Paulinho Rodrigues um Zero mas à Esquerda
SE NÃO HOUVER MOBILIZAÇÃO POPULAR A GENTE CAI.
O Brasil atravessa um momento decisivo. A conjuntura política que vivemos é marcada por disputas de poder intensas, manobras institucionais e pelo avanço perigoso da extrema-direita — nacional e internacional. O julgamento de Jair Bolsonaro simboliza uma etapa desse processo, mas não se trata de uma ruptura real com o projeto político que ele representa. Pelo contrário: o que vemos é uma disputa interna entre setores da própria classe dominante, que, em um determinado momento, se sentiram inseguros e insatisfeitos com a radicalização bolsonarista e, por isso, decidiram retirá-lo de cena. No entanto, essa retirada não significa mudança estrutural.
Foi nesse contexto que setores do grande capital, mesmo sem simpatia por Lula, viram nele o único candidato capaz de derrotar Bolsonaro em 2022. Apoiaram, assim, um projeto mais palatável, um governo de conciliação, que não ameaçasse de forma profunda seus privilégios e seus lucros. Mas a solução encontrada foi limitada desde o início: uma mudança promovida dentro das instituições burguesas do Estado, que afastou o povo do centro das decisões políticas e abriu espaço para que as narrativas mentirosas da extrema-direita crescessem e se consolidassem.
Hoje, enquanto os setores progressistas não disputam as mentes e corações da população com propostas concretas e mobilização social, a extrema-direita segue ocupando as ruas, as redes e os discursos, convencendo milhões com mentiras. A ausência de um movimento popular forte, aliado a pautas que toquem na vida real das pessoas, cria o terreno fértil para o avanço do autoritarismo.
Ao mesmo tempo, a chamada “frente ampla” que sustenta o governo Lula virou uma coleira. PP, União Brasil e outros partidos do centrão usam sua força no Congresso para chantagear o governo e bloquear qualquer tentativa de reforma popular.
Querem ministérios, querem a Caixa Econômica, querem poder — e ainda por cima querem anistiar Bolsonaro! E o governo? Não reage!
Não podemos aceitar um governo refém de quem quer destruir a democracia! A governabilidade não pode custar os direitos do povo!
Essa dependência de uma base conservadora freia qualquer tentativa, mesmo modesta, de realizar reformas estruturais em benefício da maioria. Ao invés de aprofundar a democracia e convocar o povo para a luta, o governo se vê tutelado por setores que nunca abriram mão de defender os interesses das elites econômicas. A pergunta inevitável é: qual foi, de fato, a importância da frente ampla para a governabilidade, e a que custo?
Mas o cenário é ainda mais complexo. Fora do Brasil, há um jogo maior em curso. O imperialismo norte-americano, representado pela linha trumpista, vê sua hegemonia global ameaçada pelo fortalecimento dos BRICS e da articulação entre países do Sul Global. Para conter esse avanço, os EUA buscam desarticular o Brasil e toda a América Latina. Isso passa por influenciar diretamente as eleições de 2026, estimular instabilidade política, fortalecer a extrema-direita e criar condições para novos golpes institucionais ou militares.
Diante desse quadro, a resposta não virá apenas de negociações de bastidores ou acordos parlamentares. Só com mobilização popular teremos condições de defender a democracia, proteger os direitos conquistados e impedir o retorno do bolsonarismo — agora ainda mais organizado e fortalecido. O governo Lula precisa compreender que não basta buscar apoio em setores de centro-direita que, em última instância, nunca hesitarão em abandoná-lo. É necessário retomar o diálogo direto com o povo, apostando na construção de uma agenda de transformação social concreta, que devolva esperança e sentido à política.
Isso significa lutar por pautas populares urgentes, como:
• Redução da jornada de trabalho e o fim da escala 6x1, garantindo dignidade e qualidade de vida à classe trabalhadora;
• Revogação do arcabouço fiscal, que engessa os investimentos sociais e prioriza o pagamento da dívida aos grandes bancos;
• Reforma tributária justa, taxando os super-ricos e isentando do imposto de renda quem ganha até 5 salários mínimos;
• Defesa da soberania nacional e resistência à influência externa que ameaça os interesses estratégicos do país;
• Denúncia do golpe em preparação pela extrema-direita, com a articulação de figuras como Tarcísio de Freitas e os partidos conservadores, que já trabalham para tomar o poder após o julgamento e possível condenação de Bolsonaro.
O momento exige clareza: a luta não é apenas contra Bolsonaro, mas contra todo um projeto de país submetido à lógica do capital financeiro, da subordinação imperialista e da retirada de direitos. Se não disputarmos a narrativa, se não mobilizarmos o povo e se não nos organizarmos nas ruas, corremos o risco de ver, mais uma vez, o avanço de um golpe que desmontará o pouco que conquistamos.
O futuro da democracia brasileira não será decidido apenas nos tribunais, no Congresso ou nas negociações entre partidos. Ele será decidido na capacidade de o povo se organizar, ocupar espaços, exigir seus direitos e impor sua agenda.
Porque, no fim, a única barreira real contra o avanço da extrema-direita e contra a submissão ao imperialismo é a força organizada da classe trabalhadora. Sem ela, qualquer governo progressista será refém das elites, dos chantagistas do centrão e dos interesses estrangeiros.
OU O POVO VAI À LUTA, OU O GOLPE VOLTA. NÃO EXISTE MEIO-TERMO.
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