Por: Arodinei Gaia
(Escritor e
Colunista)
No dia 07 de janeiro de 1835 os paraenses cabanos invadiram Belém,
destituíram o presidente da província Bernardo Lobo de Sousa e, pela primeira
vez na história do Brasil, o povo tomou o poder.
No dia 14 de janeiro de 2025 os novos Cabanos formados por revoltosos
contra o poder, ocuparam a SEDUC. Os povos indígenas tomando a frente e
mostraram como iniciar uma batalha.
Os cabanos de outrora eram formados por ribeirinhos, indígenas, negros,
cabocos do interior paraense. Os cabanos de hoje são indígenas, quilombolas,
ribeirinhos e professores.
O que há entre os dois movimentos separados por 190 anos?
Qualquer semelhança não é mera coincidência. Tem tudo a ver. Além dos
dois grupos serem formados por oriundos da classe popular, o que liga os dois
fatos históricos são as causas que revoltaram a população: A POSTURA TIRANA DO
GOVERNO e a figura de um ESTRANGEIRO no poder asfixiando o paraense.
Rossieli Soares, assim como Bernardo Lobo, não é paraense. Porém os
dois tem em comum o fato de ostentarem extremos poderes em suas mãos usadas para
massacrar o povo do Pará.
Assim como o governo Regencial não colocava um paraense para governar a
província do Pará, hoje o governo Helder Barbalho também traz de fora
funcionários para os altos cargos no Estado, a exemplo da gigante secretaria de
educação.
Com essa decisão, Helder está afirmando que não existe no Pará alguém
com competência suficiente para assumir a Secretaria de Educação? Ou existe mesmo
outros interesses, possivelmente escusos nos bastidores da ocupação do referido
cargo por um “estrangeiro”. Não há outra explicação em se tratando de um cargo
que existe sim, centenas de paraenses com notável competência para o cargo.
Rossieli e Helder com a Lei 10.820 destrói a educação paraense, reduz
salários de professores, ameaça o povo do campo com ensino à distância. Foi
então para isso que o gaúcho veio, para atacar a educação popular, intento que
talvez um paraense não o fizesse, a não ser que também fosse destituído de
coração, amor a terra ou então convencido por interesses vergonhosos.
Nada mais parecido com a guerra dos cabanos que bravamente lutaram pelo
seu chão e pelo seu pão, pois não concordavam com a situação de abandono e
repressão que se vivia na época. Era o “mel para a elite e o fel para o povo”.
O momento agora não é ou não foi muito diferente.
Se a Lei 10.820 não fosse nefasta ela não teria sido aprovada na
surdina, escondido e apoiada pelos deputados capachos do governo, cúmplices de
seus desmandos, sem nenhuma discussão com a população interessada? A forte
opinião pública contra a referida Lei e a manifestação de revolta por todo o
país e até pelo mundo contra o governo Helder e em apoio aos manifestantes
mostrou isso. Era, realmente uma Lei da maldade que iria tirar a comida da mesa
de milhares de paraenses, tanto os que trabalham na educação como os que,
indiretamente, são alimentados pelos salários deles.
E assim como Bernardo Lobo reprimiu o povo, Helder Barbalho assistiu a
polícia bater nos professores que se manifestaram dia 18 de dezembro contra
essa Lei da maldade na frente da ALEPA, quando a maioria dos deputados,
serviçais do governador, votaram pela aprovação. Apenas onze deles se
mantiveram fiéis a função que o cargo delega: A defesa dos interesses do povo
que os elegem. Afinal o legislativo é representante do povo e não do governo.
Docentes sendo tratados como criminosos no Pará, assim como os Cabanos
também foram.
Os cabanos, a história cuidou de os colocar no panteão de bravos
lutadores e não de bandidos como por anos foram tratados. Assim será feito com
os novos cabanos, aliás já foram. Mesmo com a mídia oficial ou comprada
noticiando o contrário, o mundo todo conheceu, por meio das redes sociais e
pelas mídias alternativas quem são os verdadeiros vilões e heróis dessa
história.
Além da temida Lei 10.820, Rossieli tenta implementar o CEMEP, ensino a
distância para o estudante do interior e há quem diga se tratar de esperança
para o povo do campo. Substituir docentes por televisores não é esperança e sim
um crime contra a educação dos menos favorecidos. A televisão, a internet, os
aparelhos de multimídia são bem-vindos, mas para somar, auxiliar e não na
condição de substituto de pais de famílias, os docentes.
Não é justo os filhos da realeza estudando com os melhores professores
e professoras enquanto os filhos de trabalhadores com um mísero aparelho de
televisão. Essa economia nunca será justificada. Falta isonomia no trato aos
estudantes de classes sociais diferentes.
Afinal! Quantos milhões valem o ‘desaprendizado’ de nossos estudantes?
Os desmandos de Helder e Rossieli conseguiram a proeza de unir vários
grupos em uma luta comum: a revogação da
Lei 10.820. E assim, como os cabanos de outrora tiraram o estrangeiro do
palácio do governo, os novos cabanos insistem na demissão do estrangeiro que
ocupa o cargo na SEDUC com altos poderes em suas mãos. A Revogação aconteceu a Demissão
não, porém a situação de Rossieli no cargo é insustentável, ele foi
desmoralizado pelo movimento, perdeu o respeito de todos e seria uma atitude
mais idiota ainda de Helder Barbalho mantê-lo no cargo com tamanha rejeição do
povo paraense, a não ser que o governador queira se contaminar também por
tabela. Creio que sua inteligência política não deixará.
Rossieli Soares deve virar um bibelô no governo até cair como uma fruta
madura cai da árvore. Falta-lhe sustentação. Já não tinha apoio nem dos aliados
do governo...
O movimento dos novos cabanos, recebeu apoio da população geral, de
jornalistas, artistas, influenciadores, estudantes e de instituições como UFPa,
UEPa, CNBB, políticos de esquerda e de direita, ONGs, Associações, sindicatos,
docentes aposentados, pessoas ligadas ao agronegócio, pois eles também foram
afetados por uma lei aprovada na surdina. Ganhou apoio de pessoas ligadas a
cultura e comunicação, pois o governo também atentou, contra órgãos dessa
secretaria, que após grandes protestos recuou.
Ah! os protestos! Os protestos casados com a união são armas da
população.
No dia 05 de fevereiro o governador recuou e assinou a Revogação da Lei e no dia 12 de
fevereiro os deputados, tiveram que engolir a lambança que fizeram e acataram a
revogação e votaram a Repristinação,
isto é, a volta das leis que eles mesmos destruíram no fatídico dia 18 de
dezembro de 2024. (Lei estadual nº 5.351 de 1980; Lei Estadual nº 7.442, de 2010; Lei
Estadual nº 7.806, de 29 de abril de 2014; Lei Estadual nº 8.030, de 21 de
julho de 2014; Lei Estadual nº 9.322, de 06 de outubro de 2021; inciso XI do
art. 132 e o art. 246 da Lei Estadual nº 5.810, de 1994; § 11 do art. 14 da Lei
Estadual nº 9.890, de 2023).
Rossieli Soares já havia cometido “delitos” contra a educação no Estado
do Amazonas e no Estado de São Paulo e achou que no Pará não seria diferente. Inclusive
ele teve a ‘ingenuidade’ de dizer, numa entrevista, que um grupinho de
professores não seria obstáculos para o seu intento. Ele só não contava que no
chão paraense existe um gigante chamado Sistema Modular e um povo pronto para
lutar.
Enfim! Após quase um mês de ocupação da SEDUC e bloqueio de estradas, indígenas,
quilombolas, ribeirinhos, profissionais da educação e Sintepp com apoio de
diversos personagens foram protagonistas em uma luta que o bom senso venceu e a
democracia deu o seu recado. Destaque para os povos indígenas, os grandes
iniciadores da batalha de janeiro que estenderam aos mãos aos docentes e assim,
firme se mantiveram até o final.
Após a votação na Assembleia Legislativa - ALEPA, dos deputados estaduais, uma nova batalha se inicia. Uma
comissão, composta por representantes de todos os grupos envolvidos, será
formada para discutir a constituição de uma nova lei para o magistério
paraense.
Mas que ninguém durma pois os ‘bandeirantes’ não dormem!
Viva os novos Cabanos!
Surara!!!
Esse texto vai ser trabalhado Na minha primeira semana de aula em todos os módulos de 2025, em princípio!
ResponderExcluirFico lisonjeado professor. Eu também vou levar impresso pros meus alunos. Eu pedir pra lerem o artigo, mas vou fazer atividades com ele impresso.
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