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segunda-feira, 23 de abril de 2018

Reconstruindo a história e a memória da Comunidade Negra Agrária de “Campo Verde”



No município de Concórdia do Pará, no Estado do Pará, aconteceu a culminância do trabalho "Reconstruindo a história e a memória da Comunidade Negra de Campo Verde", na localidade de Campo Verde, no dia 05 do corrente. O resgate foi fruto dos alunos matriculados na 1ª série, 2ª e 3ª, através do recurso metodológico da História Oral. Os alunos entrevistaram os moradores mais antigos da comunidade, lideranças locais, professores e outros, sob nossa coordenação dos Professores Valdecir Silva, Ribamar Oliveira e Júlio Neto. Eis o resumo da atividade apresentada para comunidade em geral.

Governo do Estado do Pará
Secretaria Estadual de Educação
Secretaria Adjunta de Ensino
Departamento de Ensino Médio e Ensino Profissional
Sistema de Organização Modular de Ensino
Prefeitura Municipal de Concórdia do Pará
Secretaria Municipal de Educação
EEEFM “Campo Verde”
Diretora da EMEF “Campo Verde”
Iris Welen Machado de Holanda
Vice-Diretora
Maria de Jesus Cardoso
Coordenadora Pedagógica
Alice Maciel da Silva
Diretora da EEEFM “Amabílio Alves Pereira”
Marly Sanches Cardoso
Coordenação do SOME no Município
Antônia Cilene Costa de Lima
Coordenação Geral do SOME
 Joseana Dias Monteiro
Coordenação, Sistematização e Revisão Textual do Projeto:
José Ribamar Lira de Oliveira – Historiador (SOME)
Valdecir Silva – Filosofia (SOME)
Júlio Gomes de Araújo Neto – Biólogo (SOME)


Alunos - Pesquisadores

Abraão Trindade Barbosa
Alandra Maria da Trindade Barbosa
Alicia Maciel da Silva
Ana Joice Rodrigues da Silva
Brenda de Fátima Pereira Mendonça
Breno Pereira Mendonça
Camila Santiago da Trindade
Cleito Costa Cardoso
Erlete Conceição Silva
Denilson do Carmo Galo
Denilson Silva Guimarães
Diel Santos Mendonça
Elisâma da Silva Lima
Erlete Conceição Silva
Getúlio Cordeiro Lima
Gracilene Batista Cordeiro
Iranilce Lima da Silva
Irael Cordeiro Lima    
Izaiane Lima da Silva
Jaqueline Conceição Silva
Jeferson Ferreira Trindade
Joseane Londres de Santana
Joselma Ferreira Pereira
Lia Mota da Silva
Márcio José Rodrigues Pereira Junior
Maria Beatriz Silva Mendonça
Maria Deonata Silva Trindade
Mariane Trindade dos Santos
Maria do Socorro Cardoso da Silva
Naielem Oliveira Amaral
Penéllope Silva da Silva
Rafaela Cardoso Costa
Rafael Cardoso Costa
Raimundo do Socorro Cordeiro
Renata Mata da Silva
Roseane Londres da Silva
Sabrina Sanches Cardoso
Tayssa Lima Cordeiro
Vanessa Cordeiro Lima
Wesley Guimarães da Silva

SUMÁRIO


Apresentação...............................................................................................07
Dedicatória..................................................................................................08
Agradecimentos.......................................................................................... 09
Histórico......................................................................................................10
Aspectos Geográficos..................................................................................11
Educação......................................................................................................14
Atividades Econômicas................................................................................28
Cultura..........................................................................................................30
Ervas Medicinal............................................................................................33
Movimentos Sociais e Entidades..................................................................34
A importância da mulher na comunidade.....................................................35
A Estética do Cabelo.....................................................................................39
Religião.........................................................................................................43
Personagens importantes da Comunidade....................................................49
Informantes...................................................................................................53
Anexos..........................................................................................................54
Lei do SOME................................................................................................66


APRESENTAÇÃO

Tendo como suporte metodológico a História Oral, onde levo na bagagem a troca de experiências nas diversas localidades por onde desenvolvi minhas atividades pedagógicas, através do Sistema de Organização Modular de Ensino – SOME, chego pela primeira vez na comunidade negra agrária de Campo Verde, no município de Concórdia do Pará e lanço a proposta para os profissionais de trabalho e alunos das três séries, para desenvolver a pesquisa com vários temas relacionados a esta comunidade e prontamente aceitaram.

Através dessa troca de experiências com a comunidade, vejo como a melhor forma de conhecer a localidade, é buscando suas origens, histórias e memórias com os membros mais antigos, que revivem o passado longínquo, tão perto do presente.

Ressalto que diante do processo ensino-aprendizagem, podemos perceber que os discentes alargaram seus horizontes, oferecendo oportunidades de pesquisar, construir, aperfeiçoar, identificar e diferençar alguns conceitos que são fundamentais no crescimento intelectual.

Quando assumimos esse compromisso, juntamente, como o 1º, 2º 3º ano dos alunos matriculados no IV módulo, do Sistema de Organização Modular de Ensino – SOME, ano de 2017, sabíamos que teríamos alguns desafios, entre eles registros que poderiam contribuir com o desenvolvimento dessa constituição e construção da história e memória dessa localidade.

Vários temas foram divididos nas três séries para que pudessem fazer o levantamento dos dados, conforme, o tema da equipe que foi sorteado, com os informantes que poderiam contribuir com esse resgate histórico e cultural, tendo a história oral, como recurso metodológico utilizado durante o processo desse levantamento para a pesquisa. Com essa fonte oral, o informante revive e pontua aspectos que servem como elemento, que será transcrito e refeitos com parágrafos que o grupo ficou responsável.

                                                                       José Ribamar Lira de Oliveira
                                                                                   Historiador

AGRADECIMENTOS


A Secretaria de Estado de Educação (SEDUC) que realizou convênio com o município de Concórdia do Pará, proporcionando a oportunidade aos alunos da localidade de Campo Verde e circunvizinhas de estudar o ensino médio;

A comunidade escolar e diversas pessoas das diversas localidades em torno de Campo Verde que contribuíram direta ou indiretamente para que fosse desenvolvido esse trabalho;

Ao educador Valdivino Cunha da Silva pela revisão geral deste trabalho.

A Professora Fátima Rodrigues com sua contribuição nos aspectos geográficos.

Somos gratos aos alunos do ensino médio do IV Módulo do ano de 2017, que dispuseram a pesquisar, colher e contribuir na construção desta Coletânea de Textos;

Ao Sistema de Organização Modular de Ensino (SOME) em proporcionar essa oportunidade em contribuir na História de Concórdia do Pará e do Estado do Pará;

Aos informantes, pois sem eles não teríamos fontes para a construção e conclusão do Trabalho.


HISTÓRICO

Segundo a equipe responsável pelo levantamento e pesquisa sobre o histórico da Comunidade Agrária Negra Campo Verde, surgiu por volta da década de 70. Com base coletada dos dados, a história da localidade se confunde com a história da Igreja Católica, sendo que, primeiro surgiu o grupo Fé em Deus, depois Deus é por nós e com muitas reuniões apareceu o Centro Comunitário, com o Presidente Sancler e depois Zito Polinário, com poucas pessoas, com um total de 35 famílias. As reuniões eram realizadas na casa do Senhor Otácio e antes disso, as famílias se reuniam na casa do Senhor Lázaro Modesto dos Santos, pai do seu Canuto. Com o surgimento do Centro Comunitário, teve a origem da Comunidade Campo Verde, o nome vem em homenagem ao igarapé, que na época se chamava Campo Verde.

Nesse período as pessoas que estavam à frente do grupo de evangelização se chamavam Monitor, a partir daí a comunidade é devoto de São Thomé, seu santo padroeiro.

Muitos comunitários se dedicaram espontaneamente e sem ônus nenhum ao trabalho da Comunidade, como o Lazarão, Manoel Trindade (Bolota), Guilherme Chaves, Ponciano, Socorro entre outros.

Após muita luta reuniões e organização, o povo conseguiu construir a Igreja, tendo a frente da Presidência do Centro Comunitário o Senhor Miguel Modesto da Silva. 

Aspectos Geográficos

Segundo a Professora Fátima Rodrigues, a Comunidade Quilombola Agrária Campo Verde é uma área úmida que cobre uma pequena parte do município de Concórdia do Pará, na região nordeste paraense.
Para a referida Professora, a conhecida expressão quilombola é considerada uma das comunidades mais organizada do dito município e, também possui uma grande biodiversidade.            

                                                                         11
                                  
Seu solo é considerado pobre com uma fina camada de nutrientes, porém, o humo formado pela decomposição de matérias orgânicas, como folhas, flores, frutos e animais, torna-se rico em nutrientes utilizados para o desenvolvimento das espécies e da vegetação.

Seu clima é o equatorial, ou seja, marcadas por elevadas temperaturas e grande índice pluviométrico (Chuvas).


Além disso, Campo Verde fica as margens do rio Bujaru.                                                 
                                                                             
                                                                
                                                                                                                            

Formado por uma floresta tropical fechada; por árvores grandes, médios e pequenos portes, devido a pouca incidência de luz solar, não há muita vegetação rasteira. E, sim, uma diversidade de várzeas e igapós, em épocas cheias (Inverno) muitas famílias ribeirinhas se locomovem através de canoas (Pequenos barcos construídos ou fabricados de madeira). Dessa maneira, os animais que vivem em sua floresta são de pequenos e médios portes e em sua maioria rasteiros.

Seus problemas ambientais são diversos, estes causam o desequilíbrio de seu ecossistema, tais problemas são as disputas pela terra, os desmatamentos, as queimadas, os assentamentos humanos, a caça e a pesca ilegal e, a disputa por compra e venda de entorpecentes. Sendo que, este é o mais agravante, pois o mesmo induz uma grande partícula de crianças, adolescentes, jovens e até mesmo alguns adultos, da mesma e de outras comunidades vizinhas a tal prática.

Portanto, segundo a Professora Fátima Rodrigues, que fez essa grande contribuição, a comunidade tem como principal objetivo persistir no fomento de seu desenvolvimento na região.


ATIVIDADES ECONÔMICAS
                               

Segundo os alunos pesquisadores, a base da economia da Comunidade é a produção da mandioca, da farinha e açaí.

Como primeiro passo, para produzir a farinha, tem-se que ter a dimensão da área, inclusive, medindo o tamanho da área, depois o processo é de roçar esse espaço e espera por um mês vindo a derrubada, a seca da derrubada varia de 15 dias a 2 meses dependendo do local, depois vem a queimada, daí começa o processo de limpeza para o plantio. Geralmente, divide 100 m² em 4 partes de 25 m² nos 75 m², planta a maniva. Antes de plantar a maniva, espera o arroz desenvolver seu crescimento em até ½ m de altura, para começar a plantação de maniva junto com o arroz e alguns tajás de banana.

Para a primeira limpeza, espera a maniva crescer 30cm de altura, espera mais 4 meses para a segunda limpeza (Capinação), quando chega a quarta limpeza a maniva deve está com um ano.

Quando a área é mato fino, leva 7 feixes de 70 árvores de dois metros de altura; em mato grosso, 5 feixes com 70 árvores de 2 metros, essa maniva é cortada de 25 a 30 cm que gera uma quantidade de 3.220 unidade por tarefa.
                                                                       

                                                                           
No segundo passo, segundo os alunos pesquisadores, na produção da farinha, arranca a mandioca, “decota”, limpa a mandioca desbarbeando, carrega pra água, espera de 4 a 6 dias para amolecer, enquanto isso, carrega a lenha para o retiro, no 5º dia vai buscar mandioca dura para misturar com a mandioca mole, porém, para entrar em processo de mistura é preciso motor e tarísca.                                                

Uma carga de mandioca em média dura de 4 a 6 horas para ser descascada, dependendo da quantidade de pessoas.

No 6º dia, retira a mandioca mole da água descascando, depois carrega para masseira onde é triturada, em algumas casas de farinhas que ainda não tem motor, depois põe a mandioca triturada pra secar na prensa ou tipiti, com uma duração de uma hora de tempo, daí faz o fogo embaixo do forno para aquecer, enquanto o forno é aquecido é penerada a massa que estava na prensa, depois de penerada coloca a massa no forno pré-aquecidoo, esse é o processo de torração da farinha, com um rodo empurra a massa pra lá e pra cá até ficar bem torrada durante uma hora, estando torrada, tira a farinha do forno para o depósito chamado de cama de farinha, espera esfriar para poder embalar.


 A importância da mulher na comunidade

A equipe de alunos pesquisadores entrevistou a Diretora da Escola Municipal de Ensino Fundamental e Médio da Comunidade de Campo Verde, Iris Welen Machado de Holanda, tendo como principal tema a mulher na comunidade.

Para a informante, a mulher tem um papel crucial na sociedade, é a mulher que toma conta e gerencia as famílias, portanto, não sendo uma função exclusiva dos homens, são as mulheres que tem as maiores responsabilidades tanto em casa, quanto no trabalho, além de contribuir decisivamente com a sociedade, principalmente, quando estão envolvidas politicamente nos movimentos sociais e populares.

Segundo Iris Welen, quando se trata de família, a mulher tem uma contribuição muito grande, tanto na questão do trabalho que gera renda e a vida doméstica. Para ela, a contribuição na renda familiar é significativa.

Já quando se trata da questão política, segundo Iris, a política está em todo lugar, principalmente, quando questiona, procura entender seus direitos e os seus deveres. Não é filiada em partido nenhum, apesar de sua simpatia, mas acredita que sua política estar voltada para o social.

Na vida profissional, como Diretora da Escola, onde funciona o Sistema de Organização Modular de Ensino – SOME, desenvolve sua atividade com carinho e dedicação, procurando incentivar a valorização da mulher, já que tem duplas jornadas mais do que os homens, ocupando muitos cargos e funções, sem ser valorizada pela sociedade, independentemente, da quantia de tarefas que ela tenha, sendo inferiorizadas.

                                                                        
Uma questão importante, também, abordada pelos alunos pesquisadores foi quanto à participação da mulher na vida política. Para a informante, a política está em todos os lugares, quando você questiona, procura entender seus direitos, os seus deveres, estamos fazendo política, frisou a Diretora. Apesar de não ser filiada em partido nenhum, faz política social.  

A educação atual, para Iris Welen, esbarra em não investimentos pelos governos nas políticas públicas, não dando apoio necessário para se ter uma melhoria significativa na educação. Segundo a Diretora, a educação vai melhorar quando a sociedade se conscientizar que é através do voto, podemos colocar nos cargos públicos realmente pessoas que venham trabalhar em prol da mulher e da educação.                                                                            


                                                                     

A função que desenvolve na Escola, como Diretora, faz com dedicação, profissionalismo e carinho, procurando incentivar a valorização da mulher, já que a mulher tem uma dupla jornada mais que os homens, mesmo assim, a mulher é desvalorizada e a sociedade não olha para ela para o cargo que ocupa, sendo sempre inferiorizada.                                                             

                                                                     
Para equipe responsável pela atividade, ressaltou as seguintes observações: De acordo com a entrevista da Diretora Iris Welen, a mulher é um ser muito importante para a sociedade em geral, já que no mercado de trabalho, na política ou em outro ramo, ela está conseguindo conquistar seus direitos pouco à pouco, além de estar derrubando barreiras, como o machismo, que a equipe acredita que ainda não acabou, mas pelos menos diminuiu, como no mercado de trabalho a diferença salarial entre homens e mulheres, que recebem menos que eles.

A mulher, atualmente, com a “liberdade” que a sociedade diz que ela tem, mesmo assim, paga um preço alto, como a violência doméstica, sexual e outras, onde é demonstrado claramente o racismo, machismo e preconceito... Para a equipe, que fez produziu essas considerações importantes, são atos inexplicáveis, mas a mulher tem a esperança que um dia vai acabar em uma sociedade mais racional.    




                                                          



                                                                   

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