TIESE TEIXEIRA JR
À medida que o barco se aproximava da ponte
principal, daquela pequena cidade do Baixo Amazonas, meus nervos se agitavam.
Fui tomado por um medo sem explicação, parecia que aquele era o meu primeiro
módulo como professor, eu que já estava naquela vida há uns dez anos. Senti uma
tristeza enorme. Meu colega, professor de geografia deu um sorriso, bateu no
meu ombro e disse que, no final daquele período eu iria sentir falta do lugar.
Claro que resmunguei de forma negativa. Imagina saudade disso aqui, pensei
comigo.
Ficamos no cais. Assisti à
partida do barco, querendo mesmo seguir viagem. Caminhamos em direção à casa
dos professores. Chegando lá, estava fechada. Logo, uma vizinha, daquelas
portadoras de más notícias, veio nos dizer que não havia água e nem energia
elétrica na casa. Ficamos uns trinta minutos esperando a diretora da escola
aparecer, e confirmar as informações que já tínhamos. Naquela noite dormimos
num hotel. Nossa como tinha mofo naquele quarto. O ventilador do teto rodava
lentamente, e pela pequena janela, entrava mais folhas, trazidas pela ventania,
que vento propriamente.
Bem, dormimos ali. Bem cedinho
fui acordado por uma voz bem potente de uma mulher, que imaginei estar brigando
com alguém. Estava errado. Era sua forma natural de falar. Tomamos café e fomos
conhecer a escola. Saber de horários e número de turmas. Quando voltamos fomos
comunicados que a casa dos professores já estava pronta para nos receber.
Pegamos nossas malas e partimos. Como era quente aquela casa. Naquele módulo
dormi a maior parte do tempo na área da casa. Só possível, por que morávamos no
segundo andar.
À noite, começamos a trabalhar.
Eu, e meu colega, os demais, ainda não tinham chegado. De cara gostei de todas
as turmas. Os alunos pegavam as explicações rapidamente. O conteúdo fluía. O
tempo parecia passar mais depressa. A localização da escola favorecia as aulas.
Localizada numa área ampla, com salas ventiladas e uma distância adequada entre
as salas de aula, aquele ambiente logo fez desaparecer meus sentimentos do dia
da chegada.
Aqueles alunos carregavam uma
energia, uma vontade de estar ali, que me levaram por várias vezes a extrapolar
o horário das aulas. Havia uma atmosfera diferente no ar. Sempre que entrava
nas aulas, parecia ser transportado pra outro lugar. Estudamos vocabulários,
estruturas gramaticais, lemos, produzimos textos e cantamos, ah! Como cantamos
naquelas aulas. Por vezes desafiava alguém em especial a ler ou cantar, e eu
sempre perdia os desafios. Mas perdia-os com gosto. Acho que nunca dei tanta
risada em toda a minha vida de professor como naquelas aulas.
Com o passar dos dias, comecei a
perceber que já tinha lembranças de fatos ocorridos naquela cidade, naquela
escola, com aqueles alunos. Às vezes era tomado por uma sequência delas. Eu que
vivia com o calendário nas mãos contando os dias pra terminar o módulo, me
peguei deixando a folhinha de lado. Mergulhado na gostosura de aulas que jamais
pensei, pudessem me provocar tais sensações.
De repente, o tempo passava mais
depressa e o fim daquele período se aproximava. Começaram as articulações das
turmas pra realização de festas de despedida. Sempre que ouvia alguém falar
algo sobre o assunto, pensava que em breve não estaria mais ali. Entre alunos
tão especiais que me faziam repensar minha prática pedagógica. Experimentar
coisas novas. Eu que julgava já não ter mais o que descobrir em sala de aula,
me pegava como uma debutante, no primeiro dia, parecia estar descobrindo as
belezas de ser professor ali, no lugar em que outrora, nem quisera desembarcar.
Mas enfim, chegou o último dia de
aula do módulo. Fui pra escola fazer a entrega das provas finais e das notas.
Os alunos foram todos aprovados. Tem professor que gosta de dar a nota mínima,
sempre gostei de dar a nota máxima, dez, claro que tem aqueles que não a
alcançam, mas nem por isso ficam reprovados. À noite, foi de fato especial.
Leitura de poemas, músicas de voz e violão... Declarações carinhosas de ambas
as partes, e óbvio, comilanças, se não, não seria uma festa de enceramento.
Na tarde do dia seguinte parti.
Deixei pra trás alunos inesquecíveis. Levei comigo, uma mala a mais na bagagem,
carregada de experiências que tornaram minha caminhada na docência, bem mais
prazerosa. Dali em diante sempre que apareceu uma turma daquelas que nos
desafiam, lembrei-me dos meus alunos do baixo amazonas e senti força pra me
reinventar como professor.
OBRIGADO MEU AMIGO, POR AJUDAR A DIVULGAR NOSSOS ESCRITOS!
ResponderExcluirVale muito a pena conferir a obra do professor Tiese Jr. Boa leitura Pará viagem de Férias bjs.
ResponderExcluirMaravilhoso! Saudades de vc meu querido Tiese Jr. Trabalhamos juntos em Curionópolis pelo SOME. Carinhoso abraço.
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