No capítulo 1 de “A Revolução
Burguesa no Brasil”, “Impactos Socioeconômicos da Independência”, Florestan
Fernandes nos diz que essa teve uma “polarização ideológica” e uma “polarização
utópica”.
Na primeira, o liberalismo é
utilizado para redefinir as elites escravocratas no cenário mundial, enfeixando
seu domínio na forma de um Estado-Nação.
A segunda envolve a promessa que
o Estado Nação encerra, na criação de um impulso rumo à igualdade.
E, mesmo que , depois, a
dominação burguesa tenha se realizado segunda a modalidade do modo
“autocrático-burguês”, conforme discorre Florestan nesta obra seminal, a
existência do Brasil projeta, para todos, um sonho a perseguir, de uma Nação
justa, desenvolvida e democrática.
Marx dizia que a “emancipação
política”, que o liberalismo representa, é um passo na “emancipação humana”.
Marshall dizia que o Estado-Nação é um “status compartilhado”, que dissolveu as
ordens e estamentos do mundo feudal, abrindo o caminho para a afirmação
progressiva dos direitos civis, políticos e sociais.
Há muito a rever, a partir do
“grito dos excluídos”, no confronto com os portadores da “polarização ideológica”
do liberalismo, que instrui o processo de Independência. Mas não podemos deixar
que a data seja um patrimônio de nossa elite de matriz escravocrata. A
Independência criou o Estado Nacional brasileiro e é a partir dele que
haveremos de alcançar (ou nunca o faremos) uma sociedade justa, fraterna,
igualitária.
Fora disso, qualquer outro
arranjo é uma quimera que pode confortar o espírito, mas não instrui a ação
transformadora.
Ignacio Godinho Delgado é
Professor Titular Aposentado da Universidade Federal de Juiz de Fora.
Fonte: Democracia Socialista
Publicação: 06/09/2022
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