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quinta-feira, 17 de março de 2022

Mães do SOME

 

                                                  * Danielle Figueiredo





Março é um mês de luta para lembrar de conquistas e direitos que temos conseguido, mas que também ainda temos ainda para garantir, e aqui exponho as conquistas ainda que precisamos lutar no campo da maternidade e sua relação no mundo do trabalho.


Nos últimos anos, temos tidos dentro da pauta do feminismo, o tema da maternidade, que ainda é um lugar bem espinhoso para se falar, uma vez que é feito de crenças construídas ao longo da história da humanidade, que perpassa por um determinismo biológico, que nos coloca condicionado a instintos biológicos maternais. Hoje, as discussões em torno da questão da maternidade, desconstrói essa ideia biológica exclusiva, e coloca em análise aspectos sociais, culturais e econômicos para entendermos de que maternidade é essa estamos falando e a partir de que contexto estamos querendo analizar. 


E, como uma mãe e professora, gostaria de poder me colocar no lugar de fala de uma mãe "modulenta", pois sou uma dessas mães há cerca de 4 anos (quase idade do meu filho). Mas antes disso, vamos aos significados da palavra “modulenta” pro leitor fora do ensino modular entender. Uma mãe "modulenta" é a que trabalha na educação do ensino médio rural durante 5 dias da semana, num período de 50 dias em uma determinada comunidade rural, aldeia, quilombo ou assentamento de algum município desse nosso estado. Muitas conseguem ir e voltar para suas casas, passar final de semana com seus filhos, parceiros e familiares. Contudo, outras mães modulentas passam, praticamente, módulo todo (50 dias) longe de seus filhos e familiares, tendo as vezes uns feriados prolongados pra ir “visitar” (isso mesmo, a palavra é visitar, por que essa mãe acaba muitas vezes virando visita de seus próprios filhos).


Em prol de garantir a educação dos filhos de outras mães, tem muitas professoras mães modulentas, deixando o conforto de suas casas, perdendo abraços de seus filhos e cônjuges e se ausentado de comemorações  familiares para se deslocar e atender in loco esses mais de 32 mil jovens espalhados por todo Pará, que estão residentes nessas 454 comunidades rurais, 29 quilombos, 44 aldeias indígenas e 24 assentamentos.


Não precisamos dizer, que é um trabalho árduo, doloroso e que requer que não romantizemos. Pois, estamos falando novamente de configurações da estrutura machista que se ramifica dentro do mundo do trabalho, e como isso pode ser sentida por nós professoras modulentas, que tem uma atividade laboral que perpassa pelo campo material (muitas delas são mãe solos, exclusivamente responsáveis financeiramente pelo sustento de seus filhos ou mães com companheiros que convivem juntos ainda, mas são a maior renda no seu grupo familiar, muitas vezes ajudando até parentes  como pais) e pelo campo subjetivo (a pouca ou ausência da divisão das tarefas domésticas e dos cuidados com filhos mesmo trabalhando a semana toda ou módulo todo, tendo que deixar esses filhos sob cuidados de pessoas de sua confiança, mesmo tendo um cônjuge e pai dos filhos morando com estes, e em casos de mães solos, o que vemos muitas vezes é ausência desse pai ou pouca participação na vida afetiva e financeira com estes filhos).


Diante disso, queremos dizer que para garantir direitos a educação desses jovens, há por trás toda uma lógica que se estrutura machista e patriarcal que invisibiliza no âmbito privado essas mães que mantém organizada suas casas ( e ainda são as únicas e/ou exclusivamente responsáveis) antes de seguir seus deslocamentos a lugares longínquos, a qual estas vão desempenhar outro papel, acumulando papéis, que são reconhecidos no âmbito doméstico e público.

 

É necessário que essa dolorosa e gratificante jornada de uma mãe "modulenta", seja pautada e refletida por nós professoras (mães ou não), professores e gestores em reuniões , planejamentos pedagógicos e encontros do SOME que discuta  os aspectos da maternidade no some e a influencia na nossa produtividade laboral.  Uma vez essa atividade laboral é realizada com sucesso, graças a  uma estrutura  patriarcal e machista que começa no âmbito privado e se prolonga ao âmbito público, a exemplo da licença maternidade das mães "modulentas", que segue sendo violada pelo poder público, com a retirada de sua gratificação durante o período que mais precisamos, seja por questões financeiras ou pelos alterações emocionais que os hormônios causam no puerpério dessa mãe. 


Que possamos garantir o direito de maternar no SOME com mais afetos, menos machismo e mais direitos as mulheres.


*Danielle Figueiredo é Socióloga e Professora do Sistema de Organização Modular de Ensino - SOME/SEDUC/PA.. 

3 comentários:

  1. Minha amiga Danielle, como sempre de palavras certas em momentos certos. Sempre como amor e dedicação em tudo que faz.

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  2. Que texto maravilhoso,
    Parabéns para as guerreiras do SOME, que deixam seus filhos para levar conhecimentos para os alunos dos lugares mais distantes do nosso estado do Pará. 👏👏👏👏👏

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  3. Minhas duas colegas socióloga que não a conheço, mas tenho grande admiração. São grandes guerreiras, lutadoras militantes por uma educação emancipativa de mulheres e homens!

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