Valdivino Cunha da Silva*
Talvez esse não seja o local mais
apropriado pra essa modalidade de escrita, mas é um local privilegiado é muitas
vezes mal utilizado. Vamos lá então.
Não é necessário ser cientista, ambientalista,
agrônomo ou de áreas afins para entender os males que a cultura do dendê está
trazendo ao meio ambiente e aos pequenos agricultores, notadamente aqueles que
residem nos municípios que compõem o Nordeste Paraense ( Bujaru, Concórdia,
Tomé-Açu, entre outros) além Igarapé Açu, Acará e Tailândia que se enquadram dentro de
outra mesorregião paraense.
O que está ocorrendo nesses
municípios é uma das modalidades de violência por parte do grande capital, que
é o aliciamento financeiro. Estão praticando uma verdadeira afronta aos
agricultores familiares e ao meio ambiente. São os cercamentos modernos,
poderíamos classificar assim, pois trazem similaridades com os cercamentos que
ocorreram na transição do Sistema
Feudal ao Modo de Produção Capitalista, a diferença é que naquele tempo, a
expulsão da terra se dava para a criação de ovelhas para a produção de lã,
matéria prima para fabricação de tecidos, hoje se expulsa o agricultor para
produzir dendê.
Aparentemente há “uma compra” e é
aqui que está o problema, pois, o
capitalista vê a terra como uma mercadoria, mas para o agricultor, ela tem
valor de uso e até cultural. Para o agricultor familiar que herdou um pequeno
pedaço de terra de seus antepassados, a terra é a garantia de sua sobrevivência
e das gerações futuras.
O valor que o capitalista oferece
ao pequeno agricultor parece, num primeiro momento, um bom dinheiro e ele
terminam se curvando ao capital. Efetuado a venda ele parte, via de regra, pra
capital, Belém, ou à cidade mais próxima. Chegando lá se depara com uma nova
realidade e percebendo que não vez um bom negócio, quer voltar, mas é tarde
demais, já passaram cercas em sua ex-terra e as placas indicam a proibição de
lá adentrar.
Consumada a “compra” em pouco
tempo a flora, rios e igarapés serão destruídos impiedosamente. Inicia-se o
processo de instalação da monocultura do dendê, a dendeicultura, visando a
produção dos biocombustíveis ou biodiesel e o agronegócio se instala
definitivamente como uma onda impetuosa que devasta tudo.
Estima-se que a área ocupada com
essa monocultura já se aproxime dos 150 mil hectares. Como consequência de tudo
isso, do ponto de vista econômico, temos, por exemplo, o aumento do preço da
farinha ou mesmo do açaí e a instalação do agronegócio. Claro que não é só esse
fator que contribui para o aumento desses produtos básicos mas é um dado relevante. Os impactos sociais
são incalculáveis. Quanto à questão ambiental, os igarapés, que são fontes de
vida do agricultor familiar na Amazônia como um todo, estão desaparecendo
velozmente, estão matando quase todos, muitos viraram apenas escoadores de
produtos químicos maléficos ao ecossistema, sob as pontes não há mais igarapés,
só vagas lembranças.
É necessário ações do IBAMA,
Ministério Público, ministério do Desenvolvimento Agrário, Agricultores
Familiares e Sociedade Civil, pois se nada for feito agora, em pouco tempo nada
mais poderá ser feito.
* Professor do SOME - SEDUC/Pa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário