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quarta-feira, 27 de outubro de 2021

SOME é tema de dissertação de mestrado em Cametá

 

 

Mais um trabalho chega para enriquecer o acervo das pesquisas sobre o Sistema Modular. A dissertação da acadêmica cametaense da UFPA Rosilene Ferreira de Almeida com o título A prática pedagógica nos processos formativos dos alunos do Sistema de Organização Modular de Ensino (SOME) na localidade de Paruru de Baixo no município de Cametá/PA, foi defendida e aprovada com louvor.

 

A acadêmica teve como principal base teórica os seguintes livros: SOME: Educação no campo da Amazônia Paraense, do escritor moduleiro Arodinei Gaia e Educação na Amazônia em Repertório de Saberes: O Sistema de Organização Modular de Ensino, organizado pelos escritores moduleiros Ribamar Oliveira, Marina Costa e Sérgio Bandeira.

 

A pesquisadora esteve na localidade entrevistando professores, estudantes e membros comunitários sobre a importância do modular na comunidade.

 

Rosilene Almeida é formanda do curso de Mestrado em educação e cultura do campus da UFPA Cametá e escolheu a temática moduleira para sua dissertação que teve como Orientador o Prof. Dr. João Paulo da Conceição Alves.

 

O SOME, há alguns anos, vem despertando o interesse de estudantes de graduação e pós graduação dentro e fora do Estado Paraense, o que permite com que essa importante política pública educacional seja mais conhecida no meio acadêmico.





Fonte: Postagem do Professor Eládio Carneiro Neto, na Página Modular Notícias

terça-feira, 26 de outubro de 2021

Projeto: Criança Feliz é Criança que Brinca





Em homenagem ao Dia das Crianças, comemorado no dia 12 de outubro, os Professores do Sistema de Organização Modular de Ensino - SOME, Nelma Sousa e Ranildo Alvarenga, festejaram no dia 11 do corrente um dia recreativo, envolvendo todo o seguimento escolar, principalmente a participação efetiva dos alunos matriculados nesta importante política pública, considerada uma das maiores de inclusões sociais da Amazônia.





Durante a programação realizada na Escola Wulfilda Rêgo, na localidade de Vila de Arapucú, no município de Óbidos, foi intensa com a participação de um número significativo de ´pessoas da comunidade. Durante o evento, considerado excelente, o teatro, brincadeiras lúdicas, entrega de presentes e no final a distribuição de merenda foram marcantes. O Projeto constou com Apresentação dos professores; Fala da Diretora da Escola; Fala dos Professores Organizadores do Projeto, Nelma Sousa e Ranildo Alvarenga; Torta na cara entre os professores, se tornando a atração máxima. Na apresentação da tarde maravilhosa, o Professor do município de Belterra, Pedro Emiliano, se destacou com sua entonação, dinamismo e brilhantismo.  




Parabenizamos os referidos professores pela execução do projeto na comunidade. 





Fontes: www.obidense.com.br

            Profª Nelma Sousa

            Prof. Pedro Emiliano

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

Educação na Amazônia em Repertório de Saberes: O Sistema de Organização Modular de Ensino

 





O livro dos Organizadores Marina Costa, Sérgio Bandeira e Ribamar Oliveira, Educação na Amazônia em Repertório de Saberes: O Sistema de Organização Modular de Ensino, acaba de chegar nas mãos dos remanescentes do SOME e atualmente professores no Caribe Brasileiro, Alter do Chão. Esses são os professores Mauro Vasconcelos e Ênio Vasconcelos, como doação para a Escola. Este último está na direção da escola e outro livro foi entregue para Rádio Comunitária Alternativa através do Prof. Glauco Figueira. O segundo volume da Coleção se encontra em fase de conclusão. Aguardem!

sexta-feira, 15 de outubro de 2021

DIA DOS PROFESSORES NO BRASIL

 


O Editor do Blog do Riba, que também é Professor por mais de 30 anos, escolheu três textos, considerados melhores e de próprio punho, publicados nas redes sociais durante a data de hoje, pedindo autorização para os autores, quando comemora-se o Dia dos Professores e parabenizo os professores selecionados, que são os seguintes:


Nas alegrias desse momento festivo, percebemos que nossas emoções evidenciam a dimensão dos lastros de amizade formados no universo da docência em territórios paraenses, através do Sistema de Organização Modular de Ensino (SOME). Juntos percebemos que ensinar vai muito além de transmitir conhecimento; se não envolver inúmeras provocações que desafiem a inércia dos sujeitos que transformam a sociedade, perde em grande parte seu sentido. Juntos amadurecemos diante dos gritantes desafios de fazer da Educação, uma ação consequente na imensa territorialidade da Amazônia paraense, especialmente com os povos dos campos, das ilhas, quilombolas, etnias  diversas... nos fizemos fortes, mesmo no cansaço dessa estrada, politicamente enlamaçada. As dificuldades desse processo fizeram nascer em nós um misto de valentia e docilidade, de fúria e generosidade... de um monte de coisas antagônicas e necessárias. Me arrisco a dizer que dos 15 anos como docente no SOME e outros 16 anos nas escolas de Belém, nunca vi e vivi elo tão forte e tão alentador para as lutas que travamos, contra a tirania de sucessivos governos que representam frentes de impedimentos para o avanço social do proletariado através da  Educação. Juntos aprendemos a parear o exercício da docência com nossos estudantes, sem se ausentar dos movimentos reivindicatórios de rua por educação de qualidade, dignidade salarial e justiça. Nos nossos distanciamentos espaciais e temporais, é nas ruas que nos últimos 19 anos, temos nos encontrado e de lá, saem nossas sugestões para esses reencontros de alegria e fortalecimento.


Aproveito esses registros para parabenizar meus amigos professores, minhas amigas professoras, todos e todas que trabalham com educação, em qualquer lugar, inspirados/as nos sentimentos de "Educação: compromisso, responsabilidade e luta"; pra vocês, tenho todo prazer em dizer: FELIZ DIA DOS PROFESSORES E DAS PROFESSORAS. Estou feliz pq vcs são muitos e muitas 🎓🎓💐😘😘


Profa. Marina de Sousa Costa, Mestra em Educação, Universidade de Évora/Portugal. Graduação em Biologia(UFPA) e Educação Física(UEPA). Professora por 15 anos(1988-2003) pelo Sistema de Organização Modular de Ensino- SOME e atualmente é docente no Centro de Educação de Jovens e Adultos(CEEJA).






Sempre que me pego pensando sobre como a vida me trouxe a condição de Professor, se fecho os olhos, a primeira imagem que me vem é a de minha primeira professora. Tia Dadá, como era conhecida, morava em uma pequena casa de madeira na passagem Alvino, rua de chão batido no bairro do Guamá, periferia de Belém.  Na casa de dois compartimentos, a sala improvisada, quadro velho de giz dependurado na parede, espaço usado para receber os meninos e meninas da área que sonhavam em aprender as primeiras palavras.  Corpo franzino, envelhecido, curvado, braços longos, nas mãos os sinais do tempo, passos lentos, cabelos escorridos, fala compassada, olhar sonhador apesar da falta de tudo. Suas mãos firmes guiavam os nossos, primeiros traços, segura o lápis, apaga, faz  e refaz, dedicação, paciência, resiliência.  Entre um tracejo e outro, um grito externo, estridente: DONA DADÁ, CARVÃO... As palavras rabiscadas no quadro eram copiadas com diferentes graus de dificuldade, enquanto isso, na parte dos fundos da casa, as mãos habilidosas mediam o carvão em uma lata batida. Lá se vai o comprador correndo, um moleque qualquer fedendo de sol, ficava o cheiro de poeira escura, tijuco seco e vinha a angústia de que a professora esquecesse de lavar as mãos e tocasse o caderno. Sua proximidade era um misto de receio pelo erro e respeito absoluto. A tarde avançava rapidamente nas cadeiras germinadas, calor, os netos passando pra lá e pra cá. Interrupções contínuas pelos chamados e então a maior lição: partilhar. Chegava a hora do lanche, sabedora de que muitas merendeiras vinham vazias de casa, por sinal para alguns este era um item de luxo, já era muito poder trazer o caderno confeccionado com papel de pão reaproveitado da taberna do Seu Zé, ou do comércio do crente, objeto cuidadosamente arrumado no saco de compras, lavado para este fim. Atenta a situação desigual, Tia Dadá, como sempre fazia pedia para que todos os que dispunham dividissem, compartilhassem a merenda, como se dividia também o lápis, o caderno e o apontador. Daqui a pouco era hora de correr de volta pra casa e sempre que possível fugir para o futebol, praticado sobre a casca de castanha recém aterrada. Os anos se passaram, fui para o Internato São Benedito, Escola Sílvio Nascimento, Monsenhor Azevedo, Edgar Pinheiro Porto e mais tarde, cabeça pelada, pitiu de ovo cheguei a UFPA.  Em todos estes lugares muitos professores me inspiraram. Ainda hoje, guardo a imensa vontade de abraçar a Tia Dadá e poder lhe dizer que honrei todo o seu esforço, como o de outros tantos professores que a vida colocou em meu caminho e que me presentearam com seus ensinamentos.  Se pudesse agora abraçaria a todos eles e gritaria que com muita luta e orgulho me tornei PROFESSOR, e que venho ajudando a semear sonhos, ajudando a construir um mundo melhor.  Com a lembrança de Dona Dadá quero homenagear a todos os mestres deste país tão desigual, mas que labutam firmemente em defesa de um mundo melhor, em particular, aos amigos professores que a trincheira educacional me proporcionou. Seguimos na trincheira.


Prof. Agnaldo Rabelo, Graduado em Geografia,  Especialista em Estudos de Cultura Amazônica,  Mestrado e Doutorado em Ciências Sociais com ênfase em Antropologia pela UFPA.














Um dia aluno, hoje professor

Confessor que não era meu sonho de criança professor. O que eu queria mesmo era ser jogador de futebol, passar no concurso do Banco do Brasil ou ainda tornar-me médico. Nada disso se concretizou e eu tornei-me professor de sociologia.

Já faz um bom tempo em que fui aluno do fundamental, que naquele tempo se chamava primário, portanto, você tem o direito de achar algo estranho ou mesmo de sorrir se não entender o que estou falando, afinal já vivi um pouco.

No meu tempo (esse termo é típico de idoso), professor era professor e aluno era aluno e ponto final. Ser professor era ser autoridade. Meu professor primário era quem me ensinava matemática, português, biologia, historia, geografia... e por aí vai. Além das notas por disciplinas, eu tinha também uma nota por comportamento. Não havia cadeiras , eram carteiras que  eram ocupadas dois alunos, entrava um de cada vez. Elas eram feitas em madeira, já com bancos presos a ela que além da parte superior, para leitura e escrita, havia também uma parte inferior na forma de caixote onde guardávamos livros e cadernos. Não tinha cadeados, mas há de quem ousasse pegar alguma coisa do colega, ia direto pra secretaria e só sai de lá após a presença de um pai ou responsável, mas isso era raro de acontecer.

No meu tempo, quando a professora, a diretora ou qualquer outra pessoa adentrava em nossa sala de aula, todos levantávamos e ficávamos de pé até que a pessoa( ou autoridade) sinalizasse que poderíamos sentar.

Vocês já ouviram falar da palmatória? O titio aqui já e fez uso dela, aliás, usaram-na em mim. Vou explicar que “ferramenta educacional” era essa: Ela era um instrumento que possuía um cabo de madeira e em sua ponta estava encaixada um pedaço arredondado do tamanho de uma tampa de margarina pequena com pequenos furinhos. O uso da palmatória  foi introduzido pelos jesuítas como forma de disciplinar os indígenas e que foi adaptada as escolas. Seu uso mais corriqueiro se dava em sabatina de tabuada. O aluno que não soubesse quanto era 9X7 de prontidão pegava umas bolachadas de palmatória. A dor era tamanha que na próxima sabatina ele já sabia toda a tabuada.

Sou do tempo em que não havia Conselho Tutelar. Uma vez a professora me fez ir ao quadro negro (em sua escola ainda existe essa ferramenta?) Pediu que eu escrevesse cinco palavras que iniciasse com a letra H. Fiquei pálido, branco, preto e nem uma palavra me veio a cabeça naquele momento interminável que iniciasse com aquela maldita letra H. Foi um branco total. Você sabe o que ela fez comigo? Passou a mão em minha cabeça e mandou eu estudar? Nam, nam, nam. Ela se aproximou de mim, escolheu uma de minha orelhas e começou a torcer como se torce uma chave na porta. Você acha que ficou só nisso? Nam, nam, nam. Ela resolveu ir me levar a minha carteira. Cada passo era uma torcida na orelha. Ela andava puxando minha orelha e ainda me dizia em forma silabada, pausada:
- Nunca diga que não sei e sim que hei de saber. 

Disse-me também que no dia seguinte ia me fazer a mesma pergunta. Naquele dia desejei que um carro a atropelasse sua bicicleta quando ela estivesse de volta a sua casa. Nunca mais esqueci que hoje, hino, heroína, hálito, houve, habito, habilidoso, humano, horário, hora,  higiene, que iniciam com a bem dita letra H. 

Acho que nasci no tempo errado. Quando era bom ser professor, eu era aluno e hoje como é bom ser aluno, sou professor. Hoje quando peço, imploro que os alunos usem máscara para se protegerem da covid 19 eles riem, fingem que botam e depois tiram. Lá fora, um deles  me ameaça em forma de  brincadeira:

- Olha professor, se o senhor me obrigar a usar a máscara, vou chamar o Conselho Tutelar!
Tenho vontade de agarrar sua orelhinha, torcer e torná-la um pouco maior, como fez comigo minha professora quando eu era estudante primário.

Ser professor é colocar-se a disposição de ensinar e aprender de vez em quando. 

Neste dia, quero mandar um grande abraços a todos os professores e àqueles que fizeram com que eu me tornasse professor.


Prof. Valdivino Cunha, Sociólogo e Professor do Sistema de Organização Modular de Ensino - SOME.


sexta-feira, 8 de outubro de 2021

Che Guevara, Vive!



               * José Raimundo Trindade (Prof/UFPA)
               * Ribamar Oliveira (Prof/SEDUC/PA)




São 54 anos que nos separam de uma das mentes mais compromissadas com os humildes e com os povos que sofrem injustiças sociais, e justamente por isso foi brutalmente assassinado nas matas bolivianas, após uma covarde emboscada. O argentino Ernesto” Che” Chevara de La Serna nasceu em 14/06/1928 em Rosário província localizada a aproximadamente 300 Km de Buenos Aires, capital portenha. Mesmo tendo conforto durante sua infância e adolescência, já que sua família possuía alguns bens materiais, tinha asma e de vez quando as crises afetavam profundamente sua saúde. Ernesto Guevara porém era um jovem muito racional e nas horas de desconfortos de sua vida sempre lembrava nos inúmeros que tinham o desconforto pior da pobreza e da opressão imposta pelo capitalismo.



Adolescente


Formado em medicina na década de 50, após rápida passagem pelo curso de engenharia, fez o curso na Universidade de Buenos Aires. “Che” tinha uma visão política mais ampla da América Latina e mundial, fazendo duas viagens para diversos países de motocicleta, quando era acadêmico. Nessas idas e vindas pela amada América Latina, testemunhou a enorme pobreza, a falta de saúde pública e as condições de trabalho precárias por onde passou. Depois de graduado, fez mais uma viagem pela América Latina, inclusive, vendo a derrubada do governo democrático da Guatemala, com o apoio das forças do imperialismo estadunidense. 



Che com a família


A queda do governo democrático guatemalteco se inicia com a intervenção da CIA, como sempre, envolvida nos golpes na América Latina e mundial. Com a destituição do governo de Jacobo Guzmán Arbens, “Che” se desloca para o México, onde conhece Fidel Castro e participa ativamente do Movimento Revolucionário 26 de Julho (MR – 26 de julho) com os treinamentos, debates e discussões sobre os rumos do movimento, sendo logo depois, incluído na expedição de Granma, deslocando 84 revolucionários além do comandante Fidel Castro, dando início ao processo da Revolução Cubana na região litorânea. 



Che, Raul Castro e Fidel Castro




No primeiro combate foi ferido, porém, com destacada e efetiva participação foi considerado o primeiro revolucionário promovido ao cargo de comandante, em 12 de julho de 1957, chefiando coluna guerrilheira. No Exército Rebelde (ER), foi um dos mais atuantes, com atuação na fundação da Rádio Rebelde, em 24 de fevereiro de 1958 e na formação política, dirigiu a Escola de Recrutas do Exército Rebelde, também chefiou a contra ofensiva que desorganizou a tirania na Sierra Maestra; além de chefiar a Coluna 8, que tinha como missão invadir Las Villas, unificar os revolucionários, administrar a Ilha e cortar as comunicações entre os objetivos principais. Recebeu assim também de Fidel Castro, para chefiar a Coluna 2, que estavam entre seus planos, fazer a rota invasora paralela e depois seguir até Pinar del Rio, entre outras indicações e tarefas em prol da Revolução Cubana. 



Ano novo/1958, Montanhas de Sierra Maestra



Durante suas missões “Che” conseguiu unificar e organizar os revolucionários; além de o Movimento 26 de julho se juntar ao DR – 13 de março, momento crucial para avançar em seus objetivos com a colaboração dos povos da província e culminando com a Batalha de Santa Clara, sendo que a cidade foi rendida no dia 1º de janeiro destroçando a Ditadura e fazendo com que “Che” e Camilo Cienfuengos fossem os primeiros a pisarem nos solos de Havana. 



Exército atravessa Santa Clara rumo à Havana



Com a consolidação da Revolução Cubana, o grande “Che” foi um dos principais líderes da Revolução, foi um os comandantes militares, foi Presidente do Banco Nacional, Ministro da Industria, Representante de Cuba no exterior e sendo o principal teórico da Revolução, sempre impulsionando as posições e ideias mais avançadas dentro do processo, sendo que seu pensamento é um referencial do marxismo do século XX e atual. 


Com um projeto libertador para a América Latina como enfatiza muito bem no texto "O Socialismo e o homem em Cuba". 


Como revolucionário de linha de frente dos movimentos e para alguns um “aventureiro”, em abril de 1965 deixa seus cargos na ilha de Cuba e vai liderar um grupo em apoio aos revolucionários de Congo na África, onde a missão porém não foi um sucesso. Após se desloca para a Tanzânia e logo depois para a Bolívia. Sempre liderando apoiadores e revolucionários é incorporado ao Exército de Libertação Nacional da Bolívia juntamente com militantes peruanos e bolivianos que tinham em suas metas expandir o processo revolucionário na região. Nos combates, “Che” dividiria em duas colunas, sendo uma comandada por ele e a outra chefiada por Juan Joaquim Vitalio Acuna. Desde agosto as colunas perderam os contatos pelas dificuldades da região que se encontravam. A Coluna de Joaquim foi traída por Honorato Rojas, um camponês da região que apoiava a guerrilha, sofrendo uma emboscada e sendo todos assassinados, inclusive, a militante comunista alemã Tamara Bunke, a lendária Tania. “Che” e sua coluna cercados com apenas 20 revolucionários, sendo que apenas 5 escaparam do cerco. Por de trás de um rochedo, um tiro acertou sua Carabina M-2, logo sendo inutilizada. Com uma bala na perna e sem arma, o grande Comandante “Che” Guevara foi capturado e preso, levado para uma Escola da Vila de La Higuera, no dia 08 de outubro de 1967. Com ordem das autoridades bolivianas, “Che” foi assassinado por Félix Rodrigues; assim como os demais prisioneiros no dia 09 de outubro de 1967.


“Che” continua mais vivo do nunca e grande referência, principalmente, para a juventude. Seu legado deixado é histórico e marcante pra quem viveu em todo o mundo nas décadas de 70 e 80. 


Suas principais obras foram:"De moto pela América do Sul: diário de viagem" (1952); "A Guerra das Guerrilhas" (1961) e "Apuntes de la guerra revolucionaria cubana" (1963). 


Hasta la victoria, siempre, Comandante! 

“Che” Guevara..



Imagens: Google

quinta-feira, 7 de outubro de 2021

DE ALDEIA GUARYCURU A TURQUESA DO PARÁ: Experiência de Docência e Pesquisa em Melgaço

 




Em 1995, depois de me apaixonar pela experiência de ALFABETIZAR CRIANÇAS, iniciada em 1992, como leitor ávido de Paulo Freire, fui convidado pela querida e saudosa, professora Wilma Vilar, minha ex-professora de História, a ser PROFESSOR DE ESTUDOS AMAZÔNICOS em uma turma de 5a série na Escola Estadual Tancredo Neves, na cidade de Melgaço. O convite veio logo após iniciar o Curso de Licenciatura e Bacharelado em História pelo revolucionário projeto de interiorização da UFPA, no Campus Universitário do Marajó, Núcleo de Breves.


O desafio de trabalhar o conteúdo programático da HISTÓRIA LOCAL, levou-me à experiência de investigar pistas, sinais, indícios da História Social de Melgaço. Comecei a rastrear memórias orais, escritas, visuais e arquitetônicas da terra dos Guarycuru (é sem S mesmo).


Semelhante à história de outros municípios marajoaras ou Amazônicos, até então, pouco sabíamos das trajetórias de nosso torrão migrante. 


Iniciado os estudos de HISTÓRIA ORAL & MEMÓRIA, nas primeiras aulas tive uma ideia com a turma de 5a série da manhã: 


VAMOS ORGANIZAR EQUIPES DE PESQUISA EM HISTÓRIA ORAL. Daí, então:


Mapeamos os narradores. Todos eles moradores antigos, acima de 60 anos;


Elaboramos juntos um roteiro de perguntas abertas;


Contactamos um por um dos narradores e o convidamos para participar da pesquisa;


E fomos com cada equipe fazer as entrevistas;


Vivemos momentos inesquecíveis. Os olhos dos meus aluninhos brilhavam na busca pelo saber de nossa história. 


Ao final das entrevistas, as equipes as transcreviam e as apresentavam em forma de seminário. 


Somamos esse momento com a presença dos narradores na escola para ouvir suas histórias, contada pelos alunos, e ampliá-las, enriquecendo nossos saberes. 


Hoje, ao disponibilizar o pdf de minha dissertação de mestrado com o professor cearense, Ricardo Brígido Moura, sobrinho do imortal memorialista de Melgaço, Prof. Gabriel Severiano de Moura, lembrei-me desse percurso do saber e decidi compartilhar.


O professor Ricardo está em Melgaço em busca de informações da presença dos Mouras em nossa região, especialmente do professor Gabriel, irmão de seu pai, Nelson Moura, e do avô, o famoso coronel, Francisco Severiano de Moura, um dos homens mais poderosos de Melgaço e Portel dos anos de 1920 até possivelmente 1940. 


Realizei o curso de Mestrado em História Social na PUC-SP entre 2002 a 2004, mas as pesquisas sobre a antiga aldeia (1659), depois Vila São Miguel de Melgaço (1759) e hoje, Turquesa do Pará (1980), iniciaram há quase uma década antes. Tudo começou pela necessidade de ensinar a chamada História de Melgaço a meus inquietos, inteligentes, falantes e inesquecíveis alunos/as.


Partilho em imagem a capa desse trabalho, o Reino de Mnemosine (fotos dos principais narradores e escritores, a maioria já falecido) e capas dos três capítulos que constituem a dissertação. 


Ao final dessa pesquisa, eu descobri o PODER DA PRESENÇA DE SÃO MIGUEL ARCANJO na História Local e suas articulações com a História Social do Arquipélago de Marajó, da Amazônia, do Brasil e do Mundo. 


A trajetória desse santo, a devoção, os milagres, a forte e impactante festividade com foliões, procissões, promessas, bingos, leilões, concurso da rainha da festa, festas dançantes, marreteiros, arraiais, vesperais, enfim, um cotidiano complexo de histórias sagradas e profanas entre sociabilidades e conflitos, colocaram-me diante da Presença da Ordem Religiosa dos Agostinianos Recoletos de Madri, Espanha. 


Mas essa é uma outra história a ser compartilhada em outros momentos. 


Prof. Agenor Sarraf

quarta-feira, 6 de outubro de 2021

I FÓRUM INTERNACIONAL INDÍGENAS NA HISTÓRIA - UFMA

 




I FÓRUM INTERNACIONAL INDÍGENAS NA HISTÓRIA - UFMA

🗓️: 23 a 26 de novembro de 2021

📝:  https://www.forumindigenasnahistoria.sinteseeventos.com.br/site/capa


Programação

23 de novembro


Conferência de Abertura

Dra. Maria Regina Celestino de Almeida – U. Federal Fluminense BRA

Dr. Gersem Luciano Baniwa – U. Federal do Amazonas (UFAM) BRA 


24 de novembro


MR01: Indígenas na História do século XX e XXI: da invisibilidade à História "vista de dentro"

Dr. Edson Kayapó – Instituto Federal da Bahia (IFBA) BRA

Dra. Izabel Missagia de Mattos - U. Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) BRA

Dr. Seth Garfield – University of Texas at Austin EUA 


MR02: Histórias Indígenas nas Américas: territorialidades e identidades

Dra. Vânia Maria Losada Moreira – U. Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) BRA

Dr. Antonio Escobar Ohmstede – CIESAS Ciudad de México (MEX)

Dr. Luis Castro Castro - Universidad de Tarapacá de Arica, Chile


25 de novembro


MR03: Etnopolítica: desafios historiográficos e históricos

Me. Raúl Ortiz Contreras - Universidad Autónoma de Chile/U. Mayor/U. Miguel Cervantes CHI

Dr. José Quindel Lincoleo - Cátedra Fray Bartolomé De Las Casas, U. Católica de Temuco CHI

Dr. Édson Silva - Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) BRA 


MR04: Histórias Indígenas e suas fronteiras territoriais, historiográficas e transdisciplinares

Dr. Eduardo Santos Neumann – U. Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) BRA

Dra. Ingrid Lilia De Jong – U. Nacional de La Plata/Conicet-U.de Buenos Aires ARG

Dr. Rafael Chambouleyron – U. Federal do Pará (UFPA) BRA 


26 de novembro


MR05: Indígenas na História: desafios transnacionais e etnico-culturais

Dr. João Pacheco de Oliveira – Museu Nacional (UFRJ) BRA

Dr. Keith Thor Carlson – University of  Fraser Valley CAN                  


Conferência de Encerramento

Dr. Andrés Resendez - UC Davis, History Department EUA.

segunda-feira, 4 de outubro de 2021

O ANJINHO DE AÇAITEUA

 


Sabe! Nessas minhas andanças pelo interior do estado do Pará como professor do modular – Modular não! “SOME”, que quer dizer Sistema de Organização Modular de Ensino – eu já me deparei com as mais variadas situações. Situações essas, por vezes alegres, outras vezes tristes, inusitadas, inesperadas, mas também, às vezes, esperadas. E essa que eu vou compartilhar com vocês foi realmente uma situação inesperada e triste, muito triste.


Não sei se conseguiria estender o significado da palavra “triste” pra você que me lê agora, nesse instante. A palavra parece adquirir um sentido abstrato, mas o sentimento é concreto, e de toneladas de concreto. Tristeza nunca foi sinônimo de felicidade, de alegria, pois ela está presente na separação, na despedida, na morte. Sim, na morte, essa palavra que tentamos evitar e até esquecer, porque ela representa o “nunca mais”. Imagine nunca mais ver o rosto de alguém que tanto amas! Nunca mais ouvir suas gargalhadas, seus conselhos, suas piadas; alguém que era a sua companhia do dia-a-dia, pau pra toda obra... E, de repente, você nunca mais irá tê-la ao seu lado. Imaginou?

 

Quando contamos a história de alguém que passou pela tragédia da morte, é humanamente impossível descrever sua dor, porque a dor é dele, está no seu íntimo, e nós, como seres humanos, parece que estamos desaprendendo princípios básicos da raça humana, como: a emoção, o amor ao próximo, a fraternidade, a solidariedade, o querer o bem do outro. Parece que nos tornamos personagens como que do filme “O exterminador do futuro”, cujos robôs, avançados em tecnologia, pretendem aniquilar a raça humana. Mas, pasmem, que, até ali, um robô teve uma escolha. Ele aprendeu, em contato com um menino, o significado de “amizade”, “lealdade”, “família”. Parece que o filme está querendo lembrar a gente de alguma coisa que, talvez, tenhamos esquecido num passado recente.

 

Bem, você percebeu que eu falei, falei e falei e não consegui passar o sentimento que eu quero expressar: tristeza, pesar. Isso porque a tristeza falada, não é a mesma tristeza vivida. Mas, quem sabe, ao se apoderar do enredo da história, você consiga se emocionar; quem sabe até uma lágrima incontida escorregue pelo seu rosto. Aí eu começo a acreditar mais no ser humano, como ser humano.

 

Era exatamente o ano de 1993. Eu e minha colega de equipe, a professora Mara, fomos enviados para o distrito de Açaiteua, no interior de Viseu. Sim, Viseu de Quintino da Silva Lira, o gatilheiro Quintino, também chamado de “o Robin Hood da Amazônia”, pois ele foi o líder de um movimento armado contra a mineradora CIDAPAR, quando esta foi autorizada pelo governo do estado, em conjunto com o governo federal, a explorar uma área na região nordeste do Pará, em fins dos anos 1970, em pleno regime militar, desapropriada pelo governo estadual. Ele e mais cem homens resistiram à desapropriação por três anos e, após a mineradora contabilizar derrota após derrota, desistiu do projeto de exploração e devolveu as terras aos posseiros, seus legítimos donos. Foi uma vitória, não há dúvida, mas Quintino não iria usufruir do privilégio de voltar às suas terras e ali morar, e viver em paz. Em pouco tempo, seu nome passou a fazer parte da lista de homens assassinados por questão de terra no Brasil. Foi morto pelas forças de segurança do Estado do Pará, pela polícia paraense, sob as ordens governo paraense, no dia 4 de janeiro de 1985. Pra não haver tumulto nem tentativa de rebelião pelos seus companheiros, teve seu corpo enterrado a 180 km distantes de sua comunidade. Mas os amigos de luta foram em busca de seu corpo e o carregaram num cortejo fúnebre pelos vários povoados, como uma justa homenagem àquele que enfrentou grandes latifundiários e a empresa mineradora CIDAPAR.

 

Sim, fomos pra Açaiteua, um pequeno distrito afastado de Viseu. A viagem era longa e cansativa. O ônibus da Boa Esperança saia do terminal rodoviário de Belém por volta das 9 horas da manhã e chegávamos ao município de Bragança lá pelas 13 horas. Ali, embarcavam algumas pessoas que iam pra Açaiteua e povoados próximos. Homens, mulheres, crianças, pessoas idosas, o ônibus ficava lotado com gente viajando em pé. Embarcavam também, sacas de farinha e mantimentos diversos. Acontecia de tudo numa viagem dessas. Era vendedor que entrava pra vender picolé, chope de frutas, rosquinha, bolinho, pamonha, salgadinho, água, refrigerante, enfim, cada um tentando sobreviver do jeito que dava.

 

Um dia, numa viagem dessas, em outro momento, com uma outra equipe, viajando com a professora Marli que ministrava as disciplinas Língua Portuguesa e Língua Inglesa, eu sentei no lado do corredor e a professora Marli ao lado da janela. Um garotinho havia comido tanta besteira que, quando o ônibus começou a sacolejar, ele sentiu enjoo e a mãe tratou de colocar a cabeça dele pro lado de fora da janela, e ele vomitou, vomitou e vomitou, parecia que ia colocar as tripas pra fora, enquanto a mãe passava as mãos nas costas do garoto, como que se, assim, pudesse fazer passar o mal estar. O vento, provocado pela velocidade do ônibus em movimento, jogou o vômito direto na janela da professora Marli, sujando seu braço e parte do ombro. É claro que ela ficou indignada, reclamou muito, mas o máximo que pôde fazer foi puxar um lenço e tratar de se limpar, pois o ônibus estava lotado e, devido à hora, fazia muito calor e a poeira alaranjada, levantada na estrada de piçarra, tornava a viagem bastante desconfortável. Assim, todo mundo só pensava em chegar logo em seu destino.

 

Voltando à viagem com a professora Mara, depois que saímos de Bragança rumo a Açaiteua, o relógio já contava Uma hora e trinta e cinco minutos da tarde de um sol escaldante. Essa viagem foi relativamente tranquila. Chegamos ao distrito de Açaiteua lá pelas três e meia da tarde. O lugar era bem simples, um pequeno povoado com uma rua principal de piçarra, uma escola municipal pintada de um azul claro logo na entrada da localidade, com algumas salas de aula e um terreno espaçoso dentro dos seus limites. Havia casas de um lado e de outro, casas simples com pessoas simples. Já quase no final da rua principal, podia-se avistar a única pracinha do lugar, com uma igrejinha católica tomando conta do cenário, cujo padre – assim eu soube depois – raramente aparecia para celebrar uma missa. Desembarcamos ali, naquele ponto, bem em frente àquela pracinha, donde pude avistar, do outro lado dela, uma pequena escola estadual com, no máximo, quatro salas de aula. Percebi que, ali, seria o nosso local de trabalho por dois meses.

 

Pegamos nossa bagagem e perguntamos para alguns moradores que passavam onde morava a professora Dária. Imediatamente apontaram para uma casa no final da praça, que dava para o lado da igreja. Descemos a rua e chegamos a casa, batemos palmas e logo alguém veio atender. Era a professora Dária, que nos recebeu com muita cordialidade. Estava já nos esperando junto com o Balão, vice-prefeito de Viseu, que nos colocou a par das dificuldades que a prefeitura estava enfrentado para o funcionamento do Sistema Modular em seus distritos. Explicou-nos que, provisoriamente, iríamos morar na casa da professora Dária, já que não disponibilizavam ainda de uma casa própria que abrigasse os professores. Naquele momento, ficamos sabendo que não havia casa para os professores; que teríamos que conviver diariamente com a família da professora Dária; que não teríamos privacidade nem local adequado para colocar os materiais de aula, livros, estêncil, álcool, nem ambiente para preparar aulas ou receber alunos, e que a Professora Mara iria ocupar um quarto e eu iria dormir em uma rede num canto perto da sala.

 

Tudo bem, tiramos de letra. Conhecemos o pai da Dária, chamado por todos como seu Biléu, homem de uns setenta anos, alto, acostumado com o trabalho duro da roça, homem simples, de poucas palavras. Um dia, tomou um porre de cachaça e saiu com o terçado na mão lambando tudo que encontrava pela frente, querendo dar uma coça em visagem. E, assim, entre uma emoção e outra, os dias foram passando, talvez mais rápido do que poderíamos imaginar.

 

Um dia, lembro bem, eram por volta das cinco da manhã quando alguém bateu à porta da casa insistentemente. Todos acordaram e estranharam também, devido ainda ser madrugada. O ditado popular diz que quando você recebe telefonema tarde da noite é porque algo sério aconteceu e a notícia não é boa. A professora Dária correu para a porta já demonstrando preocupação com o que poderia ser e quem estaria batendo à porta da sua casa àquela hora da noite. Ao abri-la, deparou-se com uma garotinha, filha da sua comadre, que eu vou chamar pelo nome fictício de Aninha. Abro um parêntese aqui para explicar que alguns nomes são fictícios, uma vez que este fato aconteceu a vinte e oito anos, e alguns nomes reais foram esquecidos. Dária olhou para Aninha e perguntou o que estava acontecendo. A menina foi logo falando que a mãe pediu pra chamar sua comadre porque a filha mais nova estava muito doente.

 

Saímos todos pra casa da comadre de Dária, a quem vou chamar de Célia. Chegando lá, reparei no cenário estampado diante de nossos olhos: uma mãe, ainda com os cabelos desarrumados, um rosto marcado pelo sofrimento e desespero, sentada, numa cadeira de embalo, com a pequena filha no colo, levantada até o peito, como se quisesse protege-la, guarda-la da dor, da doença, da presença da morte. As lágrimas incontidas daquela mãe quebrantavam os corações dos amigos e vizinhos presentes, que pareciam paralisados sem saber o que fazer. Triste, muito triste era ver o desespero do pai que dava voltas na sala, de um lado pra outro, completamente desnorteado.

 

Dária perguntou a sua comadre o que tinha acontecido e ela respondeu que a menina estava com febre desde as primeiras horas da noite, mas depois foi piorando e, já pela madrugada a menina não reagia, estava completamente mole. O genro de Célia, que era uma espécie de curandeiro da comunidade, pois ele costumava tratar as pessoas doentes com plantas medicinais, achava que era meningite. Ele até que fez algumas tentativas de tratar a menina com remédios caseiros, mas não obteve resultado positivo e a menina continuou piorando.

 

A situação foi ficando mais tensa, mais desesperadora e, num determinado instante, algumas pessoas recomendaram que o pai levasse com urgência a filha até o hospital mais próximo, que ficava em Bragança. O pai, sem entender direito o que estava acontecendo com sua filha, porque ela, de uma hora pra outra, adoeceu tão rápido e ficou tão mal de saúde, dava voltas na sala, dizendo em voz alta que, se levasse a filha pra Bragança e ela chegasse morta ou morresse lá, ele não iria deixar que a cortassem pra fazer perícia. Ele olhava pra ela e dizia que a filha estava morrendo, que ela não ia aguentar uma viagem até Bragança. Nessas horas é que vemos o quanto a nossa gente do interior está desassistida; o quanto políticas públicas sérias, feitas por pessoas sérias, são tão importantes e podem salvar vidas.

 

Amanhecia o dia, o galo cantava. Na casa de Célia, grande alvoroço, com gente entrando e saindo. Eu e Mara, ali, inertes, sem saber o que fazer ou dizer. De repente, Célia solta um grito angustiado dizendo que sua filha havia morrido, ela não se mexia mais, a respiração foi ficando cada vez mais fraca, até não se ouvir mais nada. O pai correu e pegou a menina, e colocou-a no colo, enquanto gritava: “Minha filha! Minha filha!” Foi um momento muito triste. A criança morreu e ninguém pôde fazer nada. Se era meningite, naquele momento, não tínhamos como saber; pelo menos oficialmente não, mas tudo levava a crer que era.

 

A criança foi enterrada ali, no pequeno cemitério de Açaiteua, perto de seus pais, de seus parentes, na sua terra, na terra em que havia nascido; ali nasceu, ali morreu como um anjinho. Pouco tempo depois, eu e a professora Mara terminamos as nossas atividades naquele lugar. Os dias eram de luto que convidavam para uma profunda reflexão sobre o que realmente importa na vida, o que realmente tem valor para nós, seres humanos. Deixamos a localidade com muitas lembranças boas, conhecemos pessoas, fizemos amizades, mas também levamos conosco algumas lembranças tristes, como a morte daquele anjinho.

 

Uma hora da madrugada estávamos lá, na beira da estrada, a rua central de Açaiteua, esperando o ônibus da Boa Esperança que ia para Belém. Aquele era o único horário e o único ônibus. Não podíamos perdê-lo; se isso acontecesse, só no outro dia, na mesma hora. A noite revelava muitas estrelas suspensas, e o quarto crescente da lua, clareava parcialmente a escuridão que nos rodeava. Ninguém pra se despedir, todos dormiam, enquanto pegávamos o ônibus e partíamos dali. O amanhecer traria um novo dia. Desconhecido, sim! Mais um novo dia.


 

Prof. Carlos Alberto Prestes

(Licenciado pleno em Letras e Pedagogia, pós-graduado em Literatura e suas Interfaces)

Ex-professor do SOME

(Língua Portuguesa, Literatura e Redação)


sexta-feira, 1 de outubro de 2021

Trilha do Pindobal

 


*Karla Pachiano

    *Ribamar Oliveira







Fordlâdia, município do Oeste do Pará, recebeu esse nome em virtude da instalação da Companhia Ford. Contudo, devido entre outros problemas ocasionado com a plantação da Hevea brasiliensis, árvore conhecida como seringueira e que produz o látex, de grande importância na fabricação de pneus para os carros automobilísticos. Diante dessas dificuldades a Ford transferiu para Belterra a produção, visto que era mais próximo de Santarém, além do rio nessa região ser mais fundo, melhor para receber navios de maior calado.





Como professores nunca se desligam do seu trabalho, nós historiadores, nem se fala. Semana passada estivemos na Praia do Pindobal, no município de Belterra, também no Oeste paraense e nos deparamos com ferragens de resquícios de trilho deixadas por pessoas que trabalhavam, por volta da década de 30, na extração da borracha. Pindobal, era, na verdade, o trapiche criado pela Companhia Ford que servia para o embarque da borracha na Amazônia, . Eles também criaram um depósito e carregavam pelo trilho. A origem do nome vem da árvore pindoba, uma espécie de palmeira com muita abundância na região, daí o nome Pindobal, e com a chegada dos americanos acrescentaram o L e deram o nome de Porto Novo. Os americanos criaram também, a primeira cantina do Pará., uma espécie de refeitório para que os americanos pudessem se alimentar.  As imagens retratam bem o que conhecemos.





Poucas famílias sobrevivem na comunidade, na praia de Pindobal, considerada um paraíso para os turistas que frequentam como área de lazer, através dos restaurantes, onde o prato principal é  o charutinho; um peixe semelhante a sardinha, que frito pode ser comido inteiro, inclusive as espinhas  além de outras iguarias da região. Os bares e pousadas são também outra fontes de sobrevivência dos comunitários. A praia é realmente linda!

 




A Trilha de Pindobal era o principal porto que facilitava o escoamento da época áurea da borracha em Belterra, um dos principais polos de produção da borracha no Pará. Importante destacar, as características da cidade como se fosse no interior dos Estados Unidos. Esta construída em 1934, é considerada um patrimônio nacional. Valendo muito a pena conhecer.




















                 

                                           SERINGUEIRA

fonte: https://digifloragcn.wordpress.com/2019/03/20/hevea-brasiliensis/



                                                      PINDOBA

https://vcl.com.br/produto-tag/coco-de-pindoba/

 


                             DESEMBARQUE DE MERCADORIA EM PORTO NOVO.

FONTE: AMORIM, Antonia, in A dominação Norte Americana no Tapajós – A Companhia Ford Indústria do Brasil, 1995.



* Os autores são historiadores.