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sábado, 28 de dezembro de 2019

Reconstruindo a História e a Memória do SOME




Entrevista concedida pelo Professor Roosevelt, lotado em Abaetetuba, no dia 14.07.2010.


Segundo o referido Professor, "entrou no SOME, no ano de1986, para ser preciso, no dia 03 de junho de 1986, começando no município de Rondon do Pará, trabalhando no Curso de Contabilidade. Rondon, estava começando a se desenvolver, neste período, era só poeira.  E continua, a equipe era eu e o Professor Luís Carlos, no circuito de Rondon do Para, Rio Maria, Xinguara e Brejo Grande do Araguaia. Municípios do sul do Pará, na época o sul do Pará, era um bicho papão, as pessoas tinham medo de se deslocar, principalmente quando se falava em Rio Maria, porém, quando chegávamos lá desenvolvíamos nosso trabalho e não era nada disso que as pessoas falavam, quando se trabalha com a educação e quando levamos informações para os alunos a história vai mudando e trabalhei seguidamente quatro anos no sul do Pará, na qual a primeira turma de Rondon do Pará levou meu nome. Com o Curso de Contabilidade da época, os nossos alunos tiveram grande credibilidade junto às empresas, comércios, bancos, houve concursos e a maioria dos alunos foi aprovada nos concursos que realizavam, sendo beneficiados pelo SOME no Município".


E continua: "Depois fui removido para outros circuitos e lugares como Dom Eliseu, Tucumã, Ourilândia do Norte,... E sempre trabalhando com o Curso de Contabilidade".


O informante, vai relatando e resgatando importantes considerações como: "Interessante, Riba, é que o SOME sempre desenvolveu projetos de intervenções, dependendo da realidade da localidade ou município, nós executamos o Projeto em D. Eliseu em que os alunos foram conhecer a Serra de Carajás, que é a maior mina mineral do mundo, que fica no Estado do Pará e nós como paraenses não conhecíamos, elaboramos um projeto para ser aprovado pela Companhia do Rio Doce e levamos 40 alunos. A partir de Açailândia pegamos o trem até Parauapebas, onde a Vale proporcionou hospedagem, alimentação e todos foram bem recebidos na Serra dos Carajás".


Além disso, enfatiza que "Depois, comecei a trabalhar próximo de Belém, como São Francisco do Pará, Moju, Maracanã que é outra realidade, sempre desenvolvendo projetos e todo mundo sabe, que o SOME não é só sala de aula, o Módulo é muito mais que isso, trabalhar projetos nas comunidades, conscientizar nossos alunos, sempre reivindicando o que é de direito, aquilo o que pode ser melhor, aquilo que vai servir para vida dele e sempre debatendo a formação do cidadão e juntamente com os colegas, sempre participando das organizações dos professores. Lembro que quando trabalhava eu, o Professor Raimundo Rosário, o Professor Leonardo Pantoja, sempre tínhamos dificuldades, na época atrasava ajuda de custo (Gratificação hoje) e foi feito um Encontro no antigo Centro de Treinamento de Recursos Humanos - CTRH, em Marituba, com a Professora Glória Paixão (Diretora do 2º Grau) e estava acontecendo a discussão em relação à Ajuda de Custo que estava atrasada três meses e o Professor Raimundo do Rosário falou para a Professora Glória Paixão perguntando se o dinheiro era dela, parece que é seu e disse, o dinheiro é nosso, nós que pagamos impostos, enquanto os poucos professores paralisaram, depois conseguimos reverter o quadro, através de muita pressão".


Um dado importante também, abordado pelo Professor entrevistado: "Nesse momento, no segundo mandato de Jader Barbalho, depois do Governo de Hélio Gueiros, o interessante é que neste governo a Ajuda de Custo era paga em PRD (Folha suplemetar), e quando íamos atrás, sempre diziam que estavam sem previsão. No governo Jader, ele atrelou a Ajuda de Custo no contracheque o que amenizou o problema com 100% de gratificação em cima do bruto".


Assim, aborda "Paulatinamente, no final da década de 90 e inicio de 2000 os Cursos de Contabilidade e Magistério foram extintos, voltando a educação normal, sendo o professor readaptado as disciplinas afins, como no meu caso, que sou Contador, fui aproveitado na disciplina de matemática e comecei a trabalhar em outros municípios próximos de Belém como Igarapé-Miri, Moju, Abaetetuba, inclusive já trabalhando no ensino fundamental".


E deixa claro, "No Módulo as dificuldades são grandes, assim como são grandes os desafios, para o professor trabalhar no Módulo, ele precisa ter identidade interiorana, eu não tenho dificuldades, já que nasci no interior, sou de Ponta de Pedras, nascido e criado no interior, então as dificuldades que muitos colegas enfrentam eu não tenho, eu tiro de letra e tenho o Módulo não como segunda casa, porém, como primeira, porque eu vivo, eu sofro quando o Professor do SOME não é respeitado, não o respeito que merece, sofro quando colegas entram no Módulo sem compromisso que deveria ter, a gente tenta ajeitar e tenta amenizar, porém, é complicado".


O Professor enfatiza o lado politico do SOME, naquele momento:"Continuamos na luta, os governos passam e a gente contínua. Hoje tenho 24 (33 anos atualmente) anos de Módulo. Só tive dois empregos. Trabalhei sete anos no Colégio Moderno e entreguei o lugar e o SOME, só saio quando me aposentar. No inicio do Governo Ana Júlia, na localidade de Maúba, em Abaetetuba, adequamos o projeto da Rede Globo sobre Cidadania, onde com apoio de várias instituições nós conseguimos tirar documentos da comunidade que não possuíam, corte de cabelos, palestras, oficinas, etc. Foi interessante o trabalho. Mas sabe que as dificuldades são muitas. E qualquer atividade que você faça, envolve recursos, dinheiro. E sem dinheiro para trabalhar é complicado. O SOME tem 30 (39 anos atualmente) anos e eu particularmente tenho 24. Acho interessante no Módulo às mobilizações quando são necessárias. Lembro quando estava em Concórdia do Pará, em 2003, com as mudanças de Módulo para GEEM, tivemos que fazer atividades para conseguir recursos para mobilizar em prol do Módulo e conseguimos trazer cinco ônibus com alunos e deu tudo certo, porque não faltou nada em termos de alimentação, transportes, hospedagem, isso foi interessante, o mais interessante foi trazer o pessoal de Porto de Moz, saímos domingo 9 horas e chegamos a Belém 1 00 h da terça-feira, conseguimos trazer 20 alunos, fora que tínhamos mobilizado em Cachoeira do Arari. O importante, é que tivemos o apoio de algumas Prefeituras e quando as comunidades estavam reunidas, parecia um formigueiro humano, muito lindo, mesmo!".



E acrescenta informações fundamentais: "Marcamos uma concentração e chegou às delegações de Igarapé Miri, Abaetetuba, de todo que é lugar, chegando ao mesmo tempo e isso que até hoje, continuamos lutando e temos problemas internos, claro que temos, ninguém consegue agradar todo mundo. Tem colegas com ciúme do outro, achando que um está querendo aparecer mais que outro, eu penso diferente, que quando estamos lutando, estamos em prol de um objetivo".


O Professor acredita que "Quer melhorar o Módulo, se o Módulo melhorar melhora para todos e estamos ai para tentar alavancar ainda mais este trabalho e nunca esquecendo o compromisso fundamental que é o aluno. Temos nossos anseios, porém, o maior objetivo é o aluno, a gente fica feliz, quando ver nossos alunos aprovados em concursos públicos ou nos vestibulares, que é isto que realiza o Professor. Professor nenhum se realiza com reprovação de alunos. O professor só se realiza, quando o aluno é aprovado e quando o aluno é reprovado, o professor não se realiza porque também é reprovado. Para o Professor Roosevelt, a recepção nas localidades onde funciona o SOME quem faz é o próprio professor, quando assume seus compromissos nas comunidades".


Para ele, "o Módulo em 2003, com a descentralização, perde sua identidade, por exemplo, trabalho hoje em Abaetetuba, e eu não conheço a metade dos quase 100 professores que trabalham no polo. Quando é realizada reunião em Belém, tem colegas que participam que eu não conheço. Estive no ano passado no mês de julho, em Ponta de Pedra, e minha irmã me apresentou uma professora do Módulo, que ela não participa das reuniões da categoria, é isso que faz com que nós não tenhamos identidade, devidas a falta de encontros. Antigamente, nós tínhamos todo ano planejamento, se reunia no antigo CTRH, uma semana e lá tínhamos oportunidade de se integrar, unir, conhecer os colegas, fora isso tinha Encontros Pedagógicos nos colégios, perdemos o CTRH, isso perdeu praticamente a humanização do SOME, criar expectativas quando chega à comunidade e isso que é interessante o professor preservar o respeito que a comunidade, ainda tem pelo Professor, muito embora o Professor não tenha o mesmo respeito pela comunidade, quando digo isso é quando o Professor não cumpre sua parte, o compromisso. Às vezes digo para meus colegas, quando não é possível desenvolver uma atividade extraclasse, pelo menos cumpra o mínimo ou o básico que é trabalhar o seu conteúdo, já é o mínimo que o aluno merece".


Encerra a entrevista, com a certeza que "Com a descentralização, em 2003, o SOME ficou descontrolado, as equipes não eram as mesmas. Hoje, ainda tenho uma equipe coesa, que e necessário em virtude da infraestrutura que não é oferecida aos professores. Tanto na Casa do Professor, quanto no funcionamento do Módulo a equipe conseguiu se estruturar. O Professor fica isolado, não tem televisão, não tem radio, parabólica, gravador, computador, energia. Por isso, quer chegar e logo voltar, Na nossa equipe, nós não temos esses problemas, porque tudo que uma casa tem, nós temos, um Kit completo, ou seja, quando a gente chega numa localidade que não tem energia , nos temos gerador de energia. Quando entra Professor novo, ele vai se adaptando e se sente bem trabalhar com a gente, além de cobrar a participação, apesar de muitos colegas não gostarem de ser cobrados, mas com jeito nos conseguimos amenizar as dificuldades que poderá acontecer. O interessante é que a cada localidade nos temos uma história e quando chegamos aos fazermos o ambiente, respeitando seus hábitos e costumes de cada localidade. Por exemplo, o meu caso, eu constituir família em Rondon. Tudo o que eu tenho foi através do Módulo. Vivo bem, meus filhos estão sendo bem encaminhada, uma filha que faz medicina, o outro faz educação física, o outro estar a caminho da Universidade, tudo fruto do Módulo. Outro local interessante que trabalhei foi em Medicilândia, apesar de muitos colegas acharem longe, mas eu gostei de trabalhar, Porto de Moz, também gostei, Abaetetuba, atualmente trabalhando, adoro também, pelo fato de serem ilhas. Quando você constitui o ambiente, os problemas amenizam. Em Igarapé-Miri, na localidade de Icatu, quando discutíamos naquele momento municipalização, levamos vereadores e outra pessoa qualificada no assunto, para debater se era viável municipalizar ou não, mesmo sabemos que a municipalização gera um caos, municipalizou, mesmo sabendo que é uma questão política, mas houve o debate. Conseguimos levar mais 4 localidades, foram dois dias de debates. E o evento deu certo. E quando você organiza e mobiliza um evento dessa natureza ou outro, você ver gente que chega, parece uma festa, por isso que o Módulo está fazendo 30 anos e esperamos o Encontro em pleno menos quatro localidades".     



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