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quarta-feira, 16 de março de 2011

Brasil, o país da Fila

                                                                
                                                                                      Valdivino da Silva Cunha*

Tem certas coisas que são tipicamente brasileiras, como é o caso das filas. Duvido que haja em qualquer outro país, tantas e longas filas como no Brasil, daí porque os governos brasileiros (Federal Estadual e Municipal) deveriam patentear suas filas, elas são a cara do Brasil, assim teríamos a tríplice coroa como país do futebol, do carnaval e da fila. No Brasil tem fila em todo e qualquer lugar, a qualquer hora, seja do dia ou da noite, seja pra sacar o PIS/PASEP, pra ir ao banheiro, pra consulta, pra pegar o avião, mesmo que se vá ao quinto dos infernos, prá lá também tem fila.

As filas no Brasil têm em qualquer lugar e se não tiver improvisar-se. Somos catedráticos neste quesito. Tem fila até pra impressão de documentos, neste caso, a própria impressora avisa quantos documentos estão na fila aguardando a vez para ser impresso.

Aqui, no Brasil, em função do tempo que se passa numa (ou em várias filas), fazemos grandes amizades, trocamos telefones, falamos dos nossos problemas e coisa e tal. Quando finalmente chega a nossa esperada vez do atendimento, desejamos a quem fica boa sorte no atendimento, com votos de um breve encontro na próxima fila. As filas brasileiras de tão extensas que são precisam ser dividas em cabeça, meio e rabo. O rabo é a parte que o brasileiros menos gosta (pelo menos da fila). Elas precisavam  ter também o CEP, assim ficava mais fácil de localizar onde estava o inicio, o meio ou fim da fila, de tão extensas que  são.

Quem pensar em sair num feriadão prolongado, é bom que vá prá fila três dias antes da viagem, pra não correr o risco de passar o feriadão na fila, pois o sistema pode sair do ar e você sair do sério e ficar sem viajar.

Não há nada mais democrático no Brasil do que as filas, elas são regidas pelo principio da universalidade e da igualdade, exceto, os idosos, as gestantes, os deficientes e pessoas acompanhadas de crianças de colo, que deveriam ter tratamento privilegiado, mas eles também enfrentam filas.

O Jeitinho brasileiro também está presente nas filas, seja através dos furões (de filas) ou daqueles que fazem da venda de lugares nas filas um mecanismo de ganhar a vida, só falta ter seus direitos trabalhistas reconhecidos pelos governos. O preço de um lugar na fila atendem pelas regras do mercado, pela lei da oferta e da procura, quanto maior a procura, mais elevado será o preço. O preço depende das condições climáticas: com chuva é um preço, sem chuva, outro. Não vai demorar muito e surgirá um novo mercado no entorno das filas, o mercado das quentinhas, dos guarda-chuvas (esse já existe), de banquinhos, de colchonetes e de mini-banheiros móveis.

Sou obrigado a parar agora porque existe uma fila aqui no Cyber aguardando a vez, na fila.

      * O autor é professor de Sociologia do Some e colaborador desta revista eletrônica.

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