*Profº
AroDinei Gaia
A
minha primeira vez no Sistema de Organização Modular de Ensino, foi um momento
poético, que revelou-se um misto de encanto com o novo trabalho e a constatação
do modo secundário que a educação é tratada no estado o que reflete o que
ocorre no Brasil.
Poético por que
comecei numa comunidade ribeirinha, cujo cenário, por sua natureza e beleza amazônida,
já tem tudo a ver com poesia. Posso afirmar, inclusive, que as viagens
moduleiras me proporcionaram inspiração e tranquilidade para escrever a maioria
de minhas obras, aliás! posso considerar que todas foram fruto das vivências
moduleiras.
Ingressei
no SOME no final do ano de 2003, quando este, ainda era um projeto. Por sinal
um ano sombrio por conta da reformulação via Rosa Cunha que acabou por trazer
perdas consideradas para o seu ideal funcionamento. Então! continuando essa
narrativa de aventura educacional, fui contratado nesse ano para trabalhar no
município de Limoeiro do Ajurú, município este que nasceu do útero de minha
amada Cametá.
Como
meu contrato foi assinado final do ano, no dia 11 do mês de dezembro, fui
lotado logo na reposição, iniciada logo após as festas natalinas e de
réveillon. Deste modo, no começo de janeiro me apresentei na sede municipal
para a então coordenadora local profª. Sônia, pela qual fui agradavelmente
recebido por ela e por seu esposo e também moduleiro na área dos números
professor Elson. Fiquei hospedado na residência do próprio casal até a manhã
seguinte, quando me desloquei para a localidade de Rio das Flores, cujo cátedra
docente me aguardava.
O
casal de professores me colocava os problemas que enfrentavam no município,
principalmente, pela carência de profissionais para atender as localidades. Na
época Limoeiro contava com as últimas turmas de magistério do curso normal. Fui
lotado para trabalhar com língua estrangeira, porém quando expus minha formação
em curso de pedagogia fui quase ovacionado pelos anfitriões moduleiros. Depois
me disseram que o motivo da alegria era por conta da grande quantidade de
disciplinas que ficaram pendentes durante o ano, desta forma eu “caíra do céu”,
pois tal problema eu poderia resolver, assim fui lotado também em estágio
supervisionado, sociologia da educação, prática de ensino, etc, uma verdadeira “avalanche
de disciplinas”.
Essa
realidade de carência docente se contrastou com o rico e ilustre tratamento que
recebi na localidade. Rio das Flores, na região da Ilha de Araraím, além de ser
formado por um povo hospitaleiro, o prefeito municipal ainda custeava a
hospedagem do professor no lugar. Assim, fui hospedado, juntamente com os
professores Elson, Franklin e Trovão, numa vila ribeirinha de pescadores, numa residência
confortável, mobilhada, com motor de luz e duas funcionárias para nos atender (uma
cozinheira e outra para cuidar da casa) nos alimentando de peixe da maré, quase
sempre, presenteado pelos moradores. Limoeiro, diferente de Cametá, mantinha grande
parte do auxílio perdido em meados de 2003. Ali, eu e os demais colegas nos
sentíamos valorizados enquanto profissionais da educação, usufruindo das
benesses que todo educador deveria ter.
Fazendo
adaptação de horários e contando com o brioso esforço dos estudantes,
conseguimos solucionar as pendências de disciplinas e fomos recompensados com o
reconhecimento do trabalho, pois mesmo com a deficiência letiva, fruto da má
gestão governamental ao final foi premiado com a aprovação de vários alunos da
turma do terceiro ano no vestibular. Inclusive uma das minhas alunas, Wânia
Alexandrinho, acabou tornando-se também, minha colega na faculdade de história
na Ufpa e hoje desponta no cenário acadêmico com o nível de doutorado, coroando
o orgulho moduleiro.
Finalizo
por aqui destacando que: o cafezinho da tarde, uma rodada de pôquer, banho de
rio, o papo agradável no final de tarde na cabeça da ponte com os moradores,
foram momentos inesquecíveis que marcaram essa primeira experiência de aventura
educacional moduleira, que mais tonificante se tornava quando a noite a lua
vinha nos visitar no céu de Limoeiro.
* O autor é lotado na Ure de Cametá, como educador do Sistema de Organização Modular de Ensino - SOME, escritor e cordelista. Suas obras retratam personagens regionais da cultura amazônida.
Boa tarde. Muito boa a narrativa do professor contando como foi o seu primeiro contato com o SOME. Que sirva de inspiração, inclusive para mim, para que outro modulentos e modulentos contarem as suas. Brevemente, quando tiver um tempo, estarei contando a minha(Rsrsrs).
ResponderExcluirProfessor Edilberto, fique à vontade, no Blog do Riba, você e outros colegas do magistério terão publicações postadas quando me enviar para j.lira.oliveira@uol.com.br, que é meu email. Temos vários colaboradores neste espaço eletrônico, em especial do Some, como o Valdivino Cunha, Valdir Ribeiro, AroDinei Gaia, Paulo Tavares, Maria de Fátima... Vamos exercitar. Fico aguardando seu texto ou de colegas que queiram contribuir com a troca de conhecimentos e experiências.
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