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sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Vila do Galho (Concórdia do Pará) : História e Memória




                                





Este trabalho desenvolvido pelos alunos do 1º, 2º e 3º do Sistema de Organização Modular de Ensino – SOME, da localidade da Vila do Galho, município de Concórdia do Pará é o resumo de pesquisas que foram realizadas, dentro do projeto executado Vila do Galho: História e Memória, sob nossa coordenação e apoio dos professores Mariza Castro, Valdir Guilherme e Flavia Perdigão.

Os alunos que participaram, foram:                

- Alcione Maciel
- Aline Araújo de Araújo
- Alanilson Farias Lima
- Anderson da Silva
- Antoniel Ferreira e Silva
- Carla Costa
- Deivide Farias Lima
- Djair Bezerra
- Edna Lima Maciel
- Elizângela Maciel Felizardo
- Emesom Trindade
- Francisco Trindade
- Gisele Maciel Felizardo
- Isabel Araújo
- José Rodrigo
- LeidianeSeabra Farias
- Lucas da Silva Alves
- Lucas Santana Batista
- Larissa Cardoso
- Maria Dulcelina Maciel Farias
- Maria Irene Maciel Felizardo
- Marivalda Cordeiro da Silva
- Nelton Farias da Silva
- Patricia da Conceição
- Raiana Maciel
- Raimundo da Conceição Farias Filho
- Renilson da Silva Silva
- Ronilson da Silva Silva
- Rosana Barbosa da Silva
- Santana de Jesus Silva Martins
- Stela Regina Silva Martins
- Vanise dos Santos Oliveira

                                                 
Histórico


Para a Diretora da Escola Municipal “Santa Maria III”, Rosa Lúcia Ferreira da Silva “segundo os antepassados, principalmente sua mãe, que ainda é viva, tem o igarapé principal chamado João, popularmente denominado de  Igarapé João,  sendo um afluente do  Igarapé Galho pela margem esquerda.  Esse nome se dá em virtude da sua configuração com Igarapé João se assemelhar a uma ramificação, como um galho de árvore”.  E continua: ”A Vila origina-se a partir da ‘Mãe de Deus’, que era um casarão construído perto do Igarapé, próximo a Vila atual. O aterro foi levado por eles mesmos, a casa foi feita através do trabalho braçal. Era uma casa muito bonita e segundo alguns moradores antigos,  possuía uma escada de dez degraus”. Segundo a informante “A sua família que é descendente de nordestino, já que sua avó era cearense e seu avô filho de português, vinha fugindo da calamidade no estado do Ceará em decorrência da seca e vieram se estabelecer por essa região. Demoraram alguns meses para chegar e apossaram-se das terras que eram do governo, e quando chegaram eram compostos de cinco famílias: A família Araújo descendentes de portugueses, a família Lima de cearenses e mais três famílias apossaram-se do baixo galho. Construíram suas casas e ficaram ali morando; enquanto aqui, Vila atual, a família Lima e a família Araújo construíram a Casa ‘Mãe de Deus’, onde moravam as duas famílias. Tiveram filhos, os quais foram casando e construindo outras casas, ampliando assim a localidade”.







 E a nossa Diretora continua: ”Quanto ao aspecto econômico, os nossos avós e pais criavam bastante, sempre tiverem sua vaquinha, o quarto do boi, sempre tiveram a ideia para a retirada do leite, para a sobrevivência, além de outros tipos de animais. E se tratando em outro aspecto, das atividades produtivas, entre eles, se juntavam para fazer dez tarefas de roça, era mata, faziam mutirões, colhiam muito arroz, eram doze cavalos para passar o arroz para o comércio, inclusive o pagamento desse arroz como prestação de conta era realizado na safra. Trabalhavam, também, com a mandioca, passavam noites e noites mexendo a farinha e entregava para os marreteiros que chegavam até a casa de farinha, como o meu primo que mora em São Domingos do Capim, O Nenê Teixeira, que fazia esse tipo de atividade, interessante que ele chegava cedo à casa da farinha e contava o dinheiro de pagamento da farinha, quando os proprietários da farinha chegavam pegavam a bolsa , denominada de “colchete” e começam a contar o dinheiro que estava na bolsa para verificar se estava certo, pegavam a bolsa iam embora. importante frisar que a bolsa ficava lá, e ninguém mexia, podia passar, ninguém mexia. Porém, nesse momento, era muito difícil, para você sair para Belém, levava quatro dias, saia sete da manhã, daqui até sua “Duca” Amaral, mais conhecido como Porto Grande, onde hoje é do Seu Faustino, onde o Igarapé já era maior, com maior profundidade, daí pegava o casco até a foz, onde levava três horas de remo até chegar à foz do rio Bujaru para pegar o barco grande que levava até a capital do estado”.

Para Seu Faustino Gomes da Silva, líder comunitário da comunidade “A denominação Galho foi dado pelos primeiros moradores, entre eles um Senhor chamado de ‘Passarinho’, e na vila tinha poucos moradores, já que foi formada de algumas famílias que vieram fixar por essas bandas, já que a comunidade evoluiu de certo tempo pra cá”.  E aborda “Hoje, a comunidade do Galho esta avançada, cada vez mais aumentando, antes tinha apenas cinco casas, hoje, já tem na faixa de cinquenta casas, logo esta evoluindo, muito diferente. As casas e a juventude eram bem pouquinho, assim como a Igreja Católica quando veio, quem trouxe foi o Padre Zezinho, primeiro que apareceu, era do município de Bujaru. Começou a conversar com o povo e aí começou os encontros, a catequese, antes não tinha nada disso, já que essas questões religiosas eram tudo realizado na “Grande Santana”, ou seja, a Igreja de Santana, em Bujaru, primeira Igreja que foi fundada por essa redondeza, A partir daí foi sendo criadas outras Igrejas e Capelas, expandindo o Catolicismo na Região. A festividade religiosa das comunidades era na vila de Santana, no período todos se organizavam iam pelo rio, onde tirava uma hora de viajem, para participarem da Festa, dando muita gente, já que iam para um só lugar”.






E continua “Nesse período, o povo daqui trabalhava apenas com a roça, principalmente com a mandioca, o arroz e o milho”. A partir daí, começaram a plantar o açaí, a pimenta entre outras coisas como o projeto do Dendê e do Cupuaçu, que contribuem bastante na renda familiar, porém gostaria de ressaltar que uma parte significativa da juventude, pelo fato de ser um trabalho braçal, está deixando a agricultura e indo residir nas cidades, ou se dedicando somente ao trabalho do Dendê, trabalhando como mão-de-obra na multinacional, que é subsidiária do Vale do Rio Doce, a BIOVALE ou BIOPALMA, que ocupa grandes quantidades de terras de alguns municípios como Bujaru, Concórdia do Pará, Moju, Tailândia. Dessa “forma, teve gente que vendeu suas terras e, estão hoje trabalhando na empresa, como empregado, deixando de produzir ou trabalhar nas atividades tradicionais da região, encarecendo, assim, os preços dos produtos. Para se tiver ideia, enquanto o preço da farinha, aqui custa R$6,00, em Belém, capital do Estado ela custa R$9,00. Subiu cento e cinquenta por cento em relação ao mesmo período do ano passado”.

Para o informante Faustino Silva a relação da Vila do Galho com a cidade de Concórdia é muito forte, já que depende diretamente dela fazendo com que as “pessoas caiam para lá”.

Entre as localidades que tem conexão com a Vila do Galho, já que tem um número significativo de alunos na Escola Municipal “Santa Maria III” é o Igarapé João. Segundo os antigos moradores esse nome está relacionado com a existência de uma família nesse lugar, as pessoas moravam longe, não tinham vizinhos e a principal liderança dessa família se chamava João Amaral, em homenagem a ele, chamou-se Igarapé João, sendo que o igarapé possui vários braços indo desembocarem no rio Bujaru. Para os informantes, “antigamente não tinha ramal, as pessoas andavam só pelo caminho, canoa e barco, não tinha escola para os professores ensinar as crianças. Com o passar do tempo, tudo foi mudando para as famílias que fixaram residências por aqui. Com a abertura do Ramal fizeram escola e algumas mulheres foram estudar para a cidade de Bujaru e se formaram para o magistério, qualificando os professores daqui de nosso lugar”.

Entidades e Movimentos Sociais







O Sistema de Organização Modular de Ensino – SOME, possui um raio de influencia muito forte nas áreas adjacentes da Vila do Galho, por isso a importância e a necessidade de frisar as comunidades que o projeto SOME atende. Entre as comunidades, nós temos, além da Vila do Galho, Campo Verde, Igarapé João, Vila Castanheira, Ipanema, Sítio Cajueiro, Livramento II, Baixo Galho, Nova Inácia, Santa Maria da Paz e Igarapé Dona.


A comunidade Campo Verde foi fundado em 1979, seus fundadores foram Lázaro dos Santos Silva e Manoel Trindade, A religião predominante é a Igreja Católica. Antes de dezembro de 2010, as rezas dos fiéis eram numa Igreja de madeira, onde não cabiam todos que gostaria de participar dos eventos religiosos. Com a inauguração da Igreja de São Thomé, nessa data, já que houve participação efetiva da comunidade na construção, foi possível fazer de alvenaria. Os santos referenciados pelos comunitários são: São Thomé e Santa Maria. No mês de maio, além do mês mariano é a festa de Santa Maria; já no mês de junho é comemorada a festa de São Thomé. Segundo os alunos-pesquisadores, na comunidade tem quatro grupos de evangelização, sendo que o primeiro grupo denominado de Fé em Deus foi fundado em 1973, tem quarenta anos, sendo seu fundador “Zito Apolinário”. Em 1974seu “Zito Polinário” funda outro grupo chamado de Deus Por Nós; logo após Sancre fundou o grupo São Thomé, fundado em 1982, que tem trinta anos. Além desses, tem, também o Movimento de Mulheres, sendo sua fundadora foi a Sra. Maria Cristina; a Catequese, Crisma e o Movimento Jovem; sendo as rezas nos dias de sábados. Na escola, tem alunos de 1ª a 4ª séries; dois campos de futebol, o campo verde feminino e masculino, o Grêmio Masculino e a Arquinec, que significa Associação Remanescente de Quilombo Nova Esperança de Concórdia do Pará, fundada em 22 de dezembro de 2001, sendo seu fundador o Irmão Pedro, que arrecada por ano R$ 1.200,00, que agora em 2013, com o Programa Minha Casa Minha Vida, com três projetos assinados que proporcionará a construção de noventa e um (91) casas. Com quatro projetos, a comunidade Campo Verde foi à primeira da região a conseguir o título coletivo.


Em 12 de dezembro de 1988, foi feito o lançamento da pedra fundamental da congregação, que foi denominada de Nova Aliança, pelo Pastor Carlos Bittencourt, da Assembleia de Deus, Campo de Nova Conduta. 


Levando em consideração a fundação do Assentamento Colônia da Nova Inácia comunidade surgiu a partir das necessidades de algumas famílias que não tinham um pedaço de terra para trabalhar. Deu-se a ocupação da grande propriedade que estava desocupada, sem nenhum trabalhador, havia muitas matas e onde hoje é a Vila era um grande pasto. Com a ocupação possibilitou a chegada de novas famílias de outros municípios ocupando novos terrenos, loteados nesse momento. Foi no dia 15 de dezembro de 2003, com a chegada de 84 famílias, sendo 63 em “RB”, que residiam na área doada pelo governo federal, que contaram com o apoio do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Concórdia do Pará. Fundaram a Associação dos Trabalhadores do Assentamento e seu deu a primeira eleição da primeira diretoria e conselhos fiscais, sendo eleito o Presidente o Senhor José da Conceição da Silva Pinto e o Vice-Presidente o Senhor Luiz Rondam Gomes de Souza, com apoio do governo. Construíram as casas dos assentados, dando, então, formação do núcleo da Agrovila.


Nova Inácia em virtude do igarapé, que tem nome Inácia e Nova, pela conquista de transformações de um lugar sem habitantes, transformando-se em um lugar novo, com características novas. E as conquistas prosseguiram, os assentados foram contemplados com o Agente Comunitário de Saúde (ACS), e Projetos como o Pronaf A, o qual ajudou muitas famílias, depois foi feito a demarcação dos lotes, em seguida as estradas, a energia elétrica e a escola, também foi feito um campo de futebol, foram construídas duas igrejas, sendo uma católica e a outra evangélica, e um posto de e assistência técnica para os agricultores, surgiram, ainda alguns comércios e alguns bares.


 Quanto à escola, no primeiro mandato de Prefeito Elias, foi construída com duas salas de aulas, uma secretaria, dois banheiros e uma copa. Sendo a primeira Diretora a Professora Lúcia. As professoras Núria e Meris completavam o quadro de educadoras que compõe a escola de Nova Inácia.


Considerando o campo de futebol, para a prática de esporte e lazer da comunidade. O eleito o primeiro presidente foi o Senhor Geraldo da silva Pinto e outros companheiros que ajudaram na estruturação e organização do São Raimundo Futebol Clube.


A Igreja Católica foi fundada com a chegada de uma família que veio de Santa Maria do Pará, sendo o padroeiro e referência da família São Raimundo. Na coordenação ficaram o Seu Raimundo e sua esposa Walderina. Nessa mesma época, fundam a catequese, que tinha como professora de ensino religioso sua filha Isabel.


A Assembleia de Deus, no seu início na comunidade de Nova Inácia, teve um ponto de pregação, que tinha como dirigente o Senhor Serverio e contou com a contribuição dos irmãos e fizeram uma pequena congregação, que foi denominada de Novo Sião.


O comércio no assentamento se destaca o assentado João Moreira e a Dona Ângela que até hoje mantém seus comércios. Para o Seu Oreste Rodrigues Farias “Antes era uma área de terra muito grande que não havia nenhum morador. Essa área de terra era do senhor Raimundo Gaspar. Ele não plantava nada só tirava o que tinha na terra, que era a madeira. Daí então que chegaram os ‘invasores’ que começaram a lotear a terra. Pra essa terra, chegaram capixabas, piauienses, maranhense, e eu e meus amigos e filhos entramos nessa ‘barca’”.  E frisa “No dia 15 de dezembro de 2003, no seu barracão foi fundado a primeira Associação, que contou com a participação de vários moradores”.


Em se tratando da comunidade de Santa Maria da Paz, consideramos que na época de 1999, surgiu a Associação na comunidade. O INCRA e o Sindicato dos Trabalhadores, juntamente com o povo do assentamento fundaram a Associação ATRANSMA, pois nessa época existia um projeto para o assentamento, mas o povo só poderia receber recursos do projeto, se legalizassem a associação, o que aconteceu.


Nesse momento INCRA, Sindicato e os comunitários se reúnem para a escolha da direção, incluindo Presidente, Secretário, Tesoureiro e outros que representam a comunidade até hoje. A partir desse momento, a Associação passou a ser reconhecida, tendo mais direitos e recursos para o povo da localidade. Segundo uma comunitária: “Começou a ter cursos, onde ensina muitas maneiras de ajudar a associação na renda, como criação de galinha caipora, hortaliças, fabricação de pães e outros”. 



Para o líder da Associação dos Remanescentes Quilombolas, membro da comunidade do Cravo e Professor de Língua Portuguesa Elias Borges Santana em entrevista frisou “que a ponta pé inicial da criação da Associação partiu de dentro das comunidades, com as lideranças e naquele momento foi uma necessidade, já que trabalhavam em forma de mutirões, logo as Associações começaram a defender suas bandeiras como a terra e políticas públicas para contemplar interesses que venha do poder público”. E continua “Entre os benefícios tem a titulação de quatro comunidades: Dona, Campo Verde, Ipanema e Santo Antônio. Elas foram tituladas por muita pressão das comunidades, das principais lideranças que não arredaram pé da luta e continuam arregaçando as mangas para o bem das diversas comunidades”. Para o informante, das comunidades que são existentes no município de Concórdia do Pará, 60% são comunidades quilombolas e hoje deveríamos ter pelo menos 12 comunidades tituladas, o que não aconteceu em virtude do processo burocrático, junto ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA. Para ele “A comunidade do Galho é uma localidade que falta assumir enquanto comunidade quilombola, apesar de alguns membros acharem que não se identificam”. Para o informante “As comunidades estão organizadas politicamente, ou melhor, as comunidades têm muito orgulho por fazerem parte da Associação, daí a importância da Associação dos Remanescentes Quilombolas de Nova Esperança de Concórdia do Pará - ARQUINEC e a Associação dos Remanescentes Quilombolas do Cravo – ARQUIC. As outras comunidades que não são tituladas são certificadas e reconhecidas pela Fundação Cultural de Palmares de Brasília, órgão vinculado ao Governo Federal, mas fica a mercê de grileiros e hoje com o projeto da BIOPALMA, tomou conta de boa parte dessas terras e a gente sabe que área de preservação em terras quilombolas não pode ser ‘invadidas’. E afirmo que se não fossem essas entidades, com certeza 90% dessas terras não estariam nas mãos dos filhos ou verdadeiros donos delas”.




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