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quinta-feira, 15 de abril de 2021

41 anos de Sistema de Organização Modular de Ensino - SOME

 


Instrumentos utilizados pelos professores do SOME nesses 41 anos

                       Ribamar Oliveira

Nestes 41 anos do Sistema de Organização Modular de Ensino – SOME política pública que atende os filhos e as filhas de trabalhadores rurais, quilombolas, indígenas, assentados, entre outras categorias, enfatizarei alguns instrumentos utilizados pelos professores do SOME durante essa trajetória de educação no Estado do Pará, como os tipos de mimeógrafos para imprimir suas atividades escolares, através do estêncil a álcool, estêncil a tinta, Xerox e contextualizando o momento político.

 

 



                                                                  Fonte: Google

 

Nas décadas de 80 e 90, o instrumento de fazer cópias para os alunos e alunas era o mimeografo a álcool, considerado uma das primeiras “impressoras” empregada nas atividades pedagógicas, principalmente em sala de aula. Importante ressaltar que, surgiu no ano de 1880, sendo aperfeiçoado e utilizado pela primeira vez em 1887 e posteriormente avançando para a eletricidade.  Como único instrumento de facilitar a reprodução de materiais didáticos nas práticas educativas dos professores e professoras, já que poucos municípios e localidades, assim como a Secretária Estadual de Educação – SEDUC, não ofereciam condições adequadas e recursos para nossas atividades docentes. Vale ressaltar que com o deslocamento do professor de sua cidade de origem, principalmente de Belém para a sua atuação profissional nas inúmeras localidades e seus locais de trabalho até 2003, recebia uma caixa de estêncil com 25 unidades e uma resma de folha A4, o que já ajudava o bastante, mas não o suficiente para um bom exercício produtivo.  Quando pegávamos turmas de alunos e alunas numerosas era mais difícil ainda pela insuficiência de material, eis à prática com esse recurso, mas para os professores da área de Ciências Humanas já ajudava para as atividades em grupos, entre outras atividades. Interessante, quando a equipe ia “rodar o material” em um instrumento de manivela {a manivela e a base de álcool em plenos éculo XXI, neste período, o que servia até de motivos para brincadeiras entre os professores da equipe, já que o cheiro exalava todo o ambiente e geralmente era na Secretaria da Escola.  

 

 

Apesar das dificuldades, rememorar esse período é trazer momentos preciosos e prazerosos, principalmente, pelo fato de sair de casa dos professores, outra era estar na escola conversando com os funcionários, onde adquiríamos uma relação profissional e de amizade. Tudo era novidade e motivo para interagir com os colegas que atuavam nas escola municipais, em especial, quando trabalhávamos pela primeira vez naquela localidade. Até 2003, o calendário a cumprir pelos profissionais era de 50 dias letivos direto em seus locais de trabalhos, diferente desta data, onde inicia o processo de descentralização do SOME com lotação dos professores em suas Unidades Regionais de Educação - Ures de origem. Atualmente, os professores trabalham, porém, nos finais de semanas estão com seus familiares. 

 

 

Resgatar a memória é tratar o Sistema de Organização Modular de Ensino – SOME que se originou a partir do dia 15 de abril de 1980, como data importante de implantação de um projeto experimental nos anos de 1980 e 1981 pela Fundação Educacional do Pará – FEP,  entidade mantenedora durante esse período. Com a posse do governador eleito democraticamente no ano de 1982, Jader Fonteneles Barbalho, do Partido Movimento Democrático Brasileiro – PMDB, o projeto passa a ser mantido pela Secretaria Estadual de Educação – SEDUC, com significativa expansão nos interiores do Estado do Pará.  Após seu governo, assume o mandato político máximo do Estado o médico Almir Gabriel. 

 

 

Durante esses governos, temos alguns aspectos a considerar em relação ao SOME, como: Seleção e contratação de professores para atuarem nos municípios e localidades que estavam carentes de mão de obra, logo vão suprir essas necessidades. Neste período tínhamos o planejamento pedagógico anual e formação continuada no Centro de Treinamento de Recursos Humanos da SEDUC, em Marituba, entre outras diversas instituições importantes para a educação, como a Universidade Federal do Pará – UFPA, Universidade Estadual do Pará – UEPA; além de entidades parceiras de debates e formação. Para os professores com carga horária trabalhada em 200 h, 240 h e 280 h/a recebiam conforme necessidade das cargas horárias dos municípios e localidades. Durante esses períodos, também temos a gratificação de 100%; além de alguns auxílios para os deslocamentos dos professores, como o transporte aéreo para alguns polos mais distantes, como Santarém, Marabá, Altamira, São Félix do Xingu, entre outros. Com isso, era um incentivo para os professores lotados, já que neste momento, muitos não queriam viajar e ainda tinha a alimentação e residência que ficava sob a responsabilidade das prefeituras. O que também estimulava a entrada era que a maioria dos municípios e localidades o funcionamento era apenas em um turno, enquanto no ensino regular, o professor ou professora que tinha 240 ou 280 as trabalhava nos três turnos ou no quarto, já que neste período tinha o turno chamado intermediário.

 

O convênio entre o Estado e Município proporcionou um avanço significativo para a educação nos interiores, como o apoio na moradia para a execução dos serviços domésticos e ambientes pedagógicos, incluindo o espaço físico da escola. Garimpando alguns documentos em meus arquivos que tratam de educação do campo e do SOME, pude chegar a conclusões interessantes desse convênio, que o apoio possibilitou a ampliação e democratização da educação básica na Amazônia paraense, em especial ao ensino médio.

 

 



                                                                           Fonte: Google

 

 

 

Destaco final da década de 1980 e início de 1990 a chegada do mimeografo com estêncil a tinta, onde recebíamos uma caixa contendo 15 unidades para utilizarmos e que poderíamos mandar rodar na sede da SEDUC ou no antigo Centro de Treinamento de Recurso Humanos da SEDUC, onde hoje fica a escola de formação de polícia (IESP). No caso do grupo de História, chegou, por exemplo, na década de1990 a contar com 33 professores, porém, só 12 eram bastante unidos na hora de aparecer nas reuniões, tomar as decisões, entre elas à produção de textos para trabalharmos nas três séries nas localidades. Após várias discussões e produções tirávamos uma comissão para mandar rodar o nosso material.

 

 

Esses dados fazem a gente repensar o contexto, que com a posse do governador Simão Jatene, do PSDB, em 2003, pode-se considerar como um dos momentos mais críticos e descaso pela educação que esta política pública passou e também quando foi possível aglutinar a categoria em defesa do SOME.

 

                   

                            


                                                                 Fonte: Google

 

Como base em pesquisas de alguns estudiosos, foi possível detectar que essa analise tinham alguns objetivos como as mudanças radicais na estrutura e funcionamento desse setor, sendo coordenada pela cunhada do governador, a Secretaria de educação Rosa Cunha, que veio mexer no “ninho do formigueiro”.  Segundo esses dados à desmobilização política dos professores era uma das metas para ser alcançada por esse governo, já que a categoria estava unificada através da Associação dos Professores do SOME- APSOME, o que por sinal era também desestruturar a entidade dos professores para enfraquecer a linha de frente das lutas e do movimento.  Sem duvida, neste período, com os “tucanos” no poder, outra meta seria esvaziar o quadro docente politicamente, através de várias portarias e decisões tomadas pelo gabinete da Secretaria e além de tentar desmontar principalmente as bases de apoio logístico.  Vale ressaltar as imposições tomadas de enfrentamento entre Estado e a categoria dos educadores do SOME, entre elas podemos citar algumas, como, a desestruturação da Coordenação Geral, indicando pessoas plenamente alinhadas e que rezava a cartilha de Rosa Cunha; a gratificação do SOME foi reduzida em aproximadamente 60%, possibilitando com essa atitude, o caráter de incentivo para os professores, o que fez com que uma parte significativa, principalmente as lideranças políticas do movimento saíssem dessa política pública, solicitando os remanejamentos para o ensino regular, no meu caso, sai  em julho de 2003 e retorno em janeiro de 2006. A partir daí, a gratificação foi decidida pela categoria A, B e C. de deslocamento perto, médio e longe de Belém. Data que considero histórica pela divisão cronológica do SOME em dois momentos: antes e depois de 2003. Com a descentralização a partir do segundo semestre do referido ano, a extinção dos convênios entre Estado e Prefeituras faz com que estas fiquem isentas de assumir compromissos e responsabilidades com os professores, ficando apenas na oralidade, o que permanece até o momento. Triste situação que ficamos a partir daí. As atividades de cunhos pedagógicos, como o planejamento anual e cortes de material didáticos para os educadores complicou ainda mais as praticas educativas, ficando o professor responsável por tudo, neste momento; assim como a extinção da formação continuada. Não podemos esquecer que durante os anos posteriores de 2003, foi gradativamente implantado o ensino regular no lugar do ensino modular principalmente nas sedes dos municípios; além de deslocar o ensino modular para as áreas rurais, sem as mínimas condições de funcionamento, como falta da merenda escolar, mínima condições do transporte escolar fazendo com que as principais reivindicações da categoria fossem deixadas de lado pelo poder central.

 

Diante de tal situação, fez com que a categoria se unificasse ainda mais, montando uma estrutura de enfrentamento e lutas pelas suas reivindicações, desafiando o governo tucano que tinha proibido manifestações na sede da SEDUC.  Através de várias lideranças mobilizaram os diversos segmentos vinculados ao projeto SOME e ocupam a sede com mais de três mil pessoas (3.000) incluindo professores, alunos, pais de alunos, lideranças políticas de movimentos sociais e populares dos municípios, religiosos entre outros. A resposta do Estado foi imediata, com o cerco da SEDUC pelo pelotão de choque, como se as pessoas que estavam na luta reivindicando qualidade de ensino fossem “bandidas”. Aconteceu a reunião entre os representantes das diversas categorias envolvidas pela melhoria da educação e o governo do Estado através do Secretario de governo Gerson Peres, porém, em menos de 24 horas pós-reunião, o Governo Jatene descumpriu todos os acordos da reunião, dando continuidade ao seu plano diabólico de desestruturação do modular.  

 

E o resultado de toda essa situação foi à saída compulsória de parte significativa de professores do SOME, por não concordarem com as imposições de Rosa Cunha, permanecendo grande parte de temporários sem as mínimas condições de trabalho, isso em vários municípios e localidades vai provocar a falta de professores para atendê-la a demanda de alunos e alunas, situação crítica neste momento, que vai fazer que tivessem grande índice de evasão e reprovação escolar, segundo dados levantados por vários estudiosos, além da baixa estima dos professores e alunos, carga horária e vagas disponíveis, descrédito dessa política pública em locais de funcionamento; além do fim do convênio que possibilitou a retirada das responsabilidades tanto por parte do município, como do Estado.  Foi um período tenebroso para os múltiplos sujeitos envolvidos na proposta de oferta de ensino pelo SOME para inúmeras localidades do Pará.  

 

No final dos anos 1990 e início da década de 2000 temos a chegada do avanço tecnológico como novas máquinas copiadoras, através da empresa Xerox. Essa possibilitou com que os professores, inclusive, até o momento ganhe bastante tempo em suas práticas pedagógicas, muito melhor do que ficar copiando no quadro negro a giz, sem duvida.

 

 

Contextualizando o momento, vale frisar a vitória de um governo com tendência democrática popular, com a governadora eleita Ana Júlia Carepa, do Partido dos Trabalhadores – PT. Durante seu governo, com os coordenadores Ester Silva e Ribamar Oliveira, foi possível reestruturar uma das maiores políticas públicas de inclusão social da Amazônia, com a participação efetiva de vários segmentos da sociedade e ampliar e garantir educação pública, digna e de qualidade nos rincões do Estado. Em seu governo, o SOME foi implantado em 199 localidades, fundamental para o desenvolvimento da sociedade; assim como: a reestruturação didática através circuitos e blocos de disciplinas, incluindo os projetos, seminários, encontros regionais, planejamento pedagógico, total incentivo à formação e organização estudantil dos alunos e alunas matriculados no SOME, a garantia da lotação dos professores no mínimo de 200 horas, com autorização de extrapolação dependendo da necessidade, chegando muitos professores até 280 horas, unificação da gratificação, criação do grupo de trabalho em 2009 (SINTEPP x SEDUC) que discutiu a proposta de regulamentação do SOME, culminando com a Lei 8.706, de 29 de abril de 2014, da Assembleia Legislativa, após muitas lutas, nomeação para efetivo de professores temporários, aprovados em concurso público, diálogos com movimentos sociais e populares para a melhoria do SOME.

 

 

Em 2017, temos mais uma luta pela autorização de matrículas dos alunos do primeiro ano, com as reivindicações de várias comunidades, culminando no ato maior em 23 de novembro, inclusive, com as presenças de vários municípios como Mojú, Abaetetuba, Conceição do Araguaia entre outros.

 

 

Os educadores do SOME tem tido lutas incansáveis ao longo desses 41 anos de trajetória de educação no Estado do Pará e o surgimento dessas máquinas tem contribuído com o avanço das sociedades e uma educação com instrumentos que facilitam o bom desempenho da aprendizagem dos alunos e alunas.

 

 

Com este texto, para os 41 anos do SOME, presto homenagem ao grande amigo, companheiro de lutas e sonhos Professor Cosmo Cabral e  amiga Professora Ester Silva que partiram para outras dimensões, mas deixaram seus legados para a categoria dos professores do Estado do Pará. Professor Cosmo Cabral, presente! Ester Silva, presente!

 

Referências Bibliográficas

 

Costa, Marina Sousa; Oliveira, José Ribamar Lira; Nascimento, Sérgio Bandeira do (Org.). Educação na Amazônia em Repertório de Saberes: O Sistema de Organização Modular de Ensino. Belém-PA: Editora Paka-Tatu, 2020.

Sousa, Arodinei Gaia. SOME: Educação no Campo da Amazônia Paraense. Cametá, PA: Editora AGS, 2020.

 

Fontes eletrônicas

 

Ribaprasempre.blogspot.com (Blog do Riba)


Apsome.com





SOME - 41 ANOS

O SOME

Por: Cristiany Fonseca 

Vem do sentido apagar 
Sair, desaparecer,
Mas esse de quem eu falo
Com isso não tem a ver.
Vem da palavra seguir, 
Ser forte pra prosseguir 
E não se deixar vencer.

Quem mora longe de estudo
E pensa não conseguir
Por ser grande a caminhada 
Pensa em ter que desistir 
Chegam eles com carinho 
Com calma e muito jeitinho 
Dando força pra seguir. 

São professores guerreiros 
Que estão a procurar 
No lugar que tem alunos 
Precisando estudar 
Chegam eles com atenção 
Com força e dedicação 
Para a todos educar.

Alguns vêm de muito longe
Tendo na sua jornada 
Chuva lama e muito sol
E poeira na estrada 
Para enfrentar sozinho 
As agruras do caminho 
Da profissão desejada. 

Arriscam-se muitas vezes 
Mesmo sem saber nadar
Atravessam grandes rios 
Para á escola chegar
vencem qualquer circunstância 
Não importando a distância 
E nem tampouco o lugar 

Deixa as suas famílias 
Além de tudo que têm 
Vão em busca de lugares 
Que não conhecem ninguém 
Mostrando que a atenção 
A vontade e a educação 
De mãos dadas vão além 

São muito extrovertidos
Inteligentes também 
Fazem sempre o possível 
Para nos ver ir além. 
Mostrando--nos que estudar 
É o caminho a trilhar 
Que nos leva para o bem.

O SOME cumpre deveres 
Tendo papel importante 
Catadores de alunos 
Que querem ir adiante 
Entre eles eu estou
Nessa trajetória eu vou
Que à jornada é constante. 

Assim, escrevi com calma 
Estes versos com cuidado  
Agradecendo o carinho 
Por ser nosso aliado.
Assim, eu quero falar:   
Por você nos educar, 
Professor, muito obrigado!  

Cristiany Fonseca é estudante do Ensino Médio Modular - EMM, da comunidade do Arauaí, Capitão Poço, 17 URE




𝑶𝒔 41 𝒂𝒏𝒐𝒔 𝒅𝒆 𝑺𝒊𝒔𝒕𝒆𝒎𝒂 𝑴𝒐𝒅𝒖𝒍𝒂𝒓 𝒅𝒆 𝑬𝒏𝒔𝒊𝒏𝒐

Por: Carlos Alberto Guedes de Moura

𝑷𝒆𝒄̧𝒐 𝒂 𝑫𝒆𝒖𝒔 𝒒𝒖𝒆 𝒎𝒆 𝒂𝒋𝒖𝒅𝒆, 𝒆𝒎 𝒎𝒆𝒊𝒐 𝒂 𝒈𝒓𝒂𝒏𝒅𝒆 𝒂𝒈𝒐𝒏𝒊𝒂,𝒏𝒐 𝒅𝒆𝒄𝒐𝒓𝒓𝒆𝒓 𝒅𝒆𝒔𝒔𝒆𝒔 41 𝒂𝒏𝒐𝒔, 𝒆𝒏𝒇𝒓𝒆𝒏𝒕𝒂𝒏𝒅𝒐 𝒕𝒓𝒊𝒔𝒕𝒆𝒛𝒂𝒔 𝒆 𝒂𝒍𝒆𝒈𝒓𝒊𝒂𝒔,𝒐 𝒂𝒏𝒊𝒗𝒆𝒓𝒔𝒂́𝒓𝒊𝒐 𝒅𝒐 𝑴𝒐𝒅𝒖𝒍𝒂𝒓, 𝒅𝒊𝒂𝒏𝒕𝒆 𝒅𝒂 𝒑𝒂𝒏𝒅𝒆𝒎𝒊𝒂.

𝑰𝒏𝒊𝒄𝒊𝒂𝒏𝒅𝒐 𝒄𝒐𝒎𝒐 𝒖𝒎 𝒑𝒆𝒒𝒖𝒆𝒏𝒐 𝒑𝒓𝒐𝒋𝒆𝒕𝒐, 𝒆𝒎 𝒖𝒎𝒂 𝒄𝒊𝒅𝒂𝒅𝒆 𝒅𝒐 𝑷𝒂𝒓𝒂́, 𝒂 𝒐𝒓𝒅𝒆𝒎 𝒅𝒆 𝒊𝒏𝒊́𝒄𝒊𝒐 𝒆𝒓𝒂 𝒅𝒆 𝒆𝒅𝒖𝒄𝒂𝒓, 𝒎𝒂𝒊𝒔 𝒂 𝒇𝒓𝒆𝒏𝒕𝒆 𝒔𝒖𝒓𝒈𝒊𝒖 𝒐 𝑮𝒊𝒈𝒂𝒏𝒕𝒆,𝒅𝒐 𝑺𝒊𝒔𝒕𝒆𝒎𝒂 𝑴𝒐𝒅𝒖𝒍𝒂𝒓, 𝒒𝒖𝒆 𝒂𝒐 𝒍𝒐𝒏𝒈𝒐 𝒅𝒆𝒔𝒔𝒆𝒔 41 𝒂𝒏𝒐𝒔, 𝒏𝒂̃𝒐 𝒔𝒆 𝒄𝒂𝒏𝒔𝒂 𝒅𝒆 𝒆𝒅𝒖𝒄𝒂𝒓.

𝑬𝒅𝒖𝒄𝒂𝒓 𝒏𝒐 𝒓𝒊𝒃𝒆𝒊𝒓𝒊𝒏𝒉𝒐, 𝒄𝒐𝒎 𝒐 𝒑𝒓𝒐𝒋𝒆𝒕𝒐 𝒅𝒆 𝒆𝒏𝒔𝒊𝒏𝒂𝒓, 𝒏𝒂𝒔 𝒗𝒂́𝒓𝒊𝒂𝒔, 𝒏𝒐 𝒄𝒂𝒎𝒑𝒐 𝒆 𝒏𝒂𝒔 𝒂́𝒈𝒖𝒂𝒔, 𝒔𝒆𝒎 𝒋𝒂𝒎𝒂𝒊𝒔 𝒔𝒆 𝒄𝒂𝒏𝒔𝒂𝒓, 𝒂𝒕𝒆𝒏𝒅𝒆𝒏𝒅𝒐 𝒂 𝒄𝒍𝒊𝒆𝒏𝒕𝒆𝒍𝒂 𝒅𝒐 𝑬𝒔𝒕𝒂𝒅𝒐 𝒅𝒐 𝑷𝒂𝒓𝒂́.

𝑭𝒐𝒓𝒂𝒎 𝒎𝒖𝒊𝒕𝒂𝒔 𝒂𝒔 𝒕𝒆𝒏𝒕𝒂𝒕𝒊𝒗𝒂𝒔, 𝒅𝒐 𝒑𝒓𝒐𝒋𝒆𝒕𝒐 𝒂𝒄𝒂𝒃𝒂𝒓, 𝒎𝒂𝒔 𝒐 𝒒𝒖𝒆 𝒆́ 𝒇𝒆𝒊𝒕𝒐 𝒄𝒐𝒎 𝒂𝒎𝒐𝒓 𝒆 𝒄𝒂𝒓𝒊𝒏𝒉𝒐, 𝒋𝒂𝒎𝒂𝒊𝒔 𝒊𝒓𝒂́ 𝒑𝒂𝒓𝒂𝒓, 𝒔𝒆 𝒔𝒂𝒃𝒆 𝒒𝒖𝒆 𝒑𝒐𝒓 𝒂𝒒𝒖𝒊, 𝒇𝒐𝒓𝒂𝒎 𝒎𝒖𝒊𝒕𝒐𝒔 𝒂 𝒔𝒆 𝒇𝒐𝒓𝒎𝒂𝒓.

𝑫𝒆𝒅𝒊𝒄𝒂𝒓-𝒔𝒆 𝒂 𝒆𝒔𝒔𝒆 𝒑𝒓𝒐𝒋𝒆𝒕𝒐, 𝒇𝒓𝒆𝒏𝒕𝒆 𝒂̀ 𝒄𝒐𝒏𝒕𝒓𝒂𝒅𝒊𝒄̧𝒂̃𝒐, 𝒆́ 𝒑𝒓𝒆𝒄𝒊𝒔𝒐 𝒕𝒆𝒓 𝒂𝒎𝒐𝒓 𝒆 𝒔𝒂𝒃𝒆𝒓 𝒖𝒔𝒂𝒓 𝒂 𝒓𝒂𝒛𝒂̃𝒐, 𝒕𝒓𝒂𝒃𝒂𝒍𝒉𝒂𝒓 𝒔𝒆𝒎 𝒆𝒔𝒕𝒓𝒖𝒕𝒖𝒓𝒂𝒔 𝒆𝒎 𝒇𝒂𝒗𝒐𝒓 𝒅𝒆 𝒏𝒐𝒔𝒔𝒐 𝒊𝒓𝒎𝒂̃𝒐.

𝑺𝒊𝒎, 𝒑𝒐𝒓𝒒𝒖𝒆 𝒂𝒔 𝒄𝒐𝒏𝒅𝒊𝒄̧𝒐̃𝒆𝒔 𝒅𝒆 𝒏𝒐𝒔𝒔𝒂 𝒓𝒆𝒂𝒍𝒊𝒅𝒂𝒅𝒆, 𝒔𝒂𝒊𝒏𝒅𝒐 𝒅𝒆 𝒏𝒐𝒔𝒔𝒐𝒔 𝒍𝒂𝒓𝒆𝒔, 𝒅𝒊𝒔𝒕𝒂𝒏𝒕𝒆𝒔 𝒅𝒂 𝒄𝒊𝒅𝒂𝒅𝒆, 𝒕𝒓𝒂𝒃𝒂𝒍𝒉𝒂𝒓 𝒄𝒐𝒎 𝒐 𝒒𝒖𝒆 𝒕𝒆𝒎, 𝒄𝒐𝒎 𝒆𝒎𝒑𝒆𝒏𝒉𝒐 𝒆 𝒔𝒆𝒓𝒊𝒆𝒅𝒂𝒅𝒆.

𝑨 𝒗𝒆𝒛𝒆𝒔 𝒄𝒐𝒎 𝒕𝒐𝒅𝒂 𝒂 𝒄𝒓𝒊́𝒕𝒊𝒄𝒂, 𝒎𝒂𝒔 𝒔𝒆𝒓𝒗𝒊𝒏𝒅𝒐 𝒑𝒂𝒓𝒂 𝒐𝒓𝒊𝒆𝒏𝒕𝒂𝒓, 𝒐 𝒂𝒄𝒐𝒍𝒉𝒊𝒎𝒆𝒏𝒕𝒐 𝒏𝒂 𝒄𝒐𝒎𝒖𝒏𝒊𝒅𝒂𝒅𝒆, 𝒆 𝒐 𝒂𝒑𝒐𝒊𝒐 𝒂𝒐 𝒕𝒓𝒂𝒃𝒂𝒍𝒉𝒂𝒓, 𝒂𝒔𝒔𝒊𝒎 𝒐 𝑺𝒊𝒔𝒕𝒆𝒎𝒂 𝒕𝒐𝒎𝒂 𝒗𝒊𝒅𝒂 𝒆́ 𝒗𝒂𝒊 𝒄𝒓𝒆𝒔𝒄𝒆𝒏𝒅𝒐 𝒐 𝑴𝒐𝒅𝒖𝒍𝒂𝒓.

𝑶𝒔 𝒑𝒓𝒐𝒋𝒆𝒕𝒐𝒔 𝒑𝒆𝒅𝒂𝒈𝒐́𝒈𝒊𝒄𝒐𝒔, 𝒇𝒂𝒛𝒆𝒏𝒅𝒐 𝒇𝒊𝒓𝒎𝒂𝒓 𝒂 𝒂𝒕𝒆𝒏𝒄̧𝒂̃𝒐, 𝒂 𝒕𝒓𝒂𝒏𝒔𝒑𝒂𝒓𝒆̂𝒏𝒄𝒊𝒂 𝒆𝒅𝒖𝒄𝒂𝒕𝒊𝒗𝒂 𝒆𝒎 𝒑𝒓𝒐𝒍 𝒅𝒂 𝒆𝒅𝒖𝒄𝒂𝒄̧𝒂̃𝒐, 𝒇𝒂𝒛𝒆𝒏𝒅𝒐 𝒋𝒖𝒔 𝒂𝒐 𝒏𝒐𝒔𝒔𝒐 𝒄𝒉𝒂𝒎𝒂𝒅𝒐, 𝒄𝒐𝒎𝒐 𝒆𝒅𝒖𝒄𝒂𝒓 𝒂 𝑽𝒐𝒄𝒂𝒄̧𝒂̃𝒐.

𝑴𝒂𝒔 𝒂𝒈𝒐𝒓𝒂 𝒎𝒖𝒅𝒐𝒖 𝒅𝒆 𝒂𝒓𝒎𝒂́𝒓𝒊𝒐, 𝒐 𝒆𝒔𝒕𝒊𝒍𝒐 𝒅𝒆 𝒆𝒅𝒖𝒄𝒂𝒓, 𝒅𝒆𝒗𝒊𝒅𝒐 𝒂 𝒑𝒂𝒏𝒅𝒆𝒎𝒊𝒂, 𝒑𝒂𝒓𝒂 𝒂𝒔 𝒗𝒊𝒅𝒂𝒔 𝒑𝒐𝒅𝒆𝒓 𝒔𝒂𝒍𝒗𝒂𝒓, 𝒐 𝒆𝒏𝒔𝒊𝒏𝒐 𝒆𝒔𝒕𝒂́ 𝒔𝒆𝒏𝒅𝒐 𝒐𝒏-𝒍𝒊𝒏𝒆, 𝒏𝒂𝒔 𝒂𝒖𝒍𝒂𝒔 𝒓𝒆𝒎𝒐𝒕𝒂𝒔 𝒔𝒆 𝒂𝒅𝒂𝒑𝒕𝒂𝒓.

𝑶𝒓𝒊𝒆𝒏𝒕𝒂𝒅𝒐𝒔 𝒑𝒆𝒍𝒂 𝑺𝑬𝑫𝑼𝑪 𝒄𝒐𝒎 𝒂𝒔 𝑼𝑹𝑬𝑺 𝒆 𝒐 𝒂𝒑𝒐𝒊𝒐 𝒅𝒆 𝒄𝒂𝒅𝒂 𝒈𝒆𝒔𝒕𝒐𝒓, 𝒐 𝒔𝒆𝒈𝒖𝒊𝒎𝒆𝒏𝒕𝒐 𝒏𝒐𝒔 𝒄𝒊𝒓𝒄𝒖𝒊𝒕𝒐𝒔 𝒆 𝒂 𝒅𝒆𝒅𝒊𝒄𝒂𝒄̧𝒂̃𝒐 𝒅𝒐 𝒑𝒓𝒐𝒇𝒆𝒔𝒔𝒐𝒓, 𝒅𝒆𝒔𝒆𝒏𝒗𝒐𝒍𝒗𝒆𝒏𝒅𝒐 𝒆𝒔𝒔𝒆 𝒕𝒓𝒂𝒃𝒂𝒍𝒉𝒐, 𝒄𝒐𝒎 𝒄𝒂𝒓𝒊𝒏𝒉𝒐, 𝒅𝒆𝒅𝒊𝒄𝒂𝒄̧𝒂̃𝒐 𝒆 𝑨𝒎𝒐𝒓.

𝑷𝒂𝒓𝒂𝒃𝒆́𝒏𝒔 𝒂𝒐 𝑺𝒊𝒔𝒕𝒆𝒎𝒂 𝑴𝒐𝒅𝒖𝒍𝒂𝒓, 𝒑𝒆𝒍𝒐𝒔 41 𝒂𝒏𝒐𝒔 𝒅𝒆 𝒅𝒆𝒅𝒊𝒄𝒂𝒄̧𝒂̃𝒐, 𝒂𝒐 𝒕𝒓𝒂𝒃𝒂𝒍𝒉𝒐 𝒏𝒐 𝒄𝒂𝒎𝒑𝒐, 𝒏𝒐𝒔 𝒓𝒊𝒐𝒔 𝒆 𝒏𝒂𝒔 𝒂́𝒈𝒖𝒂𝒔, 𝒆𝒎 𝒑𝒓𝒐𝒍 𝒅𝒂 𝒆𝒅𝒖𝒄𝒂𝒄̧𝒂̃𝒐 𝒅𝒐 𝒊𝒓𝒎𝒂̃𝒐, 𝒆𝒔𝒔𝒆 𝒑𝒓𝒐𝒋𝒆𝒕𝒐 𝒔𝒆𝒎𝒑𝒓𝒆 𝒅𝒆𝒖 𝒆 𝒅𝒂𝒓𝒂́ 𝒄𝒆𝒓𝒕𝒐, 𝒔𝒆 𝒐 𝒍𝒆𝒎𝒂 𝒇𝒐𝒓 𝒂 𝒏𝒐𝒔𝒔𝒂 𝒖𝒏𝒊𝒂̃𝒐.

𝑨 𝒖𝒏𝒊𝒂̃𝒐 𝒑𝒂𝒓𝒂 𝒗𝒆𝒏𝒄𝒆𝒓𝒎𝒐𝒔, 𝒕𝒐𝒅𝒂 𝒆 𝒒𝒖𝒂𝒍𝒒𝒖𝒆𝒓 𝒔𝒊𝒕𝒖𝒂𝒄̧𝒂̃𝒐, 𝒎𝒆𝒔𝒎𝒐 𝒖𝒎 𝑺𝑬𝑰 𝒅𝒆𝒔𝒔𝒆𝒔 𝒅𝒂 𝒗𝒊𝒅𝒂, 𝒅𝒂 𝒓𝒆𝒂𝒍𝒊𝒅𝒂𝒅𝒆 𝒔𝒆𝒎 𝒕𝒆𝒓 𝒖𝒎𝒂 𝒗𝒊𝒔𝒂̃𝒐, 𝒍𝒂́ 𝒐𝒏𝒅𝒆 𝒐 𝒑𝒓𝒐𝒇𝒆𝒔𝒔𝒐𝒓 𝒗𝒂𝒊, 𝒆𝒖 𝒏𝒂̃𝒐 𝒔𝒆𝒊 𝒔𝒆 𝒐 𝑺𝑬𝑰 𝒗𝒂̃𝒐 𝒏𝒂̃𝒐!!!

𝑮𝒖𝒊𝒂𝒅𝒐𝒔 𝒑𝒆𝒍𝒐 𝑫𝒊𝒗𝒊𝒏𝒐
𝑼𝒏𝒂𝒎𝒐-𝒏𝒐𝒔 𝒏𝒐 𝒆𝒅𝒖𝒄𝒂𝒓
𝑬 𝒕𝒆𝒏𝒉𝒂𝒎𝒐𝒔 𝒂 𝒈𝒓𝒂𝒏𝒅𝒆 𝒄𝒆𝒓𝒕𝒆𝒛𝒂
𝑫𝒆𝒖𝒔 𝒊𝒓𝒂́ 𝒏𝒐𝒔 𝒂𝒋𝒖𝒅𝒂𝒓
𝑬 𝒐 𝒑𝒓𝒐𝒋𝒆𝒕𝒐 𝒒𝒖𝒆 𝒊𝒓𝒂́ 𝒔𝒆𝒎𝒑𝒓𝒆 𝒅𝒂𝒓 𝒄𝒆𝒓𝒕𝒐
𝑺𝒊𝒔𝒕𝒆𝒎𝒂 𝒅𝒆 𝑬𝒏𝒔𝒊𝒏𝒐 𝑴𝒐𝒅𝒖𝒍𝒂𝒓

Carlos  de Moura é professor do SOME/AVEIRO/PA.





SOME - 41 ANOS

SOMEANDO

Por: João Furtado
 
Somos gente, inquieta que preserva o saber.
Transformando a paisagem humana.
Entre rios, estradas e igarapés serenos vamos.
Tecendo amores, paixões, filosofando a vida.
Ensinando a arte do bem aprender.
Nas manhãs, tardes ou noites, na alegria ou na tristeza.
Avantes e unidos seguimos, na esperança do novo alvorecer.
D'alma partida, deixamos os nossos a chorar.
E no silêncio choroso do coração, missão a cumprir.
Ontem, hoje e no amanhã tu vais florescer.
Raios do saber na primavera amazônica.
Galgando as intempéries da vida.
Amalgamando-se com as tristezas, alegrias e triunfos.
Nadando pelas águas, Campos e florestas.
Criando saberes, paixões em meio às tempestades.
Ziguezagueando no mar da fartura. 
Construindo sonhos em realidades diversas.

João da Silva Furtado é professor do SOME Cametá




SOME

Por: Carlos Alberto Prestes

Estrofe I
Ah! Quando penso naqueles lugares
Onde andaram meus calejados pés
Dos banhos nos rios e igarapés
Lembra-me a história de Palmares.

Estrofe II
Era um registro de liberdade
Que a história jamais apagou
Nem o homem branco a sujeitou
E em seus olhos só havia perplexidade.

Estrofe III
Essa tal e tão grata liberdade
Foi o que nos legou a educação
Que nos levantou pelos pés e mãos
Nos arrebatando além da cidade.

Estrofe IV
E lá se foi o valente professor
Em busca de um lugar desconhecido
Na sua bagagem livros e mais livros
Pelas paragens do interior.

Estrofe V
Ali, 1980, onde tudo começou
Era o governo Alacid Nunes
Que principiava uma atitude
Em razão da educação que herdou.

Estrofe VI
Assim nomeou Manoel Moutinho
Como superintendente geral
Da fundação educacional
Que foi organizando o seu caminho.

Estrofe VII
Diante de um quadro analisado
Em que alunos de várias regiões
Estavam sem estudar aos montões
E o primeiro grau já tinham tirado.

Estrofe VIII
Uma decisão tinha que tomar
Diante de tal situação
Que vivificasse a educação
E ninguém a pudesse revogar.

Estrofe IX
Aí veio a ideia singular
Pra habilitar aqueles estudantes
Pois nada seria mais como antes
Depois desse Sistema Modular.

Estrofe X
Compunha-se o sistema de três fases
Que eram as séries do segundo grau
Quatro módulos dados por igual
Com disciplinas e afinidades...

Estrofe XI
Causou boa impressão no mandatário
A habilitação no Magistério
Pro aluno completar o ensino médio
Que foi pra todos revolucionário...

Estrofe XII
Começou a seleção por Curuçá
Igarapé-Miri, Igarapé-Açu
Nova Timboteua do céu azul
Pois não se vai mais deixar de estudar...

Estrofe XIII
No primeiro encontro de secretários
De educação do Norte e Nordeste
Sediado em Belém, onde tudo acontece
O SOME foi algo extraordinário...

Estrofe XIV
Foi, sim, tamanha a repercussão
Que o nobre professor Manoel Moutinho
À Brasília foi chamado rapidinho
Pra palestrar aos que tinham o anelão...

Estrofe XV
Foram tantas as perguntas a mil
Dos figurões que controlam a instrução
Que se imaginava isso pra nação
Pois foi edição na Voz do Brasil...

Estrofe XVI
Logo vieram outros municípios
Mocajuba, São Francisco do Pará
Ponta de Pedras doutro lado do mar
Maracanã onde deixou resquícios...

Estrofe XVII
Assim o modular foi-se espalhando
Chegando em Irituia, Breves, Primavera
São Domingos do Capim, que quimera
Formando, graduando, educando...

Estrofe XVIII
Em oitenta e três embarca pra Muaná
Percorre a trilha de Salvaterra 
É recebido em Moju com festa
Em colares chega pra se aninhar...

Estrofe XIX
O SOME começa assim a voar
Voar pra outras terras além do Pará
Vai muito, muito além do Amapá
Pra países além do nosso rio-mar...

Estrofe XX
E, assim, com tanta história pra contar
Histórias de alunos e professores
Muitos viraram mestres e doutores
Outros ainda têm chão pra pisar...

Estrofe XXI
Olha que trato com a educação
Que recupera do povo a memória
Relatos vivos de uma dada história
Feita com projeto de intervenção...

Estrofe XXII
Assim se vão passando as disciplinas
Literatura, artes, filosofia
Química, física, geografia
Ah, tem tanta coisa que se ensina...

Estrofe XXIII
Pra quem quiser pesquisar isso tudo
Vai lá e acessa o blog do Riba
Que sabe mais até que um escriba
Tanto que já viraliza no mundo...

Estrofe XXIV
Tem também o Diálogos livres
Que fala do contexto social
De uma tal maneira imparcial
Que deixa o conteúdo sublime...

Estrofe XXV
Cabe ainda que se há de ressaltar
Os aperreios que o mestre passou
Isso tudo num lugar que ele amou
Coisas até difíceis de contar...

Estrofe XXVI
Como que lá, na Pará-Maranhão
Na antiga Cachoeira do Garimpo
Agora Piriá, com nome extinto
Pra estudar tinha que ter convicção...

Estrofe XXVII
Posto que em busca do tão caro ouro
Cavaram túneis por baixo da terra
Coisa que até parecia uma guerra
E nem assim ligavam pro decoro...

Estrofe XXVIII
Tanto cavaram que chegou na escola
Racha parede pra todo lado
Que até pra andar tinha que ter cuidado
Porque se não no buraco se atola...

Estrofe XXIX
Foi caso mui sério esse episódio
Posto que intervenção foi decretada
Alunos ficaram sem sala de aula
Ali a educação legou seu pódio...

Estrofe XXIX
Lá no Quilómetro Setenta e Quatro
Bem pras bandas da Pará-Maranhão
Se a alunada não ia de busão
Ia de caminhão mal agasalhado...

Estrofe XXXI
Naquele tempo era luz de motor
Um gerador que tinha o seu horário
De seis às onze o seu itinerário
Que trabalhava como um benfeitor...

Estrofe XXXII
Então, um dia deu-se um apagão
O motor roncou, roncou e parou
Toda aula na escola terminou
E pra consertar mais que mês passou...

Estrofe XXXIII
Também me faz lembrar Açaiteua
Num dia de aula, numa terça-feira
A noite tava que era uma beleza
Que pensei que tivesse em Timboteua...

Estrofe XXXIV
Seu Zé que dirigia o ônibus
Levava aluno pra escola e trazia
Não foi buscar naquele dia
Pois que a meses não recebia o ônus...

Estrofe XXXV
Coisa de prefeitura que não dá pra entender
E o prefeito insistia: estudar pra quê?
Pra trabalhar não precisa de lê!
Dizia que era prefeito sem saber escrever...

Estrofe XXXVI
Ora, cruzamos a transamazônica
Numa Kombi que ia bem pra lá
Pra aquelas bandas de Uruará
Numa aventura poética e lúdica...

Estrofe XXXVII
Lá também houve um problema peculiar
Os docentes queriam receber
O prefeito não queria atender
Porque não tinha dinheiro pra pagar...

Estrofe XXXVIII
Lá teve projeto de intervenção
Com participação de toda a comunidade
Dramatização da realidade
Pra ajudar a formar o cidadão...

Estrofe XXXIX
Medicilândia, quem não decantou?
Do folclore do encantado boto
Das peças... de danças do país todo
Do carimbó que todo mundo amou...

Estrofe XXXX
Ah! Tem tanta coisa, sim, pra dizer
De Abaeté, de Cametá, Afuá
De Santarém nem dá pra imaginar
Mas que em livro o escritor vai escrever...

Estrofe XXXXI
Assim como o tempo que está a passar
Surgem poetas, cantores e escritores
Artistas, sim, e também professores...
Desse memorável Sistema Modular.

Carlos Alberto Prestes
Joinville (SC), 12 e 13 de abril de 2021







SOME: 41 ANOS DE LUTA E RESISTÊNCIA  

                Eládio Carneiro


Neste 15 de abril de 2021, o Sistema de Organização Modular de Ensino - SOME completa 41 anos de existência e incorporação no sistema de ensino do Pará.

Apesar de ser a principal Política Pública fomentadora da Educação no estado do Pará, contribuindo na construção da cidadania e na formação intelectual e profissional da juventude rural, ribeirinha, quilombola e indígena paraense, o SOME continua sofrendo ataques e resistindo contra a falta de investimento e descaso do poder executivo, que tem privilegiado iniciativas privadas como o SEI - Sistema Educacional Interativo.

Durante seus primeiros 34 anos de funcionamento, o SOME caracterizou-se como um projeto educacional, sempre a margem das políticas públicas. Mas, em decorrência da mobilização e luta da comunidade escolar pela sua melhoria e por mais investimentos, em 29 de abril de 2014, através da Lei nº 7.806, o sistema se transforma em uma Política Pública.

Na visão do assessor jurídico Walmir Brelaz, do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Pará - SINTEPP, antes da Lei, o SOME era regido por instrumentos normativos frágeis, inclusive por meio de resoluções emitidas pelo Conselho Estadual de Educação - CEE e pela Secretaria de Estado de Educação - SEDUC.

Em seu artigo 1º, a Lei é clara ao estabelecer qual o seu objetivo: regulamentar o SOME, caracterizando-o como Política Pública Educacional do Estado, com normas gerais para sua adequada estrutura e funcionamento, no âmbito da Secretaria de Estado de Educação - SEDUC.

"...a importância dessa lei, para o bem ou para o mal, é que vincula todos aos seus dispositivos. Do governador ao professor. Isso em respeito ao princípio da legalidade, resumido na proposição suporta a lei que fizeste, significa estar a Administração Pública, em toda a sua atividade, presa aos fundamentos da lei, deles não podendo afastar, sob pena de invalidade do ato e responsabilidade de seu autor...", escreve o advogado em artigo intitulado "SOME, uma abordagem normativa".

Para Brelaz, a Lei do SOME, se destaca na sua finalidade, que é o de garantir aos estudantes acesso à educação básica e isonomia nos direitos, assegurando a ampliação do nível de escolaridade e a permanência dos alunos em suas comunidades, observando as peculiaridades e diversidades encontradas no campo, águas, florestas e aldeias do Estado do Pará (art. 2º), sendo direcionado à expansão das oportunidades educacionais em nível de ensino fundamental e médio para a população escolar do interior do Estado, onde não existir o ensino regular, de modo complementar ao ensino municipal (§ único do art. 2º).

Portanto hoje, em que o SOME completa 41 anos, com um cenário epidemiológico grave, por conta da Pandemia Covid-19, a comunidade escolar deve redobrar sua atenção e se mobilizar ainda mais, para combater os novos enfrentamentos que estão por vir, lembrando-se sempre, que sem mobilização social, a comunidade não alcançara qualidade na Educação.

(Via: Modular Notícias)






HINO AO SOME

Autor: Arodinei Gaia
 
Num berço do ano oitenta
Um colosso nasceu no Pará
Prolificando a esperança
Em terra cabana, nosso lugar
 
Em solo fértil, saberes singular
Na terra verde o alvo é a instrução
No peito nobre escondido a saudade
Sonho cabano alimenta meu coração
 
Indígena, quilombola
Ribeirinhos, povos tradicionais
Vilarejos e toda nossa gente
Novas lutas, novos ideais
 
Moduleiro! Moduleiro!
Filho ilustre amado desse chão
Na estrada, nas ilhas e nos rios
És um Gigante na educação
 
Uma grandiosa aventura
Perigos na estrada e na maré
O temor é vencido com união
Muita força, nosso amor e nossa fé
 
O campo exala perfume
É o cheiro da sonhada inclusão
Em rodízio o ensino a debutar                                        
Fulgurando toda escuridão         
Forasteiros com livros na mão
Nossa arma é a arte do pensar
Somos docentes, somos discentes
Somos o Sistema Modular
 
Moduleiro! Moduleiro!
Filho ilustre amado desse chão
Na estrada, nas ilhas e nos rios
És um Gigante na educação

Dinei Gaia é professor do SOME Cametá







O INESPERADO ACONTECE


Prof. Arogas - Livro Viajante do Giz - 2012


Quem, como autêntico moduleiro, nunca enfrentou toda sorte de problemas para desenvolver seu trabalho docente? É falta de alojamento, de mobiliário mínimo para a casa, falta de espaço para as aulas, prefeitura que não dá assistência ao projeto de ensino... Localidades que não possuem luz elétrica, carência de gêneros alimentícios, falta de água... Enfim, são tantos problemas que o professor precisa ter garra, vontade e jogo de cintura para tentar, pelo menos, amenizá-los. 


Alguns são fora do comum, chegam a ser hilários (depois de passados). Veja:


O lugar lembrava aquelas cidadezinhas de filme de faroeste: as casas de madeira enfileiradas de um lado e de outro da rua (quase única) principal; na frente destas sempre um poço, sinalizando que água encanada ainda era um sonho dos moradores. Na entrada da cidade, a existência de um córrego que eles chamavam de “rio”.


Era nesse ambiente que três moduleiros se encontravam para uma etapa de atividades docentes, para alunos do 2º grau. O alojamento era um antigo posto de saúde, de três cômodos: três saletas e um banheiro. 


Um motor fornecia luz elétrica para a localidade até às 21h (quando a prefeitura mandava o combustível). O abastecimento de água na casa dependia da energia elétrica, sem esta não havia como puxar água do poço para o reservatório. E o córrego ficava bem distante.]


Sem energia elétrica, sem água na casa dos professores. Aí o jeito era correr para o riozinho, tomar banho e voltar suado para casa. Mas, se resolvia o banho dos professores, faltava água para a limpeza do banheiro, para dar descarga no vaso sanitário, por exemplo. O banheiro sujo, no meio da casa, empestava todos os recintos minúsculos da residência. Era um caos total!


Entre os professores, um tinha o hábito de se demorar no banheiro. Primeiro fazia as necessidades no vaso – lendo -- só depois tomava o banho. Era assim, metódico no que fazia. Sempre era o último a usar o banheiro por causa do tempo que gastava ali.


Um dia o inesperado acontece. Os outros colegas já haviam passado pelo banheiro. Estavam arrumados para a escola, faziam um lanche na cozinha. Mas o professor, como sempre, preferiu ir por último para curtir a leitura, depois o banho. 


Ele demorava no vaso, enquanto isso os outros usavam a água na cozinha. Quando atentou para o som de água jorrando na torneira, lembrou-se de ligar o chuveiro. Foi a surpresa: não havia mais água. “Caramba, tô ferrado aqui!”, pensou. Estava numa enrascada. O vaso sujo e somente um punhado de água num balde, no canto do banheiro.


Não ousava pedir ajuda para os que estavam na sala, porque era caso de gozação para o resto do módulo. A solução era tentar resolver o problema com o pouco de água que havia. Seria tudo ou nada. Pensou primeiro em tomar o famoso banho “tcheco”, mas de relance atentou para a sujeira no vaso: “Não, não e não! Sair daqui mais ou menos limpo, mas não dar descarga no vaso, nem pensar! Seria o estopim para rirem de mim. Falarão de mim às caçambadas! Isso nunca!”


Começava aí o dilema do professor: não sabia se asseava a si ou ao vaso. Pensou longamente no isto ou aquilo. As horas passavam. Lá fora alguém chamou por seu nome. Por que tanta demora no banheiro!


Finalmente acabou por decidir a fazer o que muitos não fariam: jogou o punhado da água no vaso, para descarregar a sujeira. Pronto estava feito.


Saiu do banheiro de sorriso amarelo. Comentou com os colegas que não tinha tomado banho direito, iria esperar pela água. Os outros saíram da casa. Ele ficou de um lado para o outro, da sala para a cozinha, abrindo torneiras das pias. Coçava a cabeça, pensava nos rios abundantes da sua terra. “Que situação! Será que vou dormir sujo?”. O córrego estava distante. Era noite.


A luz da casa chegou. E em seguida a água. Correu para o chuveiro. Os primeiros pingos foram recebidos com festa. Comemorou ironicamente:


“Ei, você aí, andas farto de conforto? Queres sair da rotina, viver aventuras? Mude pra melhor! Seja professor do modular e desfrute de problemas inesquecíveis!”


(Trairão: 06–1996)


FONTE: Modular Notícias



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