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sexta-feira, 8 de abril de 2011

História de um cinquentão

                                                         
                                                                                              Valdivino Cunha da Silva *


O filósofo grego, Aristóteles, disse que o homem é um ser social e é mesmo. Não ouso contrariá-lo. Há poucos dias completei 50 anos, aliás, eu e um conjunto de pessoas que completaram comigo esse meio século de existência, porque ninguém completa  50 anos sozinho. Não me refiro só àqueles que como eu, nasceram no finalzinho da década de 50, mas também aqueles(as) que quiseram que eu vivesse e foram muitos, aos milhares. Alguns deles, muito próximos de mim, sangue do meu sangue, outros, ilustres desconhecidos, anônimos, mas, muitíssimos significativos para minha vida. Será que eu estaria vivo se não fosse a parteira que cortou meu cordão umbilical, a enfermeira que me aplicou vacinas? Minha mãezinha querida que me deu infinitas mamadas?      
                     

A idéia de tempo precisa ser relativizada, mas, deixando o relativismo de lado, lá se foram 50 primaveras. Ao mesmo tempo em que parece que foi ontem, não foi, afinal, no espaço de 50 anos muitas coisas extraordinárias aconteceram, pois, foi nos últimos 50 anos que o homem foi a lua, criou a formula da pílula anticoncepcional- uma revolução no mundo feminino- a queda do muro de Berlim,  prisão e liberdade de Nelson Mandela, a  Revolução Cubana, a ascensão do primeiro operário a presidência da república brasileira, a morte de Luther King,  o atentado às Torres Gêmeas, ... e tantos outros acontecimentos extraordinário do homem neste últimos 50 anos, e até deu tempo de casar-me duas vezes, ter uma filha e adotado outro.


Como estes anos se passaram rápido! Nessa passagem, ficaram as marcas, marcas de uma vida, de quem viveu 50 anos. Algumas dessas marcas ficaram registradas nas fotografias e na mente. Nas fotografias hoje amareladas pelo tempo ou penduradas numa parede, ficaram lembranças de seres queridos que um dia, em momentos de alegria, dividiram comigo um click fotográfico, alguns deles já partiram para sempre, outros, até hoje, dão-me o prazer de suas companhias. Quando me olho num espelho, percebo que meus cabelos quase se foram todos, restam poucos fios. As rugas, marcas do tempo, vieram sem serem chamadas e insistem em não me largarem e se multiplicam a cada ano que passa.


 Na mente estão guardadas belos momentos inesquecíveis desses meus 50 anos, momento estes que partilhei(e que ainda vou partilhar, acho) com pessoas maravilhosamente incríveis. Não são famosas, nem ricas mas nem por isso deixam de serem espetaculares, têm a essência daquilo que há de mais sublime no ser humano  e é por isso que os prezo tanto.


Esses meus 50 anos me fazem lembrar  de minha Infância pobre, do meu carrinho de pau, dos tombos que levei, das peraltices de moleque. Lembro da casa de barro, do quintal sem muros, das mangas que comi, do jogo de petecas e do futebol, minha paixão maior. Lembro do meu grupo escolar, da professora primária e dos amigos de infância, minha doce infância. Lembro de tudo aquilo que a mente de um cinqüentão acumulou ao longo desses anos. Sei que já não mais sou tão moço assim embora as estatísticas apontem que no Japão, Alemanha, EUA, e até do Brasil, estamos vivendo mais. Não me iludo, daqui pra frente, descerei ladeira a baixo, é o ritmo cruel da vida, ou seja, nascer, crescer desenvolver-se, depois vem o fim de um ciclo.


 Nesses meus 50 anos, acho que quase todo mundo é mais moço que eu, não que os invejo, pois vivi avidamente todos os dias de minha vida, mas percebo que os anos se passaram numa velocidade estrondosa.


Quando ainda moleque, joguei bola, brinquei de pira, joguei petecas, tomei banho no Tocantins e no ribeirãzinho próximo de minha casa, nele peguei até piabas. Corri, fui à escola, sujei o uniforme escolar, briguei, bati e apanhei, como todo moleque. Se tudo isso não tivesse acontecido, não tinha vivido plenamente e eu vivi.


O tempo passa a, as coisas mudam. As peraltices de menino dão lugar aos sonhos, nem sempre concretizados. Primeiro queria ser jogador de futebol, depois advogado, passar no Banco do Brasil. Nada             disso se concretizou. Sonhos desfeitos, construir e concretizei outros sonhos e a vida continuou. 


Nesses meus cinqüenta anos, vivi plenamente a cada dia, levei a vida sempre numa boa,  parafraseando Chico Buarque e Renato Russo, diria que vivi cada dia como se fosse o último, amei as pessoas como se não houvesse amanhã

Muito aprendi, acho até que ensinei um pouco. Aprendi que a felicidade está sempre a um, um passo a mais, é uma busca incessante e que ela não está relacionada com riqueza ou poder, se assim fosse, só os ricos e famosos eram felizes, esses me parecem, são os menos felizes e que dariam tudo que têm para serem felizes.


 Aprendi que o melhor da vida, não é a vida, é vivê-la em plenitude, viver ao lado de pessoas que têm significados em nossas vidas e que nós também somos significantes para elas.
Já completei 50 anos. Não queria ser um jovem, pois muitos deles não sabem o valor que tem a vida, não amam nem são amados e talvez não vivessem o que vivi. Não queria ser um senhor de 70 anos, muitos deles perderam o trem da vida, viveram melancolicamente suas vidas, muitos vivem no solidão amargurados e tristes. Eu quero mesmo é ser eu, com meus 50 anos bem vividos! Que venha os outros 50, 40, 30, 20,10.... afinal, viver ao lado de pessoas maravilhosa, como você, que ler este escrito é o que dar sentido a minha vida.

     * O autor é Professor de Sociologia do SOME e colaborador desta revista eletrônica.

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