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domingo, 19 de junho de 2011

Bettina oferece apoio psicológico



Existe uma expressão na língua inglesa chamada "turning point" (ponto de viragem), usada para enaltecer um acontecimento importante na vida de uma pessoa, a qual passa a encarar a vida de outra maneira, com outras perspectivas. Na vida de Luciléia Silva dos Reis, dois "turning point" são evidentes. Um deles aconteceu aos seus 18 anos, quando, três dias após o nascimento de seu primeiro filho, perdeu a audição devido a uma infecção hospitalar. Desde então, nunca teve a oportunidade de ouvir a voz de seu primogênito.O segundo "turning point" de Luciléia dos Reis está diretamente ligado ao Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital Universitário Bettina Ferro de Souza (HUBFS), com o seu Grupo de Implante Coclear, coordenado pelo professor José Cláudio Cordeiro. Decorridos 14 anos após a perda de sua audição, Luciléia dos Reis foi uma das primeiras pacientes do Grupo a submeter-se, em outubro de 2010, à cirurgia do implante coclear, caracterizada por implantar um dispositivo eletrônico no ouvido do paciente o qual capta os sons e transmite-os ao cérebro, por meio de eletrodos que estimulam o nervo auditivo.Até o mês de março, o HUBFS realizou oito cirurgias do implante coclear via encaminhamentos do Sistema Único de Saúde (SUS), e dezenas de pessoas estão sendo avaliadas pelo Grupo, composto por uma equipe multidisciplinar formada por otorrinos, fonoaudiólogos, psicólogos e assistentes sociais. Mas submeter-se à cirurgia gera expectativas, dúvidas e medo nos pacientes. Por essa razão, a psicóloga e professora da UFPA Maria Tereza Nassar elaborou o projeto "Acompanhamento Psicológico no Programa de Implante Coclear do HUBFS".O objetivo do Projeto é proceder com avaliações psicológicas individuais e em grupo, desde o momento da tomada de decisão do paciente de submeter-se à cirurgia, observando as condições físicas e psicológicas da receptividade do implante, até a fase de habilitação e adaptação ao aparelho, acompanhando as mudanças na vida dos implantados.

Apoio familiar é necessário durante todo o processo

Com o apoio da Pró-Reitoria de Extensão da UFPA (PROEX), por meio do Programa Institucional de Bolsa de Extensão (PIBEX); e da direção do HUBFS, representada pelos professores Paulo Roberto Alves de Amorim, diretor geral, e Renato Ferreira da Silva, diretor adjunto; o Projeto promove, todas as sextas-feiras, no Hospital, o encontro dos pacientes implantados e pacientes candidatos à cirurgia do implante coclear, sendo mediados pela coordenadora Maria Tereza Nassar e por estudantes bolsistas da Graduação em Psicologia da UFPA. A coordenadora do Projeto explica que nem todos os encaminhados ao HUBFS estão aptos a receber o implante coclear, considerado uma alternativa àqueles deficientes auditivos que não se adequaram às próteses auditivas convencionais. "Primeiramente, os pacientes precisam ter surdez profunda. Eles são avaliados por toda a equipe e, se apresentarem as condições do ponto de vista de cada área médica que envolve a cirurgia, são eleitos candidatos a fazerem o implante. Geralmente, são pessoas que já estão surdas há dez, quinze, vinte anos, e o implante é uma mudança significativa na vida delas", explica Maria Tereza Nassar. Neste cenário, o apoio familiar é fundamental durante todo o processo. "Nós buscamos trabalhar com a família do paciente, analisando em que condições familiares esse paciente está inserido e conscientizando a família dos cuidados que ele terá que receber pós-cirurgia", acrescenta a professora. No caso Luciléia Silva dos Reis, esse apoio familiar não foi fácil. "No começo, a minha família não me deu total apoio, porque eles tinham medo que essa cirurgia me tirasse a vida. Eles disseram que era para eu desistir, mas eu disse não. Fui atrás de mais informações, consultei os médicos do HUBFS, tudo para eu conseguir o apoio da minha família", lembra a paciente.

Dados devem gerar futuras pesquisas

É importante ressaltar que a cirurgia do implante coclear não transforma o deficiente auditivo em um ouvinte da noite para o dia. Só após o período pós-operatório é que o aparelho é ativado, mas o paciente ainda terá as dificuldades de um indivíduo surdo, porém minimizadas pelo uso do implante. Com o auxilio de um fonoaudiólogo, o aparelho será regularizado no decorrer do tempo, para viabilizar, aos poucos, a audição do paciente. Além do receio por ser uma cirurgia na cabeça, outro problema enfrentado pelos pacientes está relacionado com a autoestima no pós-operatório, quando eles precisam descobrir seus potencias nessa reconquista da capacidade de ouvir, assim como outras habilidades que estavam inibidas por conta da surdez. Outro aspecto comum vivenciado nas conversas no grupo é o fato do aparelho possuir uma parte visível externamente, o que pode causar estranheza. "Alguns pacientes são jovens e trazem essa inibição com relação ao aparelho. Alguns relatam, por exemplo, que, se entram no ônibus, todos ficam olhando para essa parte externa. Neste sentido, as conversas em grupo ajudam, pois cada um conta o que fez para superar as dificuldades. É um lugar de apoio mútuo, de troca de experiências e de fortalecimento", pontua a coordenadora Maria Tereza Nassar. Neste contexto, os bolsistas envolvidos no Projeto esperam que a riqueza de dados coletados no Grupo possam gerar material para futuras pesquisas e para a escrita de trabalhos científicos na área. Os "turning point" da paciente Luciléia dos Reis já despertaram a atenção de uma das estagiárias do Projeto, a qual está interessada em pesquisar a relação mãe-filho quando a linguagem falada fica comprometida por conta da surdez da mãe. Hoje, com o implante coclear, Luciléia dos Reis não cansa de repetir sua maior emoção pós-cirurgia, "a ativação do meu aparelho aconteceu no dia 8 de novembro e, neste dia, eu já consegui ouvir os primeiros sons, os primeiros barulhos depois de 14 anos. Mas a emoção maior foi ouvir meu filho me chamar de mãe. Todo dia é uma emoção, porque o implante coclear é um milagre".

Saiba mais

O Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital Bettina Ferro, por meio do Grupo de Implante Coclear, é o único a oferecer a cirurgia em Belém. Coordenado pelo professor José Cláudio Cordeiro, o setor oferece, atualmente, dois serviços à população: o implante coclear, mais conhecido como "ouvido biônico", e a prótese auditiva, ambos viabilizados por intermédio do Sistema Único de Saúde (SUS). Pacientes de qualquer idade, com perda auditiva neurossensorial profunda, podem ser encaminhados às análises da equipe médica para viabilizar a cirurgia do implante coclear, que dura, em média, três horas. A ativação do aparelho acontece, geralmente, 30 dias após o implante.

Fonte: Beira do Rio. Jornal da Universidade Federal do Pará . Ano XXV Nº 95, Junho e Julho de 2011



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