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domingo, 1 de agosto de 2021

A Defesa de Paulo Galo e o Agosto de Lutas

 

                                                                        * José Raimundo Trindade


Nestes primeiros dias de agosto de 2021 muito temos a celebrar: a luta nas ruas e nossa permanente rebeldia. Porém, quero usar este domingo de sol aqui em Belém do Pará para celebrar um nome e uma ação. Dedico essas linhas ao trabalhador e lutador social Paulo Galo, bem como a ação de um movimento denominado “Revolução Periférica”: o incêndio a estátua de “Borba Rato” um purulento membro das elites corrompidas e estúpidas da escravidão brasileira.


No último dia 24 de julho, muitos de nós fomos as ruas tendo sempre materializado em nossos desejos o fim de um período que aparentemente se inicia em 2016, com o golpe de Estado que retira Dilma da presidência e nos anos seguintes estabelece um governo neoliberal autoritário, prende a principal liderança popular brasileira e finalmente impõe um governo neofascista.


Toda essa convicção é verdadeira, porém os movimentos históricos são em grande medida de um prazo maior, nos diria Fernand Braudel, filosofo e historiador francês, que a “história é de longo prazo”. A origem do autoritarismo brasileiro é de tempos históricos coloniais, sendo que a atual configuração com predomínio fascista constitui somente um momento histórico, bastante difícil socialmente, mas somente um momento da história autoritária nacional, outros momentos, onde 1964 representa um ponto muito forte, sedimentam nossa história autoritária e antipopular.


Refiro esses pontos para defender o ato de rebeldia e de legitimidade histórica dos jovens organizados no grupo chamado “Revolução Periférica”, especialmente a posição digna e sincera do trabalhador e lutador social Paulo Galo. Faço minhas referencias sustentadas em quatro pontos:


1) A história sempre tem sido escrita pelos poderosos, donos do poder econômico. No caso brasileiro isso constitui um fato pior por conta de que além de escrever a história, a burguesia brasileira elimina fisicamente os opositores, que nos falem os milhares mortos nos campos e nas cidades brasileiras.


2) A construção da história se dá numa permanente resistência dos trabalhadores e povos oprimidos, sendo que a resistência também se dá na construção de uma CULTURA de resistência, algo que as esquerdas brasileiras muito menosprezam e que se faz necessário retomar, inclusive definindo os inimigos históricos como condição para se pensar o futuro.


3) A construção da contracultura ou contra resistência, como tratei em outro texto (https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Construcao-da-Contraordem/4/51182), se faz de forma criativa e com riscos individuais e coletivos, o que se mostrou na ação de contra cultura feita pelos jovens vinculados ao movimento “Revolução Periférica”, algo que deve ser estimulado na construção de uma contra ordem.


4) A esquerda convencional está “enferrujada”, sua lógica, diga-se, sempre necessária de combate nas manifestações de ruas, tem que ser reinventada, inclusive aprendendo com novos movimentos de luta social. Vale aqui observar, o que está em questão não tem nada a ver com aquilo que erroneamente se chama de “identitários”, isso tudo é luta de classes e disputa histórica. Como pode-se falar em “identidades” quando se trata de lutas que envolvem mais de 50% da sociedade brasileira: negros, mulheres, indígenas, isso não é identitário, isso é estrutural e tem haver com um inimigo comum: o capitalismo e sua opressão permanente.


A disputa social, política, econômica e ideológica no Brasil se aprofunda e estamos do lado daqueles que consideram que manifestações como incendiar a estátua de um “bandeirante escravocrata” seja necessário para reconstruir um Brasil de mulheres e homens livres.


Para avançarmos temos que reconstruir as lutas sociais, mantendo as fundamentais manifestações de ruas, porém radicalizando com novas e criativas formas de expressão social. Estamos somente no início de uma disputa de longo período.


Liberdade para Paulo Galo! 


Todas e todos as ruas neste agosto de gosto de lutas e rebeldia!


* O autor é Professor da Universidade Federal do Pará - UFPA.


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