*Carlos Prestes
Informações sobre o poema:
- O poema contém 12 Cantos
- Cada canto com 40 linhas poéticas, divididas em 5 estrofes de 8 linhas cada.
- Total de 480 versos ou linhas poéticas.
- Um coro (estrofe) com 4 linhas poéticas fixas (que se repete no final de todos os cantos)
- O canto 1 está construído em versos decassílabos (10 sílabas poéticas)
- O canto 2 está construído em versos alexandrinos (12 sílabas poéticas)
- Do canto 3 até o canto 12 os versos são construídos todos em versos Heterométricos (versos livres, chamados também de irregulares, que não seguem um padrão de métrica definido)
CANTO I: APRESENTAÇÃO (em versos decassílabos)
1
Como posso eu apresentar-te, oh LIvro!
Sem que me envolvesse com os reGIStros
De tuas histórias, tudo tão VIvo
Simples histórias que guardam resQUÍcios
De momentos há mui escondidos no ÍNtimo
E quando dão-se a passear meus Olhos
Pelos corredores de teus paLÁcios
Sinto aqui que és a última flor do LÁcio...
2
Lácio que, na escrita, vos dita os MOdos
Última flor em terra de paraENse
Cujo chronos nos sopra ventos NOvos
Que chegou ao polo abaetetuBENse.
O pesquisador aguça seus Olhos
E, meio encabulado e pertiNENte
Vendo o tempo encurtar-se sobreMOdo
Lança o convite ao amigo doCENte...
3
Ah, doce docência que adoça o COSmos!
Em idos de anos não tão reCENtes
Este professor não mediu esFORços
Em caminhar no caminho deCENte.
Conhece na educação os perCALços
Pois no SOME já passou por disCENte
E ainda assim lhe respinga dos Olhos
A vivência que a lágrima não PRENde...
4
Abre as páginas e discorre o TEXto
Ainda bruto – a caneta anota TUdo
E como se falasse de si MESmo
Muito se agrada de tal esTUdo.
Lê, relê e analisa todo o TEXto
O autor está ali, presente, siSUdo
Logo vê que o escrito tem conTEXto
E experimentar memórias é TUdo...
5
Por isso, o texto lhe traz muito aPREço
Cujas vivências são o maior LUcro
Deixado por um legado coEso
Que avança e só avança, sem reCUo.
Paulatinamente lê-se os exCERtos
Sem decair-lhe os erros do abSURdo
Nem deixar jamais o leitor surPREso
Por fazer-se do livro esse bom Uso...
6
Ah, Amazônia! Teu povo Grita, GEme!
Mas vem e mostra teu vasto reperTÓrio
De tão saberes, pro gringo, pra essa GENte
Antes que te tomem a flora, a fauna, o terriTÓrio...
CANTO II: PREFÁCIO (em versos alexandrinos)
1
Como hei de prefaciar-te, oh, livro de saBEres!
Pois que tantos saberes existem em TI
Se das águas do Amazonas pode beBEres
Tu que promoves debates para JaCI.
Ah! As reflexões suscitam os inteREsses
Que tenho em lê-lo, se em ti há coisas que viVI
Viver nas andanças desses rios com deVEres
De quem leva a profissão até JuruTI...
2
Eu sou Ana... Da Conceição... Do moduLAR
E quando trilho meus pés nessas viciNAis
De lembrar, faço-me rir, faço-me choRAR
Porque se foi um tempo que não volta MAIS.
Anos se foram... Só pegadas pra lemBRAR
Dos lugares, gente simples, memoriAis
De aulas que a esponja do tempo ousa apaGAR
Porém, os impressos, vão ficar nos aNAis...
3
Anais que tatuaram as linhas de um proJEto
Levado aos rincões, pelo interior do esTAdo
Tudo inédito, bem assim, como em céu aBERto
O tal somista foi espalhando aprendiZAdo.
Ah, como é bom falar do modular, deCERto
Daqueles que deixaram o solo planTAdo
Fazendo com que o sonho fosse descoBERto
E o currículo fosse assim apresenTAdo...
4
É mister pensar uma linha ao RibaMAR
Cujo sistema modular foi-lhe a moRAda
Não só isso, mas os louros anos a viaJAR
Em nada antes do SOME jamais se comPAra.
E não se faria justiça à mestra MaRIna
Que em tantos protestos defendeu o profeSSOR
Que caminhou também por entre rios e TRIlhas
Por tanto tempo ao menos sem ver o seu aMOR...
5
Tudo foi se acertando, com todos soNHANdo
E o livro assim nascendo com o NasciMENto
Que leu cada artigo que lhe iam enviANdo
E não pensou em desistir em nenhum moMENto...
De momentos e momentos se vão forMANdo
O pensamento... Que vai ganhando o paPEL
Que se molha nas ribeiras do meu enCANto
Águas, estradas, onde passa o menesTREL...
6
Ah, Amazônia! Teu povo Grita, GEme!
Mas vem e mostra teu vasto reperTÓrio
De tão saberes, pro gringo, pra essa GENte
Antes que te tomem a flora, a fauna, o terriTÓrio...
CANTO III: ARTE - REFLEXÕES, EXPERIÊCIAS, VIVÊNCIAS (em versos heterométricos)
1
O que é arte senão a poesia que ilumina os Olhos?
Os olhos captam a poesia e me enredam em refleXÕES
As reflexões me trazem experiências de todos os MOdos
E os modos são as vivências percorridas em meio aos rinCÕES.
Os rincões trazem reflexões, que se fundem em proPOStas
Que geraram este artigo, tão leGÍtimo
E essas viagens do modular me trazem lembranças diTOsas
De tempos, de aventuras, de uma vida com algo significaTIvo...
2
Lá fui eu pra Santarém, terra que amei como ninGUÉM
Era o ano de mil novecentos e oitenta e NOve
Ali conheci professores que me quiseram muito BEM
Ministrando disciplinas da minha formação qu’inda hoje me coMOve.
Lecionei Português, Literatura e Língua EstranGEIra
E toda atividade cultural na disciplina se espeLHAva
Tudo de acordo com o currículo, disso eu tinha cerTEza
Pois bem sei que aquela equipe tinha a profissão que aMAva
3
Ah, equipe dinâmica que enveredava pelas questões da educaÇÃO!
Coisa muito ampla, não deixando nada de fora das discuSSÕES
Desde o meio ambiente, higiene, tudo era prevenÇÃO
E se servia? Sim, servia pra aprender muitas liÇÕES.
Como não se aprende nas aulas do moduLAR?
Vi a comunidade sendo chamada pra conversar sobre aSSUNtos
Que interessavam ao coletivo, ao dito popuLAR.
E é esse diferencial do SOME que une professor e aLUnos.
4
No arquipélago do Marajó, na cidade de CurraLInho
Banhada pelo rio Canaticu, deu-se a chegada do ModuLAR
Com grande festejo naquela comunidade de irmãoZInhos
E, ali, começava o desafio da arte de ensinar arte, arte de ensiNAR.
Logo no primeiro dia de aula a realidade já se mosTRAva:
Energia de motor que funcionava de seis e meia às nove e MEIa
E na hora da aula toda a turma no sono peGAva.
Uma cena que era mister ser mudada... E eu refletia à luz da canDEIa...
5
Ora! Ora! Porque não coletar narrativas de assombraÇÃO?
O imaginário já se evidenciava na mente da garoTAda
Que a tudo escrevia e apresentava em pintura, fantoche ou dramatizaÇÃO
E isso tudo ia elevando o conceito da arte em sala de AUla.
Motivados pelas experiências de estar num lugar hoje e manhã NOUtro
De perceber outras realidades, nessa dinâmica de viAgens
Toda essa jornada deu-nos grande arcaBOUço
Trazendo pra nós e pra sala de aula, grandes aprendiZAgens.
6
Ah, Amazônia! Teu povo Grita, GEme!
Mas vem e mostra teu vasto reperTÓrio
De tão saberes, pro gringo, pra essa GENte
Antes que te tomem a flora, a fauna, o terriTÓrio...
CANTO IV – PROPOSTAS E REGISTROS DE MEMÓRIAS (em versos heterométricos)
1
Quando nasce o primeiro aMOR?
Na flor da iDAde
Quando tudo é possível e o mundo é multiCOR?
Ou quando a experiência traz a maturiDAde?
Bem sei que nem tudo são flores, nem utopia, nem realiDAde
Pois quando se decide ser profeSSOR
Não se dá por vaidade, mas talvez por necessiDAde
De ver seu aluno de escola pública subir e ser douTOR.
2
Por isso se vive nessa guerra sanGRENta
Em constantes debates entre o educador e o ditaDOR
Onde a pedagogia escorrega por trilha lamaCENta
E cai, e levanta, ferida, sem que o senhorio atente ao seu claMOR.
Que importância tens, oh, educaÇÃO!?
Pois vives na penúria, sob as miGAlhas
De quem prometeu te cuidar, e não cuida NÃO
Que ora é uma facção que arrota como rasga morTAlha.
3
Eis à mão a tua proposta que se apreSENta
Pras comunidades do interiOR
Não sem deixar de lembrar as memórias daquela gente aTENta
Dos registros de sua história que passa, que passou seu precursOR.
Quem foram teus ancestrais, oh Amazônia paraENse!?
O índio, o português decadente, o negro esCRAvo!
Eis a etnogenia deste povo, de tão diversa GENte
O mameluco, o cafuso, o muLAto.
4
Ah, se morre de amor? Não! Se vivifica! Não mata, NÃO!
Assim também se dá no laboratório moduLAR
Entre viagens, debates e projetos de intervenÇÃO
A proposta vai avançando até se concretiZAR.
Também há que se dizer das histórias contadas desses luGAres
Que se tornaram narrativas, que se tornaram em meMÓrias
Dos projetos de histórias, memórias e oraliDAdes
De pessoas antigas, que narravam com muito gosto suas PROsas.
5
Cultura e educação, dois nomes que se FUNdem
Em linguagens, em hábitos, costumes, uma só aÇÃO
Que permeia o campo e o livro, que os reMEtem
À ciência da questão, à dúvida, à indagaÇÃO.
Assim se vai trabalhando pra crescer o enSIno
Pra que o país não vá se afuniLANdo
Pra que não se perca pra droga o meNIno
E a oportunidade se dê a todo eduCANdo...
6
Ah, Amazônia! Teu povo Grita, GEme!
Mas vem e mostra teu vasto reperTÓrio
De tão saberes, pro gringo, pra essa GENte
Antes que te tomem a flora, a fauna, o terriTÓrio...
CANTO V – CIDADE DAS ÁGUAS (em versos heterométricos)
1
Oh, cidade das águas! Veneza marajoAra!
És diferente de todas as VeNEzas
Cujas águas são como ruas inTEIras
Sob palafitas por onde eu paSSAra.
Oh, cidade das bicicletas! Copenhagen da AmaZÔnia
Onde as águas ribeirinhas te BEIjam
Poética menina, em que meus sonhos veLEjam
E até me embalam em marés de inSÔnia...
2
Vai o regatão pelos pioneiros lugares, vizinhança de AfuÁ
Pois o sonho chegou primeiro em Ponta de Pedras, depois BREves
Muaná, Salvaterra e Portel, e vai onde bem quiSEres
Galgando às águas de Almeirim, Terra Santa onde se ouve o chuá... Chuá.
As águas cantam e me encantam, quando ao ribeirinho deCANtam
Mensagens que dizem: “a educação salvou minha VIda!”
Essa coisa de salvar e educar será pra sempre a minha SIna
Pois é para os que poetam, sonham e Amam.
3
Isso tudo me lembra Melgaço, terra de nascimento de meu PAI
Que, aos doze anos, já virou chefe de família, isso era prioriDAde
E no mato foi trabalhar, deixando escola, essa dura realiDAde
Que levou a criancice da criança e o canto triste, oh, escuTAI!
De lá migraram para Portel, no MaraJÓ
Ali foram em busca de melhor condição de VIda
Ali o pai trabalhou em madeireira sem muita perspecTIva
Ali conheceu minha mãe, seu xoDÓ.
4
Tudo se complicou e a família voltou pra AfuÁ
O pai foi trabalhar no serviço braÇAL
Numa peleja de vinte e sete anos sem iGUAL
Até que, por fim, conseguisse se aposenTAR.
Mas o tempo passou, eu fui crescendo e fui estuDANdo
Ah, quando lembro dos aprendizados daqueles dias de OUro
Dos professores, dos ensinos... Sim, hoje guardo como teSOUro
E os colegas de aula, que eu bem sei, estão por aí voANdo.
5
Eu também voei, e como voei para fora do labirinto que me aprisioNAva
A educação me proporcionou tudo Isso
E me fez enxergar quão grande é o comproMIsso
Do bater asas e se importar com quem se imporTAva.
Exercitar a memória é preciso... Transcreve-la também é preCIso
E assim se formam as narrativas por essa personagem aqui viVIdas
Lembranças contadas de forma intensa e puramente veRÍdicas
De um caboclo do Marajó que aqui registro, e pelo seu povo é benQUISto...
6
Ah, Amazônia! Teu povo Grita, GEme!
Mas vem e mostra teu vasto reperTÓrio
De tão saberes, pro gringo, pra essa GENte
Antes que te tomem a flora, a fauna, o terriTÓrio...
CANTO VI – SER OU NÃO SER PROFESSORA (Versos heterométricos)
1
Ser ou não ser professora, eis a quesTÃO!
Dentro do ser um turbilhão de perGUNtas
Entre o eu pesquisadora ou dar aula pra alunos e aLUnas
Eis a vida quebrando sonhos, impondo condiÇÃO.
Ingressei no Sistema de Organização ModuLAR
Sem olhar pra traz, pra frente, pra onde eu iRIa
Eu ia pra Aveiro, onde ficava eu nem saBIa
Mas era pra onde iam me manDAR.
2
E a Ester haja me perguntar: queres realmente ir pra LÁ?
E eu lembro que só respondia sim! SIM!
Pensando na família em Belém que agora dependia de MIM
Uma realidade que a moça da cidade precisava encaRAR.
Não apanhei um táxi pra estação luNAR
Mas um Boing pra Santarém, de onde, lá do ALto
Avistei o Amazonas e o Tapajós, cujas águas eram o seu asFALto
Aquele cenário pros outros professores era muito peculiAR...
3
Minha realidade se chocou com outras realiDAdes
Em Santa Cruz conheci as Rubilenes da AmaZÔnia
Tão jovem, amasiada, com criança, que com estudo nem SOnha
Pois a dura realidade lhe roubou toda a mociDAde...
Ali tudo era um desafio consTANte
Parecia que eu estava em outro esTAdo
Na casa não tinha energia, nem água pra banho encaNAdo
Não tinha fogão, não tinha nada... Era um problema giGANte...
4
Veio a festa das flores na cidade de AVEIro
Muita animação, pois a festa era tradiÇÃO
Mas quem disse que por traz de um sorriso não há desafeiÇÃO
Se uma aluna minha teve picotado o seu caBElo.
Quando leio e releio meu diário, parece que nem acreDIto
No tudo que vivi naquele lugar, que quase não se tinha o que coMER
E que pena daquela gente, que tinha que assim viVER
Pois também experimentei a fome, isso eu digo e rePIto...
5
Um trabalho singular, assim se define essas experiÊNcias
Entre profissionais que convivem na mesma CAsa
Lá se vê atritos, amizades, discordâncias e gargaLHAdas
Uma mistura de calor humano com coerências e diverGÊNcias...
Entre tantas aventuras, nem sempre as memórias são BOas
Pois que com álcool me acidentei, e foi todo um alvoROço
Pra que eu tivesse bem e em Belém tivesse rePOUso
Mas sei que tu, Deus, ainda hoje me abenÇOas...
6
Ah, Amazônia! Teu povo Grita, GEme!
Mas vem e mostra teu vasto reperTÓrio
De tão saberes, pro gringo, pra essa GENte
Antes que te tomem a flora, a fauna, o terriTÓrio...
CANTO VII – ESTRADAS POR ONDE ANDEI (em versos heterométricos)
1
Há tantas estradas no percurso de apenas uma única VIda
Estradas íngremes, estradas asfaltadas, tortas e REtas
Estradas que levam a todo lugar, sem rumo, sem MEtas
Estradas de águas, de nuvens, labirinto sem saÍda.
No norte do país há tantas esTRAdas
Tantas que não podem ser contadas seQUER
Mas podem ser cantadas e autobiograFAdas
Porque são pegadas na memória de uma dita muLHER.
2
Aqui está o cuidado que se tem de fazer uma narraTIva
Uma história contada, por certo autobiograFAda
Que se vai cavando nas memórias faLAdas
Com leitura, anotações e pesQUIsa.
A quem perguntar onde tudo começa e tudo se FINda?
A narrativa dirá que tudo se dá em BraGANça
Mas que Bragança? A da família real que ora se dá por heRANça?
Não, mas é uma cidade interiorana pitoresca e LINda.
3
E como que se debatesse entre histórias de vida e formação doCENte
A pesquisa vai ganhando ares de tema imporTANte
Esmiuçando os seus autobiográficos a todo insTANte
Buscando entender a relação entre docente e disCENte.
Ah, o senso comum abriga-se no colo da ciÊNcia!
Como uma criança, busca a sua identificaÇÃO
Pois ninguém há sozinho no mundo sem nenhuma raZÃO
E as narrativas de vida refletem as suas aconteCÊNcias...
4
Ah! Vou te contar que tem tanta coisa que me faz matuTAR
Nas tantas experiências de sala de AUla
Tanta história pra contar, mas uma me sacode a ALma
Quando eu estava aprendendo e ensinando no moduLAR.
Havia um garoto, meu aluno, que dava o que faLAR
Não parava quieto, não prestava atenção e o rumo era inCERto
Mas com cuidado e diálogo o coraçãozinho foi sendo aBERto
E isso me trouxe uma satisfação que não se pode imagiNAR...
5
Que atitude transgressora que faz a educação pular MUros
Sacudindo o currículo do livro padroniZAdo
Tornando a escola mais do que bancos ou ensino metrifiCAdo
Libertando professor e aluno em busca de novos RUmos.
Ah! Que experiência viralizante na formação doCENte
Antes condicionada a experiências externas rotuLANtes
Que furtavam o brilho dos olhos de estuDANtes
Quando o que se mais queria era que o professor fosse GENte...
6
Ah, Amazônia! Teu povo Grita, GEme!
Mas vem e mostra teu vasto reperTÓrio
De tão saberes, pro gringo, pra essa GENte
Antes que te tomem a flora, a fauna, o terriTÓrio...
CANTO VIII – CAMETÁ E A REALIDADE ESCOLAR (em versos heterométricos)
1
As nossas estradas são estradas de águas, de beira-MAR
Águas revoltas, águas turvas, águas MANsas
Que desafiam o dia a dia do jovem, da criANça
Uma realidade que se impõe à vida escoLAR.
Qual metodologia aqui neste contexto se aPLIca
Num diálogo entre teoria e prática de avaliaÇÃO
Cujo ajuntamento de aprendizagem traz à refleXÃO
A educação no campo com ditosa primaZIa...
2
Mas quão triste é a avaliação numérica do estuDANte
Que lê e relê pra guardar na mente a matéria da PROva
Cujo conhecimento só fixa naquela HOra
Pra logo depois tudo voltar a ser como DANtes.
Há de se impor autoridade pelo emudecimento da sala de AUla?
A prova é tão simbólica como a laranja meCÂnica
Mas a constância do ato só mostra essa panoRÂmica
Quando a criatividade ao professor lhe FALta...
3
E como se dá todo esse critério de avaliar no sistema moduLAR
Em se tratando de aspectos pedaGÓgicos
Não há muito que se mudar nos quesitos teÓricos
Pois se cobra o mesmo que se cobra no reguLAR.
Ah, mais há também que se comunicar em tempo oporTUno
Que o professor da própria cabeça pode criAR
Formas diversas de avaliar o aluno do moduLAR
Com ferramentas que apontem pro seu MUNdo...
4
Então, como não acolher, quando a avaliação lhe dá praZER?
Se na diversidade de instrumentos se dá a jusTIça
Vai-se o medo da prova e só resta a empaTIa
Pela atividade que lhe convida a aprenDER.
Em mar revolto vão os nossos heróis das raBEtas
Nas malas levam o que podem leVAR
Dvds, livros, gravador, tudo pra incentiVAR
Avaliador e avaliado numa troca de ideias coEsas...
5
Mas então, por causa disso ou daquilo, vamos nos acomoDAR?
Deixar de fazer o que se tem pra faZER
Permitindo que o desânimo nos possa venCER
Ou vamos juntar o que tem e começar a criAR?
Pra ensinar no campo tem que ser mais que profeSSOR
Tem que revolver céus e terra, diferente do ensino urBAno
Porque lá, no interior, o fessô vive o que é ser huMAno
Lá, ele cai, levanta e do aluno ele também sente a DOR...
6
Ah, Amazônia! Teu povo Grita, GEme!
Mas vem e mostra teu vasto reperTÓrio
De tão saberes, pro gringo, pra essa GENte
Antes que te tomem a flora, a fauna, o terriTÓrio...
CANTO IX – ENTRE O PÚBLICO E O PÚBLICO-PRIVADO (versos heterométricos)
1
Já se vão anos e anos, e os cabelos vão ficando BRANcos
Que o público-privado foi tomando conta do enSIno
Isso já ouço falar desde ainda meNIno
Quando nos tempos de D. Pedro I o ensino já era saltimBANco.
Ora, ora, que se dirá da escola? Que é uma instituição aBERta?
Veja-se nas páginas da brasileira hisTÓria
Como que a escola desde aqueles idos CHOra
Posto que o tanto de analfabetos fazia dela uma moradia inCERta...
2
Assim, na incompetência do governo brasiLEIro
O ensino público-privado foi galgando esPAço
Deixando o pobre de fora, como que amordaÇAdo
Sem conhecimento pra reivindicar seu diREIto.
Nos dias de hoje por que se investe bem no priVAdo
E no público se vai empurrando com a baRRIga
Se a classe pobre é que tanto preCIsa
Sobrando-lhe não mais que um ensino mal remuneRAdo?
3
O modular trouxe a política de incluSÃO
Abrangendo vasta região do estado do PaRÁ
Pra garantir o ensino pro estudante lá, no seu luGAR
Junto do pai e da mãe, até a sua concluSÃO.
Mas não se pode nem dormir e nem pisCAR
Pois o sistema educacional interaTIvo
Quer mercantilizar tudo que se chama enSIno
E o lugar do modular de vez abocaNHAR...
4
Agora se luta com palavras e com PUnhos
Pois a fome capitalista de devorar o que é PÚblico
Não se contenta enquanto não tiver em mãos até o ÚLtimo
Dos ensinos a favor de si como seu testeMUnho.
E nessa onda de terceirização irresTRIta
O professor vai se tornando operador educacioNAL
Uma ferramenta substituída por “melhor profissioNAL”
Privatizando a educação com desigualdade sem meDIda...
5
Entre o SEI e o não SEI o que ensiNAR
Vai-se numa luta ferrenha no CAMpo
Cujo ensino à distância se distância TANto
Que o que se quer mesmo é o presente professor do ModuLAR.
Pois a tutoria traria consigo também a utoPIa
De uma tecnologia onde pouco se pode funcioNAR
Se a energia se for e a luz em derredor apaGAR
Então, foi-se a aula e professor, só resta a nostalGIa...
6
Ah, Amazônia! Teu povo Grita, GEme!
Mas vem e mostra teu vasto reperTÓrio
De tão saberes, pro gringo, pra essa GENte
Antes que te tomem a flora, a fauna, o terriTÓrio...
CANTO X – VOZES DOS EGRESSOS (em versos heterométricos)
1
Por onde andam as vozes dos eGREssos
Por onde andam aquelas VOzes
Que ainda ouço tão perto, tão FORtes
Por onde andam aqueles eGREssos?
Egressos do curso de magisTÉrio
Que tiveram uma experiência formativa diferenciAda
Lá, nos rincões da Amazônia privilegiAda
Deu-se a conclusão do Ensino MÉdio...
2
E como que se dá a experiência de sete egressos do magisTÉrio
Num estudo cujo objeto é o aspecto pedaGÓgico
Buscando do entrevistado um falar simples e LÓgico
Tentando, assim, avaliar-lhe os seus criTÉrios?
E, assim, se foi selecionando os conteúdos do CURso
Do ensino as abordagens teórico-metodoLÓgicas
Em que para Professor e aluno a coisa deixou de ser reTÓrica
Pois iria influenciar o seu perCURso...
3
Olha que vem uma metodologia inovaDOra!
Professor dialoga, escuta e respeita a ideia do aLUno
Quer entender e participar do seu MUNdo
E nesse processo de aprender fazendo a educação é transformaDOra.
Educar é se relacioNAR
Professor e aluno, aluno e aLUno
Pois a vida de todos cabe no mesmo MUNdo
E assim, em sala ou fora, se deu no moduLAR...
4
Ah, o magistério edificou escadas que antes não se podia galGAR!
E o que tudo isso significou na vida pessoal e profissioNAL
De quem antes não conseguia completar o ensino forMAL?
Abriu portas... Hoje se chega aonde se quer cheGAR.
Olha, o que me marcou nesse processo de aprenDER
É que avaliavam não os meus erros ou aCERtos
Mas me fizeram entender limites e conTEXtos
Para que no conhecimento pudesse cresCER...
5
E, assim, se vão multiplicando as someanas narraTIvas
Nas vozes de egressos que ora nos enCANta
Com testemunhos que trazem muita confiANça
Na metodologia pedagógica que serviu pra VIda.
Assim, se faz, na prática, a educação formaTIva
Num espaço público que liberta a expreSSÃO
E faz docente e discente trabalhar em comuNHÃO
Fazendo a educação atuar de forma aTIva...
6
Ah, Amazônia! Teu povo Grita, GEme!
Mas vem e mostra teu vasto reperTÓrio
De tão saberes, pro gringo, pra essa GENte
Antes que te tomem a flora, a fauna, o terriTÓrio...
CANTO XI – OS SOMISTAS (em versos heterométricos)
1
Oh, como que não se pode então valoriZAR
A desafiante carreira de magisTÉrio!
Como que ainda se ouve tamanhos improPÉrios
Da parte de quem nunca soube dialoGAR!
Nunca a conquista vem sem árdua luta desbraVAR
Pra remunerar bem quem leva a educação a SÉrio
Mesmo injustiçado por língua e falar deleTÉrio
Pois o embate continua no campo a se traVAR...
2
Não sem muita luta e suor se conseguiu a gratificaÇÃO
SOME no PCCR como que uma estaca no peito a se craVAR
Trazendo diferença remuneratória entre o modular e o reguLAR
Fruto de organização e constante reivindicaÇÃO.
Tudo parece quase igual no quadro comparaTIvo
A gratificação de magistério, as aulas suplemenTAres
E até a escolariDAde
Mas a gratificação SOME e alimentação mostram outro quantitaTIvo...
3
Ah, mas o que chamou a atenção do profeSSOR
Pra deixar sua terra natal e viajar pra longe de LÁ?
Deixando família, amigos, conforto do lado de CÁ?
Como se a estrada fosse o próprio papel do escriTOR.
Sei que uma coisa lhe chamou a atenÇÃO
Salário bem melhor que do reguLAR
Naquele tempo não era muito peculiAR
Mas no início, sim, foi por causa da gratificaÇÃO...
4
Mas logo vem o Simão, SiMÃO!
Que modificou a base de cálculo dos saLÁrios
Pois eis que ele era o tal mandaTÁrio
Reduzindo os honorários a salário de aNÃO.
Pois quem iria gostar de ver seu salário minGUAR
Pela invenção das categorias A, B e C
Salário maior ou menor conforme a dificuldade de sobreviVER
Pois até a letra C quase que nem conseguia respiRAR...
5
Ah, Simão, Simão! Querias acabar com a gratificaÇÃO
Integral, desmantelando o SOME como se fosse teu riVAL
Eliminando esse ensino para sempre de forma oficiAL
Mas não pudeste dar cabo a essa missão porque houve mobilizaÇÃO.
A categoria se uniu junto com o SINTEP
E foi pras ruas protestar em favor do ensino moduLAR
A fim de o decreto do governador baRRAR
Era tudo ou nada em meio aos seus reVEzes...
6
Ah, Amazônia! Teu povo Grita, GEme!
Mas vem e mostra teu vasto reperTÓrio
De tão saberes, pro gringo, pra essa GENte
Antes que te tomem a flora, a fauna, o terriTÓrio...
*O autor é poeta, escritor e ex-professor do Sistema de Organização Modular de Ensino - SOME
CANTO XII – EXPERIÊNCIAS DE INTERIORIZAÇÃO (em versos heterométricos)
1
Expandir, expandir! Ampliar, ampliAR!
Eis o processo de interiorizaÇÃO
Que oportuniza o ensino em maior conceSSÃO
Para que todos possam enfim estuDAR.
Antes dessa regulamentaÇÃO
Mui pouco nessa vida se podia espeRAR
Da parte de quem devia oferTAR
O livre acesso à educaÇÃO...
2
Mas decerto que o modular veio pra essa realidade muDAR
Passando dos dezessete municípios onde tinha o secunDÁrio
Multiplicando as ofertas de vagas no interior do esTAdo
E o ensino superior também alavanca pra quem quiser curSAR.
E então o senhor Manoel Moutinho tinha pela frente este desaFIo
De colocar professor e professora em sala de AUla
Pois que havia no estado grande déficit de mão de obra especialiZAda
Mas a escola pra habilitar pessoas tinha e tem grande podeRIo...
3
Mas em 1981 a FEP se separa do moduLAR
Pra criar agora um plano de ensino superiOR
Com medicina, educação física, enfermagem para atender o claMOR
De estudantes do estado do PaRÁ.
E assim à tutela da SEDUC passou o ensino moduLAR
E o ensino secundário tão restrito no interiOR
Já não seria mais apenas um mero expectaDOR
Pois a oferta de vaga para estudar iria aumenTAR...
4
Transpor barreiras era o que se espeRAva
No ensino superior quando chegou ao interiOR
Tendo no exemplo do SOME o seu idealizaDOR
E foi assim se alojando em Conceição do AraGUAIa.
Ah, que lacuna que foi preenCHIda
Com a instituição da universidade estaduAL
Expandindo a interiorização pra um espaço essenciAL
Ofertando, além de Belém, o curso de PedagoGIa...
5
Que marco histórico que registra a educação no PaRÁ
Pois eis que depois do ano de mil novecentos e noVENta
Entram na embarcação os cursos de enfermagem e educação FÍsica
E vão aportar no Araguaia, Altamira, Paragominas, MaraBÁ.
Que influencia notável teve esse moduLAR
Sendo referência no Amazonas, Mato Grosso, AmaPÁ
E em dezenas de municípios do estado do PaRÁ
Ah! Que mais que se há de faLAR?
6
Ah, Amazônia! Teu povo Grita, GEme!
Mas vem e mostra teu vasto reperTÓrio
De tão saberes, pro gringo, pra essa GENte
Antes que te tomem a flora, a fauna, o terriTÓrio...
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