Total de visualizações de página

segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

JOÃO BATISTA: A ETERNA RESISTÊNCIA

 


                            * José Raimundo Trindade

 

Faz 33 anos, numa sexta-feira nublada, com leves pingos caindo nas ruas de Belém, uma moto parava em frente ao pequeno carro em que se encontrava a família do Deputado estadual e militante socialista João Carlos Batista. Sete tiros foram disparados, três alvejaram um dos mais significativos lutadores pela reforma agrária e direitos sociais do povo brasileiro, um episódio que até hoje, a exemplo de muitos outros como o assassinato de Paulo Fonteles, Irmã Dorothy Stang, João Canuto e tantos outros, como o recente assassinato de Marielle Franco, continuam sem os verdadeiros culpados e mandantes dos assassinatos serem presos.


A luta de João Batista correspondia a defesa por bandeiras históricas do povo brasileiro, especialmente a Reforma Agrária. A própria origem desse “combatente do povo” era campesina. Ainda com 13 anos ele chega com sua família em terras paraenses para viver e trabalhar como camponeses, sendo já marcante o envolvimento do jovem com as comunidades e, numa época, de reconstrução democrática no país, participa ativamente da reconstrução da União Nacional dos Estudantes, assim como do debate nacional em torno das políticas de reforma agrária e de direitos sociais aos trabalhadores e trabalhadoras rurais.


O campo no Pará sempre foi um espaço de opressão e de domínio dos latifundiários, seja as oligarquias históricas, como os “Mutrans” e “Pinheiro e Almeida” na região do atual município de Marabá, ou as novas oligarquias surgidas no pós-golpe de 1964, como os “Fonsecas”, proprietários da empresa JONASA. João Batista tinha, portanto, uma disputa de fogo e ferro com as oligarquias novas e velhas que “grilavam” e “grilam” as terras no Estado do Pará e, assim como domínio sobre terra é poder, contestar o poder é lutar pela socialização das terras e pelos direitos daqueles que vivem e produzem em seu pequeno pedaço de chão.  A contestação do poder requer riscos, requer coragem, requer resistência permanente, requer colocar sua vida na defesa da causa maior: a vida dos trabalhadores paraenses do campo e da cidade.


Ao se eleger deputado estadual em 1986, a segunda legislatura pós-processo de redemocratização, João Batista compôs ao lado de poucos deputados da esquerda socialista e democrática (Paulo Fonteles, Edmilson Rodrigues, Valdir Ganzer) uma pequena e aguerrida vanguarda na luta pelos direitos dos trabalhadores urbanos e rurais no Pará.


A irrequieta e combativa ação de João Batista sempre foi para as oligarquias paraenses um estorvo a ser retirado, em diversos momentos sua vida ficou por um fio e mesmo familiares, como o seu pai, foram alvos das balas assassinas e da covardia do latifúndio.


Naquele 6 de dezembro de 1988, já próximo do final do ano e, inclusive, já retirado para os afazeres domésticos tão comuns a todos nós quando chega o final do ano, após levar suas crianças e a combativa companheira Sandra Batista para um passeio, os sinistros membros da burguesia rural paraense se aproveitam da condição de pai e esposo amoroso do nobre lutador para impetrar mais um crime nunca desvelado e, pior, protegido pelos podres poderes que controlam a justiça e os interesses mais nefandos da sociedade brasileira e paraense.


Lembrar João Batista e sua luta é lembrar de que a opressão e o latifúndio são irmãos siameses, em novos tempos de fascismo e neoliberalismo autoritário como esses que agora estamos vale denotar que o nome João Batista hoje chama-se resistência permanente ao capital e ao latifúndio.


João Batista vive e resiste!


*O autor é Doutor em Economia e Professor da Universidade Federal do Pará - UFPA


Nenhum comentário:

Postar um comentário