DESCORTINANDO A HISTÓRIA DA MÚSICA BRASILEIRA – PARTE 1
DO SÉCULO XVIII AO SÉCULO XIX: A MODINHA
Por Carlos Alberto Prestes
“Modinha
é a mais rica das formas pela qual se manifesta a inspiração poética do nosso povo”
(José Veríssimo, 1857-1916)
Consta
que, até por volta do século XVIII as manifestações populares se concentravam
ou no meio rural ou no meio urbano. Neste período, não existiam impressões de
partituras no Brasil. Por isso, encontrar documentos que tratavam sobre a
música popular era muito difícil, muito raro e escasso. As músicas deste
período, tinham o tempo de vida da memória humana e morriam abafadas pelas
novidades, ou seja, ou duravam o tempo de vida da memória de uma pessoa e
morriam com ela, ou eram abafadas por novos gêneros musicais e preferências
artísticas. A música popular apresenta um caráter essencialmente urbano,
enquanto que a música rural apresenta um caráter essencialmente folclórico.
Os
povos nativos indígenas que habitavam as terras que mais tarde se chamariam
Brasil, antes mesmo dos portugueses chegarem aqui, já tinham os seus costumes,
já tinham a sua musicalidade, já faziam os seus sons, ritmos, canções, ou seja,
já havia aqui no Brasil uma cultura musical com características ritualísticas
voltadas pra natureza e pros astros (chuva, sol, estrelas, lua, noite, dia) com
o sentido de adoração e desejo de boa sorte na caça, na pesca, na colheita, na
guerra.
Para
Oliveira (2000, p. 22):
Apesar de musicais a sua própria música
era ainda muito elementar. Continha desenvolvimento rítmico, porém o som era de
acentuada pobreza melódica, repetido em uníssono geralmente coral. [...].
Desprovidos de interesse estético, os seus cantos se difundiam aos movimentos
rítmicos do corpo, como o bater de pés no chão. Dançando em círculos ou em
filas eram acompanhados por instrumentos de percussão ou mesmo de sopro cujo
som mal se distinguia de ruídos. Oneyda Alvarenga, a propósito, diz o seguinte:
“A música dos aborígenes brasileiros, como qualquer música primitiva, foi e é
essencialmente religiosa, ligada a cerimônias e atividades de que dependia
diretamente a vida da tribo: cantos e dança de guerra, de caça, de pesca, de
invocação e homenagem às entidades sobrenaturais de que se consideravam
dependentes, animais totens e espíritos, e finalmente de celebração dos fatos
sociais, morte, doença, etc.”
Sem dúvida alguma, a música se desenvolveu
consideravelmente com a chegada do homem branco e sua cultura dominante, mas,
também, com os costumes e ritmos trazidos pelos negros. Quando os portugueses
chegaram em terras brasileiras, aconteceu uma misturas de culturas, de ritmos,
canções, cantos, uma vez que o europeu também tinha a sua cultura musical com
ritmos que animavam as suas festas, inclusive com outros tipos de instrumentos.
Levando-se em consideração toda essa contextualização, é quase que imperativo
indagar:
O que herdamos do índio em nossa
formação musical? Os chocalhos usados nas orquestras de dança, a voz anasalada
do canto caipira, segundo Mário de Andrade, o ritmo discursivo que converte
certas músicas em meros recitativos, a variedade de temas em oposição à
predominância amorosa das cantigas de Portugal, alguns bailados como os
caboclinhos do carnaval nordestino, ritos de pajelança, a imitação de alguns
animais em algumas danças, a festa do Sairé de Alter-do-Chão, em Santarém, no
Pará, ou pouco mais do que isso (OLIVEIRA, 2000, p. 24).
Esse encontro de culturas é uma característica
marcante da população brasileira, por causa da sua miscigenação provocada pela
vinda de imigrantes portugueses, Italianos, alemães, holandeses Japoneses,
judeus, açorianos, escravos africanos, etc., e isso caracterizou a música
brasileira e seus ritmos diversos, diferenciados, principalmente, pelo espaço
geográfico das regiões dentro do território brasileiro, bem como pela cultura
desenvolvida e conservada dentro desse espaço territorial, propiciando a
preservação de tradições e costumes da música de origem folclórica e o
aparecimento de novos estilos musicais. Por isso, enquanto na região Norte
(Amazonas, Pará, Acre, Rondônia, Roraima, Amapá, Tocantins), as tradições
musicais são marcadas essencialmente pelo ritmo do Carimbó (que é uma
manifestação indígena, com influência do batuque africano, e também tem
influência das músicas folclóricas lusitanas), o Calypso (música agitada, com
influência afro-caribenha) e a Marujada (que surgiu de uma festa em louvor a
São Benedito; a dança era feita pelo negros, com os seguintes instrumentos
musicais: tambor, cuíca, pandeiro, rebeca, viola, cavaquinho e violino) e
músicas com temáticas regionais; já no oeste paulista, norte do Paraná, Minas
Gerais e Goiás as tradições musicais já apontam para uma temática sertaneja, que
teria sua origem a partir da música caipira (do campo, da zona rural), pois
segundo o pesquisador Zuza Homem de Mello, a música caipira é uma parte da
música sertaneja. No Centro-Oeste (Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e
Distrito Federal), a música sertaneja sofre influência de danças como o cururu,
a polca de carão, o siriri, o catira (ou cateretê) e o sertanejo; no Nordeste
(Maranhão, Piauí, Rio Grande do Norte Ceará, Paraíba, Bahia, Pernambuco,
Alagoas, Sergipe), o baião, o xaxado, o frevo, o maracatu, o axé; na região Sul
(Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul), os estilos são, praticamente, o
bugio, o vanerão, o xote, a valsa e o chamamé (de influência paraguaia), além
das músicas folclóricas como balaio, tatu, facão, pau de fita com temas que procuram
preservar as tradições culturais das terras de onde imigraram, seja de regiões
do próprio Brasil, seja da Europa; na região Sudeste (Minas Gerais, Espírito
Santo, Rio de Janeiro e São Paulo), temos a predominância do samba, a bossa-nova
e o pagode.
Por
isso, além da cultura musical que já existia no Brasil, difundida pelos povos
indígenas, os portugueses também trouxeram povos escravizados do continente
africano, em navios negreiros. Estes dois povos – africanos e indígenas – lutam
até hoje pra manter suas tradições vivas, seus ritmos, suas festas, seus ritos,
seus costumes. E manter essas culturas tradicionais não foi nem está sendo uma
tarefa fácil, uma vez que o seu território estava sendo invadido e dominado por
povos europeus, principalmente, os portugueses.
No
entanto, o paraense Alfredo Oliveira, mais uma vez, nos remete às origens
nativas que influenciaram profundamente e especificamente o território paraense.
Ele diz:
A fonte indígena serviu de motivação a
conhecidas obras musicais, no cancioneiro amazônico de Waldemar Henrique
encontramos a terna “Tambatajá” inspirada por uma lenda dos Macuxis. A
popularidade nacional dessa canção cresceu após a gravação de Fafá de Belém
realizada em 1976 (LP Tambatajá, Philips, 1976). “O Paraná”, baseado em canto
dos Tchukarramãe do Xingu, de nostálgica beleza, foi gravado na França pela
cantora paraense Nazaré Pereira (LP Natureza, Cezame, 1980). A “Nozanina”, de
Villa-Lobos, foi composta por um texto indígena fornecido por Roquete Pinto. O
cantor Milton Nascimento gravou-a em CD (Tchai, CBS, 1990) onde inclui outros
interessantes registros de índios caiapó, Suruí, Waiápi e Yanomami, feitos em
suas próprias aldeias (OLIVEIRA, 2000, p. 24).
Para esses povos – escravos africanos e
indígenas – era muito importante conseguir adaptar-se a essa nova realidade,
porque disso dependia sua sobrevivência, não somente cultural, tradicional, de
hábitos, costumes, mas a sua própria existência física mesmo, no caso de vir a
perder sua identidade. Porque nossa identidade são nossas origens, raízes
históricas, culturais e antropológicas.
Alguns
ritmos que surgiram dessa aculturação entre o europeu, o negro escravo e o
índio: a Modinha, o Lundum e o Maxixe, que seguem o mesmo contexto histórico.
II – A MODINHA
2.1 PANORAMA
HISTÓRICO
Desde o
início de nossa colonização, os países europeus, e aqui tratamos especialmente de
Portugal, que deu início a um processo de aculturação das populações indígenas
no recente território “descoberto”, a que veio a chamar-se, posteriormente,
Brasil, nome dado por achar-se, neste território, grande quantidade de árvores,
cuja madeira tinha uma cor abrasada. Essa imposição de uma cultura dominante,
inclusive, afetou a própria língua materna (Tupi-guarani), ao ser subtraída por
deixar de ser ensinada nas escolas da época, dando lugar, por imposição, à
língua falada e escrita do país colonizador, ou seja, Portugal. De acordo com
Lima (2001, p. 46):
Com crescimento populacional que vinha se
acentuando desde o início do século XVIII e a formação de centros urbanos (tais
como Salvador, Ouro Preto, Rio de Janeiro, dentre outros), a demanda por um
certo tipo de entretenimento por parte de uma classe média emergente era
condição imperiosa para a manutenção de um modelo de cultura que a metrópole, no
caso Portugal, vinha impondo à colônia.
Esses
entretenimentos que começaram a acontecer por volta do início do século XIX em
Portugal, mais tarde vieram a se popularizar no Brasil, através das mais
variadas formas de lazer, como as óperas para a classe nobre, as festas
profanas, representadas pelos aniversários de cidades, aniversários de membros
da nobreza ou classe dominante, festas religiosas populares que até hoje tem um
cunho social, e, ainda, os saraus, que faziam parte da realidade da classe média,
a qual era uma forma de lazer para fugir um pouco do cotidiano das famílias que
tinham posses. Nesses saraus, se reuniam artistas amadores e profissionais, que
se apresentavam para uma plateia seleta, bem como jovens moças que aproveitavam
para mostrar seus talentos no dedilhar do piano, ocupação que fazia parte do
aprendizado doméstico das famílias de classe média no Brasil, influenciados
pela cultura portuguesa, mas, principalmente, pela francesa. No período
medieval, as festas nos grandes salões nobres e mesmo as festas populares, eram
animadas pelos chamados jograis (artistas que declamavam poesias ao som de
instrumentos musicais) e menestréis (artistas que, além de cantar ou declamar a
poesia, também tocavam o instrumento musical).
Portanto, conforme
Lima (2001, p. 48):
O gosto pela música
e, por consequência, pelo canto, parece ser uma constante na cultura dos europeus
vindos para o Brasil. O negro, por sua vez, mesmo em condições sub-humanas,
sempre cultivou a música, seja em sua forma ritualística longe dos olhos ocidentais,
ou como divertimento nos terreiros e praças públicas. Desta forma, sem querer
adentrar nas discussões sociológicas quanto às condições sociais das diversas
camadas que residiam no Brasil em meados do século XVIII, ainda que altamente europeizada,
a colônia, aos poucos, foi construindo seu próprio caminho musical à medida que
as vilas se desenvolviam.
Por conseguinte, a família real chega ao Brasil
em 1808, fugindo das ameaças de invasão de Portugal por Napoleão Bonaparte, e
se estabelece no Brasil. Em 1822, o Brasil torna-se um país politicamente independente
de Portugal, estabelecendo como forma de governo uma monarquia constitucional
parlamentarista, e D. Pedro I, filho de D. João VI, torna-se o primeiro Imperador
do Brasil. No ano de 1889, cai o regime monárquico (o Segundo Império, que
tinha na figura de D. Pedro II, seu líder máximo) e começa a República. Em 17
de outubro de 1847 nasce Francisca Edwiges Neves Gonzaga, mais conhecida como
Chiquinha Gonzaga, autora da primeira marcha carnavalesca, chamada Ô abre alas, bem como a primeira mulher
a reger uma orquestra no Brasil. E os movimentos artísticos no Brasil, tais
quais os gêneros musicais, vão se desenvolvendo em meio a conflitos de guerras
e revoluções.
2.1.1
Principais
acontecimentos no Brasil e no mundo do século XVIII
- 1701 a
1704: Guerra da Sucessão Espanhola.
- 1703: Tratado de Methuen ("Panos e
Vinhos"), entre Portugal e Inglaterra.
- 1707 a 1709: Guerra dos Emboabas no Brasil.
- 17010 a 1711: Guerra dos Mascates em Pernambuco.
- 1713-1715: Tratado de Ultrecht - foi, na verdade,
dois acordos que puseram fim à Guerra de Sucessão Espanhola e mudaram o mapa da
Europa e das Américas. No primeiro Tratado, em 1713, a Grã-Bretanha reconhecia
como rei da Espanha o francês Felipe de Anjou. Por sua parte, a Espanha cedia
Menorca e Gibraltar à Grã-Bretanha. O acordo também repercutiu na América, pois
estabeleceu as fronteiras entre o Brasil e a Guiana Francesa e foram definidos
os limites do Amapá. O segundo Tratado de Utrecht, assinado em 6 de fevereiro
de 1715, desta vez entre Portugal e Espanha, restabeleceu a posse da Colônia do
Sacramento a Portugal.
- 1720: Revolta
de Felipe dos Santos em Minas Gerais.
- 1740-1748: Guerra de Sucessão Austríaca.
- 1751 a 1772: é escrita a Encyclopédie na França pelos filósofos Diderot e
d’Alembert.
- 1753: fundação do Museu Britânico, um dos mais
importantes museus do mundo no século XVIII.
- 1757: proibição, de forma oficial, da escravidão
indígena no Brasil.
- 1774: Leis Intoleráveis nos Estados Unidos.
- 1756 a 1763: Guerra dos Sete Anos (entre a
França, a Monarquia de Habsburgo e seus aliados, de um lado, e a Inglaterra,
Portugal, o reino da Prússia e Reino de Hanôver, de outro).
- 1760: começo da Revolução
Industrial na Inglaterra.
- 1764: O Parlamento Inglês decreta a Lei do
Açúcar.
- 1764: James Hargreaves inventa a máquina de fiar.
- 1768: invenção do tear mecânico por Edmund
Cartwright.
- 1767: O Parlamento Inglês aprova novas taxas
sobre o chá, vidros, papel e tintas. O decreto afeta diretamente as colônias
inglesas na América, causando grande insatisfação.
- 1775: Nas colônias americanas (futuro EUA) ocorre
o Segundo Congresso Continental de Filadélfia. Nesse mesmo ano, os colonos
americanos declaram guerra à Inglaterra.
- 1776: Declaração de Independência das Treze
Colônias dos Estados Unidos.
- 1787: Revolta dos Notáveis.
- 1787: Convenção da Filadélfia.
- 1789: Revolta do Terceiro Estado.
- 1789: Queda da Bastilha e início do processo
da Revolução Francesa.
- 1789: Inconfidência
Mineira em Minas Gerais.
- 1792: Tiradentes é executado.
- 1792: Prússia e Áustria invadem a França.
- 1794: Conjuração do Rio de Janeiro, também
conhecida como Conjuração Fluminense e Conjuração
Carioca.
- 1798: Conjuração Baiana (também conhecida
como Revolta
dos Alfaiates) na Bahia.
- 1799: Napoleão
Bonaparte dá o golpe do 18 do Brumário.
2.1.2 Principais acontecimentos no mundo do século XIX
a) Fatos
importantes
- 1801: Eleição do presidente
americano Thomas Jefferson, responsável pela Declaração de Independência dos
Estados Unidos, publicada em 4 de julho de 1776.
- 1803: Início da guerra entre
Inglaterra e França, conhecida como Guerras Napoleônicas.
- 1806: A França faz o bloqueio
continental da Inglaterra, através do Decreto de Berlim. O bloqueio não
permitia que navios do Reino Unido e da Irlanda chegassem aos portos franceses
trazendo produtos importados.
- 1811: A Venezuela e o Paraguai se
tornam países independentes.
- 1825: Inicia a Guerra da
Cisplatina, batalha entre a Argentina e o Brasil pelo domínio da Cisplatina
(território atual do Uruguai).
- 1839: Início da Primeira Guerra do
Ópio, após a China proibir a entrada no país do ópio vindo da Inglaterra.
- 1848: Começo da Rebelião Francesa
que deu início à Segunda República.
- 1861: Início da Guerra da Secessão
(Guerra Civil Americana), o conflito entre a unificação e a emancipação do
país.
- 1864: Assassinato do presidente
americano Abraham Lincoln.
b) Acontecimentos na arte e na filosofia
- 1810:
Franciso de Goya inicia as gravuras de Os desastres da Guerra.
- 1824:
Ludwig van Beethoven compõe a Nona Sinfonia.
- 1848:
Publicação do Manifesto Comunista (de Karl Marx e Friedrich
Engels).
- 1859:
Lançamento da obra Teoria das Espécies (Charles Darwin).
- 1866: Publicação
de Crime e Castigo (Fiódor Dostoiévski).
- 1869:
Lançamento de Guerra e Paz (Liev Tolstói).
- 1875:
Claude Monet pintou Mulher com sombrinha.
- 1889: Van
Gohg pinta A noite estrelada.
- 1893:
Edvard Munch pinta O grito.
c) Os pintores que mais marcaram a
história do século XIX foram:
- Francisco de Goya
(1746-1828)
- William Turner
(1775-1851)
- Eugène Delacroix
(1798-1863)
- Gustave Coubert
(1819-1877)
- Edward Charles Barnes
(1830-1882)
- Camille Pissarro
(1830-1903)
- Édouard Manet (1832-1883)
- Edgar Degas
(1834-1917)
- Alfred Sisley
(1839-1889)
- Paul Cézanne
(1839-1906)
- Claude Monet
(1840–1926)
- Pierre-Auguste Renoir
(1841–1919)
- Vincent Van Gogh
(1853– 1890)
- Alphonse Mucha
(1860-1939)
- Gustav Klint
(1862-1918)
d) Entre os filósofos e pensadores mais
conhecidos que viveram no século XIX estão:
- Auguste
Comte (1789-1857)
- George
Hegel (1710-1831)
- Charles
Darwin (1809-1882)
- Karl
Marx (1818-1883)
- Friedrich
Engels (1820-1895)
- Herbert
Spencer (1820-1903)
- Fiódor
Dostoiévski (1821-1881)
- Charlie
Sanders Peirce (1839-1914)
- Friedrich
Nietzsche, (1844-1900)
- Sigmund
Freud (1856-1939)
e) Invenções, criações e descobertas
- 1816: Surgimento da fotografia.
Louis Jacques Daguerre criou o modelo de processamento fotográfico que ficou
conhecido como Daguerreótipo, lançado em 1839.
- 1824: Criação do Braille, o
sistema de leitura utilizado por pessoas com deficiência visual (Louis Braille).
- 1846: Invenção da anestesia por
William Morton.
- 1875: Carl von Linde cria a
geladeira.
- 1879: Werner von Siemens cria
a locomotiva elétrica.
- 1886: Karl Benz inventa o primeiro
automóvel (Benz Patent-Motorwagen).
- 1894: Criação do cinematrógafo,
atribuída aos irmãos Lumiére.
- 1895: Descoberta do raio-X por
Wilhelm Conrad Röntgen.
- 1898: Descoberta de dois elementos
químicos importantes, Rádio (Ra) e Polônio (Po) por Marie Curie.
2.1.3 Principais acontecimentos no Brasil
do século XIX
a) Acontecimentos históricos
- 1808: A Corte Portuguesa chega em
terras brasileiras.
- 1822: Declaração da Independência
do Brasil.
- 1824: Promulgação da 1ª
Constituição do Brasil.
- 1831: Dom Pedro I abdica do Trono.
- 1835: Início da Guerra dos Farrapos
no Rio Grande do Sul.
- 1847: Golpe da Maioridade. Dom
Pedro II assume o trono brasileiro.
- 1850: Publicação da Lei Eusébio de
Queiroz que proibiu o tráfico de escravos.
- 1864: Início da Guerra do
Paraguai.
- 1888: A princesa Isabel assina a
Lei Áurea que aboliu a escravidão.
- 1889: Proclamação da República.
b) Acontecimentos artísticos
- 1810: Padre José Maurício compõe
a Missa de Nossa Senhora da Conceição.
- 1844: Publicação de A
Moreninha (Joaquim Manuel de Macedo).
- 1857: Publicação de O
Guarani (José de Alencar).
- 1861: Victor Meirelles pinta A
primeira missa no Brasil.
- 1870: Carlos Gomes compõe a
ópera O Guarani.
- 1875: Lançamento de A
Escrava Isaura (Bernardo de Guimarães).
- 1881: Publicação de Memórias
Póstumas de Brás Cubas (Machado de Assis).
- 1882:
Publicação de Fanfarras (Teófilo Dias) que inaugurou o
parnasianismo no país.
- 1888: Pedro Américo pinta Independência
ou Morte.
- 1890: Lançamento do livro O
cortiço (Aluísio Azevedo).
- 1893: Benedito Calisto pinta Proclamação
da República.
- 1899: Publicação de Dom
Casmurro (Machado de Assis)
2.2 A MODINHA:
Tornou-se
muito conhecida entre os séculos XVII e XVIII, num período em que estavam
acontecendo diversas mudanças nos vários âmbitos do Brasil. Um ritmo chamado
“Moda” que significa “canção”, foi trazido de Portugal (onde era considerada
uma música aristocrática, feita para alegrar a aristocracia) para o Brasil e,
aqui, se misturou com outros ritmos, nascendo, assim, a “Modinha” brasileira, que
é um canto branco de salão, com um caráter lírico e sentimental, que privilegia
um ritmo com tom melancólico, triste, um pouco mais lento, usualmente tocada
com instrumento de corda, com acordes menores, e as letras dessas canções
acompanham o ritmo melancólico, triste, geralmente falando de amores perdidos,
denotando sofrimento. São composições com letras bastante rebuscadas. Era uma
música pra ser ouvida, pra ser cantada. Da modinha derivou-se, por exemplo, a
serenata (MONTEIRO, 2018).
Os
instrumentos usados, inicialmente, para tocar a Modinha, eram “o cravo e a voz
empostada” (ARAÚJO, 1963, p. 30). Após se tornar popular, passou a incluir o
violão e, também, a fazer parte das rodas de seresteiros e românticos.
Segundo
o blog da Paula musique (2020, p. 4):
Existe um consenso entre a maioria dos
estudiosos explicando que foi o poeta e músico mulato brasileiro Domingos
Caldas Barbosa (filho de um português com uma mulher angolana escravizada)
o responsável pela introdução da modinha brasileira em Portugal, pois, após
passar sua juventude em contato com modinhas e lundus no Rio de Janeiro, vai a
Lisboa e lá difunde estes gêneros, passando a ser cultivados nos salões por
compositores eruditos.
Domingos Caldas Barbosa foi compositor de
modinhas e lundus. Exemplo de modinhas: Música “Quis debalde varre-te da
memória (Plínio de Lima e Xisto Bahia).
Aqui,
no Brasil, na transição da Monarquia para a República, houve muitas mudanças
políticas, econômicas e na própria estrutura do Estado Brasileiro, como a
assinatura da primeira lei eleitoral da República, que tinha à frente o
Marechal Deodoro da Fonseca. Marcondes (1998) comenta que a Modinha atravessa
esse momento histórico libertando-se dos salões fechados da elite brasileira e
ganha as ruas, fundindo-se em outro ritmos, como a serenata ao relento das
noite enluaradas, acompanhada pelos acordes inseparáveis do violão.
Lima
(2001) observa que o estilo musical chamado de moda surgiu em Portugal, mas ao
ser importada para o Brasil-colônia junto com os europeus lusitanos, que se
apossaram desta terra até então desconhecida para o resto do mundo civilizado,
a moda adquiriu outras características pela aproximação com outros ritmos
africanos, até adquirir identidade própria, tornando-se em Modinha, que era um
tipo de música cantada em saraus e bailes da elite, mas que foi se aproximando
do lundu, que era uma música cantada nos meios populares. Na verdade, a origem
ou surgimento da modinha ou da moda, se no Brasil ou em Portugal, é um assunto que
não valeria a pena levar adiante, pois ambos os países adotariam a modinha como
filha legítima. Porém, conforme o texto a seguir:
A origem da modinha está
intimamente relacionada com a moda portuguesa, sua antecessora, que em meados
do século XVIII, designava, genericamente, qualquer tipo de canção e era
praticada nos salões de Lisboa pelas classes mais favorecidas (LIMA, 2001, p. 48).
Lima
(2001) afirma que, no Brasil, a palavra moda desenvolve-se em duas concepções
diferentes, que tendem para duas características que, culturalmente, se
distanciam, ou seja, ela se apresenta como qualquer tipo de canção, como era apreciada
em Portugal, feita para ser cantada nas cortes; a outra forma que ela assume é
a típica moda de viola, muito praticada em são Paulo e Minas Gerais.
Sobre
os estilos das canções de Modinha e Lundu compostos por Domingos Caldas Barbosa,
Lima (2001), observa o seguinte:
No estágio em que se
encontram as pesquisas sobre a modinha e o lundu, tanto no Brasil quanto em
Portugal, encontramos vários poemas de Domingos Caldas Barbosa musicados por
compositores de renome, tais como Marcos Portugal (1762-1830), compositor
lisboeta que se transferiu para o Brasil em 1811 e aqui permaneceu até sua
morte; e Antônio Leal Moreira (1758-1819), outro músico português de renome em
Lisboa no final do século XVIII, só para citar alguns nomes. Outras tantas
modinhas sobre poemas seus, não trazem assinatura do compositor da melodia,
porém é muito provável que Caldas Barbosa compusesse música de “ouvido”, e por
isso não tivesse o hábito de assinar suas composições, pois consta que não era
iniciado nos cânones musicais (SANDRONI, 2001, apud LIMA, 2001, p. 49).
Em
relação à musicalidade da modinha Lima (2001) destaca que:
Fato é
que, na documentação pesquisada até o presente momento, há uma grande
quantidade de modinhas que se destacam por possuir uma musicalidade muito
própria: melodias sinuosas de poucos compassos e compostas por pequenos
motivos, a presença da síncopa melódica, o acompanhamento em arpejos de quatro
colcheias, parafraseando as batidas do nosso atual pandeiro ou ganzá. Insisto
nestas características pois elas serão associadas ao universo afro-brasileiro e
estão na base de gêneros como o choro, o maxixe e samba (BÉHAGUE, 1968, apud
LIMA, 2001, p. 49).
2.2.1 Características[1]
- A modinha não têm uma
estrutura rígida. Pode ou não ter introdução ou coda. Pode ter duas ou três
estrofes, por exemplo;
- Repetem palavras ou frases;
- Há predominância de
tonalidades menores e de andamentos moderados.
- O canto é, normalmente,
acompanhado por violão, flauta, cravo e/ou piano;
- A formação instrumental para
a qual foi escrita também variou conforme a história;
- Em decorrência das diversas
influências, encontra-se, na análise de partituras e relatos, grande variedade
de formas (em duas estrofes A-B; em duas estrofes e refrão A-A-B; em estrofe e
refrão A-B; em duas estrofes e “stretto”, que faz às vezes refrão A-A-D),
compassos inicialmente binários que, notando a influência das danças ternárias
que surgiram, principalmente, a partir da chegada em 1808 da Corte Portuguesa
ao Brasil – citamos a valsa, scottish, polcas, dentre outras – adotou o
compasso ternário;
-A moda a duo ou solemo era
executada por solistas de escola e por mestres de contraponto;
- Melodias sinuosas de poucos compassos;
- Tem batidas simples, de
gosto popular;
- Melodia típica de viola;
- Canto branco de salão, com
um caráter lírico e sentimental, que privilegia um ritmo com tom melancólico,
triste, um pouco mais lento, usualmente tocada com instrumento de corda;
- Repetições rítmicas;
- Falam geralmente de amores
perdidos, sofrimento, dor;
- Mensagens fáceis de gravar;
- Letras rebuscadas, pra serem
ouvidas e cantadas.
- Os compositores das modas
portuguesas, ou eram músicos que compunham ópera, como Marcos Portugal, ou
compositores sacros de renome como Pe. José Mauricio.
- Resumindo: a Modinha é um
estilo de canção romântica, amorosa, triste, sentimental e até passional.
2.2.2 Principais
letristas e compositores
1) Domingos Caldas Barbosa (Rio de janeiro (RJ), 1740 - Lisboa
(Portugal), 9 de novembro de 1800). Foi sacerdote, poeta e músico brasileiro, tido
por muitos como o “pai da modinha”. Apresentou a modinha na corte portuguesa, o
gênero atravessou o século XIX sendo tocado tanto pela aristocracia quanto pelo
povo.
2) Cândido Inácio da Silva nasceu no Rio de Janeiro (RJ), em1800 e morreu
em 1838, em lugar não informado – considerado o maior modinheiro de sua
geração, teve uma vida muito curta, mas com uma obra muito marcante. O
violonista, compositor e cantor é conhecido até hoje como o Schubert
das Modinhas. Compôs também valsas e lundus.
Algumas composições marcantes: Cruel Saudade, Busco a
Campina Serena, A Hora Que Não Te Vejo, entre outras.
3) Lino José
Nunes
4) Francisco
da Luz Pinto
5) Guilherme
Pinto da Silveira Teles
6) Xisto Bahia – nasceu em Salvador (BA), 06 de agosto de 1841 e morreu
em Caxambu (MG), 30 de outubro de 1894: músico, compositor e dramaturgo, foi o
compositor da primeira música gravada no Brasil, o lundu Isto é Bom. Recebeu
aplausos tanto com suas músicas quanto suas atuações, inclusive do então
imperador D. Pedro II. Escreveu várias músicas incluindo A Mulata (com Melo Moraes Filho) e Quis Debalde Varrer-te da Memória (com
Plínio de Lima), duas das modinhas mais conhecidas de todos os tempos.
7) Guimarães
Passos e J.C. de Oliveira (Na casa branca da Serra)
8) José
Henrique da Silva e J. Pedaço (Perdão Emília)
9) Salvador
Fábregas e Castro Alves (O Gondoleiro do
Amor)
10) Gonçalves
Crespo (Mucama)
11) Carlos
Gomes (Quem Sabe)
12) Autor
anônimo (Elvira Escuta)
13) autor
anônimo (Foi Uma Noite Calmosa)
14) Miguel
Emídio Pestana e Melo Moraes Filho (O Bem-Te-Vi).
Observação: Chico
Buarque, Tom Jobim e Vinícius de Moraes também gravaram modinhas.
2.2.3 Precursores da modinha
- Gregório de Matos (1633-1696)
- Antônio José da Silva – o Judeu
(1705-1739)
- Tomás Antônio
Gonzaga (1744-?1808)
2.2.4 Autores que tiveram as letras de seus poemas musicados durante o
primeiro reinado
- Cândido Inácio da Silva,
- Gabriel Fernandes da Trindade,
- Padre José Maurício Nunes Garcia,
- Padre Teles Leal
e outros.
2.2.5 Autores que tiveram as letras de seus poemas musicados durante o
segundo reinado
- Gonçalves Dias
- Castro Alves
- Álvares de Azevedo
- Casimiro de Abreu
- Fagundes Varela.
2.2.6 A fusão da
modinha nos dias atuais
Sem dúvida alguma, a modinha não desapareceu ao
entrar no século XX. Sabemos que pouco se conhece ou se fala nos dias atuais
sobre a música no ritmo de modinha, principalmente a juventude. Mas a modinha,
ainda exerce um grau de influência na música brasileira, e isto só não é notado
porque as pessoas desconhecem a sua trajetória. Por exemplo, a modinha se funde
no lirismo e na harmonia de melodias como o samba-canção, a valsa, o xote, ou
seja, sai dos salões fechados para as ruas, pra boca do povo, com ritmos
coreográficos. Mário de Andrade (1972) chama a atenção para esses ritmos
importados (valsa, xote), afirmando que o ritmo novo, o samba-canção, é um
ritmo genuinamente brasileiro, derivado de um outro ritmo brasileiro: a
modinha. Ou seja, o samba-canção nacionalizou a modinha.
Para Araújo (1963) a modinha retorna a Portugal, através
de Domingos Caldas Barbosa (1740-1800), influenciada pelo lundu, e é bem
apreciada, não se restringindo apenas às classes altas, mas percorre todos os
grupos sociais, desde a nobreza, a burguesia, o clero, chegando às classes
populares, à criadagem, aos assalariados, sendo adaptada, adulterada por todas
essas classes, segundo seus gostos. Esse fato também desgastou o gênero
musical, vindo, muitos, a perderem o interesse por esse tipo de música naquele
país. Porém, coincidentemente, em 1808, a família real, juntamente com a corte
portuguesa, se transfere para o Brasil-colônia por causa das ameaças de invasão
do território português por Napoleão Bonaparte, e, de bagagem, nas embarcações,
veio também a agora erudita modinha. Quando o gênero musical da modinha retorna
para o Brasil, ela é inicialmente apreciada pelas elites, mas aos poucos vai
ganhando o gosto de todos, terminando por se popularizar cada vez mais,
deixando os salões e ganhando as ruas, como afirma Araújo (1963): “A modinha,
ária de corte, deixava aos poucos a luz dos candelabros, para se expandir sob o
céu das noites enluaradas. E desprezava o contraponto do cravo, pelo
contraponto dos baixos melódicos dos violões seresteiros” (ARAÚJO, 1963, p. 12).
Araújo (1963) observa que a modinha não morreu, e
que ela nunca morrerá, porque a sua essência transcendeu o simples cantar de um
ritmo particular, mas se misturou, está no lirismo dos mais diversos ritmos
musicais da diversidade brasileira, porque ela é a semente da musicalidade
brasileira, semente composta pela cultura negra, indígena e branca.
2.2.7
Análise de letras musicais de modinha
MÚSICA
1: A MALANDRINHA (Francisco Alves - música e letra de Freire Júnior)
Estrofe
1: 10 sílabas poéticas
1. A lua
vem surgindo cor de prata
2. No
alto da montanha verdejante
3. A lira
do cantor em serenata
4. Reclama
na janela sua amante
Estrofe 2: 10 sílabas poéticas
5. Ao som
da melodia apaixonada
6. Das
cordas do sonoro violão
7. Confessa
o seresteiro à sua amada
8. O que
dentro lhe dita o coração
Estrofe 3: 12 sílabas poéticas
9. Ó linda
imagem de mulher que me seduz
10. Ai, se
eu pudesse tu estarias no altar
11. És a
rainha dos meus sonhos, és a luz
12. És
malandrinha, não precisas trabalhar...
Estrofe 4: 10 sílabas poéticas
13. Acorda
minha bela namorada
14. A lua
nos convida a passear
15. Seus raios
iluminam toda a estrada
16. Por
onde nós havemos de passar
Estrofe 5: 11 sílabas poéticas e 10
sílabas poéticas
17. A rua
está deserta, oh vem querida
18. Ouvir
bem junto a mim o som do pinho!
19. E
quando a madrugada é já surgida
20. Os
pombos voltarão para os seus ninhos.
Análise:
Uma
das modinhas mais conhecidas e também mais belas é A malandrinha, que foi escrita em 1926, mas a primeira gravação foi
feita por Pedro Celestino em 1927. Francisco Alves gravou em 1928 e em 1952.
Esta canção fez parte do repertório da minissérie Dercy de verdade, à qual sempre cantava essa música em suas
apresentações.
Em
princípio a partitura da música aparecia com o título Canção-tango brasileira, com música e letra de Freire Junior.
- O tema: é simples, comum, fala da paixão de um homem por uma mulher,
que sai à noite a cantar-lhe serenata para despertar-lhe do sono, à janela da
casa da amada; é um casal enamorado. Parece ser correspondido, mas sente falta
da amada, que está a dormir.
- Tempo: cronológico, pois o amante está fazendo uma serenata para a
sua amada, provavelmente próximo da janela do quarto dela. Ex: A lua vem surgindo cor de prata. Ele
descreve também o cenário: a lua, a montanha, a serenata,
- O local: parece ser um lugar bucólico, calmo, como se fosse uma
cidadezinha do interior, pois o autor diz que a lua está “surgindo no alto da montanha verdejante”. Parece ser uma
noite de lua cheia, pois a lua convida o casal a passear, nas ruas iluminadas
pelos raios de luar. Mas também essa descrição poética é própria de boêmios, de
seresteiros.
A rua está deserta,
provavelmente, por causa do avançar das horas.
Percebe-se que o amante toca
uma seresta pra uma jovem mulher ao som de um violão de pinho.
Ele quer aproveitar aquele
momento com sua amada para fazer um passeio ao luar, e depois, quando já
estiver tarde, já na madrugada, voltarão cada um para as suas casas.
- Estrutura da composição:
a)
Rima: A letra da música tem os versos todos rimados. Exemplo:
prata no verso 1 rima com serenata no verso 3; verdejante no verso 2 rima com
amante no verso 4.
b)
Métrica: as estrofes 1, 2 e 4 apresentam versos decassílabos, ou
seja, versos com 10 sílabas poéticas.
A estrofe 3 apresenta versos
dodecassílabos (versos com 12 sílabas poéticas).
A estrofe 5 apresenta os
versos 17 e 19 como sendo versos hendecassílabos (versos com 11 sílabas
poéticas) e os versos 18 e 20 como sendo decassílabos (versos com 10 sílabas poéticas).
Obs: há uma mistura de versos
isométricos (que possuem uma única medida) com versos heterométricos (que
possuem métrica diferente na mesma letra).
Fonte:
A Malandrinha – Orlando Silva.
Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=Es8EzIP2AYI
A Malandrinha – Francisco
Alves. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=C87h8WfuJGU&ab_channel=YuriFerreiraYuriFerreira
Vicente Celestino – Ontem ao
luar. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=HBcZh131U6Y&ab_channel=LudoxFFLudoxFF
Marisa Monte – Ontem ao luar –
disponível em https://www.youtube.com/watch?v=CgqbPTt9hb8&ab_channel=MARISAMONTE
MÚSICA
2: QUEM TE VIU, QUEM TE VÊ (Chico Buarque)
Estrofe 1: 7 sílabas poéticas
(ou redondilha maior)
1. Você
era a mais bonita
2. Das
cabrochas dessa ala
3. Você
era a favorita
4. Onde
eu era o mestre-sala.
Estrofe 2: 7 sílabas poéticas
5. Hoje a
gente nem se fala,
6. Mas a
festa continua
7. Suas
noites são de gala,
8. Nosso
samba ainda é na rua.
Estrofe 3: 6 sílabas, 5
sílabas, 7 sílabas poéticas
9. Hoje o samba saiu
10. Procurando
você
11. Quem te viu, quem te vê
12. Quem não a conhece
13. Não pode mais ver pra crer
14. Quem jamais a esquece
15. Não pode reconhecer.
Estrofe 4: 7 sílabas poéticas
16. Quando
o samba começava,
17. Você
era a mais brilhante
18. E se a
gente se cansava
19. Você
só seguia adiante.
Estrofe 5: 7 sílabas poéticas
20. Hoje a
gente anda distante
21. Do
calor do seu gingado
22. Você só
dá chá dançante
23. Onde
eu não sou convidado.
Hoje
o samba saiu, lalalaiá...
Estrofe 6: 7 sílabas poéticas
24. O meu
samba se marcava
25. Na
cadencia dos seus passos
26. O meu
sono se embalava
27. No
carinho dos seus braços
Estrofe 7: 7 sílabas poéticas
28. Hoje
de teimoso eu passo
29. Bem em
frente ao seu portão
30. Pra
lembrar que sobra espaço
31. No
barraco e no cordão.
Hoje
o samba saiu, lalalaiá...
Estrofe 8: 7 sílabas poéticas
e 8 sílabas poéticas
32. Todo
ano eu lhe fazia
33. Uma
cabrocha de alta classe
34. De
dourado eu lhe vestia
35. Pra que
o povo admirasse.
Estrofe 9: 7 sílabas poéticas
e 8 sílabas poéticas
36. Eu não
sei bem com certeza
37. Porque
foi que um belo dia
38. Quem
brincava de princesa
39. Acostumou
na fantasia.
Hoje
o samba saiu, lalalaiá...
Estrofe 10: 7 sílabas poéticas
40. Hoje
eu vou sambar na pista,
41. Você
vai de galeria
42. Quero
que você assista
43. Na
mais fina companhia.
Estrofe 11: 7 sílabas poéticas
44. Se
você sentir saudade,
45. Por
favor não dê na vista
46. Bate
palmas com vontade,
47. Faz de
conta que é turista.
Hoje
o samba saiu, lalalaiá...
Análise:
História: a
música foi apresentada pela primeira vez em 16 de fevereiro de 1967, no
programa “Para ver a banda passar”, com Chico Buarque e Nara Leão. A gravação
original foi feita pelos dois. A música é feita ao estilo das canções de
Ataulfo Alves, por quem Chico tinha grande admiração, e o tema é a história de
uma passista desgarrada de suas origens. Quando Chico compôs a música, achou
que estava muito longa e pediu pra Nara Leão, quando gravasse, que tirasse duas
estrofes, mas a Nara gravou a música completa.
Tema
principal: história de amor entre um mestre-sala e uma possível
passista, a separação do casal e a tentativa de reatar o relacionamento por
parte dele, não dela.
Tema
secundário: riqueza X pobreza
Ela, por algum motivo,
provavelmente deve ter assumido um relacionamento com alguém que lhe deu um padrão
de vida de classe média, mais confortável. Por isso, ela passou a evitar o
mestre-sala, e a frequentar festas onde os frequentadores tinham um poder
econômico mais elevado, enquanto o seu antigo amor, continuava brincando o
carnaval de rua.
A narrativa dessa história se
dá em torno de um homem tentando reconquistar sua amada que o havia deixado. E,
para isso, ele apela para os bons momentos do passado que viveram juntos, mas
ela não volta para ele.
Estrofe
1,
o sujeito faz elogios à mulher através das lembranças que tem com ela, esperando
com isso amolecer seu coração para que volte pra ele. Ele se doa a ela, e essa
doação por meio de elogios, que demonstram seu amor, é feita ao longo de toda a
canção. Tempo passado: ela era a
mais bonita, não é mais.
“Você era a mais bonita/Das cabrochas dessa ala/Você era a favorita/Onde
eu era o mestre-sala.”
Estrofe
2,
indica que ela não quer voltar para ele, que a iniciativa da separação partiu
dela. Ela não participa mais das apresentações de rua, pela escola de samba como
ele. Agora, ela aprecia a apresentação, ela está na arquibancada. Tempo
presente (Hoje).
“Hoje a gente nem se fala/Mas a festa continua/Suas noites são de
gala/Nosso samba ainda é na rua.”
Na
estrofe 3, o sujeito diz que o samba saiu procurando ela, ou seja,
está se referindo ao seu sentimento por ela em forma de samba, aquilo que eles
mais gostavam de fazer. Mas ele nem ninguém que a conhece não pode reconhece-la,
vendo-a na galeria assistindo ao desfile, quando era pra ela estar no palco da
avenida se apresentando. Agora ela estava na posição de turista. Tempo presente
(Hoje/Quem te vê) e passado (Quem te viu).
“Hoje o samba saiu/Procurando você/Quem te viu, quem te vê/Quem não a conhece/Não pode mais ver pra
crer/Quem jamais a esquece/Não pode reconhecer.”
Na
estrofe 4, ele não cansa de lisonjeá-la, tentando recorda-la dos
tempos áureos de quando desfilavam juntos. Era mais uma tentativa de tentar
amolecer o coração da sua amada pra que voltasse pra ele, lembrando do período
de glória que eles viveram. Tempo passado (Começava, era, cansava, seguia).
“Quando o samba começava/Você era a mais brilhante/E se a gente se cansava/Você só seguia
adiante.”
Na
estrofe 5, ela se afastou dele e de todos (provavelmente da escola
de samba) e quando ele diz que ela só se apresenta onde ela tem certeza de que
ele não pode vê-la, implica dizer também que ela não quer vê-lo, não quer
aproximação, que ela o está evitando. A colher de chá que ela dá ao se apresentar
(chá dançante) é apenas para um público seleto, em lugares onde,
financeiramente, o mestre-sala não pode frequentar. É uma relação que não
existe mais, porém se dependesse do desejo dele, ainda estariam juntos. Tempo
presente, mas relembrando o passado (Hoje/calor do seu gingado).
“Hoje a gente anda distante/Do calor do seu gingado/Você só dá chá
dançante/Onde eu não sou convidado.”
Na
estrofe 6, revela uma dependência dele em relação a ela, pois
cadência significa regularidade de movimentos, de ritmos (que ele não consegue
esquecer/estava acostumado). O samba representava o amor dele por ela. Havia uma cumplicidade entre os dois que foi
quebrada, e ele quando dizia que o sono dele se embalava nos braços dela,
queria dizer que nunca a esqueceu, que se sentia seguro, que dormia tranquilo
ao lado dela, tentando fazer com que ela se lembre sempre dos momentos que
viveram juntos. Essa estrofe é suprimida
por Chico Buarque. Tempo passado (marcava, embalava).
“O meu samba se marcava/Na cadencia dos seus passos/O meu sono se
embalava/No carinho dos seus braços”
Na
estrofe 7, o mestre-sala sente falta dela e, por isso, insiste no
relacionamento e passa em frente sua casa, na esperança de vê-la, e dizer a ela
que as portas da sua casa e da escola de samba estão ainda abertas esperando
por ela; que sente saudades dela, porque a casa se tornou muito espaçosa e
vazia. A palavra teimoso
evidencia a insistência dele em voltar com ela, mas a resposta dela sempre é
negativa e ele sabe disso. A narrativa não diz onde ela está morando, se
próximo dele ou se distante, em outra rua, ou em outro bairro. Mas, pela
mudança de vida dela, e de relacionamento em que, aparentemente, demonstra que
ela passou a ter um padrão de vida melhor que o dele, provavelmente ela tenha
mudado de bairro. E a relação portão/barraco mostra a independência dela em
relação a ele. Uma ruptura de corpos e de sentimentos. Tempo presente (Hoje). Essa estrofe é suprimida por Chico
Buarque.
“Hoje de teimoso eu passo/Bem em
frente ao seu portão/Pra lembrar que sobra espaço/No barraco e no cordão.”
Na
estrofe 8, cabrocha significa Mulata
jovem, viçosa e feliz, ou ainda a deusa sábia e santa, cujo rosto divino
tem um brilho forte demais para o olhar humano. Ela era a deusa do mestre-sala.
Por isso, ele cuidava de fazer com que ela tivesse a melhor fantasia, a mais
bonita, pra chamar a atenção pra ela e ter a admiração de todos. Possivelmente,
ele, sendo de uma classe baixa, fazia um grande esforço para comprar os adornos
de preparação da fantasia que a sua amada deveria usar. Tempo passado (fazia,
vestia. Admirasse).
“Todo ano eu lhe fazia/Uma cabrocha de alta classe/De dourado eu
lhe vestia/Pra que o povo admirasse.”
Na
estrofe 9, a cabrocha, possível passista que desfilava todo ano com
uma fantasia magnifica, de princesa do asfalto, acabou trazendo a fantasia para
a sua realidade. Mas era apenas uma fantasia que, de tanto ela usar ano após
ano, acostumou-se com o luxo, e acabou trocando o dourado da fantasia de uma
vida simples por uma vida mais luxuosa, com um melhor padrão de vida. Foi o que
ela acabou desejando de verdade, ou seja, encontrar o seu príncipe encantado.
Tempo passado (brincava de princesa) e presente (acostumou na fantasia).
“Eu não sei bem com certeza/Porque
foi que um belo dia/Quem brincava de princesa/Acostumou na fantasia.”
Na
estrofe 10, o mestre-sala se prepara, mais uma vez, pra desfilar no
carnaval e fazer o seu show na avenida; e ela, a cabrocha não será mais a sua
parceira, não estará mais na avenida sendo aplaudida, mas estará no camarote ou na galeria, com pessoas que têm um padrão de vida um pouco acima do
dele, admirando e aplaudindo o desfile e, possivelmente, estará com outra
pessoa com quem se relaciona. Ele estará na rua, que é onde ele faz o seu show
pela sua escola de samba. Isso reflete separação entre os dois: de corpos, de
relacionamentos, de padrão social.
Ela estará na companhia de
outro homem e não com ele. Tempo presente.
“Hoje eu vou sambar na pista/Você
vai de galeria/Quero que você assista/Na mais fina companhia.”
Na
estrofe 11, aponta para o saudosismo de um tempo recente, que foi bom
e glorioso, e que, no momento do desfile, quando ela visse o mestre-sala
passando sem ela, talvez com outra parceira (passista), ele pede que ela se
contenha e não deixe que as pessoas próximas dela percebam a sua emoção. No
final, pede para que ela aplauda como se não o conhecesse, como uma turista que
está ali pela primeira vez assistindo aquele espetáculo de rua. Tempo presente,
que remonta ao passado.
“Se você sentir saudade/Por
favor não dê na vista/Bate palmas com vontade/Faz de conta que é turista.”
Tempo:
psicológico e cronológico
Local:
provavelmente a cidade do Rio de Janeiro
Características: é um
samba-canção derivado da influência da modinha; o tema trata da separação entre
um mestre-sala e uma possível passista; sofrimento pela separação; é um samba
que conta uma história feliz e triste de um amor (um paradoxo); é melódico, com
um caráter lírico e sentimental; tem um tom melancólico; fala de um amor
perdido; acompanhado por instrumentos de corda e percussão; estrofes A-B.
Estrutura
da composição:
Rima: os
versos são rimados, combinando sempre o 1º verso com o 3º, e o 2º verso com o
4º de cada estrofe. Exemplo:
“Hoje a gente anda distante – 1º verso
Do calor do seu gingado
– 2º verso
Você só dá chá dançante – 3º verso
Onde eu não sou convidado.”
– 4º verso
Métrica:
As estrofes 1, 2, 4, 5, 6, 7,
9, 10 e 11 apresentam versos com 7 sílabas poéticas; o quarto verso da estrofe
9 tem oito sílabas poéticas.
A estrofe 3 apresenta versos
com 6 sílabas poéticas (Hexassílabos), 5 sílabas poéticas (Redondilha menor ou
Pentassílabo) e 7 sílabas poéticas (Redondilha maior ou Heptassílabo), ou seja,
apresentam sílabas poéticas misturadas.
Fonte:
Quem te viu, quem te vê (Chico
Buarque – Carioca ao vivo. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=DPi2GvElSUQ&ab_channel=BiscoitoFinoBiscoitoFino
Roberta Sá. Quem te viu, quem
te vê. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=TTwvgW2-kPk&ab_channel=CanalPluralCanalPlural
MÚSICA
3: VALSINHA (Chico Buarque / Vinícius de Moraes)
Álbum: CONSTRUÇÃO / Ano de lançamento: 1971
Um dia ele chegou tão diferente - 10 sílabas poéticas
Do seu jeito de sempre chegar – 9 sílabas poéticas
Olhou-a de um jeito muito mais quente - 10
Do que sempre costumava olhar - 9
E não maldisse a vida tanto - 8
Quanto era seu jeito de sempre falar - 11
E nem deixou-a só num canto - 8
Pra seu grande espanto, convidou-a pra rodar - 13
E então ela se fez bonita - 8
Como há muito tempo não queria ousar - 11
Com seu vestido decotado - 8
Cheirando a guardado de tanto esperar - 11
Depois os dois deram-se os braços - 8
Como há muito tempo não se usava dar - 11
E cheios de ternura e graça - 8
Foram para a praça e começaram a se abraçar - 13
E ali dançaram tanta dança - 8
Que a vizinhança toda despertou - 10
E foi tanta felicidade - 8
Que toda cidade se iluminou - 10
E foram tantos beijos loucos - 8
Tantos gritos roucos como não se ouvia mais - 13
Que o mundo compreendeu - 6
E o dia amanheceu em paz - 8
Análise:
Memória discursiva: Valsinha, uma canção de Chico Buarque de
Holanda e Vinícius de Moraes dedicada a um movimento social dos anos 70
denominado hippie, pregava a liberdade de ação do indivíduo. Essa prática
levava as pessoas a agirem livremente e sem preconceito no período de repressão
do Governo Militar. Normalmente, seus seguidores viviam em grupos, preconizavam
o amor, aboliam a discriminação racial e faziam sexo livremente, isento de
condenação. A alusão que Chico faz ao movimento é figurada na performance de um
casal que, “um dia”, muda sua conduta e toma outro rumo na vida. A homenagem a
esse evento de vanguarda retrata metaforicamente o lirismo vivido por seus
integrantes como artifício para fugir da censura política. Uma mulher que está
esperando sempre o marido, de repente, ele chega diferente e ela tira o vestido
que está guardado e eles saem pra rua à dançar. Lembra inclusive, aquela cena
do filme “Cantando na chuva” (1952), em que o personagem, depois de deixar sua
amada em casa, num dia de chuva, sai pela rua Cantando e dançando com um
guarda-chuva nas mãos, feliz da vida.
Estrutura do texto:
Valsinha é estilisticamente
um poema. Além de sua estrutura poética, possui narrativa, o que faz dela um
mini conto, pois possui um só núcleo. Sua narração começa em um momento
qualquer (um dia) e as ações são introduzidas sequencialmente até chegar a um
fim esperado. Por isso, a narração é centrada no narrador. Com o foco narrativo
na 3ª pessoa, o narrador vê tudo à distância e conduz o fato sem interferir na
história. Assim, o ele controla todo o saber, sem limitações de profundidade
interna ou externa, em todos os lugares ou em todos os tempos. Em resumo, o
texto é narrado por um narrador onisciente.
Estrofe 1 - Tem
um caráter lírico e sentimental X paixão: a impressão que temos é que havia uma
rotina na vida do casal. Todos os dias ele (o sujeito) tinha os mesmos hábitos
ao chegar em casa. Mas um dia, a mulher notou que ele estava diferente, pois
olhou pra ela com interesse, como quem presta atenção, como se a comesse com os
olhos, como se a tivesse visto pela primeira vez e a desejasse. Talvez a rotina
do dia-a-dia tenha furtado, aos poucos, esse prazer, tenha esfriado a chama que
havia entre os dois.
“Um dia ele chegou tão diferente - 10 sílabas poéticas
Do seu jeito de sempre chegar – 9 sílabas poéticas
Olhou-a de um jeito muito mais quente - 10
Do que sempre costumava olhar” - 9
Estrofe
2
– o sujeito costumava reclamar da vida sempre que chegava em sua casa. E neste
contexto, incluem-se o dia-a-dia do trabalho, o preço das coisas, o salário, a
falta de dinheiro, a ditadura, o autoritarismo, a falta de liberdade. Naquele
momento, ele toma uma decisão em sua vida de casado. Ele não costumava dar
importância pra mulher; já não tinha o mesmo desejo por ela de como quando a
conheceu. Mas parece que percebeu que só quem poderia mudar os rumos da vida
deles, eram eles mesmos. Quem se espantou: ele ou ela? Parece que ele mesmo se
espantou com sua atitude de tira-la pra rodar, pois costumava deixa-la sozinha.
Pareciam dois estranhos dentro de uma mesma casa.
“E não maldisse a vida
tanto - 8
Quanto era seu jeito de sempre
falar - 11
E nem deixou-a só num canto - 8
Pra seu grande espanto,
convidou-a pra rodar” - 13
Estrofe
3
– naquele momento, a mulher pegou o seu vestido decotado que estava guardado a
muito tempo (cheirando a guardado), e a muito tempo não era usado. Houve uma
mudança repentina na figura da mulher, no seu comportamento, na sua aparência
(ela se fez bonita). Há uma revalorização da beleza da mulher.
“E então ela se fez bonita - 8
Como há muito tempo não queria ousar -
11
Com seu vestido decotado - 8
Cheirando a guardado de tanto esperar”
- 11
Estrofe 4 – observa-se
que, fazia muito tempo que os dois não se tocavam, nem se abraçavam, mesmo
sendo um casal, aparentemente marido e mulher. Havia um distanciamento entre
eles, talvez causado pela própria rotina: da parte dele (casa-trabalho,
trabalho-casa); da parte dela (trabalho doméstico). Eles saem da prisão (casa)
e vão para a praça (símbolo de libertação).
“Depois os dois deram-se
os braços - 8
Como há muito tempo não se usava
dar - 11
E cheios de ternura e graça - 8
Foram para a praça e começaram a
se abraçar” - 13
Estrofe
5
– a praça aparece como centro de resistência, pois no momento em que o casal se
desloca para ela e começa a dançar livremente, sem receio, sem medo, a
vizinhança começa a se aproximar do casal na praça. E aquele medo que eles
tinham guardado em casa, que simbolizava a sua prisão, de repente foi iluminado
e desapareceu. Essa liberdade de ir para a praça e a saída da vizinhança para a
mesma, simboliza o enfrentamento da repressão contra o povo, que começou a se
libertar desse regime (começou a se iluminar).
“E ali dançaram tanta dança – 8
Que a vizinhança toda despertou - 10
E foi tanta felicidade - 8
Que toda cidade se iluminou” - 10
Estrofe
6
– e ali, naquele espaço, eles começaram a se beijar e a se amar, fazer sexo
livre. E todos reconheceram que a repressão, um regime ditador pode ser vencido
pelo o amor (e o mundo amanheceu em paz).
“E foram tantos beijos
loucos - 8
Tantos gritos roucos como não se
ouvia mais - 13
Que o mundo compreendeu - 6
E o dia amanheceu em paz” - 8
- Ritmo com tom melancólico,
triste;
- Repetições rítmicas
“Um dia ele chegou tão diferente - 10 sílabas poéticas
Do seu jeito de sempre chegar – 9 sílabas poéticas
Olhou-a de um jeito muito mais quente - 10
Do que sempre costumava olhar” - 9
- Pode ter acompanhamento só de
violão;
- Tema do amor, paixão,
esperança
“Depois os dois deram-se
os braços - 8
Como há muito tempo não se usava
dar - 11
E cheios de ternura e graça - 8
Foram para a praça e começaram a
se abraçar” - 13
- Ênfase na liberdade
representada através da dança
“E ali dançaram tanta dança - 8
Que a vizinhança toda despertou - 10
E foi tanta felicidade - 8
Que toda cidade se iluminou” - 10
Marcadores da narrativa:
- O tempo (um dia, muito
tempo)
- O espaço (num canto, praça,
cidade, mundo)
- Verbos (pretérito perfeito
e imperfeito: chegou..., diferente..., olhou-a..., costumava..., maldisse...)
Palavras mais sedutoras: quente...,
bonita..., decotado... ternura..., beijos loucos...
Métrica: Não há uma
padronização de sílabas poéticas, pois elas aparecem de forma variada nos
versos. Exemplo: versos com10 sílabas poéticas, com 8 sílabas poéticas, com 13
sílabas poéticas, com 11sílabas poéticas, com 9 sílabas poéticas. Ou seja, há uma mistura de versos isométricos (que possuem uma única medida)
com versos heterométricos (que possuem métrica diferente na mesma letra).
Fonte:
Chico Buarque – Valsinha.
Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=4cNMt2-BdhA&ab_channel=RWRRWR
Nelson Gonçalves e Chico
Buarque – Valsinha. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=iwwd16YbTA&ab_channel=solangexaviersolangexavier
RECANTO DAS LETRAS. Disponível
em: https://www.recantodasletras.com.br/artigos/1234042
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, Mário de. Ensaio sobre a música brasileira. São
Paulo: Martins Fontes, 1972.
ARAÚJO, Mozart. A Modinha e o Lundu no século XVIII.
São Paulo: Ed. Ricordi, 1963.
MUSIQUE, Paula. A modinha no Brasil: conheça a origem
da música brasileira. [S.l.], 29. Abr. 2008. Disponível em: http://paulamusique.com/modinha-no-brasil-conheca-a-origem-da-musica-brasileira.
Acesso em 26. Abr. 2021.
KIEFER, Bruno. A Modinha e o Lundu. Porto Alegre: Ed.
Movimento 2ed, 1986.
LIMA, Edilson Vicente de. A modinha e o Lundu no Brasil: As
primeiras manifestações da música popular urbana no Brasil. In: As Modinhas do Brasil. São Paulo: Ed.
da USP, 2001. Disponível em https://www.passeidireto.com/arquivo/40420923/a-modinha-e-o-lundu-no-brasil-em-as-primeiras-manifestacoes-da-musica-popular-ur.
Acesso em 27. Abr. 2021.
MARCONDES, Marcos (org.). Enciclopédia da Música Brasileira:
Erudita, Folclórica e Popular. 2 ed. São Paulo: Art Editora, 1998.
MONTEIRO, José. Modinha: um estudo etimológico sobre o
termo. Revista Intellèctus, ano XVII, n. 1, p. 125-143, 2018.
VALENÇA, José. Modinha: Raízes da Música do Povo. São
Paulo: Empresas Dow, 1985.
[1]
Fonte: MUSIQUE, Paula (Blog). A modinha
no Brasil: conheça a origem da música brasileira. [S.l.], 29. Abr. 2008. p.
5. Disponível em:
http://paulamusique.com/modinha-no-brasil-conheca-a-origem-da-musica-brasileira.
Acesso em 26. Abr. 2021.
Nenhum comentário:
Postar um comentário