdade, a origem ou surgimento da modinha ou da moda, se no Brasil ou em Portugal, é um assunto que não valeria a pena levar adiante, pois ambos os países adotariam a modinha como filha legítima. Porém, conforme o texto a seguir:

A origem da modinha está intimamente relacionada com a moda portuguesa, sua antecessora, que em meados do século XVIII, designava, genericamente, qualquer tipo de canção e era praticada nos salões de Lisboa pelas classes mais favorecidas (LIMA, 2001, p. 48).

Lima (2001) afirma que, no Brasil, a palavra moda desenvolve-se em duas concepções diferentes, que tendem para duas características que, culturalmente, se distanciam, ou seja, ela se apresenta como qualquer tipo de canção, como era apreciada em Portugal, feita para ser cantada nas cortes; a outra forma que ela assume é a típica moda de viola, muito praticada em são Paulo e Minas Gerais.

Sobre os estilos das canções de Modinha e Lundu compostos por Domingos Caldas Barbosa, Lima (2001), observa o seguinte:

No estágio em que se encontram as pesquisas sobre a modinha e o lundu, tanto no Brasil quanto em Portugal, encontramos vários poemas de Domingos Caldas Barbosa musicados por compositores de renome, tais como Marcos Portugal (1762-1830), compositor lisboeta que se transferiu para o Brasil em 1811 e aqui permaneceu até sua morte; e Antônio Leal Moreira (1758-1819), outro músico português de renome em Lisboa no final do século XVIII, só para citar alguns nomes. Outras tantas modinhas sobre poemas seus, não trazem assinatura do compositor da melodia, porém é muito provável que Caldas Barbosa compusesse música de “ouvido”, e por isso não tivesse o hábito de assinar suas composições, pois consta que não era iniciado nos cânones musicais (SANDRONI, 2001, apud LIMA, 2001, p. 49).

Em relação à musicalidade da modinha Lima (2001) destaca que:

Fato é que, na documentação pesquisada até o presente momento, há uma grande quantidade de modinhas que se destacam por possuir uma musicalidade muito própria: melodias sinuosas de poucos compassos e compostas por pequenos motivos, a presença da síncopa melódica, o acompanhamento em arpejos de quatro colcheias, parafraseando as batidas do nosso atual pandeiro ou ganzá. Insisto nestas características pois elas serão associadas ao universo afro-brasileiro e estão na base de gêneros como o choro, o maxixe e samba (BÉHAGUE, 1968, apud LIMA, 2001, p. 49).

 

 

2.2.1    Características[1]

- A modinha não têm uma estrutura rígida. Pode ou não ter introdução ou coda. Pode ter duas ou três estrofes, por exemplo;

- Repetem palavras ou frases;

- Há predominância de tonalidades menores e de andamentos moderados.

- O canto é, normalmente, acompanhado por violão, flauta, cravo e/ou piano;

- A formação instrumental para a qual foi escrita também variou conforme a história;

- Em decorrência das diversas influências, encontra-se, na análise de partituras e relatos, grande variedade de formas (em duas estrofes A-B; em duas estrofes e refrão A-A-B; em estrofe e refrão A-B; em duas estrofes e “stretto”, que faz às vezes refrão A-A-D), compassos inicialmente binários que, notando a influência das danças ternárias que surgiram, principalmente, a partir da chegada em 1808 da Corte Portuguesa ao Brasil – citamos a valsa, scottish, polcas, dentre outras – adotou o compasso ternário;

-A moda a duo ou solemo era executada por solistas de escola e por mestres de contraponto;

- Melodias sinuosas de poucos compassos;

- Tem batidas simples, de gosto popular;

- Melodia típica de viola;

- Canto branco de salão, com um caráter lírico e sentimental, que privilegia um ritmo com tom melancólico, triste, um pouco mais lento, usualmente tocada com instrumento de corda;

- Repetições rítmicas;

- Falam geralmente de amores perdidos, sofrimento, dor;

- Mensagens fáceis de gravar;

- Letras rebuscadas, pra serem ouvidas e cantadas.

- Os compositores das modas portuguesas, ou eram músicos que compunham ópera, como Marcos Portugal, ou compositores sacros de renome como Pe. José Mauricio.

- Resumindo: a Modinha é um estilo de canção romântica, amorosa, triste, sentimental e até passional.

 

2.2.2 Principais letristas e compositores

1) Domingos Caldas Barbosa (Rio de janeiro (RJ), 1740 - Lisboa (Portugal), 9 de novembro de 1800). Foi sacerdote, poeta e músico brasileiro, tido por muitos como o “pai da modinha”. Apresentou a modinha na corte portuguesa, o gênero atravessou o século XIX sendo tocado tanto pela aristocracia quanto pelo povo. 

2) Cândido Inácio da Silva nasceu no Rio de Janeiro (RJ), em1800 e morreu em 1838, em lugar não informado – considerado o maior modinheiro de sua geração, teve uma vida muito curta, mas com uma obra muito marcante. O violonista, compositor e cantor é conhecido até hoje como o Schubert das Modinhas.  Compôs também valsas e lundus.

Algumas composições marcantes: Cruel Saudade, Busco a Campina Serena, A Hora Que Não Te Vejo, entre outras.

3) Lino José Nunes

4) Francisco da Luz Pinto

5) Guilherme Pinto da Silveira Teles

6) Xisto Bahia – nasceu em Salvador (BA), 06 de agosto de 1841 e morreu em Caxambu (MG), 30 de outubro de 1894: músico, compositor e dramaturgo, foi o compositor da primeira música gravada no Brasil, o lundu Isto é Bom. Recebeu aplausos tanto com suas músicas quanto suas atuações, inclusive do então imperador D. Pedro II.    Escreveu várias músicas incluindo A Mulata (com Melo Moraes Filho) e Quis Debalde Varrer-te da Memória (com Plínio de Lima), duas das modinhas mais conhecidas de todos os tempos.

7) Guimarães Passos e J.C. de Oliveira (Na casa branca da Serra)

8) José Henrique da Silva e J. Pedaço (Perdão Emília)

9) Salvador Fábregas e Castro Alves (O  Gondoleiro do Amor)

10) Gonçalves Crespo (Mucama) 

11) Carlos Gomes (Quem Sabe)

12) Autor anônimo (Elvira Escuta) 

13) autor anônimo (Foi Uma Noite Calmosa)

14) Miguel Emídio Pestana e Melo Moraes Filho (O Bem-Te-Vi).

Observação: Chico Buarque, Tom Jobim e Vinícius de Moraes também gravaram modinhas.

2.2.3 Precursores da modinha

- Gregório de Matos (1633-1696)

- Antônio José da Silva – o Judeu (1705-1739)

- Tomás Antônio Gonzaga (1744-?1808)

2.2.4 Autores que tiveram as letras de seus poemas musicados durante o primeiro reinado

- Cândido Inácio da Silva,

- Gabriel Fernandes da Trindade,

- Padre José Maurício Nunes Garcia,

- Padre Teles Leal e outros.

2.2.5 Autores que tiveram as letras de seus poemas musicados durante o segundo reinado 

- Gonçalves Dias

- Castro Alves

- Álvares de Azevedo

- Casimiro de Abreu 

- Fagundes Varela.

2.2.6 A fusão da modinha nos dias atuais

Sem dúvida alguma, a modinha não desapareceu ao entrar no século XX. Sabemos que pouco se conhece ou se fala nos dias atuais sobre a música no ritmo de modinha, principalmente a juventude. Mas a modinha, ainda exerce um grau de influência na música brasileira, e isto só não é notado porque as pessoas desconhecem a sua trajetória. Por exemplo, a modinha se funde no lirismo e na harmonia de melodias como o samba-canção, a valsa, o xote, ou seja, sai dos salões fechados para as ruas, pra boca do povo, com ritmos coreográficos. Mário de Andrade (1972) chama a atenção para esses ritmos importados (valsa, xote), afirmando que o ritmo novo, o samba-canção, é um ritmo genuinamente brasileiro, derivado de um outro ritmo brasileiro: a modinha. Ou seja, o samba-canção nacionalizou a modinha.

Para Araújo (1963) a modinha retorna a Portugal, através de Domingos Caldas Barbosa (1740-1800), influenciada pelo lundu, e é bem apreciada, não se restringindo apenas às classes altas, mas percorre todos os grupos sociais, desde a nobreza, a burguesia, o clero, chegando às classes populares, à criadagem, aos assalariados, sendo adaptada, adulterada por todas essas classes, segundo seus gostos. Esse fato também desgastou o gênero musical, vindo, muitos, a perderem o interesse por esse tipo de música naquele país. Porém, coincidentemente, em 1808, a família real, juntamente com a corte portuguesa, se transfere para o Brasil-colônia por causa das ameaças de invasão do território português por Napoleão Bonaparte, e, de bagagem, nas embarcações, veio também a agora erudita modinha. Quando o gênero musical da modinha retorna para o Brasil, ela é inicialmente apreciada pelas elites, mas aos poucos vai ganhando o gosto de todos, terminando por se popularizar cada vez mais, deixando os salões e ganhando as ruas, como afirma Araújo (1963): “A modinha, ária de corte, deixava aos poucos a luz dos candelabros, para se expandir sob o céu das noites enluaradas. E desprezava o contraponto do cravo, pelo contraponto dos baixos melódicos dos violões seresteiros” (ARAÚJO, 1963, p. 12).

Araújo (1963) observa que a modinha não morreu, e que ela nunca morrerá, porque a sua essência transcendeu o simples cantar de um ritmo particular, mas se misturou, está no lirismo dos mais diversos ritmos musicais da diversidade brasileira, porque ela é a semente da musicalidade brasileira, semente composta pela cultura negra, indígena e branca.

2.2.7 Análise de letras musicais de modinha

MÚSICA 1: A MALANDRINHA (Francisco Alves - música e letra de Freire Júnior)

Estrofe 1: 10 sílabas poéticas

1.     A lua vem surgindo cor de prata      

2.     No alto da montanha verdejante

3.     A lira do cantor em serenata

4.     Reclama na janela sua amante

 

Estrofe 2: 10 sílabas poéticas

5.     Ao som da melodia apaixonada       

6.     Das cordas do sonoro violão

7.     Confessa o seresteiro à sua amada

8.     O que dentro lhe dita o coração

 

Estrofe 3: 12 sílabas poéticas

9.     Ó linda imagem de mulher que me seduz 

10.  Ai, se eu pudesse tu estarias no altar

11.  És a rainha dos meus sonhos, és a luz

12.  És malandrinha, não precisas trabalhar...

 

Estrofe 4: 10 sílabas poéticas

13.  Acorda minha bela namorada    

14.  A lua nos convida a passear

15.  Seus raios iluminam toda a estrada

16.  Por onde nós havemos de passar

 

Estrofe 5: 11 sílabas poéticas e 10 sílabas poéticas

17.  A rua está deserta, oh vem querida    

18.  Ouvir bem junto a mim o som do pinho!    

19.  E quando a madrugada é já surgida

20.  Os pombos voltarão para os seus ninhos.

Análise:

Uma das modinhas mais conhecidas e também mais belas é A malandrinha, que foi escrita em 1926, mas a primeira gravação foi feita por Pedro Celestino em 1927. Francisco Alves gravou em 1928 e em 1952. Esta canção fez parte do repertório da minissérie Dercy de verdade, à qual sempre cantava essa música em suas apresentações.

Em princípio a partitura da música aparecia com o título Canção-tango brasileira, com música e letra de Freire Junior.

- O tema: é simples, comum, fala da paixão de um homem por uma mulher, que sai à noite a cantar-lhe serenata para despertar-lhe do sono, à janela da casa da amada; é um casal enamorado. Parece ser correspondido, mas sente falta da amada, que está a dormir.

- Tempo: cronológico, pois o amante está fazendo uma serenata para a sua amada, provavelmente próximo da janela do quarto dela. Ex: A lua vem surgindo cor de prata. Ele descreve também o cenário: a lua, a montanha, a serenata,

- O local: parece ser um lugar bucólico, calmo, como se fosse uma cidadezinha do interior, pois o autor diz que a lua está “surgindo no alto da montanha verdejante”. Parece ser uma noite de lua cheia, pois a lua convida o casal a passear, nas ruas iluminadas pelos raios de luar. Mas também essa descrição poética é própria de boêmios, de seresteiros.

A rua está deserta, provavelmente, por causa do avançar das horas.

Percebe-se que o amante toca uma seresta pra uma jovem mulher ao som de um violão de pinho.

Ele quer aproveitar aquele momento com sua amada para fazer um passeio ao luar, e depois, quando já estiver tarde, já na madrugada, voltarão cada um para as suas casas.

- Estrutura da composição:

a) Rima: A letra da música tem os versos todos rimados. Exemplo: prata no verso 1 rima com serenata no verso 3; verdejante no verso 2 rima com amante no verso 4.

b) Métrica: as estrofes 1, 2 e 4 apresentam versos decassílabos, ou seja, versos com 10 sílabas poéticas.

A estrofe 3 apresenta versos dodecassílabos (versos com 12 sílabas poéticas).

A estrofe 5 apresenta os versos 17 e 19 como sendo versos hendecassílabos (versos com 11 sílabas poéticas) e os versos 18 e 20 como sendo decassílabos (versos com 10 sílabas poéticas).

Obs: há uma mistura de versos isométricos (que possuem uma única medida) com versos heterométricos (que possuem métrica diferente na mesma letra).

Fonte:

A Malandrinha – Orlando Silva. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=Es8EzIP2AYI

A Malandrinha – Francisco Alves. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=C87h8WfuJGU&ab_channel=YuriFerreiraYuriFerreira

Vicente Celestino – Ontem ao luar. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=HBcZh131U6Y&ab_channel=LudoxFFLudoxFF

Marisa Monte – Ontem ao luar – disponível em https://www.youtube.com/watch?v=CgqbPTt9hb8&ab_channel=MARISAMONTE

MÚSICA 2: QUEM TE VIU, QUEM TE VÊ (Chico Buarque)

Estrofe 1: 7 sílabas poéticas (ou redondilha maior)

1.  Você era a mais bonita

2.  Das cabrochas dessa ala

3.  Você era a favorita

4.  Onde eu era o mestre-sala.

 

Estrofe 2: 7 sílabas poéticas

5.  Hoje a gente nem se fala,

6.  Mas a festa continua

7.  Suas noites são de gala,

8.  Nosso samba ainda é na rua.

Estrofe 3: 6 sílabas, 5 sílabas, 7 sílabas poéticas

9.  Hoje o samba saiu

10.   Procurando você

11.  Quem te viu, quem te vê

12.  Quem não a conhece

13.  Não pode mais ver pra crer

14.  Quem jamais a esquece

15.  Não pode reconhecer.

Estrofe 4: 7 sílabas poéticas

16.  Quando o samba começava,

17.  Você era a mais brilhante

18.  E se a gente se cansava

19.  Você só seguia adiante.

Estrofe 5: 7 sílabas poéticas

20.  Hoje a gente anda distante

21.  Do calor do seu gingado

22.  Você só dá chá dançante

23.  Onde eu não sou convidado.

 

Hoje o samba saiu, lalalaiá...

 

Estrofe 6: 7 sílabas poéticas

24.  O meu samba se marcava

25.  Na cadencia dos seus passos

26.  O meu sono se embalava

27.  No carinho dos seus braços

 

Estrofe 7: 7 sílabas poéticas

28.  Hoje de teimoso eu passo

29.  Bem em frente ao seu portão

30.  Pra lembrar que sobra espaço

31.  No barraco e no cordão.

           

Hoje o samba saiu, lalalaiá...

 

Estrofe 8: 7 sílabas poéticas e 8 sílabas poéticas

32.  Todo ano eu lhe fazia

33.  Uma cabrocha de alta classe

34.  De dourado eu lhe vestia

35.  Pra que o povo admirasse.

Estrofe 9: 7 sílabas poéticas e 8 sílabas poéticas

36.  Eu não sei bem com certeza

37.  Porque foi que um belo dia

38.  Quem brincava de princesa

39.  Acostumou na fantasia.

 

Hoje o samba saiu, lalalaiá...

 

Estrofe 10: 7 sílabas poéticas

40.  Hoje eu vou sambar na pista,

41.  Você vai de galeria

42.  Quero que você assista

43.  Na mais fina companhia.

Estrofe 11: 7 sílabas poéticas

44.  Se você sentir saudade,

45.  Por favor não dê na vista

46.  Bate palmas com vontade,

47.  Faz de conta que é turista.

 

Hoje o samba saiu, lalalaiá...

 

 

Análise:

História: a música foi apresentada pela primeira vez em 16 de fevereiro de 1967, no programa “Para ver a banda passar”, com Chico Buarque e Nara Leão. A gravação original foi feita pelos dois. A música é feita ao estilo das canções de Ataulfo Alves, por quem Chico tinha grande admiração, e o tema é a história de uma passista desgarrada de suas origens. Quando Chico compôs a música, achou que estava muito longa e pediu pra Nara Leão, quando gravasse, que tirasse duas estrofes, mas a Nara gravou a música completa.

Tema principal: história de amor entre um mestre-sala e uma possível passista, a separação do casal e a tentativa de reatar o relacionamento por parte dele, não dela.

Tema secundário: riqueza X pobreza

Ela, por algum motivo, provavelmente deve ter assumido um relacionamento com alguém que lhe deu um padrão de vida de classe média, mais confortável. Por isso, ela passou a evitar o mestre-sala, e a frequentar festas onde os frequentadores tinham um poder econômico mais elevado, enquanto o seu antigo amor, continuava brincando o carnaval de rua.

A narrativa dessa história se dá em torno de um homem tentando reconquistar sua amada que o havia deixado. E, para isso, ele apela para os bons momentos do passado que viveram juntos, mas ela não volta para ele.

Estrofe 1, o sujeito faz elogios à mulher através das lembranças que tem com ela, esperando com isso amolecer seu coração para que volte pra ele. Ele se doa a ela, e essa doação por meio de elogios, que demonstram seu amor, é feita ao longo de toda a canção. Tempo passado: ela era a mais bonita, não é mais.

“Você era a mais bonita/Das cabrochas dessa ala/Você era a favorita/Onde eu era o mestre-sala.”

Estrofe 2, indica que ela não quer voltar para ele, que a iniciativa da separação partiu dela. Ela não participa mais das apresentações de rua, pela escola de samba como ele. Agora, ela aprecia a apresentação, ela está na arquibancada. Tempo presente (Hoje).

Hoje a gente nem se fala/Mas a festa continua/Suas noites são de gala/Nosso samba ainda é na rua.”

Na estrofe 3, o sujeito diz que o samba saiu procurando ela, ou seja, está se referindo ao seu sentimento por ela em forma de samba, aquilo que eles mais gostavam de fazer. Mas ele nem ninguém que a conhece não pode reconhece-la, vendo-a na galeria assistindo ao desfile, quando era pra ela estar no palco da avenida se apresentando. Agora ela estava na posição de turista. Tempo presente (Hoje/Quem te vê) e passado (Quem te viu).

Hoje o samba saiu/Procurando você/Quem te viu, quem te vê/Quem não a conhece/Não pode mais ver pra crer/Quem jamais a esquece/Não pode reconhecer.”

Na estrofe 4, ele não cansa de lisonjeá-la, tentando recorda-la dos tempos áureos de quando desfilavam juntos. Era mais uma tentativa de tentar amolecer o coração da sua amada pra que voltasse pra ele, lembrando do período de glória que eles viveram. Tempo passado (Começava, era, cansava, seguia).

“Quando o samba começava/Você era a mais brilhante/E se a gente se cansava/Você só seguia adiante.”

Na estrofe 5, ela se afastou dele e de todos (provavelmente da escola de samba) e quando ele diz que ela só se apresenta onde ela tem certeza de que ele não pode vê-la, implica dizer também que ela não quer vê-lo, não quer aproximação, que ela o está evitando. A colher de chá que ela dá ao se apresentar (chá dançante) é apenas para um público seleto, em lugares onde, financeiramente, o mestre-sala não pode frequentar. É uma relação que não existe mais, porém se dependesse do desejo dele, ainda estariam juntos. Tempo presente, mas relembrando o passado (Hoje/calor do seu gingado).

Hoje a gente anda distante/Do calor do seu gingado/Você só dá chá dançante/Onde eu não sou convidado.”

Na estrofe 6, revela uma dependência dele em relação a ela, pois cadência significa regularidade de movimentos, de ritmos (que ele não consegue esquecer/estava acostumado). O samba representava o amor dele por ela.  Havia uma cumplicidade entre os dois que foi quebrada, e ele quando dizia que o sono dele se embalava nos braços dela, queria dizer que nunca a esqueceu, que se sentia seguro, que dormia tranquilo ao lado dela, tentando fazer com que ela se lembre sempre dos momentos que viveram juntos. Essa estrofe é suprimida por Chico Buarque. Tempo passado (marcava, embalava).

“O meu samba se marcava/Na cadencia dos seus passos/O meu sono se embalava/No carinho dos seus braços”

Na estrofe 7, o mestre-sala sente falta dela e, por isso, insiste no relacionamento e passa em frente sua casa, na esperança de vê-la, e dizer a ela que as portas da sua casa e da escola de samba estão ainda abertas esperando por ela; que sente saudades dela, porque a casa se tornou muito espaçosa e vazia. A palavra teimoso evidencia a insistência dele em voltar com ela, mas a resposta dela sempre é negativa e ele sabe disso. A narrativa não diz onde ela está morando, se próximo dele ou se distante, em outra rua, ou em outro bairro. Mas, pela mudança de vida dela, e de relacionamento em que, aparentemente, demonstra que ela passou a ter um padrão de vida melhor que o dele, provavelmente ela tenha mudado de bairro. E a relação portão/barraco mostra a independência dela em relação a ele. Uma ruptura de corpos e de sentimentos. Tempo presente (Hoje). Essa estrofe é suprimida por Chico Buarque.

“Hoje de teimoso eu passo/Bem em frente ao seu portão/Pra lembrar que sobra espaço/No barraco e no cordão.”           

Na estrofe 8, cabrocha significa Mulata jovem, viçosa e feliz, ou ainda a deusa sábia e santa, cujo rosto divino tem um brilho forte demais para o olhar humano. Ela era a deusa do mestre-sala. Por isso, ele cuidava de fazer com que ela tivesse a melhor fantasia, a mais bonita, pra chamar a atenção pra ela e ter a admiração de todos. Possivelmente, ele, sendo de uma classe baixa, fazia um grande esforço para comprar os adornos de preparação da fantasia que a sua amada deveria usar. Tempo passado (fazia, vestia. Admirasse).

“Todo ano eu lhe fazia/Uma cabrocha de alta classe/De dourado eu lhe vestia/Pra que o povo admirasse.”

Na estrofe 9, a cabrocha, possível passista que desfilava todo ano com uma fantasia magnifica, de princesa do asfalto, acabou trazendo a fantasia para a sua realidade. Mas era apenas uma fantasia que, de tanto ela usar ano após ano, acostumou-se com o luxo, e acabou trocando o dourado da fantasia de uma vida simples por uma vida mais luxuosa, com um melhor padrão de vida. Foi o que ela acabou desejando de verdade, ou seja, encontrar o seu príncipe encantado. Tempo passado (brincava de princesa) e presente (acostumou na fantasia).

“Eu não sei bem com certeza/Porque foi que um belo dia/Quem brincava de princesa/Acostumou na fantasia.”

Na estrofe 10, o mestre-sala se prepara, mais uma vez, pra desfilar no carnaval e fazer o seu show na avenida; e ela, a cabrocha não será mais a sua parceira, não estará mais na avenida sendo aplaudida, mas estará no camarote ou na galeria, com pessoas que têm um padrão de vida um pouco acima do dele, admirando e aplaudindo o desfile e, possivelmente, estará com outra pessoa com quem se relaciona. Ele estará na rua, que é onde ele faz o seu show pela sua escola de samba. Isso reflete separação entre os dois: de corpos, de relacionamentos, de padrão social.

Ela estará na companhia de outro homem e não com ele. Tempo presente.

“Hoje eu vou sambar na pista/Você vai de galeria/Quero que você assista/Na mais fina companhia.”

Na estrofe 11, aponta para o saudosismo de um tempo recente, que foi bom e glorioso, e que, no momento do desfile, quando ela visse o mestre-sala passando sem ela, talvez com outra parceira (passista), ele pede que ela se contenha e não deixe que as pessoas próximas dela percebam a sua emoção. No final, pede para que ela aplauda como se não o conhecesse, como uma turista que está ali pela primeira vez assistindo aquele espetáculo de rua. Tempo presente, que remonta ao passado.

“Se você sentir saudade/Por favor não dê na vista/Bate palmas com vontade/Faz de conta que é turista.”

Tempo: psicológico e cronológico

Local: provavelmente a cidade do Rio de Janeiro

Características: é um samba-canção derivado da influência da modinha; o tema trata da separação entre um mestre-sala e uma possível passista; sofrimento pela separação; é um samba que conta uma história feliz e triste de um amor (um paradoxo); é melódico, com um caráter lírico e sentimental; tem um tom melancólico; fala de um amor perdido; acompanhado por instrumentos de corda e percussão; estrofes A-B.

Estrutura da composição:

Rima: os versos são rimados, combinando sempre o 1º verso com o 3º, e o 2º verso com o 4º de cada estrofe. Exemplo:

“Hoje a gente anda distante – 1º verso

Do calor do seu gingado – 2º verso

Você só dá chá dançante – 3º verso

Onde eu não sou convidado.” – 4º verso

 

Métrica:

As estrofes 1, 2, 4, 5, 6, 7, 9, 10 e 11 apresentam versos com 7 sílabas poéticas; o quarto verso da estrofe 9 tem oito sílabas poéticas.

A estrofe 3 apresenta versos com 6 sílabas poéticas (Hexassílabos), 5 sílabas poéticas (Redondilha menor ou Pentassílabo) e 7 sílabas poéticas (Redondilha maior ou Heptassílabo), ou seja, apresentam sílabas poéticas misturadas.

Fonte:

Quem te viu, quem te vê (Chico Buarque – Carioca ao vivo. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=DPi2GvElSUQ&ab_channel=BiscoitoFinoBiscoitoFino

Roberta Sá. Quem te viu, quem te vê. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=TTwvgW2-kPk&ab_channel=CanalPluralCanalPlural

 

MÚSICA 3: VALSINHA (Chico Buarque / Vinícius de Moraes)

Álbum: CONSTRUÇÃO / Ano de lançamento: 1971

Um dia ele chegou tão diferente - 10 sílabas poéticas
Do seu jeito de sempre chegar – 9 sílabas poéticas
Olhou-a de um jeito muito mais quente - 10
Do que sempre costumava olhar - 9
E não maldisse a vida tanto - 8
Quanto era seu jeito de sempre falar - 11
E nem deixou-a só num canto - 8
Pra seu grande espanto, convidou-a pra rodar - 13

E então ela se fez bonita - 8
Como há muito tempo não queria ousar - 11
Com seu vestido decotado - 8
Cheirando a guardado de tanto esperar - 11
Depois os dois deram-se os braços - 8
Como há muito tempo não se usava dar - 11
E cheios de ternura e graça - 8
Foram para a praça e começaram a se abraçar - 13

E ali dançaram tanta dança - 8
Que a vizinhança toda despertou - 10
E foi tanta felicidade - 8
Que toda cidade se iluminou - 10
E foram tantos beijos loucos - 8
Tantos gritos roucos como não se ouvia mais - 13
Que o mundo compreendeu - 6
E o dia amanheceu em paz - 8

Análise:

Memória discursiva: Valsinha, uma canção de Chico Buarque de Holanda e Vinícius de Moraes dedicada a um movimento social dos anos 70 denominado hippie, pregava a liberdade de ação do indivíduo. Essa prática levava as pessoas a agirem livremente e sem preconceito no período de repressão do Governo Militar. Normalmente, seus seguidores viviam em grupos, preconizavam o amor, aboliam a discriminação racial e faziam sexo livremente, isento de condenação. A alusão que Chico faz ao movimento é figurada na performance de um casal que, “um dia”, muda sua conduta e toma outro rumo na vida. A homenagem a esse evento de vanguarda retrata metaforicamente o lirismo vivido por seus integrantes como artifício para fugir da censura política. Uma mulher que está esperando sempre o marido, de repente, ele chega diferente e ela tira o vestido que está guardado e eles saem pra rua à dançar. Lembra inclusive, aquela cena do filme “Cantando na chuva” (1952), em que o personagem, depois de deixar sua amada em casa, num dia de chuva, sai pela rua Cantando e dançando com um guarda-chuva nas mãos, feliz da vida.

Estrutura do texto: Valsinha é estilisticamente um poema. Além de sua estrutura poética, possui narrativa, o que faz dela um mini conto, pois possui um só núcleo. Sua narração começa em um momento qualquer (um dia) e as ações são introduzidas sequencialmente até chegar a um fim esperado. Por isso, a narração é centrada no narrador. Com o foco narrativo na 3ª pessoa, o narrador vê tudo à distância e conduz o fato sem interferir na história. Assim, o ele controla todo o saber, sem limitações de profundidade interna ou externa, em todos os lugares ou em todos os tempos. Em resumo, o texto é narrado por um narrador onisciente.

 

Estrofe 1 - Tem um caráter lírico e sentimental X paixão: a impressão que temos é que havia uma rotina na vida do casal. Todos os dias ele (o sujeito) tinha os mesmos hábitos ao chegar em casa. Mas um dia, a mulher notou que ele estava diferente, pois olhou pra ela com interesse, como quem presta atenção, como se a comesse com os olhos, como se a tivesse visto pela primeira vez e a desejasse. Talvez a rotina do dia-a-dia tenha furtado, aos poucos, esse prazer, tenha esfriado a chama que havia entre os dois.

        “Um dia ele chegou tão diferente - 10 sílabas poéticas

        Do seu jeito de sempre chegar – 9 sílabas poéticas

        Olhou-a de um jeito muito mais quente - 10

        Do que sempre costumava olhar” - 9  

Estrofe 2 – o sujeito costumava reclamar da vida sempre que chegava em sua casa. E neste contexto, incluem-se o dia-a-dia do trabalho, o preço das coisas, o salário, a falta de dinheiro, a ditadura, o autoritarismo, a falta de liberdade. Naquele momento, ele toma uma decisão em sua vida de casado. Ele não costumava dar importância pra mulher; já não tinha o mesmo desejo por ela de como quando a conheceu. Mas parece que percebeu que só quem poderia mudar os rumos da vida deles, eram eles mesmos. Quem se espantou: ele ou ela? Parece que ele mesmo se espantou com sua atitude de tira-la pra rodar, pois costumava deixa-la sozinha. Pareciam dois estranhos dentro de uma mesma casa.

        “E não maldisse a vida tanto - 8
        Quanto era seu jeito de sempre falar - 11
        E nem deixou-a só num canto - 8
        Pra seu grande espanto, convidou-a pra rodar” - 13

 

Estrofe 3 – naquele momento, a mulher pegou o seu vestido decotado que estava guardado a muito tempo (cheirando a guardado), e a muito tempo não era usado. Houve uma mudança repentina na figura da mulher, no seu comportamento, na sua aparência (ela se fez bonita). Há uma revalorização da beleza da mulher.

        “E então ela se fez bonita - 8

        Como há muito tempo não queria ousar - 11

        Com seu vestido decotado - 8

        Cheirando a guardado de tanto esperar” - 11

Estrofe 4 – observa-se que, fazia muito tempo que os dois não se tocavam, nem se abraçavam, mesmo sendo um casal, aparentemente marido e mulher. Havia um distanciamento entre eles, talvez causado pela própria rotina: da parte dele (casa-trabalho, trabalho-casa); da parte dela (trabalho doméstico). Eles saem da prisão (casa) e vão para a praça (símbolo de libertação).

        “Depois os dois deram-se os braços - 8
        Como há muito tempo não se usava dar - 11
        E cheios de ternura e graça - 8
        Foram para a praça e começaram a se abraçar” - 13

 

Estrofe 5 – a praça aparece como centro de resistência, pois no momento em que o casal se desloca para ela e começa a dançar livremente, sem receio, sem medo, a vizinhança começa a se aproximar do casal na praça. E aquele medo que eles tinham guardado em casa, que simbolizava a sua prisão, de repente foi iluminado e desapareceu. Essa liberdade de ir para a praça e a saída da vizinhança para a mesma, simboliza o enfrentamento da repressão contra o povo, que começou a se libertar desse regime (começou a se iluminar).

        “E ali dançaram tanta dança – 8

        Que a vizinhança toda despertou - 10

        E foi tanta felicidade - 8

        Que toda cidade se iluminou” - 10

Estrofe 6 – e ali, naquele espaço, eles começaram a se beijar e a se amar, fazer sexo livre. E todos reconheceram que a repressão, um regime ditador pode ser vencido pelo o amor (e o mundo amanheceu em paz).

        “E foram tantos beijos loucos - 8
        Tantos gritos roucos como não se ouvia mais - 13
        Que o mundo compreendeu - 6
        E o dia amanheceu em paz” - 8

- Ritmo com tom melancólico, triste;

- Repetições rítmicas

        “Um dia ele chegou tão diferente - 10 sílabas poéticas

        Do seu jeito de sempre chegar – 9 sílabas poéticas

        Olhou-a de um jeito muito mais quente - 10

        Do que sempre costumava olhar” - 9

- Pode ter acompanhamento só de violão;

- Tema do amor, paixão, esperança

        “Depois os dois deram-se os braços - 8
        Como há muito tempo não se usava dar - 11
        E cheios de ternura e graça - 8
        Foram para a praça e começaram a se abraçar” - 13

- Ênfase na liberdade representada através da dança

        “E ali dançaram tanta dança - 8

        Que a vizinhança toda despertou - 10

        E foi tanta felicidade - 8

        Que toda cidade se iluminou” - 10

Marcadores da narrativa:

- O tempo (um dia, muito tempo)

- O espaço (num canto, praça, cidade, mundo)

- Verbos (pretérito perfeito e imperfeito: chegou..., diferente..., olhou-a..., costumava..., maldisse...)

Palavras mais sedutoras: quente..., bonita..., decotado... ternura..., beijos loucos...

Métrica: Não há uma padronização de sílabas poéticas, pois elas aparecem de forma variada nos versos. Exemplo: versos com10 sílabas poéticas, com 8 sílabas poéticas, com 13 sílabas poéticas, com 11sílabas poéticas, com 9 sílabas poéticas. Ou seja, há uma mistura de versos isométricos (que possuem uma única medida) com versos heterométricos (que possuem métrica diferente na mesma letra).

Fonte:

Chico Buarque – Valsinha. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=4cNMt2-BdhA&ab_channel=RWRRWR

Nelson Gonçalves e Chico Buarque – Valsinha. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=iwwd16YbTA&ab_channel=solangexaviersolangexavier

RECANTO DAS LETRAS. Disponível em: https://www.recantodasletras.com.br/artigos/1234042

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDRADE, Mário de. Ensaio sobre a música brasileira. São Paulo: Martins Fontes, 1972.

ARAÚJO, Mozart. A Modinha e o Lundu no século XVIII. São Paulo: Ed. Ricordi, 1963.

MUSIQUE, Paula. A modinha no Brasil: conheça a origem da música brasileira. [S.l.], 29. Abr. 2008. Disponível em: http://paulamusique.com/modinha-no-brasil-conheca-a-origem-da-musica-brasileira. Acesso em 26. Abr. 2021.

KIEFER, Bruno. A Modinha e o Lundu. Porto Alegre: Ed. Movimento 2ed, 1986.

LIMA, Edilson Vicente de. A modinha e o Lundu no Brasil: As primeiras manifestações da música popular urbana no Brasil. In: As Modinhas do Brasil. São Paulo: Ed. da USP, 2001. Disponível em https://www.passeidireto.com/arquivo/40420923/a-modinha-e-o-lundu-no-brasil-em-as-primeiras-manifestacoes-da-musica-popular-ur. Acesso em 27. Abr. 2021.

MARCONDES, Marcos (org.). Enciclopédia da Música Brasileira: Erudita, Folclórica e Popular. 2 ed. São Paulo: Art Editora, 1998.

MONTEIRO, José. Modinha: um estudo etimológico sobre o termo. Revista Intellèctus, ano XVII, n. 1, p. 125-143, 2018.

VALENÇA, José. Modinha: Raízes da Música do Povo. São Paulo: Empresas Dow, 1985.



[1] Fonte: MUSIQUE, Paula (Blog). A modinha no Brasil: conheça a origem da música brasileira. [S.l.], 29. Abr. 2008. p. 5. Disponível em: http://paulamusique.com/modinha-no-brasil-conheca-a-origem-da-musica-brasileira. Acesso em 26. Abr. 2021.

Nenhum comentário:

Postar um comentário