O Sistema de Organização Modular
de Ensino – SOME completa 35 anos em atividades pedagógicas no Estado do Pará.
O projeto que começou com quatro localidades, funciona no momento com 363, em
98 municípios, com 32.000 alunos matriculados e 1.300 professores nessa
imensidão territorial.
Em se tratando de produção
acadêmica, o Sistema Modular já possui algumas e outras em andamentos. Vamos
abordar algumas, que temos até o momento, onde postei neste espaço, como título
Educação do Campo: Trilhando o Ensino Modular.
Um dos trabalhos acadêmicos que
teve grande repercussão na década de 90 foi à dissertação do professor João
Gomes Tavares Neto, apresentada no Centro de Educação da Universidade Federal
do Pará, no ano de 1998, tendo como título “O
lado instituinte das políticas públicas de educação no estado do Pará e o
Sistema de Organização Modular de Ensino (SOME) 1980 - 1998".
No resumo, o autor da dissertação
de mestrado ressalta que "o estudo analisa a expansão das oportunidades de
ensino básico para os municípios do interior do estado do Pará no período de
1980 - 1998". É importante destacar que João Neto toma como
"referência principal o projeto SOME (Sistema de Organização Modular de
Ensino) ao longo de sua trajetória que incide sobre o período de tempo referido.
Temos como objetivo compreender a dinâmica desse processo de expansão, a partir
da elucidação das atividades desenvolvidas no âmbito desse projeto, mantido
pela Secretaria de Estado de Educação".
“Neste aspecto, continua o
professor:” O argumento principal adotado para empreender a pesquisa, é de que
as políticas públicas de educação em seu processo: planejamento, execução,
monitoramento e avaliação, podem ultrapassar os limites de uma ação isolada do
poder público. Há uma face de menor visibilidade, a qual denominou de
'instituinte', onde efetivamente atuam sujeitos sociais com relativo grau de
autonomia, oferecendo certas ‘resistência crítica’ as ações do estado. “Neste
lado instituinte, essas políticas também ecoam como iniciativa da cidadania”.
Interessante que o professor
utiliza alguns teóricos para desenvolver seus argumentos, como A. Przeworski,
C. Castoriadis, S. Draibe, C. Matus entre outros pensadores que reforçam a
trajetória do SOME nos últimos 18 anos.
E conclui: “Nos limites dos dados
disponíveis, foi possível concluir que o projeto SOME opera com relativa margem
de autonomia, na confluência das políticas públicas de educação no Pará. Atende
à ordem institucionalizada pela Secretaria Estadual de Educação - Seduc, ao
mesmo tempo em que cria alternativas próprias de gestão, que inclui
eventualmente a interferência crítica dos sujeitos que o constroem. Como
decorrência desse processo, observamos a existência, ainda em estado
embrionário, de elementos que podem levar a superação de uma estrutura
educacional massificadora e à diferenciação positiva do SOME em relação ao
sistema de ensino público no estado do Pará".
Um estudo que é fundamental para
aprofundar a educação no campo, enfatizando o Ensino Médio Modular foi
produzido pela Fundação Instituto para o Desenvolvimento da Amazônia,
denominado de Relatório Preliminar da Pesquisa "Avaliação Diagnóstica do Sistema de Organização Modular de Ensino - SOME no estado do Pará", no
ano de 2003.
O estudo que teve como autores (as):
Ana Célia Bahia Silva, Cely do Socorro Costa Nunes, Elenizio Paixão Matos e
Rosa Helena Nogueira Ferreira e equipe de pesquisa de campo: Ana Célia Bahia
Silva, Elenizio Paixão Matos, Francisco Edson Souza de Oliveira, Hélcio de
Castro Monteiro, Maria das Graças Lima, Rosa Helena Nogueira Ferreira, Vilmar
Nascimento e Vilvia Bentes Guimarães.
O objetivo da pesquisa que foi
produzida pela FIDESA, em 2003, foi avaliar a estrutura e o funcionamento do
SOME; assim como propor diretrizes para a melhoria qualitativa no que diz
respeito ao ensino médio. Segundo a pesquisa, em 2002, o projeto atendia 84
municípios do estado do Pará, funcionando geograficamente em 47 sedes, 144
distritos e 191 localidades, número significativo o que demonstrou a expansão e
crescente interiorização do ensino médio para as zonas rurais, onde atendia
aproximadamente 22.338 alunos, com 591 professores.
A pesquisa foi realizada em 20
municípios, tendo como prioridades 14 sedes e 06 localidades.
Com a pesquisa foi possível a
Secretaria Estadual de Educação ter melhor visibilidade do SOME na
"tentativa de revelar seus limites, e contribuições para a democratização
do ensino médio em localidades adversas do estado do Pará".
Abordando neste espaço algumas
produções acadêmicas relacionadas com o SOME, que tirei do fundo do baú, já que
bastante tempo não folheava este material. Não poderia deixar de lado, uma
riqueza imprescindível ao estudo sobre educação do campo que é a obra do prof.
Francisco Edson Sousa de Oliveira, denominada “O Ensino Modular em Pequenas Comunidades
da Amazônia”, publicada pela Editora Grafórmula, com o apoio da Prefeitura
Municipal de Santarém, no ano de 2001.
O livro que é fruto de suas
atividades no mestrado na Universidade Moderna de Lisboa-Portugal. O autor
retrata "a realidade amazônica e sensibiliza o sistema para continuar
investindo em políticas sólidas para o desenvolvimento do homem que vive em uma
geografia ímpar no mundo chamado Amazônia".
Para o autor a Amazônia precisa
ser tratada com carinho "para não marginalizar o processo de
desenvolvimento"; além de tecer algumas considerações sobre estatísticas
sociais, fazendo relevância ao contrastamento entre zona urbana e zona rural em
comunidades brasileiras e, mas precisamente amazônicas.
Interessante, também, na obra em
um segundo momento são relatos de experiências executadas pelo Ensino Médio
Modular, considerando os aspectos educacionais e suas implicações na formação
das comunidades que compõe a região.
Ressalta o professor Francisco
Oliveira que "as dificuldades de operacionalização da Experiência, causada
pela falta de aplicação das Políticas Públicas no setor. Assim como também os
fenômenos naturais bastante influentes nas áreas de várzeas".
Sem deixar de lado as considerações
"através das análises e amostras, concernentes ao funcionamento da
experiência, considerando que, o acesso à região é dificultoso, as condições de
vida precárias (...) onde essa realidade educacional carente apresenta-se bem
acentuada".
Concluindo: "No estado do
Pará algumas circunstâncias específicas motivaram a implantação do SOME, como: a
falta de escolas e professores qualificados nos municípios, pressões locais em
torno da implantação desse grau de ensino, situação financeira do estado, que
não permite atender essa demanda via Ensino Regular, o que remonta ao quadro
geral de problemas no Sistema Educacional Brasileiro (...) precárias condições
do meio ambiente" entre outros.
A dissertação apresentada ao
Programa de Pós-Graduação - Mestrado em Educação, Arte e História da Cultura do
Instituto Presbiteria no Mackenzie como requisito para a obtenção do título de
Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pelo professor do SOME Angelino
Gomes Ferreira Junior, sob a orientação da Dra. Mirian Celeste Ferreira Dias
Martins, tendo como denominação "Os
Limites e Possibilidades de Emprego de Multimídias no Ensino de Arte no Município de Abaetetuba/Pará”, em
São Paulo, no ano de 2009, torna-se outra fonte fundamental de leitura,
conhecimento, pesquisa e levantamentos de dados do Sistema Modular e Educação
do Campo.
Para o autor da dissertação um
problema considerável que tem enfrentado nas práticas educativas de Arte, junto
dos alunos ribeirinhos do Sistema Modular no município de Abaetetuba, no estado
do Pará. Frente à pauperidade de estrutura física e tecnológica adequada.
Segundo o professor, por outro lado, os propósitos dos PCNs em arte, tem
direcionado a todos os alunos da educação básica do Brasil a imprimir ao
professor a missão de ser mediador propositor, que apresenta e articula a
produção do conhecimento em arte, através das experiências artísticas,
estéticas e culturais produzidas pelo homem ao longo da história da humanidade,
do seu contexto atual, e de sua própria produção.
Portanto, para o professor
Angelino Júnior, diante desta problemática seu objetivo foi investigar os
limites e possibilidades de produzir nos alunos ribeirinhos uma experiência
estética virtual, através de pesquisa nos meios multimídias em especial a internet,
com o recorte do Patrimônio Cultural do Pará, mesmo que estes ainda não tenham
acesso a ela. Com o intuito de avaliar se essas novas ferramentas tecnológicas
podem vir a ajudar os alunos a terem um ganho qualitativo na construção do
conhecimento em arte, fazendo com que fosse realizada a pesquisa de intervenção
participativa do tipo analítica descritiva, no contexto escolar da escola EMEFM
"João Maria" na comunidade de Rio Doce e no Laboratório de
Informática da EEEFM"Pedro Teixeira",
em Abaetetuba, envolvendo alunos da 8ª série e 1º ano do ensino médio.
Para o professor "A análise
dos dados levantados ao longo da pesquisa apontam para um estímulo e ganho
considerável nas aulas de arte, quando apoiadas com o suporte das novas
ferramentas pedagógicas advindas da profusão das novas tecnologias no mundo
agregadas a educação".
O trabalho de Conclusão de Curso
- TCC apresentado ao colegiado de Pedagogia da Universidade Federal do Pará,
como requisito para a obtenção do grau de Licenciatura Plena em Pedagogia, sob
a orientação do professor Gilmar Pereira da Silva, com o tema "Sistema de Organização Modular de Ensino
(SOME): Uma alternativa educacional no município de Cametá", dos
graduandos Arodinei Gaia de Sousa e Marcio Luís Pinto Furtado, no município de
Cametá, no ano de 2002 é outra fonte como referência para o estudo sobre o
SOME.
Para os autores "Entre essa
diversidade educacional no estado do Pará, inclui-se o Curso Supletivo Normal,
o ensino à distância, as provas do DESU e o SOME. O SOME surge como uma
proposta destinada a uma clientela de educandos que precisam concluir o ensino
médio, mas por questões socioeconômicas são impossibilitadas de deslocar-se aos
locais onde funciona o ensino convencional mantendo-se assim, excluídos deste
processo de ensino".
E continuam: “Muitas localidades
no estado todo, já foram contemplados com o projeto, que é mantido pelo governo
estadual e que proporciona a uma quantidade significativa de pessoas 'inclusão
no mercado de trabalho' e/ou a continuidade dos estudos em níveis mais
elevados".
Sem dúvida “O município de
Cametá, também faz parte desse contexto educacional. Algumas localidades(Juaba,
Carapajó, Porto-Grande, Vila do Carmo e outras), há alguns anos já forma
profissionais através do projeto. Entretanto faz-se necessário um estudo
profundo que explique como se dá o funcionamento desse sistema de ensino em
nosso município, quais as dificuldades encontradas tanto pelos profissionais
que se deslocam em um sistema de rodízio a essas localidades para o trabalho de
docência, quanto pelos alunos que convivem com nova proposta de se fazer
educação, como também a formação que esses educandos estão recebendo".
Assim como outros dados foram
levantados pela pesquisa e concluem: "Através dessa pesquisa também
podemos contribuir com o projeto, quando nos dispomos a discutir e apontar propostas
de melhoramento direcionadas aos diversos problemas, que ainda precisam ser
solucionadas para o melhor andamento do curso e, contribuiremos com a
comunidade ao realizarmos um trabalho, que divulga um sistema de ensino que
ainda é oculto para grande parte da população do município que não tem
conhecimento do mesmo e quando o tem é meramente parcial".
Outra obra importante Viajante do Giz, do escritor e
professor Arodinei Gaia de Souza, esta é interessante, pois retrata o cenário
de um dos maiores projetos de inclusão social da Amazônia, que é o Sistema de
Organização Modular de Ensino – SOME que por sinal, fez trinta e três anos,
nesse estado considerado território continental.
O livro que foi publicado ano
passado, pela NTC Produtora e Editora, sem o rigor acadêmico, através das
experiências do autor e de vários educadores que atuam no Sistema Modular,
através de crônicas. O Historiador João Batista P. Pereira, diz “Arogas nos
propicia uma verdadeira aventura com sua arte de escrever, nos faz navegar como
velejadores em suas crônicas sobre os aventureiros do giz. Seus personagens nos
dão esclarecimentos de como esses educadores passam a maior parte de suas vidas
e, também, mostram-nos que a grande maioria já até acostumou, ou quiçá parece
bem adequado com tudo isso. Nesta viagem com as letras, que o escritor Arogas
realiza, fica explícita que não há uma receita e, tampouco, uma lista
enumerando o que se pode ou não se deve fazer dentro do processo educacional na
modalidade modular, até porque se trata de um modelo de ensino que requer que o
profissional se adeque à realidade de cada comunidade e, acima de tudo, tenha
compromisso para com a educação com qualidade. No entanto, isso não quer dizer
que deva existir a falta de compromisso por parte daqueles que se propõe a
fazer parte da parceria para o funcionamento do Sistema Modular".
O autor e o livro: Observador
O autor Arodinei Gaia de Sousa,
ou simplesmente Arogas, como gosta de ser chamado é apreciador dos rios, da
vida ribeirinha, do vai-e-vem das marés, do sobe-e-desce dos mururés. Dai estar
no sangue o gosto pelas viagens, os fascínios pela observação dos
acontecimentos da vida, das cenas do cotidiano humano, dos momentos marcantes
da trajetória dos homens.
Cametaense de nascimento tem na
composição da própria história muitas cenas marcantes – de sofrimento e perdas,
alegrias e vitórias – que o tornam um misto de dureza e sensibilidade. É o lado
sensível, no entanto, que o deixa atento, observador, para os detalhes, para as
ações e acontecimentos da vida. O que depois são registrados em forma de
crônicas de Cenas da Vida, selecionadas e organizadas, como presentes em Cenas
Moduleiras, de o Viajante do Giz.
Por força da docência em Língua
Portuguesa – além da formação em Pedagogia, Gestão ambiental e Língua Espanhola
– atuou (e ainda atua) por vários lugares e em várias situações de ensino
fundamental ré superior, como (e principalmente) pelo ensino médio do Sistema
de Organização Modular de Ensino – SOME – da Seduz, o qual lhe deu oportunidade
de conhecer boa parte do estado do Pará. Pode assim, desde o ano de 1993,
conviver com pessoas diferentes e experimentar adversidades da vida m lugares
distintos.
Os anos de atuação no Sistema Modular,
principalmente deram-lhe tempo e possibilidades para ver, ouvir e viver
situações interessantes do cotidiano do professor modulou-o. Muitas dessas
cenas foram registradas e agora estão apresentadas em o Viajante do Giz, para o
conhecimento dos que querem saber um pouco dos altos-e-baixos do que é ser
docente modulei-o, ou para o deleite de muitos professores que podem se
encontrar nas narrativas e até se ver protagonista nelas. Quem sabe?
O autor, em sua viagem pelos
caminhos da formação profissional, em busca de novos conhecimentos, tem corrido
no campo pós-graduação – em âmbito nacional, estrangeiro e também virtual – tem
registrado outras cenas que vão surgindo ao longo desse percurso. Algumas
estarão em “Crônicas Estudantis” e “Em busca da Espanhola”.
Enquanto as cenas da vida se
concretizando no papel, o Arrogas, filho ribeirinho, ajarapanamense,
cametaense, paraense e amazônida, segue sua sina de observador da vida. Resta
você ler, se ter e se ver nas histórias.
O Observador
Uma boa dica para leitura,
principalmente para comunidade moduleira e que estuda educação do campo.
Notável como foi escrito, para um professor da terra dos “Notáveis” e dos
“Romualdos”.
No dia 13 de dezembro do ano
passado, foi apresentada a dissertação como requisito parcial para obtenção do
título de mestrado na Universidade Estadual do Pará, pela técnica em educação
Conceição de Nazaré de Morais Brayner, com o título Sistema de Organização Modular de Ensino: um estudo avaliativo da
organização do trabalho pedagógico no ensino médio do meio rural.
A referida pesquisa que na
verdade foi um Estudo de Caso, teve como objeto a Escola Municipal Álvaro
Varges de Araújo, que se localiza na Vila de Boa União, em Igarapé Mirim, no
Estado do Pará, onde funciona o Sistema de Organização Modular de Ensino –
SOME. Modalidade de ensino, gerenciado
pela Escola Sede da Secretaria de Estado de Educação - SEDUC.
Segundo a pesquisadora “O estudo
fundamentou num referencial teórico na perspectiva histórico-crítica e parte da
premissa de que o projeto SOME se relaciona com a educação do campo e deve
buscar caminhos para esse diálogo”.
E dessa forma, como apresentou Conceição
Brayner:
a) Refletir o trabalho do Sistema
de Ensino Modular pontuando aspectos inerentes à gestão do projeto
político-pedagógico, com base nos princípios previstos nas Diretrizes
Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo;
b) Analisar o processo
ensino-aprendizagem considerando algumas implicações que derivam dos princípios
da Educação do Campo. Os sujeitos são: alunos e professores do SOME,
utilizando-se de técnicas tais como: Entrevistas semiestruturadas e
questionário. A pesquisa apontou para o pressuposto de que educadores e
educandos devem participar da construção do Projeto Político-Pedagógico,
fortalecendo a identidade da escola do campo, que se caracteriza pela sua
vinculação às questões inerentes à sua realidade. Os resultados revelam a
preocupação dos professores com as taxas de evasão no Sistema e a necessidade
de garantir o acesso dos jovens ribeirinhos à escolarização e conclusão da
educação básica, além disso, os alunos apontam para perspectivas de trabalho ou
continuidade de estudos. Os relatos de professores destacam:
1- As condições de trabalho do professor
(escassez de recursos didáticos e tecnológicos, falta de acompanhamento
pedagógico, etc.);
2- A necessidade de formação continuada de
professores para o trabalho com disciplinas de carência e atendimento de
exigências Sociais;
3- A importância da realização de encontros
para discussões teóricas metodológicas sobre as bases curriculares do Ensino
Médio e a Educação do Campo. Os alunos pontuam a expectativa de a escola ser regular,
dispor de oportunidades para continuidade de estudos e alternativas de trabalho
para o sustento de suas famílias.
Em sua conclusão, este estudo,
como diz a pesquisadora: “foi realizada com a finalidade de investigar a gestão
do trabalho pedagógico no Sistema de Organização Modular de Ensino da SEDUC/PA,
considerando os princípios e procedimentos estabelecidos nas Diretrizes
Operacionais das Escolas de Educação Básica no Campo (2002).
E continua “fundamentos que afirmam e/ou
contradizem as DOEBEC na opinião de alunos e professores do Sistema. As
reformas educacionais se inserem no processo de discussão do estudo, pois,
demandam novas exigências para a educação e especificamente aqui para as
escolas do campo. Apresentam-se no escopo, diretrizes para desempenho docente e
discente, parâmetros para a gestão escolar, novas formas de atuação e amplo
debate sobre as concepções que envolvem o trabalho pedagógico. São definidos
novos papéis para professores e alunos, além da rotina de aulas e jornada de trabalho.
As DOEBEC além de apresentar o caráter político da Educação do Campo, trouxe
referências explicitando princípios e procedimentos para o trabalho pedagógico,
o que implica em reflexões e análises da prática educativa e das políticas
educacionais implementadas no Estado. A amplitude do trabalho pedagógico
compreende, entre outros afazeres, um conjunto de atividades ligadas ao
processo ensino-aprendizagem, que demandam planejamento, acompanhamento e
avaliação do atendimento dos alunos. Neste caso, os professores no Sistema
Modular, atuam em diferentes localidades situadas no interior do Estado e lidam
com situações diversas, o que deve estimular a contextualização dos conteúdos a
partir das realidades campesinas. A análise das atividades próprias do trabalho
docente no SOME, entendidas nesta dissertação, como a forma de se organizar o
trabalho pedagógico, permite compreender que existe distância entre o que é
prescrito nas Diretrizes Operacionais para as Escolas do Campo, e o que é de
fato implementado. A ausência de momentos de reunião para planejamento docente
e o desconhecimento do Projeto Político-Pedagógico relatado na pesquisa por
alunos e professores, provoca o distanciamento dos profissionais e comunidades
com as metas estabelecidas pelo projeto, o que devia ser provisório, passou a
ser constante. A condição de deslocamento dos profissionais para as localidades
impõe a realização de um. trabalho solitário, o que reafirma a necessidade de
desenvolver vários momentos de trabalho coletivo, compartilhando as finalidades
do E.M. experiências de planejamento interdisciplinar, metodologias para
combater a fragmentação do conhecimento, etc. Os professores, que trabalham em
forma de circuitos, passando por várias localidades e deparam-se muitas vezes
com questões estruturais da educação, tais como: evasão, distorção idade/série,
materiais didáticos e conteúdos que descartam os saberes culturais, tecnologias
e material insuficiente para desenvolver suas atividades de ensino e ações
educativas complementares, distanciamento das discussões dos Fóruns de
Educação, etc. o que pode ser um fator estimulador da exposição/imposição de
uma cultura urbana aos alunos do campo”.
Para a autora da dissertação
“Outro fator de preocupação se refere ao aprimoramento profissional, reduzida
participação dos docentes nos cursos de formação continuada, ocasionado pela
distância dos polos e questões geográficas do Estado, que dificultam o deslocamento
e a comunicação para muitos profissionais nas localidades, e assim, o docente
tende a se afastar e acomodar-se com as circunstâncias (item V, art.67 da Lei
9394/96). O Parecer do MEC a respeito das DCNEM (2012), permite uma melhor
compreensão das novas formas de atuação demandadas para o trabalho docente.
Esta análise deve ser feita em confronto com as orientações contidas nos cursos
deformação de professores para a Educação Básica. Essas diretrizes contêm um
conjunto de competências para os professores, estabelecendo relação entre
ciência, cultura, tecnologia e trabalho. Os objetivos da escola do campo não
são apenas diferentes, mas antagônicos aos da empresa capitalista; e, por este
motivo, não é coerente utilizar métodos inerentes ao sistema dominante (Paro,
2002). O próprio aluno, ser humano, sujeito histórico, de cuja vontade depende
o ato educativo, constitui-se em mais motivo para a diferença. A respeito do
que afirma Oliveira (2012): as bases teóricas socioculturais e epistemológicas
da educação do campo na Amazônia, apontando as matrizes educacionais
emergentes: a autonomia, o trabalho, a cultura, a eticidade, a criticidade, a
relação entre os saberes e o diálogo, acredito que a escola é um espaço de
aprendizagem e não o centro de transmissão de conhecimentos e há necessidade de
mudar concepções a respeito dos setores populares, suas lutas e seus conflitos.
Nesse sentido, acredito que os movimentos sociais têm muito a contribuir com a
escola. Através de suas práticas e de seus mecanismos de resistência à
barbárie, todas as forças de luta que mobilizam a sociedade têm muito a ensinar
ao sistema de ensino, seja ele regular ou modular, como instrumentos no
processo de construção de uma sociedade onde todos tenham direito à dignidade.
A reflexão sobre o significado do trabalho pedagógico do modular, das demandas
por melhorias de condições de trabalho, por parte os professores, mostra que as
resistências existem e se fazem presentes, embora assumam características tais
como: ausência de completa adesão, não cumprimento de carga horária, descrédito
em alguns movimentos de luta, desarticulação, falta de integração da categoria
como um todo, etc.”.
Ela aborda que “É interessante
propor na discussão que se planeje a oferta do E.M. aderindo a outras modalidades,
observando a Pedagogia da Alternância, para inserir calendário, produção e
metodologias de ensino que aliem teoria e prática, bem como, estudo e trabalho.
A cultura amazônica deve servir de inspiração na organização do trabalho
pedagógico, para não desvincular o conhecimento científico dos saberes
culturais. O que é encontrado no cotidiano escolar do SOME, devido às questões
estruturais do Sistema e à consciência, que os professores têm desta realidade,
pode representar indicadores de intervenções necessárias à ruptura, por parte
dos próprios professores, no que se refere aos fatores que os levam a esta
situação. Pensar equipes de acompanhamento para monitorar as atividades do
Sistema e orientar a prática docente, precisa ser prioridade para o alinhamento
com os princípios previstos nas DOEBEC, pois, a falta do apoio técnico citado
pelos professores, tem contribuído para o distanciamento dos compromissos
assumidos pelas Esferas Governamentais com as comunidades que demandam o
Sistema”.
Conceição Brayner relata que “Este trabalho
não pode ter a pretensão de esgotar o assunto, mesmo porque as relações são
complexas, e sofrem os reflexos de mudanças mais amplas, que ocorrem em
contexto global e nacional”. As recomendações ficam como resultado de reflexões
no processo da investigação:
*** Elaboração de referenciais em nível de
Estado do Pará para orientar a prática educativa no E.M. do campo;
*** Projeto Político-Pedagógico do SOME a ser
discutido e construído com as comunidades;
*** Maior aproximação do SOME com o Fórum
Estadual de Educação do Campo;
*** Encontro Estadual do Ensino Médio para a
composição de políticas de educação tanto para a cidade como para o campo;
*** Formação Continuada para os professores do
Ensino Médio;
*** Formação continuada para os Técnicos que
acompanham as ações pedagógicas do E.M. (incluindo cursos específicos da
Educação do Campo)
*** Sistema Estadual de Avaliação e Monitoramento
dos resultados educacionais da Educação Básica para definição de políticas
públicas de educação”.
Elementos Administrativos e Pedagógicos do SOME nas percepções de seus
atores foi a dissertação defendida pela Ms. Rosivânia Maciel Oliveira, na
Universidade Católica de Brasília, em 2010, sob orientação da Profª Dra.
Beatrice Laura Carnielli.
Para a pesquisadora Rosivânia
Oliveira a pesquisa teve como objetivo “investigar as percepções dos atores,
que seriam os diretores, coordenadores pedagógicos, alunos professores, egressos
e membros da comunidade”. A pesquisa se desenvolveu em três escolas com suas
peculiaridades: planalto, várzea e ribeirinha.
Para ela, o Some possibilita
perspectiva de nível superior para os alunos da zona rural.
O Sistema Modular de Ensino no Estado do Pará: Contribuição para o Desenvolvimento
Educacional no município de Abaetetuba, da pesquisadora Aldeíse Gomes
Queiroz, para obtenção do título de Mestre, na Universidade de Taubaté, no ano
de 2010, enfatiza bem a importância do SOME para os alunos da zona rural.
O objetivo da dissertação de
Aldeíse Queiroz “De que forma estratégias desenvolvidas no SOME contribuem para
o desenvolvimento educacional do município de Abaetetuba”.
Segundo a pesquisadora “Os
principais fatores que justificam a contribuição do SOME para o desenvolvimento
da comunidade de Abaetetuba são possibilidades de aumento da escolaridade,
maiores perspectivas de ingresso no mercado de trabalho e consequente geração
de renda”.
Avaliação no “SOME” aparece? Um olhar sobre o Sistema de Organização
Modular de Ensino (SOME) em comunidades campesinas do Estado do Pará – Norte do
Brasil, artigo de João Marcelino Pantoja Rodrigues.
O objetivo principal do artigo,
segundo o pesquisador João Rodrigues “Analisar, a partir de uma política
educacional para o ensino fundamental e médio – o SOME – como ocorre a
avaliação institucional na lógica modular e se há efetividade neste processo no
sentido de contemplar as especificidades das populações do campo paraense”.
Processos de Ressignificação docente na Educação básica: Experiências
Sócias Educacionais Vivenciadas no Ensino Modular do Pará é a dissertação
de mestrado da Professora e Pesquisadora Marina de Sousa Costa, pela
Universidade de Évora, Portugal, defendida em 2010, com orientação da Profª
Dra. Isabel J.B.B. Fialho.
Para a Ms. Marina Costa a
pesquisa “representa um mergulho nas experiências vivenciadas pelos professores
do projeto SOME, no sentido de intercambiar experiências socioeducativas
materializadas na profissão docente”.
Faço das palavras da pesquisadora
Marina Costa, em sua dedicatória, uma homenagem justa e digna para comunidade do
Some, em especial aos professores, que nesses 35 anos de SOME de lutas e conquistas,
que se comemora, hoje: “Aos guerreiros professores do Projeto SOME, que apesar
das condições adversas e dos múltiplos obstáculos, mantiveram/mantém a bravura
no ousado desígnio de fazer do ato pedagógico uma ação dignamente consequente,
intervindo na complexa territorialidade da Amazônia paraense, grande exemplo de
pessoalidade e profissionalidade”.
Os resumos das obras estão excelentes, nos estimula a lê-las na íntegra pra conhecer melhor essa grande politica pública de inclusão educacional e social que é o SOME. É a garantia da cidadania educacional que chega de maneira democrática aos mais longínquos interiores paraense e você professor Ribamar, é sem dúvidas uma das grande referências no SOME, quer como educador, coordenador ou como lutador incansável por uma educação inclusiva e de qualidade no Estado do Pará. Parabéns
ResponderExcluirMuito obrigado
ExcluirNossos gestores não leem nada disso...
Infelizm3nte
Resumos excelentes! Uma breve leitura e nos permite viajar as mais diversas localidades e situações a qual esse Sistema de Ensino tem proporcionado a população. Quantas histórias tens a nos contar...
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