Outra atividade pedagógica voltada para a cultura local realizada
no município de Juruti, em 2001, com os alunos
matriculados no primeiro ano médio do Sistema de Organização Modular de
Ensino – SOME: Laura, Aparecida, Luciely, Cristina, Jomara, Jackison, Onielzio
e Vânia apresentado em sala de aula foi sobre a gêneses da Tribo Mundurukus.
A Associação Folclórica Tribo Mundurukus teve inicio, segundo
o Diretor de Arte da Tribo Munduruku, na época (2001) era bacharel em direito
formado pela Universidade Federal do Pará – UFPA, o Senhor Edvander Veiga
Batista. Segundo o informante tudo começou: “Era julho de 1993, precisamente no
dia 04, quando um grupo de jurutienses liderados por Carmem Barroso, Adecias
Batista, Edvander Veiga e Júnior Batista, resolveram lançar uma dança
folclórica para concorrer ao VIII Festival Folclórico de Juruti”. E, continua: “Na
época o ápice do festival era a disputa das danças folclóricas, idealizadas por
diversos grupos, sendo as mais tradicionais a dança “Ou Vai ou Racha” e a dança
“O Cangaço”“. “Sendo que para aquele ano a dança O Cangaço, liderado pelo
artista Clemente Santos, resolveu não mais apresentar-se, vindo seus
componentes a unir-se com os jovens que sonhavam e apresentar uma dança
inovadora, de cunho totalmente amazônico”. E assim, “Estava, portanto formada a
“união” entre as pessoas que mais tarde proporcionaria ao município a projeção
regional e nacional a partir de sua riqueza cultural”.
Para o informante assim será chamada... ”Naquele momento,
sabia-se que a nova dança, viria exaltar o Maravilhoso Universo Indígena,
faltando apenas sua denominação”.
E continua: “Reuniram-se então, os lideres dos grupos para
escolherem o futuro nome. E como num ritual de ‘Nominação’ que acontece em
diversas tribos amazônicas, por ocasião do batismo da criança, escolheram como
seria chamada a recém-criada Dança Jurutiense
‘Mundurukus’...’Mundurukus’...Assim será chamada.. – Alguém falou. Não importa
mencionar quem havia falado, o que importava é que a nova dança, já tinha um
nome e era Mundurukus. Que segundo os jovens lideres viria a homenagear a tribo
Munduruku que por volta de 1818, sob a liderança do Padre Jesuíta Manoel de
Sanches e Brito, deu origem ao núcleo de povoamento, que futuramente seria o
embrião de nossa amada Juruti”.
Muito interessante o que o informante continua abordando: “Louvável
foi à escolha da denominação, pois através da diversão, os brincantes da dança
Mundurukus, homenageariam os seus ancestrais, que num passado glorioso, deram
origem ao município”. Nascia assim, a marca “Tribo Mundurukus de Juruti”.
Sendo os primeiros passos rumo à realidade o informante
continua: “Envolvidos na nova onda do momento aproximadamente 60 brincantes,
começaram a ensaiar primeiramente na quadra de esportes da Paróquia e no perímetro compreendido entre as ruas
Joaquim Gomes do Amaral e Marechal Rondon, da Rua Lauro Sodré. Já na última
semana que antecedia o Festival, os ensaios foram realizados na quadra de
esportes “Hudson Rabelo”, local onde acontecia a disputa de danças. Ao som de um
pequeno gravador, os jovens ensaiavam atentos as coreografias tribais
idealizadas por Clemente Santos, Jim Jones Batista, Edvander Batista e outros.
A música escolhida para reger a nova dança foi a toada indígena “Yamãnd” de
Ronaldo Barboza, compositor do Boi Caprichoso, de Parintins. A temática
escolhida para a dança desenvolver-se foi Mundurukus 93: “A Ira dos Deuses”. Em
linhas gerais seria o desenrolar de uma revolta dos deuses contra a Tribo
Munduruku, que encontrava-se em guerra interna, ocasionadora assim da fúria dos
deuses da mitologia indígena, tais quais, Tupã, Jaci, Guaraci, entre outros”.
Sendo que a primeira indumentária utilizada pelos brincantes: ”Assim que
terminava o ensaio, os brincantes saiam aos arredores da cidade em busca de
bambu (Palmeira naturalmente pintada de verde e amarelo) e sementes de seringa
para confeccionar a indumentária que iam se apresentar no Festival. Basicamente
as peças eram: saiote de bambu cortado em pequenas partes, adornados com penas
coloridas, Uma gargantilha longa no mesmo estilo, acompanhado de cocar”.
Da imaginação, o sonho de um artista: “Fazer uma pequena
quadra municipal, transforma-se em um palco a céu aberto, para apresentar um
espetáculo que Juruti jamais viu..Este era o sonho dos lideres do grupo
Mundurukus. E foi assim que os coordenadores imaginaram um grande templo
tribal, onde aconteceria a ‘Ira dos deuses’”.
Quem eram aqueles guerreiros: “Na antiga residência de
Adecias Batista, os componentes da Tribo, no início da noite de 31 de julho,
começaram a transforma-se em guerreiras e guerreiros Mundurukus. Pareciam que
iam para guerra, pintados com cores enegrecidas, muitos arcos e flechas,
adornados de cocares, colares e belamente vestidos com as indumentárias de
bambu. Em poucas horas não se reconhecia mais ninguém, pareciam que haviam
perdido a identidade, esquecido sua civilidade e seus costumes. O visual era
inesquecível, parecíamos estar diante dos primitivos e temidos Índios
Mundurukus”.
Da pajelança sonho realizado: “Das tabas guerreiras runfa
tamurá/Aldeias inteiras, um canto no ar”. Assim era o canto, que ecoava na
quadra municipal na noite do dia 31 de julho, revelando como num passe de
mágica, em passos totalmente tribais a Tribo Munduruku, que freneticamente fez
o povo das arquibancadas delirarem, com a nova dança. Na beleza da porta
estandarte, que sustentava com orgulho, um humilde pano pintado com as frases, “Munduruku:
Em a Ira dos Deuses”, na beleza das fantasias dos destaques especiais, no som
que ecoava no bater dos pés do Mundurukus, estava portanto dado início a
primeira apresentação da tribo, que completou-se com a chegada do pajé e a
aparição de deus-tupã, representando todos os deuses, no alto de uma alegoria
representando o “templo dos deuses”. Entre fogos, danças, emoção, o pajé
desenvolveu sua pajelança apaziguando a cólera dos deuses, transformando
desunião em paz e festança na aldeia Munduruku. No resultado final a Tribo
Munduruku que empatou com a dança “Ou Vai Ou Racha”. Isso foi importante, já que:
“Mas muito mais importante que isso é que Juruti, havia ganhado uma inovadora,
cheia de garra e emoção. Dança esta que mais tarde veio revolucionar a cultura
local. Com bastante criatividade, originalidade e a cima de tudo humildade”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário