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quarta-feira, 9 de março de 2011

Depois do carnaval, as cinzas

                                                                             
                                                                                          Valdivino da Silva Cunha *


Dizem que no Brasil o ano só começa mesmo pra valer, depois do carnaval, se é que começa, aliás, até que começa, para alguns. O carnaval como se sabe, começou no século XI por ordem da Igreja católica. Ele antecede um período de quarenta dias de jejum, que é a quaresma que se inicia com a quarta-feira de cinzas, pra quem segue os dogmas do catolicismo.

Na contramão da Quaresma, tempo de penitência e privação, estes dias são chamados "gordos", em especial a terça-feira (Terça-feira gorda). E por falar em gordo, gorda está a conta dos nossos (infelizmente, nossos) parlamentares do Congresso que estabeleceram para si próprios um aumento de 61,8% em seus salários, com efeito, cascata para as Assembléias Legislativas e Câmaras de Vereadores. Isso sim que é uma terça-feira gorda ! . Foram esses mesmos parlamentares que travaram um grande embate antes do carnaval no Congresso Nacional por conta do reajuste do salário mínimo. Alguns defendiam demagogicamente que o novo salário mínimo fosse elevado para R$ 600,00, (seiscentos reais) outros que ele ficasse em R$ 545,00 (quinhentos e quarenta e cinco reais) o qual prevaleceu.



Talvez por lapso de memória dos parlamentares, eles se esqueceram de contemplar nesse trem da alegria, seus pares como os mensaleiros, a família Roriz, o Juiz Lalau, o médico Roger Abdelmassih- prá quem não lembra ou não sabe, esse médico é um dos mais “famosos especialistas” em reprodução assistida do país, que foi indiciado pela Polícia Civil sob a acusação de estupro e atentado violento ao pudor contra ex-pacientes. Ao menos 60 mulheres dizem ter sofrido crimes sexuais durante consultas. Eles fazem tudo isso e se quer usam máscara, por mais que sejam caras-de-pau. O carnaval de bonecos que acontece em Recife deveria ser em Brasília, tinha tudo a ver.


O carnaval tem a incrível capacidade de mobilizar, aglutinar pessoas, seja no Sambódromo do Rio de Janeiro ou na Vila de Cumaru-Pa, só perde mesmo para o futebol. Se agíssemos assim também para os desmandos da saúde, da criminalidade e da falta de ética, o Brasil seria outros 500.



Depois da euforia e da embriaguez do carnaval, vem à dura realidade, a começar pelas estradas, mal sinalizadas e esburacadas que viram um prato cheio para os irresponsáveis alcoolizados. Se eles morrem sozinhos, vá lá, mas eles não morrem sozinhos.

                                                                     * Professor de Sociologia do SOME/SEDUC.Pa. e colaborador desta revista eletrônica.

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