Valdivino Cunha da Silva*
Quando alguém que já ultrapassou
a faixa etária dos 60 anos, cabelos brancos, com marcas dos tempos nos rostos
pega um microfone ou vai fazer uso da palavra, a gente pensa logo - ou pelo menos
cria-se a expectativa - de que dali sairá algo de bom, de serenidade, tendo
como referencial a experiência de vida e, portanto, a busca da verdade e da
ética. Essas imagens se desfazem totalmente quando associamos ela a Michel
Temer.
Quando um homem público usa a
tribuna, espera-se que ele se pronuncie defendendo a justiça, e o bem comum.
Não é bem o caso do Michel Temer, este quando vai a tribuna é para se
autodefender e desqualificar a justiça, com contraofensivas, dizendo que não há
provas cabais que o incrimine, seguindo as orientações de seus defensores,
pagos a preços exorbitantes com o dinheiro público, portanto, meu e seu.
Quando alguém de uma certa idade
usa palavra para se defender, espera que ele nos deixe convictos de que fala a
verdade e que seus contra-argumentos são sólidos, consistentes. Não é bem o
caso Michel Temer, ele o faz de forma vaga, cambaleante. Nega veementemente,
por exemplo, que os áudios nos quais foi flagrado, são montagens. Pede a um
perito altamente suspeito - aquele mesmo que afirmou pericialmente que não
houve chacina em Carajás - para fazer um laudo. Este diz que há indícios de
fraudes nos áudios usados por Joesley Batista para grampear Temer. Aí, vem a
Polícia Federal é diz que os áudios são verdadeiros e que não houve montagens
nem cortes, pelo contrário, deixa-o ainda mais desnudo.
Quando ele vem, em seus inúmeros
pronunciamentos públicos, desfazer aquilo que todo mundo já sabe ser verdade,
uma vez que é o próprio Ministério público que faz a denúncia, ele tenta passar
um “ar” de normalidade com um sorriso forçado nos lábios, mas o que todo mundo
sabe é que por dentro ele está dilacerado, ou pelo menos deveria estar. Usa a
crise financeira como a justificar toda sua desfaçatez, esquece-se, porém, da
crise ética e moral de seu governo.
Quando tem se a notícias de mais
um desvio de dinheiro público, é preciso parar, pensar e fazer a contas. É
preciso ter referencias para se ter noção do tamanho do montante desviado, pois
as cifras são exorbitantes.
Dias desses, o Presidente foi à
Noruega, apontado como um dos países menos corrupto do mundo. Eu fico a me
perguntar como ele se sentiu perante as autoridades norueguesas sendo ele
acusado por Joesley Batista na Revista Época como “ O chefe da quadrilha mais
perigosa do Brasil”. Ele deve pensar com seus botões de que apesar de ter
poucos amigos, tem muitos, muitos cúmplices, especialmente na Câmara Federal e
no Congresso Nacional.
Finalizo este texto com o
discurso inicial e atualizadíssimo de Cícero, exímio orador da Roma Antiga, dirigido
a Lucio Sérgio Catilina, militar e senador de Roma que tentou derrubar a
República Romana:
- Até quando, ó Catilina,
abusarás da nossa paciência?
- Por quanto tempo ainda a tua
loucura há de zombar de nós?
- A que extremos há de precipitar
a tua desenfreada audácia?
* O autor é educador e sociólogo da 11ª Ure (Santa Izabel, Pará, Brasil).
Parabéns, Professor Valdivino.
ResponderExcluirAinda há algum lucidez intelectual em alguns homens de acima dos 60.
O fragmento de Marcus Tulius Cícerus foi oportuno.
Parabéns, Professor Valdivino.
ResponderExcluirÓtimo e perspicaz comentários.
O fragmento das catilinàrias de Marcus Tulius Cícerus foi mais que oportuno.