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sábado, 2 de julho de 2022

NASCE MIGUELITO FILHO: Um romance moduleiro

 

                             Por: Dinei Gaia*




O SOME é agraciado com mais uma obra que nasce pelas mãos de um moduleiro. Trata-se do lançamento do romance “Miguelito Filho: o apaixonado da Amazônia” que ocorreu em Cametá no dia 04 de junho de 2022. O romance é o novo livro do escritor cametaense João Batista Pantoja Pereira. João Batista é professor do SOME da 2 Ure - Cametá, onde leciona história. Esse é o terceiro livro do autor.






O lançamento foi na residência do escritor, a beira da piscina, com música ao vivo e um saboroso coquetel a se degustar, um prenúncio do que é a leitura do livro. Estiveram presentes familiares, amigos, políticos, escritores, amigos da imprensa e os professores do Sistema Modular da região. Eu estive presente juntamente com os professores do SOME Benedito Lélio, Joelma Marques, Erivane e os escritores Arogas e Haroldo Barros.


Dias depois o livro esteve disponível para venda na reunião de planejamento do segundo módulo do SOME, onde os professores e professoras puderam adquirir a obra.


Falando especificamente do conteúdo da obra, esta é uma saborosa viagem pelos tempos de antigamente no interior cametaense, cenário onde a trama se desenrola.




Os personagens com nomes, apelidos e sobrenomes. Aliás, bastantes sobrenomes, retrato de uma época onde os nascidos eram herdeiros das alcunhas dos pais, avós, padrinhos ou qualquer figura a quem se queria homenagear. Uma característica da sociedade interiorana da Amazônia.


A história se apresenta enriquecida com o dialeto local, o famoso linguajar cametauês, bem como com o costume da poética vida ribeirinha, onde a vivência do caboco estava inteiramente interlaçada com as relações homem-natureza. Sendo o homem dependente dos favores prestados pela mãe natureza através do comer que vem da mata e dos rios. As crenças, as lendas, os saberes populares do ribeirinho que conhece o movimento das marés, a influência dos astros em nossas vidas e a cura que vem das ervas medicinais, são elementos que nos devolvem ao saudoso tempo, em que as dificuldades se misturavam com a vida simples e gostosa no interior.







 A vivência moduleira do autor, acaba por se tornar inspiração e combustível pra esse romance interiorano. Inclusive algumas localidades citadas como Cuxipiary e Parurú possuem o SOME.


Porém o 'estória' é histórica, pois se localiza na segunda metade do século XIX e vai até a primeira metade do século XX. Portanto, uma viagem pelos costumes de uma época que tempo já consumiu. É de fato, como uma viagem numa máquina do tempo, o que é uma contribuição para o ensino, pois o alunado leitor pode conhecer aspectos do interior no começo do século XX.


Interessante como o escritor João Batista debate temas, que hoje, são pautas de políticas públicas e de interesse geral para a consolidação de uma sociedade com respeito e direitos iguais. É assim que o racismo aparece, pois o personagem principal Miguelito Filho ou Epifânio, sofreu por conta da cor de sua pele. Apelidos como neguinho, cabeça seca, escurinho, cricri, falam por si, bem como a servidão, pois o preto era abraçado enquanto servia a alguém, desde que não ousasse cobiçar as ‘benesses’ da sociedade branca. Mas Miguelito não baixou a cabeça para o preconceito e foi além do que se imaginava.


Mas o outro lado também está presente. A amizade, a solidariedade, companheirismo e o amor. O amor em suas duas versões, o familiar quando Miguelito é recebido por sua nova família no Cuxipiary ao ser doado pelos pais alcóolatras e o amor de Telminha e Valéria, personagens que se apaixonaram pelo preto, pobre oriundo da colônia cametaense, e nunca olharam pra sua pele, mas sim pra sua essência.


Ah! O amor! Este fecha a trama, mas nos deixa no final, na última página, uma pulga atrás da orelha que só será respondida pela interpretação do amante leitor.


É um excelente romance regionalista. Mais um filho do SOME. Eu já li, agora recomendo a você.





*Arodinei Gaia de Sousa. Historiador, Escritor e Poeta paraense de Cametá.

Um comentário:

  1. Os comentários do professor e escritor Arodinei Gaia sobre o romance Miguelito Filho, o apaixonado da Amazônia nos dá um vislumbre da narrativa que nos remete a períodos que transitam entre os séculos 19 e o século 20.

    Com certeza, é um período de tempo, cuja história nos trás lembranças saudosas de costumes, de crenças, hábitos, mas também, como disse o professor Arodinei, trás à pauta temas sobre políticas públicas hoje mais foque nunca debatidos.

    Enfim, ler sobre fatos ocorridos numa região do interior do Pará, e saber que esses fatos, essa parte da história está sendo resgatada e disponibilizada para seus conterrâneos, é uma excelente proposta.

    Parabéns pelo resgate de memórias.

    E uma boa leitura a todos.

    Professor Carlos Prestes, em 3 de julho de 2022.

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