Em 1995, depois de me apaixonar pela experiência de ALFABETIZAR CRIANÇAS, iniciada em 1992, como leitor ávido de Paulo Freire, fui convidado pela querida e saudosa, professora Wilma Vilar, minha ex-professora de História, a ser PROFESSOR DE ESTUDOS AMAZÔNICOS em uma turma de 5a série na Escola Estadual Tancredo Neves, na cidade de Melgaço. O convite veio logo após iniciar o Curso de Licenciatura e Bacharelado em História pelo revolucionário projeto de interiorização da UFPA, no Campus Universitário do Marajó, Núcleo de Breves.
O desafio de trabalhar o conteúdo programático da HISTÓRIA LOCAL, levou-me à experiência de investigar pistas, sinais, indícios da História Social de Melgaço. Comecei a rastrear memórias orais, escritas, visuais e arquitetônicas da terra dos Guarycuru (é sem S mesmo).
Semelhante à história de outros municípios marajoaras ou Amazônicos, até então, pouco sabíamos das trajetórias de nosso torrão migrante.
Iniciado os estudos de HISTÓRIA ORAL & MEMÓRIA, nas primeiras aulas tive uma ideia com a turma de 5a série da manhã:
VAMOS ORGANIZAR EQUIPES DE PESQUISA EM HISTÓRIA ORAL. Daí, então:
Mapeamos os narradores. Todos eles moradores antigos, acima de 60 anos;
Elaboramos juntos um roteiro de perguntas abertas;
Contactamos um por um dos narradores e o convidamos para participar da pesquisa;
E fomos com cada equipe fazer as entrevistas;
Vivemos momentos inesquecíveis. Os olhos dos meus aluninhos brilhavam na busca pelo saber de nossa história.
Ao final das entrevistas, as equipes as transcreviam e as apresentavam em forma de seminário.
Somamos esse momento com a presença dos narradores na escola para ouvir suas histórias, contada pelos alunos, e ampliá-las, enriquecendo nossos saberes.
Hoje, ao disponibilizar o pdf de minha dissertação de mestrado com o professor cearense, Ricardo Brígido Moura, sobrinho do imortal memorialista de Melgaço, Prof. Gabriel Severiano de Moura, lembrei-me desse percurso do saber e decidi compartilhar.
O professor Ricardo está em Melgaço em busca de informações da presença dos Mouras em nossa região, especialmente do professor Gabriel, irmão de seu pai, Nelson Moura, e do avô, o famoso coronel, Francisco Severiano de Moura, um dos homens mais poderosos de Melgaço e Portel dos anos de 1920 até possivelmente 1940.
Realizei o curso de Mestrado em História Social na PUC-SP entre 2002 a 2004, mas as pesquisas sobre a antiga aldeia (1659), depois Vila São Miguel de Melgaço (1759) e hoje, Turquesa do Pará (1980), iniciaram há quase uma década antes. Tudo começou pela necessidade de ensinar a chamada História de Melgaço a meus inquietos, inteligentes, falantes e inesquecíveis alunos/as.
Partilho em imagem a capa desse trabalho, o Reino de Mnemosine (fotos dos principais narradores e escritores, a maioria já falecido) e capas dos três capítulos que constituem a dissertação.
Ao final dessa pesquisa, eu descobri o PODER DA PRESENÇA DE SÃO MIGUEL ARCANJO na História Local e suas articulações com a História Social do Arquipélago de Marajó, da Amazônia, do Brasil e do Mundo.
A trajetória desse santo, a devoção, os milagres, a forte e impactante festividade com foliões, procissões, promessas, bingos, leilões, concurso da rainha da festa, festas dançantes, marreteiros, arraiais, vesperais, enfim, um cotidiano complexo de histórias sagradas e profanas entre sociabilidades e conflitos, colocaram-me diante da Presença da Ordem Religiosa dos Agostinianos Recoletos de Madri, Espanha.
Mas essa é uma outra história a ser compartilhada em outros momentos.
Prof. Agenor Sarraf
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