O Editor do Blog do Riba, que também é Professor por mais de 30 anos, escolheu três textos, considerados melhores e de próprio punho, publicados nas redes sociais durante a data de hoje, pedindo autorização para os autores, quando comemora-se o Dia dos Professores e parabenizo os professores selecionados, que são os seguintes:
Nas alegrias desse momento festivo, percebemos que nossas emoções evidenciam a dimensão dos lastros de amizade formados no universo da docência em territórios paraenses, através do Sistema de Organização Modular de Ensino (SOME). Juntos percebemos que ensinar vai muito além de transmitir conhecimento; se não envolver inúmeras provocações que desafiem a inércia dos sujeitos que transformam a sociedade, perde em grande parte seu sentido. Juntos amadurecemos diante dos gritantes desafios de fazer da Educação, uma ação consequente na imensa territorialidade da Amazônia paraense, especialmente com os povos dos campos, das ilhas, quilombolas, etnias diversas... nos fizemos fortes, mesmo no cansaço dessa estrada, politicamente enlamaçada. As dificuldades desse processo fizeram nascer em nós um misto de valentia e docilidade, de fúria e generosidade... de um monte de coisas antagônicas e necessárias. Me arrisco a dizer que dos 15 anos como docente no SOME e outros 16 anos nas escolas de Belém, nunca vi e vivi elo tão forte e tão alentador para as lutas que travamos, contra a tirania de sucessivos governos que representam frentes de impedimentos para o avanço social do proletariado através da Educação. Juntos aprendemos a parear o exercício da docência com nossos estudantes, sem se ausentar dos movimentos reivindicatórios de rua por educação de qualidade, dignidade salarial e justiça. Nos nossos distanciamentos espaciais e temporais, é nas ruas que nos últimos 19 anos, temos nos encontrado e de lá, saem nossas sugestões para esses reencontros de alegria e fortalecimento.
Aproveito esses registros para parabenizar meus amigos professores, minhas amigas professoras, todos e todas que trabalham com educação, em qualquer lugar, inspirados/as nos sentimentos de "Educação: compromisso, responsabilidade e luta"; pra vocês, tenho todo prazer em dizer: FELIZ DIA DOS PROFESSORES E DAS PROFESSORAS. Estou feliz pq vcs são muitos e muitas 🎓🎓💐😘😘
Profa. Marina de Sousa Costa, Mestra em Educação, Universidade de Évora/Portugal. Graduação em Biologia(UFPA) e Educação Física(UEPA). Professora por 15 anos(1988-2003) pelo Sistema de Organização Modular de Ensino- SOME e atualmente é docente no Centro de Educação de Jovens e Adultos(CEEJA).
Sempre que me pego pensando sobre
como a vida me trouxe a condição de Professor, se fecho os olhos, a primeira
imagem que me vem é a de minha primeira professora. Tia Dadá, como era
conhecida, morava em uma pequena casa de madeira na passagem Alvino, rua de
chão batido no bairro do Guamá, periferia de Belém. Na casa de dois compartimentos, a sala
improvisada, quadro velho de giz dependurado na parede, espaço usado para
receber os meninos e meninas da área que sonhavam em aprender as primeiras
palavras. Corpo franzino, envelhecido,
curvado, braços longos, nas mãos os sinais do tempo, passos lentos, cabelos
escorridos, fala compassada, olhar sonhador apesar da falta de tudo. Suas mãos
firmes guiavam os nossos, primeiros traços, segura o lápis, apaga, faz e refaz, dedicação, paciência,
resiliência. Entre um tracejo e outro,
um grito externo, estridente: DONA DADÁ, CARVÃO... As palavras rabiscadas no
quadro eram copiadas com diferentes graus de dificuldade, enquanto isso, na
parte dos fundos da casa, as mãos habilidosas mediam o carvão em uma lata
batida. Lá se vai o comprador correndo, um moleque qualquer fedendo de sol,
ficava o cheiro de poeira escura, tijuco seco e vinha a angústia de que a
professora esquecesse de lavar as mãos e tocasse o caderno. Sua proximidade era
um misto de receio pelo erro e respeito absoluto. A tarde avançava rapidamente
nas cadeiras germinadas, calor, os netos passando pra lá e pra cá. Interrupções
contínuas pelos chamados e então a maior lição: partilhar. Chegava a hora do
lanche, sabedora de que muitas merendeiras vinham vazias de casa, por sinal
para alguns este era um item de luxo, já era muito poder trazer o caderno
confeccionado com papel de pão reaproveitado da taberna do Seu Zé, ou do
comércio do crente, objeto cuidadosamente arrumado no saco de compras, lavado
para este fim. Atenta a situação desigual, Tia Dadá, como sempre fazia pedia
para que todos os que dispunham dividissem, compartilhassem a merenda, como se
dividia também o lápis, o caderno e o apontador. Daqui a pouco era hora de
correr de volta pra casa e sempre que possível fugir para o futebol, praticado
sobre a casca de castanha recém aterrada. Os anos se passaram, fui para o
Internato São Benedito, Escola Sílvio Nascimento, Monsenhor Azevedo, Edgar
Pinheiro Porto e mais tarde, cabeça pelada, pitiu de ovo cheguei a UFPA. Em todos estes lugares muitos professores me
inspiraram. Ainda hoje, guardo a imensa vontade de abraçar a Tia Dadá e poder
lhe dizer que honrei todo o seu esforço, como o de outros tantos professores
que a vida colocou em meu caminho e que me presentearam com seus
ensinamentos. Se pudesse agora abraçaria
a todos eles e gritaria que com muita luta e orgulho me tornei PROFESSOR, e que
venho ajudando a semear sonhos, ajudando a construir um mundo melhor. Com a lembrança de Dona Dadá quero homenagear
a todos os mestres deste país tão desigual, mas que labutam firmemente em
defesa de um mundo melhor, em particular, aos amigos professores que a
trincheira educacional me proporcionou. Seguimos na trincheira.
Obrigado pela publicação do meu texto, assim temos mídias alternativas que são importantes espaços de informação fora dos grandes conglomerados mudiaticos
ResponderExcluirO Blog do Riba se dispõe a postar as produções dos trabalhadores e trabalhadoras em educação e suas experiências nas práticas pedagógicas, Professor Valdivino.
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