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terça-feira, 2 de novembro de 2021

CRÔNICA DE UMA POESIA-ESTRADA

 


 

Há muitas coisas que podemos fazer na vida, e há muitas coisas que poderíamos ter feito e não fizemos, ou simplesmente não fazia parte de nossas prioridades. Uma resposta simples para uma pergunta talvez não tão simples, quando indago a mim mesmo. Por quê? Eu perguntaria. E, talvez alguém se pergunte também. Eu não sei. Só sei que nem tudo está sob nosso controle. E é melhor que seja assim, por que, caso contrário, nos tornaríamos pessoas profundamente metódicas, sistemáticas, exageradamente meticulosas, preocupadas com tudo o que poderia acontecer daqui a um minuto, uma hora, um dia, uma semana. Pra tudo há um limite diante da natureza que nos envolve, e com o ser humano não é diferente, pois correríamos sérios riscos de nos transformarmos em máquinas programadas para cumprir tarefas. O homem não é assim. Não pode ser assim. Não é formado por fios, nem baterias, nem parafusos. Nosso sangue não é composto de graxa nem óleo. Somos seres pensantes, com livre arbítrio, liberdade de pensamento, transformamos a natureza em cultura, produzimos conhecimento. Então, o homem não pode se deixar dominar por desejos perfeccionistas. Das vinte e quatro horas que temos em um dia completo, oito horas, aproximadamente, passamos dormindo, outras oito horas gastamos trabalhando. O que sobra? Um resto de tempo entre intervalos de horas quando nos encaminhamos para o local de trabalho, o intervalo do almoço, e o tempo que temos depois das seis da tarde até a hora de dormir. Fora isso, tem também os finais de semana e feriados.


Mas tem um tempo em que chegamos num momento da vida, naquela encruzilhada, que passamos a nos perguntar se o que fizemos da nossa vida realmente valeu a pena, se nos arrependemos de ter feito ou não algo, se nos arrependemos de ter tomado certas decisões, atitudes, de palavras ditas ou não ditas.


Percebem como é interessante e melancólico refletir sobre a vida? Sua brevidade ou longevidade? A vida poderia ser um conteúdo filosófico exposto e debatido em sala de aula, tratando de algo existencialista – quem sou, de onde vim, pra onde vou? Ou quem sabe poderia ser abordada sob a ótica de uma pedagogia conceitual que pode parecer mais abstrato que um sentimento amoroso de uma cantiga de amor medieval, entre um trovador e uma senhora? É assim que enxergamos a vida enquanto seres pensantes e dinâmicos?


A vida se assemelha a uma vela acesa que vai se desgastando aos poucos, numa luta constante contra a impetuosidade do tempo e do vento que tentam apaga-la. A vida é breve? Pra uns sim; pra outros, brevíssima; e pra tantos outros, nem tanto. O tempo de vida do homem hoje, em média, é de 70 a 80 anos. Um tempo em que a vida pode ser dividida em alguns ciclos: nascimento, infância, pré-adolescência, adolescência, vida adulta (juventude), maturidade, velhice, morte. O que dá pra fazer durante esses ciclos? Talvez muitas coisas, ou talvez quase nada. Depende do ponto de vista do próprio autor que deu vida ao seu autobiográfico. E aí se incluem as oportunidades, a imaginação e a criatividade. Cronologicamente, pra alguns a vida pode ser curta, mas psicologicamente pode ser bastante longa.


E tudo tem a ver com a passagem do tempo. O tempo Chronos e o tempo Kairós, que saíram da mitologia pra vir bagunçar a vida do homem pós-moderno. Onde eu estava anteontem? E ontem? E hoje? Onde estarei amanhã? Pobre homem que pensa que pode decifrar o futuro numa simples leitura da palma da mão, ou com pedras jogadas na mesa por algum guru, ou consultando as cartas. Tudo isso, feito por seres comuns, mortais, como todo mundo, na lida diária de levar pra casa o seu ganha-pão. E, assim, vamos nos iludindo, porque queremos comprar ilusões do vendedor de ilusões, que está aí pelas esquinas pronto para nos atender.


E, assim, os ciclos da vida vão se desdobrando, e vão deixando, também, rastros profundos, talvez inapagáveis. E, assim, foi comigo e com muitos outros professores do Sistema Modular de Ensino. E, assim, vai-se resgatando um ciclo: as décadas de oitenta e noventa. Períodos áureos do SOME, em que um professor teve a oportunidade única de conhecer, se não todo, mas uma boa parte do território paraense, sua gente, seus costumes, hábitos, rituais, festas populares, crendices, gostos, cultura, culinária, flora, geografia, história, sociedade, lendas, falares, etc. Mergulhamos num território miscigenado e saímos de lá enriquecidos culturalmente e como seres humanos. Tenho certeza de que aprendemos mais nestas comunidades - com essa gente que esperava tanto de nós - do que ensinamos. Nossas experiências de sala de aula, de tantos conceitos e teorias aprendidos aos pés de grandes educadores, pensadores, sociólogos, filósofos, intelectuais de todas as eras, certamente, foram enormemente complementados com os ensinamentos simples, do dia-a-dia, de nossos alunos e alunas, de seus familiares, da comunidade escolar, do dono da quitanda, do açougueiro, do atendente da padaria, da secretária que cuidava da casa dos professores, do seu Zé pescador, do Antônio feirante, enfim, de toda essa gente do interior. Uma troca de aprendizagem: levamos e recebemos conhecimento. Um misto de ciência e senso comum. Eu poderia dizer que isso é viver; é saber aproveitar a vida ou aquilo que ela nos oferece. Porque ela existe nas coisas mais simples... E as coisas mais simples, nos tornam pessoas melhores.


Num passado recente, lá estava eu percorrendo estradas e rios, comunidades e vicinais do território paraense. Sim, eu era professor do Sistema de organização Modular de Ensino, que todos conhecemos por SOME, da SEDUC, um projeto que, depois de tantas lutas, árduas lutas, dos professores, se transformou em política pública na área da educação. Uma educação que tem custado o sangue, a mente, o coração, o tempo de vida de cada professor que fez ou faz parte dessa história, catalogada no norte do Brasil. Respondam se puderem: que outra política pública uniu tantos professores em defesa da educação, ao ponto de se reencontrarem mesmo depois da aposentadoria? Mesmo depois de tantos anos passados? Mesmo depois de serem transferidos pra capital, pra escola regular e ficarem tantos anos, aparentemente, incomunicáveis? Em que outra esfera da educação aconteceu isso, a não ser no SOME? Sim, somente no SOME iremos encontrar essas deliciosas histórias reais de vida.


Ah, a mente!... A mente é o nosso tempo psicológico, uma caixinha de surpresas onde estão guardadas as nossas memórias, todas as memórias, sejam boas ou más. Não há computador de última geração que alcance, pelo menos, 1% da capacidade da mente humana. Quem programa o computador é a mente humana. Quando abro essa caixinha, ela me leva pra onde eu quero. Porque o tempo, ali, ao contrário do tempo Chronos, fica estagnado, à minha disposição.


Então, me vejo viajando pelos municípios do baixo Amazonas. Parto das docas de Belém, no navio Rodrigues Alves, subindo o rio Pará. Passo por Breves, Gurupá, Porto de Moz. Peço uma atenção especial para o que presenciei no município de Breves. Quando a embarcação estava para aportar naquele município, a fim de carregar e descarregar mercadorias e gente, eu e todos os passageiros nos deparamos com uma cena que eu jamais poderia chamar de espetáculo, pois aquilo só me fez enxergar de forma crua e contundente, os dramas reais da miséria social que nossa gente ribeirinha enfrenta no dia-a-dia. De um lado e de outro do navio, vinham ribeirinhos, homens, mulheres, crianças, adolescentes, mulheres com crianças no colo, todos em pequenas canoas a remo, outros em rabetas com motor, arriscando suas próprias vidas na tentativa de receber as migalhas de objetos e alimentos jogados nas águas por passageiros. Eram pacotes de bolacha, frutas, roupas, biscoitos que aqueles ribeirinhos disputavam, como se daquilo dependesse a sua própria sobrevivência. Eles se apegavam de tal forma à embarcação, como se fossem filhos à espera do pai que saiu pra buscar o almoço do dia. Quando nos deparamos com uma cena assim, não tem como não nos perguntarmos: o que essa gente tomou no café da manhã? Será que tomou alguma coisa? Será que comeu um pedaço de pão? E o que teria para o almoço de hoje? E pra janta? E pra amanhã? Perguntas sem respostas que fazem cicatrizes profundas no coração, principalmente diante da incerteza no que virá no dia seguinte.


Todos os municípios têm as suas individualidades, as suas tradições, as suas histórias reais e crendices, suas festas populares, suas paixões, uma hospitalidade típica de paraense nato, que não se melindra em abraçar, apertar a mão, dar boas vindas, oferecer uma rede pra gente deitar e descansar depois de uma longa viagem. Sim, o paraense típico não se envergonha de soltar um grande “paid’égua” de contentamento, de dizer “porreta” quando algo dá certo, de chamar um estranho de “parente”. Essa é a nossa rica linguagem que só se aprende aqui. É isso o que fascina nas nossas andanças; é isso que nos faz querer ficar mais tempo; é isso que nos faz querer dar o melhor de nós em favor da educação deste povo.


Que riqueza que é esse estado, que mais parece um país dentro do Brasil, com cultura própria, mas também com cultura imigrante, de gente que veio lá do sul do país e fincou raízes aqui, trazendo suas crenças, seus costumes, sua cultura, sua culinária, suas danças e músicas com ritmos regionais que lembram suas raízes. São esses encontros entre culturas diferentes que fazem do Pará um estado tão diversificado.


Certa vez, em Gurupá (da junção do tupi guru (boca) e pa (larga), ou seja, boca larga), município localizado perto da confluência dos rios Amazonas e Xingu, a oeste da Ilha do Marajó, eu e o professor Jorge Tostes, fomos almoçar, como acontecia todos os dias, em um restaurante da família de uma aluna nossa, que ficava à beira-mar, de onde podíamos vislumbrar uma típica paisagem de cidadezinha do baixo Amazonas: um rio imenso de perder de vista, e barcos ancorados no trapiche, com movimento de pessoas que iam e vinham, vendedores, marreteiros e moradores que estavam ali pra fazer a feira, muita gente falando e gesticulando. No restaurante, aguardávamos o nosso almoço: peixe frito, feijão com charque, arroz branco, farinha d’água e açaí, prato típico da região. Ah! Não posso esquecer de registrar que o almoço era por conta da prefeitura, de acordo com o convênio que existia entre ela e a SEDUC.


Logo depois, chegou ao local um jovem rapaz com sua jovem esposa. Ele tinha sido aluno do curso de contabilidade do SOME em Uruará, município pertencente à mesorregião do Sudoeste paraense, perto de Altamira, na rodovia transamazônica. Ela havia sido minha aluna do curso de magistério. Conheci-os, durante as aulas, quando ainda namoravam. O rapaz era funcionário dos Correios. Como ele havia recebido uma carta de seus superiores, transferindo-o para Gurupá, e, não querendo ficar tão distantes um do outro, os dois apressaram o casamento e bateram asas. Conversei com eles um pouco, foi um encontro prazeroso que rendeu belas recordações de Uruará. Quando deixaram o restaurante, outra aluna, filha da proprietária do restaurante, foi me perguntar se eu era poeta, assim, de cara. Fiquei surpreso e perguntei quem havia dito isso a ela. A resposta foi: o jovem casal dos Correios. Disse que eu escrevia muitos poemas, que pendurava na parede da sala da casa dos professores; que eu havia feito um poema para Uruará, e que me chamavam de o poeta da Transamazônica.


Que bom – pensei – que nossas palavras são lidas e nossas vozes são ouvidas, mesmo quando pensamos que escrevemos e falamos pra nós mesmos; mesmo quando pensamos que ninguém está escutando ou lendo, devemos acreditar que, no meio do burburinho da multidão, sempre há alguém que nos ouve, que nos lê.


Naquele tempo – décadas atrás – a poesia embelezava as paredes da casa dos professores. Era uma poesia itinerante, com temáticas que abrangiam o tempo do autor, o ambiente, o contexto social, histórico, geográfico e cultural. Por que não falar da Amazônia? Das estradas de rios e igarapés, das crendices, das superstições, dos falares únicos? Por que não falar da miséria social, da grilagem de terras, do desmatamento das florestas, da politicagem do “toma lá, dá cá”, do amor, da família, da separação, da distância? Tudo isso cabe na poesia. A poesia itinerante é um registro vivo das mazelas e bonanças encontradas nos vários rincões do estado do Pará. Oh, como é glamorosa a literatura! Como ela entra no cotidiano das pessoas, transformando a história em arte, a sociologia em pensamento crítico rebuscado, a filosofia em texto literário tão simples e tão imponente, que leva o ser humano a enxergar a si e ao âmbito social como figuras que se completam e se harmonizam entre si.


Naquele tempo, o atelier do professor-poeta eram as paisagens, as pessoas, o lugar, a comunidade; e o seu salão de exposição, as páginas do livro, eram as paredes da casa dos professores, fossem elas de concreto ou de madeira, não importava, a poesia estava lá, pendurada numa folha de papel chamex, escrita a lápis ou caneta.


Ah, saudade dessa poesia-estrada! Que rico material histórico, literário, antropológico, social e cultural ela nos deixa como legado; que momentos inusitados na vida da comunidade preencheram o dia-a-dia do professor-poeta.


Uma vez, quando nos despedíamos dos alunos e amigos no trapiche de São Miguel de Pracuúba, uma vila do município de Muaná, quando eu e o professor Jorge Tostes, já nos agasalhávamos na proa do barco que nos levaria de volta a Belém do Pará, a diretora da escola, esposa do agente distrital e cunhada da prefeita, nos idos de junho de 1998, apareceu, de repente, correndo pela rua de ponte de madeira – como que palafitas que teimam em resistir aos ataques das águas – trazendo um papel chameguinho na mão, gritando: Peraí! Peraí! Gente, o professor é um poeta! Ele compôs um poema pra nossa comunidade!


Foi assim a nossa despedida de São Miguel de Pracuúba. Aquela voz ecoava em meio ao barulho do motor e, enquanto o barco começava a se afastar do trapiche, a diretora acenava pra gente, dizendo: “Obrigada!” Aquele seu gesto simples, espontâneo, pagava todo o nosso salário. Era assim que eu pensava.


O poema a que ela se referia era este:

           São Miguel”

Ó ditadura das águas!

    Mareja... Mareja

      Sob as palafitas heroicas

        Encravadas no teu Marajó...

 

                Vem! Tortuoso rio

            De lendas e furos...

      Emporreia com tuas vagas

O caipira acabrunhado

    Margeando os icebergs

         Folheados de verde cor.

 

            Vai! Leva o imponente gaiola

                   Atado de redes e de gente

                          Como amontoado de roupa

                    Estendida no quarador

            Do teu quintal...

 

Lua, raios, trovões!

      Clareai os campos de São Miguel,

            Inundados de orvalho,

             Derramando o lirismo melancólico

       Que se desprende do fundo da alma

Da alma do poeta.

 

Como não se deixar influenciar pelo lugar que Deus te deu oportunidade de conhecer? Como não escrever sobre essa gente, essa comunidade, esse rio? Se eu não tivesse ido ali, o poema de São Miguel jamais existiria, jamais seria escrito, nem ele, nem outros tantos que refletem a existência dessas comunidades, muitas vezes desconhecidas do povo da capital paraense.


Quem eram e quem são esses poetas sem nome, que ajudaram a construir a poesia estrada? Eis o professor Medeirinho que canta a Amazônia, os falares e conversas caboclas, a fauna e a flora paraense; eis o professor Nonato Bandeira, cujos versos viram poemas musicados; eis o professor Arnaldo Rodrigues, que enobrece Belém e a bucólica Mosqueiro com seus versos talhados; eis a professora Cristiane Margareth, que cantava e decantava o tema do amor, da paixão; eis o mestre Edgar Castro com seus versos filosóficos que emitem uma reflexão necessária; eis a professora Eulália Vieira, que engrandece o tema da família, do amor; eis o professor Cláudio Paixão, que vem trazendo cantos mitológicos, influenciados pela sua própria formação acadêmica; eis o professor Ariosnaldo Andrade, que nos deixou seu legado in memoriam; eis o professor Silvio dos Anjos, que tem nos blindado com seus poemas e romances; eis o professor Eládio Delfino que, além de poeta, dirige o jornal do SOME; eis o professor João Furtado, que canta e nos encanta com seus versos realistas, abstratos, e outros que enaltecem a figura feminina; eis o professor Arodinei Gaia, cametaense da gema, que canta, conta, cria e recria com seus relatos amazônicos cheios de costumes e historicidade; eis o professor Nelson Fonseca, da disciplina Língua Portuguesa que, mais que mestre, era poeta; eis a professora Valdineia Rocha, que criava versos sensíveis, doces que nem ela, e reflexivos; eis o professor Jorge Paulino que dava vida aos versos e o mais fino trato; eis as professoras Antônia Negrão e Maria do Carmo, professoras da velha guarda, mas também poetisas, cujos versos estão por aí, a esvoaçar.


Onde estão estes poetas e essas poetisas da velha guarda? Por onde caminham? Pois muitos deles estão na primeira lista do projeto de Antologia Poética do SOME, o primeiro livro com participação dos antigos e novos professores. Um projeto que começou seus primeiros passos lá, na década de 1997, e aí já se vão vinte e quatro anos, mais de duas décadas.


Depois que começaram a cortar direitos dos professores que atingiram diretamente seus salários, muitos pediram transferência pra capital, ou foram forçados a pedi-la; outros se aposentaram; outros foram se aperfeiçoar na pós-graduação; outros morreram; outros permaneceram no SOME, e ainda estão até hoje, como é o caso do professor Antônio Medeiros, o Medeirinho, de Língua Portuguesa, que continua produzindo belas poesias, com um acervo incontável. Mas e os outros? Os tantos outros? A professora Eulália foi fazer o seu pós-doutorado em Portugal; o professor Nonato Bandeira aposentou-se e mora no bairro do samba e do amor, e continua compondo sua poesia de amor e de amigo musicalizada; o professor Arnaldo continua trabalhando em Belém e produzindo músicas e poesias; a professora Cristiane Margareth aposentou-se e lutava contra um câncer; o professor Edgar Castro estava atuando em uma escola pública no Tenoné, mas continua produzindo poesia; o professor Cláudio Paixão ainda atua em escolas na Região Metropolitana de Belém; o professor Ariosnaldo faleceu a alguns anos; o professor Nelson Fonseca pegou o Ita e sumiu, não se tem notícia; a professora Valdineia Rocha também sumiu pelas paragens de Belém; sobre as professoras Antônia Negrão e Maria do Carmo não se tem notícia.


Um dia, essas mentes, essa gente se encontrou e se identificou entre si, e surgiu a vontade de juntar os pensamentos, as ideias, os versos, e essa vontade foi crescendo, crescendo até virar um projeto de vida dos professores-poetas do SOME. Então, surgiu a ideia de juntar numa coletânea a poesia-estrada produzida nessas andanças dentro e fora do SOME. A ideia está se concretizando, está tomando forma, e quando isso acontecer os poetas não serão mais sem nome, sem identidade, não serão mais como que uma sociedade de poetas mortos, porque o legado deixado por cada um deles ou delas, estará sendo declamado na sala de aula da capital e do interior; estará inspirando alunos e professores a lutar por aquilo que acreditam; estará sempre pregado na parede da casa do professor em algum lugar do interior, como em Açaiteua, distrito de Viseu, quando deparei-me com uma aluna em meu quarto, na casa dos professores, com papel e caneta na mão, olhos fixos na parede, copiando um poema pendurado e rascunhado em oito folhas de papel chameguinho, que dava quase do teto até o chão. Ela olhou-me rapidamente e disse: “concordo com tudo!”


O poema que ela estava a copiar era “O viseuense”. Mas isso, isso fica pra uma outra vez.

 

Marudá, 1 de novembro de 2021

Carlos Alberto Prestes

(Professor-poeta)


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