* José Raimundo Trindade
Faz 33 anos, numa sexta-feira nublada, com leves pingos
caindo nas ruas de Belém, uma moto parava em frente ao pequeno carro em que se
encontrava a família do Deputado estadual e militante socialista João Carlos Batista.
Sete tiros foram disparados, três alvejaram um dos mais significativos
lutadores pela reforma agrária e direitos sociais do povo brasileiro, um
episódio que até hoje, a exemplo de muitos outros como o assassinato de Paulo
Fonteles, Irmã Dorothy Stang, João Canuto e tantos outros, como o recente
assassinato de Marielle Franco, continuam sem os verdadeiros culpados e
mandantes dos assassinatos serem presos.
A luta de João Batista correspondia a defesa por bandeiras
históricas do povo brasileiro, especialmente a Reforma Agrária. A própria origem
desse “combatente do povo” era campesina. Ainda com 13 anos ele chega com sua
família em terras paraenses para viver e trabalhar como camponeses, sendo já
marcante o envolvimento do jovem com as comunidades e, numa época, de
reconstrução democrática no país, participa ativamente da reconstrução da União
Nacional dos Estudantes, assim como do debate nacional em torno das políticas
de reforma agrária e de direitos sociais aos trabalhadores e trabalhadoras
rurais.
O campo no Pará sempre foi um espaço de opressão e de
domínio dos latifundiários, seja as oligarquias históricas, como os “Mutrans” e
“Pinheiro e Almeida” na região do atual município de Marabá, ou as novas
oligarquias surgidas no pós-golpe de 1964, como os “Fonsecas”, proprietários da
empresa JONASA. João Batista tinha, portanto, uma disputa de fogo e ferro com
as oligarquias novas e velhas que “grilavam” e “grilam” as terras no Estado do
Pará e, assim como domínio sobre terra é poder, contestar o poder é lutar pela
socialização das terras e pelos direitos daqueles que vivem e produzem em seu
pequeno pedaço de chão. A contestação do
poder requer riscos, requer coragem, requer resistência permanente, requer
colocar sua vida na defesa da causa maior: a vida dos trabalhadores paraenses
do campo e da cidade.
Ao se eleger deputado estadual em 1986, a segunda
legislatura pós-processo de redemocratização, João Batista compôs ao lado de
poucos deputados da esquerda socialista e democrática (Paulo Fonteles, Edmilson
Rodrigues, Valdir Ganzer) uma pequena e aguerrida vanguarda na luta pelos
direitos dos trabalhadores urbanos e rurais no Pará.
A irrequieta e combativa ação de João Batista sempre foi
para as oligarquias paraenses um estorvo a ser retirado, em diversos momentos
sua vida ficou por um fio e mesmo familiares, como o seu pai, foram alvos das
balas assassinas e da covardia do latifúndio.
Naquele 6 de dezembro de 1988, já próximo do final do ano e,
inclusive, já retirado para os afazeres domésticos tão comuns a todos nós
quando chega o final do ano, após levar suas crianças e a combativa companheira
Sandra Batista para um passeio, os sinistros membros da burguesia rural
paraense se aproveitam da condição de pai e esposo amoroso do nobre lutador
para impetrar mais um crime nunca desvelado e, pior, protegido pelos podres
poderes que controlam a justiça e os interesses mais nefandos da sociedade
brasileira e paraense.
Lembrar João Batista e sua luta é lembrar de que a opressão
e o latifúndio são irmãos siameses, em novos tempos de fascismo e
neoliberalismo autoritário como esses que agora estamos vale denotar que o nome
João Batista hoje chama-se resistência permanente ao capital e ao latifúndio.
João Batista vive e resiste!
*O autor é Doutor em Economia e Professor da Universidade Federal do Pará - UFPA
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