No dia 15 de abril de 1980,
surgiu o Sistema de Organização Modular de Ensino – SOME, no Estado do Pará,
com quatro localidades em quatro municípios. Uma política pública de educação
que deu tão certo, que amanhã completa 38 anos, contribuindo na formação de
diversos profissionais.
MEMORIAL
Enquanto educador, com
formação em Licenciatura Plena em História, pela Universidade Federal do Pará,
concluído no ano de 1987 e com especialização em História do Brasil, pela
PUC/MG, no ano de 1992.
Sou professor de História do
Ensino Médio da rede publica do estado do Pará. Estou lotado na Escola de
Ensino Fundamental e Médio “Dom Mário de Miranda Vilas Boas”, no município de
Bujaru que pertence a 11ª URE.
Desempenho minhas atividades
docentes na modalidade denominada Sistema de Organização Modular – SOME-
fundado na década de oitenta e se tornou uma política pública através da Lei
Estadual nº 7.806 publicada no Diário Oficial do Estado, no dia 29 de abril de
2014, conseguindo assim se tornar uma modalidade de ensino Atualmente, estão
matriculados no SOME aproximadamente 38.000 alunos com um quadro docente de
quase 1.100 professores.
O SOME E SUA DINÂMICA DE
FUNCIONAMENTO
O SOME é, uma alternativa
para a educação no campo que possibilita aos jovens e adultos o acesso ao
ensino médio nos diversos vilarejos dos municípios paraenses, especialmente
àqueles mais interiorizados e carentes de infraestruturas (deficiência nos
sistema de comunicação, de transporte, saúde, acesso e educação formal, etc.).
Esta modalidade de ensino
possibilita aos professores em função da sua dinâmica de funcionamento que é o
rodízio de blocos de disciplinas, circularmos pelos mais diversos e longínquos
municípios paraenses que vai de Ananindeua, um dos municípios que compõe a
região metropolitana de Belém à Jacareacanga, no município paraense de Itaituba.
Nesses andares, ensinamos e aprendemos histórias, mas também ouvimos estórias e
causos que brotam da crença e do imaginário popular do caboclo paraense e
amazônico.
Nas peregrinações que
fazemos pelos municípios onde o SOME atua, procuramos mostrar aos nossos alunos
a importância do resgate da micro-história e da história oral e um das tarefas escolares dadas por mim aos
meus alunos é que eles façam um levantamento da história da localidade/vila
tendo como principal fonte de pesquisa a oralidade pois, conforme THOMPSON “A história oral possibilita novas versões da
história ao dar voz a múltiplos e diferentes narradores. Esse tipo de projeto
propicia sobretudo fazer da história uma atividade mais democrática, a cargo
das próprias comunidades, já que permite construir a história a partir das
próprias palavras daqueles que vivenciaram e participaram de um determinado
período mediante suas referências e também seu imaginário”.
O objetivo desses resgates
históricos levantados pelos discentes é fazer com que a história de suas
comunidades não seja perdida aproveitando as fontes de informações vivas que
ainda existem e assim eles, representados por seus antepassados tornam-se
objetos de suas próprias pesquisas que tem como alvo prioritário a serem pesquisadas
as pessoas mais idosas em função do acúmulo de saberes, nem sempre
sistematizadas, mas vivenciados que essas pessoas ainda guardam consigo, pois quando
essas fontes se calarem, vão com elas parte das histórias dessas comunidades.
O tipo de pesquisa utilizada
no trabalho aqui discutido foi à pesquisa de campo orientada com base na coleta
de informações pelos pesquisadores-alunos. Este tipo de pesquisa representa uma
possibilidade de o pesquisador conseguir não só uma aproximação mais íntima
como que deseja investigar, mas também lhe possibilita conhecer e produzir
conhecimento a partir das situações encontradas no campo.
Visando a impessoalidade e a
fidelidade nas fontes pesquisadas, orientamos nossos alunos para que não
interferisse nas respostas ou na pesquisa como um todo.
As pesquisas se deram na forma de entrevistas,
com questionários pré-elaborados com identificação indispensáveis do
entrevistado como: nome, data e local de nascimento, estado civil, origem,
atividade que desenvolve, há quanto tempo reside na comunidade, como era a
comunidade há anos atrás, entre outras informações relevantes.
Sem deixar de lado conteúdos
programáticos, propostos pela Secretaria Estadual de Educação – SEDUC e ENEM
faço sempre em minhas aulas um recorte das atividades pedagógicas e trabalho
com o resgate da história e da memória e com essa dinâmica deixo de ser o
“professor” e passo a ser um mediador, pois como nos ensina FREIRE “Ninguém educa ninguém, ninguém educa
a si mesmo, os homens se educam mediatizado
pelo mundo” e assim a educação
torna-se uma rota de mão dupla pois,
ao mesmo tempo em que se ensina, também se aprende e dessa forma o resgate da história e da
memória, as trocas de experiências
tornam-se muitos enriquecedoras e os
alunos tornam-se ao mesmo tempo personagens e autores da pesquisa.
RELATOS DE EXPERIENCIAS
DOCENTES
No exercício da docência, há
inúmeros momentos que se tornam marcantes em nossa jornada, uma delas aconteceu
na Vila de S. Raimundo, município de Bujaru, no ano de 20I0. A comunidade de
São Raimundo localiza-se a 31 km da cidade de Belém. Nesta comunidade passei
aos alunos a tarefa para que eles fizessem um resgate histórico da comunidade
deles com base em pesquisa oral para descobrirem suas origens, seus
antepassados. Depois de todos os dados levantados por eles, fizemos
coletivamente, a catalogação dos dados, eu me limitando apenas a condição de
mediador, já que a pesquisa foi feita inteiramente por eles. A principal tarefa
dada a esta turma que foi a 8ª Série do ensino fundamental, do ano de 2010,
composta por 35 alunos.
Dividimos o projeto em seis
eixos temáticos, que foram os seguintes: Causos, Economia, Agricultura,
Medicina popular, Cultura e a História da Vila.
O projeto durou 50 dias, que é o período de duração por módulo do SOME
em cada localidade. A metodologia de execução nesse projeto foi paralela às
aulas normais, sendo que cada hora-aula dura 45 minutos. Os últimos dias de
aula da semana eram reservados para conversarmos coletivamente para sabermos
como estava o andamento da pesquisa de cada grupo.
O Projeto contou além dos
alunos, com a participação de professores, comunidade local e escolar tendo
como objetivo maior estimular a produção de conhecimentos sobre a realidade
através da pesquisa, valorizando historicamente a memória e os relatos
presentes entre os moradores da comunidade de São Raimundo, em Bujaru, com
ênfase nos aspectos históricos, socioculturais, político e econômicos.
Ressalto que durante o
acompanhamento dos grupos de trabalho da execução desse projeto, encontrei
excelentes narradores, apesar de muitos nem terem sentados em bancos de escolas
e muitos com memórias prodigiosas, onde se deliciava quanto a vivacidade dos
fatos seja relacionados com a comunidade seja tratando de assuntos relacionados
à sua vida.
O referido projeto foi
executado e teve como um dos principais aspectos estimular a produção de
conhecimentos sobre a realidade através da pesquisa, valorizando o resgate
histórico da memória e os relatos presentes entre os moradores da comunidade de
São Raimundo, em Bujaru, com ênfase nos diversos aspectos, estabelecendo uma
conexão entre o conhecimento prático, teórico e vivenciado, com o conhecimento
sistematizado e formal e assim, entendemos que sairemos do mundo das abstrações
e distantes e passamos ao mundo prático da realidade do nosso educando.
EXPERIENCIAS QUE VI E VIVI
No exercício da docência
experimentei momentos ricos, reflexivos e às vezes até inusitados, mas ao mesmo
tempo enriquecedores, mas somente para aqueles docentes os quais me incluo que
têm a humildade em reconhecer que não são donos da verdade absoluta. Assim sendo, socializarei aqui três desses
inúmeros momentos enriquecedores.
1-Durante o acompanhamento
dos grupos de trabalho da execução desse projeto, encontrei excelentes narradores,
apesar de muitos nunca terem sentados em bancos de escolas. Alguns deles com
memórias prodigiosas, onde me deliciava quanto à vivacidade dos fatos em
assuntos relacionados às suas vidas. Aprendi que uma parte significativa da
micro-história não está presente nos livros didáticos e sim na memória de um
povo e que mesmo eles não sendo “professores” têm uma didática muito especial,
seja na cadência da oralidade, na entonação de voz ou mesmo nas imagens e
paisagens criadas ou revividas nas suas mentes. Muitos desses historiadores
populares têm a capacidade de manter o ouvinte sempre atento àquilo que dizem e
ensinam técnica que poucos professores possuem. Preferimos muitas vezes o uso
do poder e da intimidação pra manter nossos alunos atentos.
Sem que eles saibam, suas
narrativas são ricas em figuras de linguagens como a onomatopeia e a
polissíndeto que dão vidas às suas falas imitando muitas vezes sons da natureza
ou vozes de animais, ou ainda com a repetição das palavras que cadência às suas
falas, como se observa na narrativa abaixo, do senhor Oscar Bandeira, que na
época da pesquisa tinha 80 anos:
“Quando eu cheguei aqui,
professor, eu ainda era um pirralho, mas era um moleque duro. Aqui em frente
(apontando com os lábios), tudo era mata, mata grande. Tinha caça, peixe e
jacaré. “Me lembro como se fosse hoje, meu pai me chamou e disse pra mim montar
no cavalo brado, ainda novinho, sem tá amansado. O bicho tinha a cara de mal.
Era forte, patas largas e com algumas malhas nas costas, era de arrepiar. Quando a gente queria passar a mão nele, o
bicho pulava que nem o diabo tinha que ser corajoso pra montar nele e lá fui
eu. Peguei o cabresto de corda, passei mão na cara dele, meti o cabresto, sei
que não gostou, pois jogava a cabeça para um lado e para o outro, como me
dizendo que não aceitava aquilo. Nessa hora ela já estava preso ao cabresto mas
mesmo assim ele deu três pulos, antes de eu montar nele. Eu queria fazer
bonito, dizer para o meu pai que eu já era um homenzinho. No mesmo instante dei
um pulo subi no lombo do bicho e ele arribou, disparado, sem tino nem destino e
eu ali, no lombo dele. O bicho corria que nem ventania, eu só escutava a zoada,
do vento assim zoom, zoom em meus ouvidos. Mas ele não era de ferro e depois de
um bom tempo andando em disparada, começou a galopar, senti o compasso de seus
passos a galopar, ritmo lento. Percebi isso porque ele galopava assim: potoque,
potoque, potoque... Devagarinho. Senti que domei a fera e voltei feliz da vida.
Nessa hora meu pai já me esperava no terreiro que ficava em frente de nossa
casa que era limpo e a gente dormia debaixo dele nas tardes quentes. Quando ele
me viu com aquela fera dominada, correu e me abraçou e me deu um leve sorriso
de felicidade. O bicho tava cansado, ofegante. “Suava como se tivesse saindo de
perto de um fogaréu, seu olhar era triste, de derrotado”.
Como se observa pela
narrativa ela tem a capacidade de manter o ouvinte atento em função da riqueza
de detalhes. Todo historiador deveria também dominar a técnica da oralidade e
faze dela uma ferramenta indispensável para o bom exercício da docência.
Sabemos que muito se tem
debatido, atualmente, no âmbito da Educação brasileira, a cerca dos caminhos
que deve trilhar o processo de ensino-aprendizagem nas escolas públicas, neste
começo de milênio. E em se tratando do ensino de História, inúmeras são as
sugestões metodológicas para tentar envolver o educando nas vertentes do
conhecimento histórico e tornar as aulas menos cansativas, dinâmicas e
interessantes. Rotineiramente aparecem nos livros didáticos do Ensino
Fundamental e Médio informações do tipo, “a história é feita pelos homens, todo
ser humano é produtor de sua cultura” e inúmeras outras frases que tentam
persuadir o educando de que a disciplina é interessante e está voltada para a compreensão
do seu universo humano. Porém, na prática, a inserção do educando nas páginas
do saber histórico, inicia-se, na maioria das vezes, com o estudo de realidades
extremamente desconhecidas e, portanto, complicadas de entendê-las o que leva a
desinteressarem-se imediatamente pelas aulas e atividades que o professor passa
a desenvolver.
Outro aspecto que merece
destaque a respeito deste assunto diz respeito a nossa prática docente.
Refiro-me notadamente sobre a prática docente das disciplinas História, Geografia,
Sociologia e Estudos Amazônicos disciplinas que me são mais familiares. O
grande desafio dessas disciplinas diz respeito a uma adoção metodológica que as
tornem mais interessantes para o aluno. Os longos anos de experiências docentes
apontam-me que as aulas expositivas apoiadas em textos escritos e recursos
audiovisuais, o que impõe, a adoção de palavra falada e escrita - tendo o
professor como mediador – me parece ser um mecanismo interessante a ser usados
em nossas aulas.
Não há dúvida de que estes
recursos, se bem selecionados e utilizados, podem dinamizar as aulas e prender
a atenção dos alunos. Entretanto, possam apresentar limitações. Parte dessas
limitações está relacionada ao fato de que os alunos nos vários níveis de
ensino (em especial no Ensino Fundamental e Médio), apresentam certa
dificuldade de executar uma leitura compreensiva e ao mesmo tempo provocadora
de indagações e criticas que limitam ou impede que se crie o vínculo entre a
leitura do texto na escola e a leitura do concreto. E provavelmente isto
decorre da desconexão entre o processo de ensino na escola (abstraio e
fragmentado em disciplinas) e a realidade social (complexa e concreta). Como o
estudo de disciplinas, da área das ciências humanas (História, Sociologia,
Geografia e Estudos Amazônicos) pode contribuir para que esse aluno alcance a
condição de cidadão, se o mesmo não consegue se perceber dentro desses
contextos trabalhados? Esse nos parece o grande problema, para o qual ainda não
temos uma solução.
O trabalho realizado na Vila
de São Raimundo teve como objetivo valorizar a história e a memória de seus
moradores através de relatos e retratos de seus antigos moradores; assim como,
estimular o protagonismo estudantil e a capacidade crítico-investigativo sobre
a realidade na qual está inserido, despertando o interesse científico entre os
estudantes de ensino público no Estado do Pará; além de dinamizar a produção de
conhecimentos na educação pública valorizando o ensino e a pesquisa de forma
interdisciplinar.
A catalogação, análise da
pesquisa e leitura final do trabalho culminou com dois momentos distintos,
porém, extremamente interessantes. O primeiro momento foi que com base nas
práticas agrícolas, nas relações de produção, na forma de sobrevivência e nos
relatos das pessoas mais idosas, chegou-se a conclusão que provavelmente uma
parte considerável daquela comunidade era remanescente de quilombo, portanto,
há uma grande probabilidade de seus ancestrais serem descendentes de escravos.
Num primeiro momento eles, mesmo com os dados apontando essas evidências,
negavam veementemente e não queriam aceitar esse passado, pelo fato de que
ainda hoje essas comunidades e pessoas sofrem preconceitos. O segundo momento
foi com a tomada de consciência de seus papeis históricos que seus antepassados
desenvolveram na história do Brasil e daquela comunidade. Depois de muitos
debates, informações e esclarecimentos, eles internalizaram seus passados e
passaram a ser orgulhar dele. No final a comunidade fez uma grande festa de
encerramento, com a valorização da comida, dança hábitos, enfim, da cultura
negra.
2- O segundo momento
importante e reflexivo vivenciado por mim e que achei muito enriquecedor foi
quando eu estava discutindo a temática “modos de produção”. Estava explicando
aos alunos o que são os modos de produção e a forma como a sociedade organiza
socialmente os meios de sobrevivência e que estão associados a determinadas
etapas de desenvolvimento das forças produtivas e das relações de produção e
que os modos de produção são constituídos pelo objeto sobre o qual se trabalha
e por todos os meios de trabalho necessários à produção que são os instrumentos
ou ferramentas, as máquinas, oficinas, fábricas, etc.. Expliquei que nem todos
os modos de produção, como nas sociedades primitivas, moeda teve a importância
que tem hoje. Um Aluno pediu que eu explicasse o que era moeda, justificando
que não estava entendendo.
Expliquei-lhe que a moeda é
o meio pelo qual são efetuadas as transações financeiras. Perguntei ao aluno se
ele havia entendido e ele me respondeu que não. Tentei ser mais claro e
disse-lhe então que a moeda era todo ativo que constituía forma imediata de
resolver débito, usando uma definição diferente. Ele voltou a dizer que não
havia entendido ainda e ai dei outro conceito dessa vez mais técnico e que
disse que moeda foi em certo período representado pelos escravos, no período
escravista, por exemplo. Aí ele voltou a indagar novamente e perguntou-me:
- Como assim professor?
Um aluno perguntou-me se ele
poderia ajudar a tirar aquela dúvida de seu colega de classe e eu disse que
sim. Aí ele perguntou ao seu colega de classe:
- Você é filho aqui de
Bujaru, não é?
- Sim, sou. Mas o que isso
tem a ver com minha pergunta?
-- Calma, falou o
professor-aluno, que agora fazia o meu papel. Você sabe que aqui em Bujaru, já
passamos pelo ciclo do farinha, não sabe?
- Sei
- Você sabe qual é o produto
mais valioso atualmente aqui, não sabe?
- Claro que sei, disse, já
com ar de aborrecimento. É o açai.
- Verdade, é o açai. Imagine
que você tem um grande estoque de açai, e trás lá do seu açaizal sacos de açai.
Você acha que mesmo você não tendo dinheiro, a moeda propriamente dita, mas
tendo açai, qualquer um comerciante não aceitaria o seu açai pra comprar algo?
Ele sacudiu a cabeça afirmativamente.
-Pronto, disse o aluno-professor,
o açai prá nós aqui em Bujaru é uma moeda, todos aceitam e o diálogo entre os
dois encerrou-se.
Perguntei ao aluno se ele
queria mais explicações, sobre o que é moeda, ele me disse que não que “agora
havia entendido”.
Que conclusão pode tirar
desse fato concreto? É que temos que trazer a história para uma realidade
concreta do nosso alunado. Termos técnicos, dependendo do nível de entendimento
da turma, muitas vezes atrapalham, nem sempre tem o efeito desejado. Com outra
explicação menos rebuscada, ficou claro que aquele aluno, entendeu o que são os
ciclos produtivos e os conceitos de moeda.
3- o Terceiro momento
importante aconteceu recentemente, neste ano de 2016, na mesma localidade, Vila
Forquilha, que pertence ao município de Tomé-Açu, com uma turma de 34 anos do
terceiro anos do ensino médio que foi assim:
Eu passei uma atividade em
sala de aula. Pedi que eles fizessem uma contextualização histórica sobre os
momentos que antecederam a Revolução Industrial e dei-lhe 30 minutos, tempo
necessário que respondessem aquela atividade. A Vila aqui em questão tem acesso
à internet. Recolhi as atividades e levei para casa, para avaliação. Percebi
que inúmeras respostas estavam idênticas e concluir que eles usaram a pesquisa
na internet através do celular para responderem as questões solicitadas. Num
primeiro momento pensei em dá zero a todas aquelas respostas. Depois refletir e
entendi que aquela medida não seria a mais correta, afinal, vivemos na era da
comunicação, da tecnologia e da informação cada vez mais diversificada e de
fácil acesso e puni-lo sumariamente não seria a medida mais acertada, uma vez
que a informação deve está a serviço da educação e decidi aceitar suas respostas
como verdadeiras, orientando-os apenas que colocassem a fonte pesquisada.
O que me surpreendeu foi à
facilidade e a velocidade com que eles acessaram a informação, coisa que muito
de nós, professores, temos sérias dificuldades, pois não temos familiaridade
com teclado, tela, toque screen, etc. Precisamos rever nosso conceito de ensino-aprendizagem.
Descobriremos que não somos donos absolutos da verdade. Precisamos introjectar
em nós mesmos que nossos alunos em certos campos, como são o caso da tecnologia
tem um maior domínio que nós, professores e temos que vê a educação dentro deste
contexto, ou seja, vivemos atualmente diante de um momento que cresce
velozmente a difusão e renovação das tecnologias no contexto social pós-moderno
e não dá mais para querer que os nossos alunos de hoje recorram aos mesmos
mecanismos de aprendizagem os quais pautaram nossos processos de aprendizagem e
assim não podemos ignorar a nova realidade imposta dentro da sala de aula, quer
queiramos ou não. Torna-se, portanto,
necessário rever nossas metodologias de dá aulas, modificando a maneira como
ensinamos e aprendemos. As novas tecnologias estão integrando-se cada vez mais
a nossa sala de aula. As novas gerações que surgem, já nascem dentro de um
mundo altamente tecnológico e, por conseguinte, surge um novo contexto
educacional que exige uma nova postura por parte do professor. É preciso rever
urgentemente nossas práticas docentes para que nos enquadremos dentro de um
novo contexto educacional.
Como se sabe, até o presente
a prática pedagógica adotada por disciplinas ligadas "as ciências
humanas", tem priorizado a leitura da palavra escrita como
"vetor" para a interpretação da realidade e com isso tem descartado
conhecedores e sabedores locais; o que propomos é uma espécie de inversão dessa
prioridade, isto é, estimular o aluno a "ler o mundo para ler a palavra".
Tal propositura fundamenta-se na pedagogia política de Paulo Freire, e parte do
princípio de que a experiência de vida, os valores e os saberes dos alunos e do
meio social a que pertence preciso efetivamente, fazer parte do seu processo de
escolarização, e uma das formas para se atingir esse objetivo é o educador se
envolver com projetos pedagógicos que associem pesquisa e ensino, pois assim
estará possibilitando a sistematização dos saberes, experiências e valores da
própria comunidade, canalizando-o como substrato de sua formação escolar.
A partir dos projetos, temos
procurado estabelecer uma permanente troca de saberes entre os diversos
segmentos que formam a comunidade (alunos, professores, pais de alunos e
moradores em geral), valorizando os "saberes necessários" e
destacando a importância que cada um deles tem na construção do conhecimento. O
produto mais "nobre" desse processo é o estímulo que provoca tanto
nos alunos como no professor, para que estes ultrapassem a condição de consumidores
de conhecimento e alcancem também a condição de seus produtores.
O projeto visou resgate da
história e memória que venho desenvolvendo nos municípios paraenses que tenho
trabalhado. E desta vez, além disso, o projeto contou com a participação dos
professores das referidas disciplinas, profissionais de equipe no Ensino Médio
e no SOME na empreitada de explorar outros elementos na pesquisa em História
Oral.
Quando lancei a proposta da
atividade pedagógica da história oral para os alunos tive todo o cuidado de
mostrar como uma proposta em que eles estavam inseridos, a importância do
recurso metodológico que seria utilizado, como ferramenta fundamental para
educação, diferente da educação bancária, mostrando essa diferença. Após passar
o filme Narrador de Javé, que foi produzido em 2001, dirigido por Eliane Caffé,
onde abordei e contextualizei as narrativas do filme, trabalhei, também, com
alguns textos simples produzidos por mim, sobre História Oral, abordando numa
linguagem de ensino fundamental de alguns autores que já trabalham e oferecem
orientações sobre a História Oral, entre eles tratei da obra de Paul Thompson,
a Voz do Passado, da Paz e Terra; frisei alguns exemplos da obra História Oral
e Memória, de Antonio Torres Montenegro, da Editora Contexto; História Oral, de
José Carlos Sebe B. Meihy e Fabíola Holanda, da Editora Contexto; Guia Prático
de História Oral, de José Carlos Sebe B. Meihy e Suzana L. Salgado Ribeiro, da
Editora Contexto; Escrita da história: Novas perspectivas, do escritor Peter
Burke e História – Prazer em Ensino e Pesquisa, de Marcos A. da Silva, da
Editora Brasiliense.
Agradeço aos colegas
professores, informantes e alunos que contribuíram nestas experiências, em
especial ao Professor Valdivino Cunha da Silva que tem feito várias revisões
dessas atividades e ao colega Tiese Junior, que solicitou a produção deste
texto.
BIBLIOGRAFIA
BURKE, Peter. Escrita da
história: Novas perspectivas. Unesp. 1992.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do
Oprimido. 11ª. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
MEIHY, José Carlos &
HOLANDA, Fabíola. História Oral. Editora Contexto. 2011.
MONTENEGRO, Antonio Torres.
História Oral e Memória. Editora Contexto. 2007.
SILVA, Marcos A. História –
Prazer em Ensino e Pesquisa. Editora Brasiliense.2003.
THOMPSON, P. A voz do
passado – História Oral. 2. edição. São Paulo: Paz e Terra, 1998.
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