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sábado, 8 de fevereiro de 2014

A gente não quer só dendê


                                                                           Valdivino Cunha da Silva*

Talvez esse não seja o local mais apropriado pra essa modalidade de escrita, mas é um local privilegiado é muitas vezes mal utilizado.  Vamos lá então.


Não é necessário ser cientista, ambientalista, agrônomo ou de áreas afins para entender os males que a cultura do dendê está trazendo ao meio ambiente e aos pequenos agricultores, notadamente aqueles que residem nos municípios que compõem o Nordeste Paraense ( Bujaru, Concórdia, Tomé-Açu, entre outros) além  Igarapé Açu,  Acará e Tailândia que se enquadram dentro de outra mesorregião paraense.


O que está ocorrendo nesses municípios é uma das modalidades de violência por parte do grande capital, que é o aliciamento financeiro. Estão praticando uma verdadeira afronta aos agricultores familiares e ao meio ambiente. São os cercamentos modernos, poderíamos classificar assim, pois trazem similaridades com os cercamentos que ocorreram na transição Canto dobrado: 1do Sistema Feudal ao Modo de Produção Capitalista, a diferença é que naquele tempo, a expulsão da terra se dava para a criação de ovelhas para a produção de lã, matéria prima para fabricação de tecidos, hoje se expulsa o agricultor para produzir dendê.


Aparentemente há “uma compra” e é aqui que está o problema, pois,  o capitalista vê a terra como uma mercadoria, mas para o agricultor, ela tem valor de uso e até cultural. Para o agricultor familiar que herdou um pequeno pedaço de terra de seus antepassados, a terra é a garantia de sua sobrevivência e das gerações futuras.


O valor que o capitalista oferece ao pequeno agricultor parece, num primeiro momento, um bom dinheiro e ele terminam se curvando ao capital. Efetuado a venda ele parte, via de regra, pra capital, Belém, ou à cidade mais próxima. Chegando lá se depara com uma nova realidade e percebendo que não vez um bom negócio, quer voltar, mas é tarde demais, já passaram cercas em sua ex-terra e as placas indicam a proibição de lá adentrar.


Consumada a “compra” em pouco tempo a flora, rios e igarapés serão destruídos impiedosamente. Inicia-se o processo de instalação da monocultura do dendê, a dendeicultura, visando a produção dos biocombustíveis ou biodiesel e o agronegócio se instala definitivamente como uma onda impetuosa que devasta tudo.


Estima-se que a área ocupada com essa monocultura já se aproxime dos 150 mil hectares. Como consequência de tudo isso, do ponto de vista econômico, temos, por exemplo, o aumento do preço da farinha ou mesmo do açaí e a instalação do agronegócio. Claro que não é só esse fator que contribui para o aumento desses produtos básicos  mas é um dado relevante. Os impactos sociais são incalculáveis. Quanto à questão ambiental, os igarapés, que são fontes de vida do agricultor familiar na Amazônia como um todo, estão desaparecendo velozmente, estão matando quase todos, muitos viraram apenas escoadores de produtos químicos maléficos ao ecossistema, sob as pontes não há mais igarapés, só vagas lembranças.



É necessário ações do IBAMA, Ministério Público, ministério do Desenvolvimento Agrário, Agricultores Familiares e Sociedade Civil, pois se nada for feito agora, em pouco tempo nada mais poderá ser feito.


                                                               * Professor do SOME - SEDUC/Pa.

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