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quarta-feira, 15 de abril de 2015

35 anos de SOME e sua literatura





O Sistema de Organização Modular de Ensino – SOME completa 35 anos em atividades pedagógicas no Estado do Pará. O projeto que começou com quatro localidades, funciona no momento com 363, em 98 municípios, com 32.000 alunos matriculados e 1.300 professores nessa imensidão territorial.


Em se tratando de produção acadêmica, o Sistema Modular já possui algumas e outras em andamentos. Vamos abordar algumas, que temos até o momento, onde postei neste espaço, como título Educação do Campo: Trilhando o Ensino Modular.



Um dos trabalhos acadêmicos que teve grande repercussão na década de 90 foi à dissertação do professor João Gomes Tavares Neto, apresentada no Centro de Educação da Universidade Federal do Pará, no ano de 1998, tendo como título “O lado instituinte das políticas públicas de educação no estado do Pará e o Sistema de Organização Modular de Ensino (SOME) 1980 - 1998".


No resumo, o autor da dissertação de mestrado ressalta que "o estudo analisa a expansão das oportunidades de ensino básico para os municípios do interior do estado do Pará no período de 1980 - 1998". É importante destacar que João Neto toma como "referência principal o projeto SOME (Sistema de Organização Modular de Ensino) ao longo de sua trajetória que incide sobre o período de tempo referido. Temos como objetivo compreender a dinâmica desse processo de expansão, a partir da elucidação das atividades desenvolvidas no âmbito desse projeto, mantido pela Secretaria de Estado de Educação".


“Neste aspecto, continua o professor:” O argumento principal adotado para empreender a pesquisa, é de que as políticas públicas de educação em seu processo: planejamento, execução, monitoramento e avaliação, podem ultrapassar os limites de uma ação isolada do poder público. Há uma face de menor visibilidade, a qual denominou de 'instituinte', onde efetivamente atuam sujeitos sociais com relativo grau de autonomia, oferecendo certas ‘resistência crítica’ as ações do estado. “Neste lado instituinte, essas políticas também ecoam como iniciativa da cidadania”.


Interessante que o professor utiliza alguns teóricos para desenvolver seus argumentos, como A. Przeworski, C. Castoriadis, S. Draibe, C. Matus entre outros pensadores que reforçam a trajetória do SOME nos últimos 18 anos.


E conclui: “Nos limites dos dados disponíveis, foi possível concluir que o projeto SOME opera com relativa margem de autonomia, na confluência das políticas públicas de educação no Pará. Atende à ordem institucionalizada pela Secretaria Estadual de Educação - Seduc, ao mesmo tempo em que cria alternativas próprias de gestão, que inclui eventualmente a interferência crítica dos sujeitos que o constroem. Como decorrência desse processo, observamos a existência, ainda em estado embrionário, de elementos que podem levar a superação de uma estrutura educacional massificadora e à diferenciação positiva do SOME em relação ao sistema de ensino público no estado do Pará". 



Um estudo que é fundamental para aprofundar a educação no campo, enfatizando o Ensino Médio Modular foi produzido pela Fundação Instituto para o Desenvolvimento da Amazônia, denominado de Relatório Preliminar da Pesquisa "Avaliação Diagnóstica do Sistema de Organização Modular de Ensino - SOME no estado do Pará", no ano de 2003.


O estudo que teve como autores (as): Ana Célia Bahia Silva, Cely do Socorro Costa Nunes, Elenizio Paixão Matos e Rosa Helena Nogueira Ferreira e equipe de pesquisa de campo: Ana Célia Bahia Silva, Elenizio Paixão Matos, Francisco Edson Souza de Oliveira, Hélcio de Castro Monteiro, Maria das Graças Lima, Rosa Helena Nogueira Ferreira, Vilmar Nascimento e Vilvia Bentes Guimarães.


O objetivo da pesquisa que foi produzida pela FIDESA, em 2003, foi avaliar a estrutura e o funcionamento do SOME; assim como propor diretrizes para a melhoria qualitativa no que diz respeito ao ensino médio. Segundo a pesquisa, em 2002, o projeto atendia 84 municípios do estado do Pará, funcionando geograficamente em 47 sedes, 144 distritos e 191 localidades, número significativo o que demonstrou a expansão e crescente interiorização do ensino médio para as zonas rurais, onde atendia aproximadamente 22.338 alunos, com 591 professores.


A pesquisa foi realizada em 20 municípios, tendo como prioridades 14 sedes e 06 localidades.


Com a pesquisa foi possível a Secretaria Estadual de Educação ter melhor visibilidade do SOME na "tentativa de revelar seus limites, e contribuições para a democratização do ensino médio em localidades adversas do estado do Pará". 


Abordando neste espaço algumas produções acadêmicas relacionadas com o SOME, que tirei do fundo do baú, já que bastante tempo não folheava este material. Não poderia deixar de lado, uma riqueza imprescindível ao estudo sobre educação do campo que é a obra do prof. Francisco Edson Sousa de Oliveira, denominada “O Ensino Modular em Pequenas Comunidades da Amazônia”, publicada pela Editora Grafórmula, com o apoio da Prefeitura Municipal de Santarém, no ano de 2001.


O livro que é fruto de suas atividades no mestrado na Universidade Moderna de Lisboa-Portugal. O autor retrata "a realidade amazônica e sensibiliza o sistema para continuar investindo em políticas sólidas para o desenvolvimento do homem que vive em uma geografia ímpar no mundo chamado Amazônia".


Para o autor a Amazônia precisa ser tratada com carinho "para não marginalizar o processo de desenvolvimento"; além de tecer algumas considerações sobre estatísticas sociais, fazendo relevância ao contrastamento entre zona urbana e zona rural em comunidades brasileiras e, mas precisamente amazônicas.


Interessante, também, na obra em um segundo momento são relatos de experiências executadas pelo Ensino Médio Modular, considerando os aspectos educacionais e suas implicações na formação das comunidades que compõe a região.


Ressalta o professor Francisco Oliveira que "as dificuldades de operacionalização da Experiência, causada pela falta de aplicação das Políticas Públicas no setor. Assim como também os fenômenos naturais bastante influentes nas áreas de várzeas".


Sem deixar de lado as considerações "através das análises e amostras, concernentes ao funcionamento da experiência, considerando que, o acesso à região é dificultoso, as condições de vida precárias (...) onde essa realidade educacional carente apresenta-se bem acentuada".


Concluindo: "No estado do Pará algumas circunstâncias específicas motivaram a implantação do SOME, como: a falta de escolas e professores qualificados nos municípios, pressões locais em torno da implantação desse grau de ensino, situação financeira do estado, que não permite atender essa demanda via Ensino Regular, o que remonta ao quadro geral de problemas no Sistema Educacional Brasileiro (...) precárias condições do meio ambiente" entre outros.


A dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação - Mestrado em Educação, Arte e História da Cultura do Instituto Presbiteria no Mackenzie como requisito para a obtenção do título de Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pelo professor do SOME Angelino Gomes Ferreira Junior, sob a orientação da Dra. Mirian Celeste Ferreira Dias Martins, tendo como denominação "Os Limites e Possibilidades de Emprego de Multimídias no Ensino de Arte no Município de Abaetetuba/Pará”, em São Paulo, no ano de 2009, torna-se outra fonte fundamental de leitura, conhecimento, pesquisa e levantamentos de dados do Sistema Modular e Educação do Campo.   


Para o autor da dissertação um problema considerável que tem enfrentado nas práticas educativas de Arte, junto dos alunos ribeirinhos do Sistema Modular no município de Abaetetuba, no estado do Pará. Frente à pauperidade de estrutura física e tecnológica adequada. Segundo o professor, por outro lado, os propósitos dos PCNs em arte, tem direcionado a todos os alunos da educação básica do Brasil a imprimir ao professor a missão de ser mediador propositor, que apresenta e articula a produção do conhecimento em arte, através das experiências artísticas, estéticas e culturais produzidas pelo homem ao longo da história da humanidade, do seu contexto atual, e de sua própria produção.  


Portanto, para o professor Angelino Júnior, diante desta problemática seu objetivo foi investigar os limites e possibilidades de produzir nos alunos ribeirinhos uma experiência estética virtual, através de pesquisa nos meios multimídias em especial a internet, com o recorte do Patrimônio Cultural do Pará, mesmo que estes ainda não tenham acesso a ela. Com o intuito de avaliar se essas novas ferramentas tecnológicas podem vir a ajudar os alunos a terem um ganho qualitativo na construção do conhecimento em arte, fazendo com que fosse realizada a pesquisa de intervenção participativa do tipo analítica descritiva, no contexto escolar da escola EMEFM "João Maria" na comunidade de Rio Doce e no Laboratório de Informática da EEEFM"Pedro Teixeira",  em Abaetetuba, envolvendo alunos da 8ª série e 1º ano do ensino médio.


Para o professor "A análise dos dados levantados ao longo da pesquisa apontam para um estímulo e ganho considerável nas aulas de arte, quando apoiadas com o suporte das novas ferramentas pedagógicas advindas da profusão das novas tecnologias no mundo agregadas a educação".


O trabalho de Conclusão de Curso - TCC apresentado ao colegiado de Pedagogia da Universidade Federal do Pará, como requisito para a obtenção do grau de Licenciatura Plena em Pedagogia, sob a orientação do professor Gilmar Pereira da Silva, com o tema "Sistema de Organização Modular de Ensino (SOME): Uma alternativa educacional no município de Cametá", dos graduandos Arodinei Gaia de Sousa e Marcio Luís Pinto Furtado, no município de Cametá, no ano de 2002 é outra fonte como referência para o estudo sobre o SOME.


Para os autores "Entre essa diversidade educacional no estado do Pará, inclui-se o Curso Supletivo Normal, o ensino à distância, as provas do DESU e o SOME. O SOME surge como uma proposta destinada a uma clientela de educandos que precisam concluir o ensino médio, mas por questões socioeconômicas são impossibilitadas de deslocar-se aos locais onde funciona o ensino convencional mantendo-se assim, excluídos deste processo de ensino".


E continuam: “Muitas localidades no estado todo, já foram contemplados com o projeto, que é mantido pelo governo estadual e que proporciona a uma quantidade significativa de pessoas 'inclusão no mercado de trabalho' e/ou a continuidade dos estudos em níveis mais elevados".


Sem dúvida “O município de Cametá, também faz parte desse contexto educacional. Algumas localidades(Juaba, Carapajó, Porto-Grande, Vila do Carmo e outras), há alguns anos já forma profissionais através do projeto. Entretanto faz-se necessário um estudo profundo que explique como se dá o funcionamento desse sistema de ensino em nosso município, quais as dificuldades encontradas tanto pelos profissionais que se deslocam em um sistema de rodízio a essas localidades para o trabalho de docência, quanto pelos alunos que convivem com nova proposta de se fazer educação, como também a formação que esses educandos estão recebendo".


Assim como outros dados foram levantados pela pesquisa e concluem: "Através dessa pesquisa também podemos contribuir com o projeto, quando nos dispomos a discutir e apontar propostas de melhoramento direcionadas aos diversos problemas, que ainda precisam ser solucionadas para o melhor andamento do curso e, contribuiremos com a comunidade ao realizarmos um trabalho, que divulga um sistema de ensino que ainda é oculto para grande parte da população do município que não tem conhecimento do mesmo e quando o tem é meramente parcial".      


Outra obra importante Viajante do Giz, do escritor e professor Arodinei Gaia de Souza, esta é interessante, pois retrata o cenário de um dos maiores projetos de inclusão social da Amazônia, que é o Sistema de Organização Modular de Ensino – SOME que por sinal, fez trinta e três anos, nesse estado considerado território continental.


O livro que foi publicado ano passado, pela NTC Produtora e Editora, sem o rigor acadêmico, através das experiências do autor e de vários educadores que atuam no Sistema Modular, através de crônicas. O Historiador João Batista P. Pereira, diz “Arogas nos propicia uma verdadeira aventura com sua arte de escrever, nos faz navegar como velejadores em suas crônicas sobre os aventureiros do giz. Seus personagens nos dão esclarecimentos de como esses educadores passam a maior parte de suas vidas e, também, mostram-nos que a grande maioria já até acostumou, ou quiçá parece bem adequado com tudo isso. Nesta viagem com as letras, que o escritor Arogas realiza, fica explícita que não há uma receita e, tampouco, uma lista enumerando o que se pode ou não se deve fazer dentro do processo educacional na modalidade modular, até porque se trata de um modelo de ensino que requer que o profissional se adeque à realidade de cada comunidade e, acima de tudo, tenha compromisso para com a educação com qualidade. No entanto, isso não quer dizer que deva existir a falta de compromisso por parte daqueles que se propõe a fazer parte da parceria para o funcionamento do Sistema Modular".


O autor e o livro: Observador


O autor Arodinei Gaia de Sousa, ou simplesmente Arogas, como gosta de ser chamado é apreciador dos rios, da vida ribeirinha, do vai-e-vem das marés, do sobe-e-desce dos mururés. Dai estar no sangue o gosto pelas viagens, os fascínios pela observação dos acontecimentos da vida, das cenas do cotidiano humano, dos momentos marcantes da trajetória dos homens.


Cametaense de nascimento tem na composição da própria história muitas cenas marcantes – de sofrimento e perdas, alegrias e vitórias – que o tornam um misto de dureza e sensibilidade. É o lado sensível, no entanto, que o deixa atento, observador, para os detalhes, para as ações e acontecimentos da vida. O que depois são registrados em forma de crônicas de Cenas da Vida, selecionadas e organizadas, como presentes em Cenas Moduleiras, de o Viajante do Giz.


Por força da docência em Língua Portuguesa – além da formação em Pedagogia, Gestão ambiental e Língua Espanhola – atuou (e ainda atua) por vários lugares e em várias situações de ensino fundamental ré superior, como (e principalmente) pelo ensino médio do Sistema de Organização Modular de Ensino – SOME – da Seduz, o qual lhe deu oportunidade de conhecer boa parte do estado do Pará. Pode assim, desde o ano de 1993, conviver com pessoas diferentes e experimentar adversidades da vida m lugares distintos.


Os anos de atuação no Sistema Modular, principalmente deram-lhe tempo e possibilidades para ver, ouvir e viver situações interessantes do cotidiano do professor modulou-o. Muitas dessas cenas foram registradas e agora estão apresentadas em o Viajante do Giz, para o conhecimento dos que querem saber um pouco dos altos-e-baixos do que é ser docente modulei-o, ou para o deleite de muitos professores que podem se encontrar nas narrativas e até se ver protagonista nelas. Quem sabe?


O autor, em sua viagem pelos caminhos da formação profissional, em busca de novos conhecimentos, tem corrido no campo pós-graduação – em âmbito nacional, estrangeiro e também virtual – tem registrado outras cenas que vão surgindo ao longo desse percurso. Algumas estarão em “Crônicas Estudantis” e “Em busca da Espanhola”.


Enquanto as cenas da vida se concretizando no papel, o Arrogas, filho ribeirinho, ajarapanamense, cametaense, paraense e amazônida, segue sua sina de observador da vida. Resta você ler, se ter e se ver nas histórias.


O Observador


Uma boa dica para leitura, principalmente para comunidade moduleira e que estuda educação do campo. Notável como foi escrito, para um professor da terra dos “Notáveis” e dos “Romualdos”.


No dia 13 de dezembro do ano passado, foi apresentada a dissertação como requisito parcial para obtenção do título de mestrado na Universidade Estadual do Pará, pela técnica em educação Conceição de Nazaré de Morais Brayner, com o título Sistema de Organização Modular de Ensino: um estudo avaliativo da organização do trabalho pedagógico no ensino médio do meio rural.


A referida pesquisa que na verdade foi um Estudo de Caso, teve como objeto a Escola Municipal Álvaro Varges de Araújo, que se localiza na Vila de Boa União, em Igarapé Mirim, no Estado do Pará, onde funciona o Sistema de Organização Modular de Ensino – SOME.  Modalidade de ensino, gerenciado pela Escola Sede da Secretaria de Estado de Educação - SEDUC.


Segundo a pesquisadora “O estudo fundamentou num referencial teórico na perspectiva histórico-crítica e parte da premissa de que o projeto SOME se relaciona com a educação do campo e deve buscar caminhos para esse diálogo”.


 E dessa forma, como apresentou Conceição Brayner:


a) Refletir o trabalho do Sistema de Ensino Modular pontuando aspectos inerentes à gestão do projeto político-pedagógico, com base nos princípios previstos nas Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo;


b) Analisar o processo ensino-aprendizagem considerando algumas implicações que derivam dos princípios da Educação do Campo. Os sujeitos são: alunos e professores do SOME, utilizando-se de técnicas tais como: Entrevistas semiestruturadas e questionário. A pesquisa apontou para o pressuposto de que educadores e educandos devem participar da construção do Projeto Político-Pedagógico, fortalecendo a identidade da escola do campo, que se caracteriza pela sua vinculação às questões inerentes à sua realidade. Os resultados revelam a preocupação dos professores com as taxas de evasão no Sistema e a necessidade de garantir o acesso dos jovens ribeirinhos à escolarização e conclusão da educação básica, além disso, os alunos apontam para perspectivas de trabalho ou continuidade de estudos. Os relatos de professores destacam:


1-      As condições de trabalho do professor (escassez de recursos didáticos e tecnológicos, falta de acompanhamento pedagógico, etc.);

     
2-       A necessidade de formação continuada de professores para o trabalho com disciplinas de carência e atendimento de exigências Sociais;


3-       A importância da realização de encontros para discussões teóricas metodológicas sobre as bases curriculares do Ensino Médio e a Educação do Campo. Os alunos pontuam a expectativa de a escola ser regular, dispor de oportunidades para continuidade de estudos e alternativas de trabalho para o sustento de suas famílias.



Em sua conclusão, este estudo, como diz a pesquisadora: “foi realizada com a finalidade de investigar a gestão do trabalho pedagógico no Sistema de Organização Modular de Ensino da SEDUC/PA, considerando os princípios e procedimentos estabelecidos nas Diretrizes Operacionais das Escolas de Educação Básica no Campo (2002).



 E continua “fundamentos que afirmam e/ou contradizem as DOEBEC na opinião de alunos e professores do Sistema. As reformas educacionais se inserem no processo de discussão do estudo, pois, demandam novas exigências para a educação e especificamente aqui para as escolas do campo. Apresentam-se no escopo, diretrizes para desempenho docente e discente, parâmetros para a gestão escolar, novas formas de atuação e amplo debate sobre as concepções que envolvem o trabalho pedagógico. São definidos novos papéis para professores e alunos, além da rotina de aulas e jornada de trabalho. As DOEBEC além de apresentar o caráter político da Educação do Campo, trouxe referências explicitando princípios e procedimentos para o trabalho pedagógico, o que implica em reflexões e análises da prática educativa e das políticas educacionais implementadas no Estado. A amplitude do trabalho pedagógico compreende, entre outros afazeres, um conjunto de atividades ligadas ao processo ensino-aprendizagem, que demandam planejamento, acompanhamento e avaliação do atendimento dos alunos. Neste caso, os professores no Sistema Modular, atuam em diferentes localidades situadas no interior do Estado e lidam com situações diversas, o que deve estimular a contextualização dos conteúdos a partir das realidades campesinas. A análise das atividades próprias do trabalho docente no SOME, entendidas nesta dissertação, como a forma de se organizar o trabalho pedagógico, permite compreender que existe distância entre o que é prescrito nas Diretrizes Operacionais para as Escolas do Campo, e o que é de fato implementado. A ausência de momentos de reunião para planejamento docente e o desconhecimento do Projeto Político-Pedagógico relatado na pesquisa por alunos e professores, provoca o distanciamento dos profissionais e comunidades com as metas estabelecidas pelo projeto, o que devia ser provisório, passou a ser constante. A condição de deslocamento dos profissionais para as localidades impõe a realização de um. trabalho solitário, o que reafirma a necessidade de desenvolver vários momentos de trabalho coletivo, compartilhando as finalidades do E.M. experiências de planejamento interdisciplinar, metodologias para combater a fragmentação do conhecimento, etc. Os professores, que trabalham em forma de circuitos, passando por várias localidades e deparam-se muitas vezes com questões estruturais da educação, tais como: evasão, distorção idade/série, materiais didáticos e conteúdos que descartam os saberes culturais, tecnologias e material insuficiente para desenvolver suas atividades de ensino e ações educativas complementares, distanciamento das discussões dos Fóruns de Educação, etc. o que pode ser um fator estimulador da exposição/imposição de uma cultura urbana aos alunos do campo”.



Para a autora da dissertação “Outro fator de preocupação se refere ao aprimoramento profissional, reduzida participação dos docentes nos cursos de formação continuada, ocasionado pela distância dos polos e questões geográficas do Estado, que dificultam o deslocamento e a comunicação para muitos profissionais nas localidades, e assim, o docente tende a se afastar e acomodar-se com as circunstâncias (item V, art.67 da Lei 9394/96). O Parecer do MEC a respeito das DCNEM (2012), permite uma melhor compreensão das novas formas de atuação demandadas para o trabalho docente. Esta análise deve ser feita em confronto com as orientações contidas nos cursos deformação de professores para a Educação Básica. Essas diretrizes contêm um conjunto de competências para os professores, estabelecendo relação entre ciência, cultura, tecnologia e trabalho. Os objetivos da escola do campo não são apenas diferentes, mas antagônicos aos da empresa capitalista; e, por este motivo, não é coerente utilizar métodos inerentes ao sistema dominante (Paro, 2002). O próprio aluno, ser humano, sujeito histórico, de cuja vontade depende o ato educativo, constitui-se em mais motivo para a diferença. A respeito do que afirma Oliveira (2012): as bases teóricas socioculturais e epistemológicas da educação do campo na Amazônia, apontando as matrizes educacionais emergentes: a autonomia, o trabalho, a cultura, a eticidade, a criticidade, a relação entre os saberes e o diálogo, acredito que a escola é um espaço de aprendizagem e não o centro de transmissão de conhecimentos e há necessidade de mudar concepções a respeito dos setores populares, suas lutas e seus conflitos. Nesse sentido, acredito que os movimentos sociais têm muito a contribuir com a escola. Através de suas práticas e de seus mecanismos de resistência à barbárie, todas as forças de luta que mobilizam a sociedade têm muito a ensinar ao sistema de ensino, seja ele regular ou modular, como instrumentos no processo de construção de uma sociedade onde todos tenham direito à dignidade. A reflexão sobre o significado do trabalho pedagógico do modular, das demandas por melhorias de condições de trabalho, por parte os professores, mostra que as resistências existem e se fazem presentes, embora assumam características tais como: ausência de completa adesão, não cumprimento de carga horária, descrédito em alguns movimentos de luta, desarticulação, falta de integração da categoria como um todo, etc.”.



Ela aborda que “É interessante propor na discussão que se planeje a oferta do E.M. aderindo a outras modalidades, observando a Pedagogia da Alternância, para inserir calendário, produção e metodologias de ensino que aliem teoria e prática, bem como, estudo e trabalho. A cultura amazônica deve servir de inspiração na organização do trabalho pedagógico, para não desvincular o conhecimento científico dos saberes culturais. O que é encontrado no cotidiano escolar do SOME, devido às questões estruturais do Sistema e à consciência, que os professores têm desta realidade, pode representar indicadores de intervenções necessárias à ruptura, por parte dos próprios professores, no que se refere aos fatores que os levam a esta situação. Pensar equipes de acompanhamento para monitorar as atividades do Sistema e orientar a prática docente, precisa ser prioridade para o alinhamento com os princípios previstos nas DOEBEC, pois, a falta do apoio técnico citado pelos professores, tem contribuído para o distanciamento dos compromissos assumidos pelas Esferas Governamentais com as comunidades que demandam o Sistema”.


 Conceição Brayner relata que “Este trabalho não pode ter a pretensão de esgotar o assunto, mesmo porque as relações são complexas, e sofrem os reflexos de mudanças mais amplas, que ocorrem em contexto global e nacional”. As recomendações ficam como resultado de reflexões no processo da investigação:

***   Elaboração de referenciais em nível de Estado do Pará para orientar a prática educativa no E.M. do campo;

***   Projeto Político-Pedagógico do SOME a ser discutido e construído com as comunidades;

***   Maior aproximação do SOME com o Fórum Estadual de Educação do Campo;

***  Encontro Estadual do Ensino Médio para a composição de políticas de educação tanto para a cidade como para o campo;

***  Formação Continuada para os professores do Ensino Médio;


***  Formação continuada para os Técnicos que acompanham as ações pedagógicas do E.M. (incluindo cursos específicos da Educação do Campo)


***  Sistema Estadual de Avaliação e Monitoramento dos resultados educacionais da Educação Básica para definição de políticas públicas de educação”.


Elementos Administrativos e Pedagógicos do SOME nas percepções de seus atores foi a dissertação defendida pela Ms. Rosivânia Maciel Oliveira, na Universidade Católica de Brasília, em 2010, sob orientação da Profª Dra. Beatrice Laura Carnielli.


Para a pesquisadora Rosivânia Oliveira a pesquisa teve como objetivo “investigar as percepções dos atores, que seriam os diretores, coordenadores pedagógicos, alunos professores, egressos e membros da comunidade”. A pesquisa se desenvolveu em três escolas com suas peculiaridades: planalto, várzea e ribeirinha.


Para ela, o Some possibilita perspectiva de nível superior para os alunos da zona rural.


O Sistema Modular de Ensino no Estado do Pará: Contribuição para o Desenvolvimento Educacional no município de Abaetetuba, da pesquisadora Aldeíse Gomes Queiroz, para obtenção do título de Mestre, na Universidade de Taubaté, no ano de 2010, enfatiza bem a importância do SOME para os alunos da zona rural.


O objetivo da dissertação de Aldeíse Queiroz “De que forma estratégias desenvolvidas no SOME contribuem para o desenvolvimento educacional do município de Abaetetuba”.


Segundo a pesquisadora “Os principais fatores que justificam a contribuição do SOME para o desenvolvimento da comunidade de Abaetetuba são possibilidades de aumento da escolaridade, maiores perspectivas de ingresso no mercado de trabalho e consequente geração de renda”.


Avaliação no “SOME” aparece? Um olhar sobre o Sistema de Organização Modular de Ensino (SOME) em comunidades campesinas do Estado do Pará – Norte do Brasil, artigo de João Marcelino Pantoja Rodrigues.


O objetivo principal do artigo, segundo o pesquisador João Rodrigues “Analisar, a partir de uma política educacional para o ensino fundamental e médio – o SOME – como ocorre a avaliação institucional na lógica modular e se há efetividade neste processo no sentido de contemplar as especificidades das populações do campo paraense”.


Processos de Ressignificação docente na Educação básica: Experiências Sócias Educacionais Vivenciadas no Ensino Modular do Pará é a dissertação de mestrado da Professora e Pesquisadora Marina de Sousa Costa, pela Universidade de Évora, Portugal, defendida em 2010, com orientação da Profª Dra. Isabel J.B.B. Fialho.


Para a Ms. Marina Costa a pesquisa “representa um mergulho nas experiências vivenciadas pelos professores do projeto SOME, no sentido de intercambiar experiências socioeducativas materializadas na profissão docente”.



Faço das palavras da pesquisadora Marina Costa, em sua dedicatória, uma homenagem justa e digna para comunidade do Some, em especial aos professores, que nesses 35 anos de SOME de lutas e conquistas, que se comemora, hoje: “Aos guerreiros professores do Projeto SOME, que apesar das condições adversas e dos múltiplos obstáculos, mantiveram/mantém a bravura no ousado desígnio de fazer do ato pedagógico uma ação dignamente consequente, intervindo na complexa territorialidade da Amazônia paraense, grande exemplo de pessoalidade e profissionalidade”.

3 comentários:

  1. Os resumos das obras estão excelentes, nos estimula a lê-las na íntegra pra conhecer melhor essa grande politica pública de inclusão educacional e social que é o SOME. É a garantia da cidadania educacional que chega de maneira democrática aos mais longínquos interiores paraense e você professor Ribamar, é sem dúvidas uma das grande referências no SOME, quer como educador, coordenador ou como lutador incansável por uma educação inclusiva e de qualidade no Estado do Pará. Parabéns

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    1. Muito obrigado
      Nossos gestores não leem nada disso...
      Infelizm3nte

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  2. Resumos excelentes! Uma breve leitura e nos permite viajar as mais diversas localidades e situações a qual esse Sistema de Ensino tem proporcionado a população. Quantas histórias tens a nos contar...

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