Total de visualizações de página

sábado, 8 de dezembro de 2018

A MINHA PRIMEIRA VEZ NO SOME






                         *Profº AroDinei Gaia








A minha primeira vez no Sistema de Organização Modular de Ensino, foi um momento poético, que revelou-se um misto de encanto com o novo trabalho e a constatação do modo secundário que a educação é tratada no estado o que reflete o que ocorre no Brasil.








Poético por que comecei numa comunidade ribeirinha, cujo cenário, por sua natureza e beleza amazônida, já tem tudo a ver com poesia. Posso afirmar, inclusive, que as viagens moduleiras me proporcionaram inspiração e tranquilidade para escrever a maioria de minhas obras, aliás! posso considerar que todas foram fruto das vivências moduleiras.



Ingressei no SOME no final do ano de 2003, quando este, ainda era um projeto. Por sinal um ano sombrio por conta da reformulação via Rosa Cunha que acabou por trazer perdas consideradas para o seu ideal funcionamento. Então! continuando essa narrativa de aventura educacional, fui contratado nesse ano para trabalhar no município de Limoeiro do Ajurú, município este que nasceu do útero de minha amada Cametá.



Como meu contrato foi assinado final do ano, no dia 11 do mês de dezembro, fui lotado logo na reposição, iniciada logo após as festas natalinas e de réveillon. Deste modo, no começo de janeiro me apresentei na sede municipal para a então coordenadora local profª. Sônia, pela qual fui agradavelmente recebido por ela e por seu esposo e também moduleiro na área dos números professor Elson. Fiquei hospedado na residência do próprio casal até a manhã seguinte, quando me desloquei para a localidade de Rio das Flores, cujo cátedra docente me aguardava.



O casal de professores me colocava os problemas que enfrentavam no município, principalmente, pela carência de profissionais para atender as localidades. Na época Limoeiro contava com as últimas turmas de magistério do curso normal. Fui lotado para trabalhar com língua estrangeira, porém quando expus minha formação em curso de pedagogia fui quase ovacionado pelos anfitriões moduleiros. Depois me disseram que o motivo da alegria era por conta da grande quantidade de disciplinas que ficaram pendentes durante o ano, desta forma eu “caíra do céu”, pois tal problema eu poderia resolver, assim fui lotado também em estágio supervisionado, sociologia da educação, prática de ensino, etc, uma verdadeira “avalanche de disciplinas”.



Essa realidade de carência docente se contrastou com o rico e ilustre tratamento que recebi na localidade. Rio das Flores, na região da Ilha de Araraím, além de ser formado por um povo hospitaleiro, o prefeito municipal ainda custeava a hospedagem do professor no lugar. Assim, fui hospedado, juntamente com os professores Elson, Franklin e Trovão, numa vila ribeirinha de pescadores, numa residência confortável, mobilhada, com motor de luz e duas funcionárias para nos atender (uma cozinheira e outra para cuidar da casa) nos alimentando de peixe da maré, quase sempre, presenteado pelos moradores. Limoeiro, diferente de Cametá, mantinha grande parte do auxílio perdido em meados de 2003. Ali, eu e os demais colegas nos sentíamos valorizados enquanto profissionais da educação, usufruindo das benesses que todo educador deveria ter.



Fazendo adaptação de horários e contando com o brioso esforço dos estudantes, conseguimos solucionar as pendências de disciplinas e fomos recompensados com o reconhecimento do trabalho, pois mesmo com a deficiência letiva, fruto da má gestão governamental ao final foi premiado com a aprovação de vários alunos da turma do terceiro ano no vestibular. Inclusive uma das minhas alunas, Wânia Alexandrinho, acabou tornando-se também, minha colega na faculdade de história na Ufpa e hoje desponta no cenário acadêmico com o nível de doutorado, coroando o orgulho moduleiro.



Finalizo por aqui destacando que: o cafezinho da tarde, uma rodada de pôquer, banho de rio, o papo agradável no final de tarde na cabeça da ponte com os moradores, foram momentos inesquecíveis que marcaram essa primeira experiência de aventura educacional moduleira, que mais tonificante se tornava quando a noite a lua vinha nos visitar no céu de Limoeiro.



* O autor é lotado na Ure de Cametá, como educador do Sistema de Organização Modular de Ensino - SOME, escritor e cordelista. Suas obras retratam personagens regionais da cultura amazônida.

2 comentários:

  1. Boa tarde. Muito boa a narrativa do professor contando como foi o seu primeiro contato com o SOME. Que sirva de inspiração, inclusive para mim, para que outro modulentos e modulentos contarem as suas. Brevemente, quando tiver um tempo, estarei contando a minha(Rsrsrs).

    ResponderExcluir
  2. Professor Edilberto, fique à vontade, no Blog do Riba, você e outros colegas do magistério terão publicações postadas quando me enviar para j.lira.oliveira@uol.com.br, que é meu email. Temos vários colaboradores neste espaço eletrônico, em especial do Some, como o Valdivino Cunha, Valdir Ribeiro, AroDinei Gaia, Paulo Tavares, Maria de Fátima... Vamos exercitar. Fico aguardando seu texto ou de colegas que queiram contribuir com a troca de conhecimentos e experiências.

    ResponderExcluir