O falecimento do professor de história do Sistema Modular Municipal de Melgaço, no Marajó, Nilton Leal Rodrigues, que morreu em um acidente de rabeta enquanto entregava atividades para estudantes sem aulas presenciais por conta da Pandemia, ao se chocar com outra embarcação, fez-me refletir sobre os perigos que eu passava durante as viagens de ida, às segundas - feiras e na volta, às sextas-feiras, nos anos de 2006, 2007 e 2008 nas localidades de funcionamento do Sistema de Organização Modular de Ensino – SOME, no município de Abaetetuba.
Durante as viagens de deslocamento da cidade de Abaetetuba para as localidades, que naqueles anos somavam 24 localidades em funcionamento, entre as quais trabalhei nas de Itacurucá Médio, Sapucajuba, Maúba, Tucumanduba, entre outras. E já enfrentávamos diversos tipos de adversidades durante as viagens de rabetas, além do medo de assalto que poderia acontecer a qualquer momento, também havia a circulação de grandes embarcações, o que provocava fortes maresias, causando impacto no fundo da rabeta, balançando bastante a embarcação, o que poderia acabar em naufrágio. E o que é interessante, é que esses tipos de embarcações são bastante velozes e muito utilizados nos rios da Amazônia. Além do que, com a velocidade, às vezes, muito encostado a beira da água, provoca a destruição dos barrancos de areias , aquilo que conhecemos por erosão. Geralmente, a duração das viagens era de duas horas, ou uma hora e meia, mas esse tempo dependia muito da maré, se era a favor ou se era contra e por aí vai...! Foram vivências importantes que adquiri nessas andanças pelo SOME.
Vale ressaltar o conhecimento e a perícia dos ribeirinhos que pilotavam essas rabetas , pois quando passavam as grandes embarcações que provocavam as grandes maresias , ou os “banzeiros”, na linguagem amazônica, era com habilidade que contornavam e dominavam a embarcação evitando o que poderia ser um acidente, como virar o casco da rabeta ou outra situação que poderia causar um trágico acidente, como aconteceu com o professor Nilton Rodrigues.
Portanto, os ribeirinhos enfrentam essas situações diariamente e como precisava de seus serviços, através de alugueis semanais, enfrentava também essa rotina de insegurança e perigo . Vale ressaltar o intenso fluxo de embarcações nos rios, aumentando ainda mais os riscos , sem contar que quando estão paradas , essas embarcações, não param de balançar e, dependendo da maré dos rios esse movimento não deixa de ser outra preocupação para os navegantes. A quebra de motor é outro fator que faz com que os ribeirinhos tenham problemas sérios, já que precisam desse meio de transporte vinte quatro horas por dia.
É preciso ter um espírito aventureiro e guerreiro e muita coragem para os enfrentamentos que nós professores do SOME, essa importante política pública educacional, que funciona nos interiores do estado do Pará dirigida ao ensino médio, para enfrentar o deslocamento das cidades para as localidades nas quais desempenhamos nossas atividades. Não nos consideramos heróis e na verdade, só gostaríamos que nossos governantes soubessem valorizar esse empenho dedicado a tão nobre missão!!!!
Texto: Ribamar Oliveira (Professor e Blogueiro)
Revisão textual: Flávio Filho (Professor do SOME)
Crédito da imagem: Maria Antônia Gonçalves.(Profa. do SOME)
Localidade: Baixo Anapu - Igarapé Miri - Pará - Brasil.
Data: 17/09/2020.
Embora afastado, fisicamente, dessas aventureiras e fascinantes missões, a sua preocupação e o seu compromisso com esse nosso trabalho é evidente!!! Parabéns, meu querido amigo!!!
ResponderExcluirEssa é a verdade meus irmãos, o reflexo do abandono com o ensino principalmente o modular.
ResponderExcluirVerdade Prof Riba , eu e claudio estávamos refletindo sobre exatamente tudo isso , além dos perigos , ficávamos com medo do boto que existem naquela região , e medo de molhar o nosso material de trabalho quando as rabetas passavam próximo das grandes embarcações.
ResponderExcluirÉ lamentável a morte do professor Nilton , o que me deixa triste é a falta de importância da Seduc sobre segurança e a vida de quem luta levando educação para aqueles que mais precisam e que moram nessas regiões.
Nós professores do SOME , estamos sujeitos a todo o tipo de perigo, mas não somos reconhecidos. Os governos que nos valorizaram foram Helio Gueiros, Jader Barbalho, destes tenho boas lembranças.
ResponderExcluirEu lembro com carinho dessas viagens. Principalmente atravessando a baia de Guajará, no período do vendo. Só quem já atravessou a baia do conde em Outubro e Novembro sabe do que estou falando.Mas valeu a experiência de norte a sul Destes outros "brasis". É um mestrado, doutorado e pós doutorado em educação,o projeto modulard Hj em Belém com saudades do tempo de professora itinerante.
ResponderExcluir