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quinta-feira, 4 de agosto de 2022

SALA DE AULA: UM PROJETO PEDAGÓGICO DE VIDA (Peça Teatral): Parte IX

 



                                                   Carlos Alberto T. Prestes



CENA 9

 

Personagens:

Professor(a): Laura e Socorro

Alunos(as): Sérgio, Thaís e Rodrigo

Segunda-feira, 11 de abril de 2005, as professoras Laura e Socorro entram na turma A – 702, 6º ano do ensino fundamental e cumprimentam os alunos e alunas. Era o primeiro horário daquele dia e a garotada ia chegando um a um em sala de aula, até que todas as carteiras ficaram ocupadas. Os alunos e alunas acharam um pouco estranho estarem as duas professoras em sala, mas não perguntaram nada, sabiam que a professora Laura e a professora Socorro iriam contar já, já e matar a curiosidade de todos. As professoras esperaram todos sentarem e fazer silêncio. Então, deram as boas-vindas.

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PROFESSORA LAURA: Bom dia, pessoal!

ALUNOS: Bom dia!

PROFESSORA LAURA: Sabem por que estamos aqui todos reunidos?

ALUNOS: Não!

PROFESORA LAURA: Para terminar as atividades que andamos fazendo durante a semana com vocês. Não só com vocês, mas com as outras turmas também, inclusive de outras séries.

THAÍS: Outro trabalho, professora? Que trabalho é esse?

PROFESSORA LAURA: Calma, Thaís, eu vou falar. Sabem o que nós vamos fazer hoje?

ALUNOS: Não!

PROFESSORA LAURA: É um desafio para todos nós.

PROFESORA SOCORRO: Nós vamos produzir junto com vocês os livros que serão lidos em sala de aula.

PROFESSORA LAURA: E como vai ser isso? Bem, na parte da frente de uma folha de papel sem pauta vocês vão colocar um título para uma história e fazer um desenho que represente o título. Na parte detrás da folha, vocês vão criar uma historinha imaginária ou baseada na vida real.

PROFESSORA SOCORRO: Vocês vão ter um tempo para escrever, de hoje até sexta-feira, no horário das aulas. E continuarão realizando essa atividade em suas casas. À medida que vocês forem terminando suas histórias, nós recolheremos os papéis um por um, depois iremos lê-los com muita atenção, fazer as correções ortográficas, criar uma capa bem interessante, folha de rosto, prefácio, sumário, digitar todas as histórias que vão nos ajudar a montar o livro.

SÉRGIO: O nosso primeiro livro. Que bacana!

PROFESSORA LAURA: Depois, vamos dar um jeito de conseguir uma editora pra publicar o livro de histórias dos alunos da escola Paulo Freire.

RODRIGO: Professora, eu posso escrever uma história sobre o meio ambiente? Eu posso falar do lixo que fica amontoado todo dia no canto da José Bonifácio com a Barão de Igarapé Mirim, no fim da tarde, quando fecha a feira.

PROFESSORA SOCORRO: Claro, Rodrigo! É um ótimo assunto pra ser abordado. Tenho certeza que você tem muita coisa pra contar.  

SÉRGIO: Eu já sei do que eu vou falar. A Nara do 7º ano disse que está escrevendo a história da avó dela. Disse que a avó anda muito doente, tá de cama, não tem forças pra levantar, mas ela é muito boa pra Nara. Eu também gosto muito da minha avó. Vou pedir pra ela me contar um pouco da época em que ela era ainda uma menina, onde morava, o que fazia, como brincava, que sonhos ela tinha... Isso mesmo, eu vou escrever sobre a vida da minha avó. Ela merece.

PROFESSORA SOCORRO: Sérgio... sua avó irá ficar muito orgulhosa com a sua atitude. Faça isso. Eu também iria ficar muito orgulhosa se meu filho escrevesse sobre mim.

THAÍS: Aí, professoras, me ajudem! Eu tô toda atrapalhada. Não sei sobre o que escrever. Se escrevo uma história de assombração que aparece lá em Muaná e mete medo em todo mundo, ou se escrevo sobre uma coisa que tenha acontecido. Eu acho que é mais fácil escrever sobre alguma coisa que aconteceu, do que criar uma história.

PROFESSORA LAURA: Você é de Muaná, Thaís?

THAÍS: Sim, toda minha família é de lá.

PROFESSORA SOCORRO: Você gosta de Muaná, de passar as suas férias lá?

THAÍS: Sim, muito. Lá tem rios, igarapés, as pessoas são humildes, todo mundo se conhece. E tem muita vegetação também, muito peixe e açaí.

PROFESSORA LAURA: Você gosta de açaí?

THAÍS: Se gosto? Eu a-do-ro. A senhora falou a minha palavra mágica, que eu gosto de pronunciar bem devagar, como se eu estivesse saboreando: A-ÇA-Í. Não como nada sem açaí. Uma vez, já era lá pras uma e meia da tarde, mamãe mandou eu comprar açaí, mas quando cheguei no vendedor, ele disse que não tinha mais. Eu perguntei se ele sabia de outro lugar que vendesse açaí. Ele disse “vai lá no seu Juca, no terceiro quarteirão, talvez inda esteja aberto. Ele fica até mais tarde”. Eu fui até o seu Juca, mas ele também não tinha mais. “Vendi o último litro agora a pouco”, ele me disse, com um sorriso sem graça no rosto. Eu fiquei desesperada. Perguntei se não tinha nem mais um pouquinho que fosse, mesmo que fosse aguado. Como eu estava insistindo, ele me disse que só tinha um resto de água de açaí que tinha sobrado. Eu pedi na mesma hora pra ele me vender a água do açaí. Ele não acreditou no que eu estava dizendo. Então, ele disse que água de açaí não se vendia, mas se eu quisesse, ele colocava num saco pra mim.  Então, eu disse pra ele colocar. Eu levei a água do açaí pra casa. Foi a minha salvação.

PROFESSORA SOCORRO: Tai, Thaís. Você já tem a sua história. Escreva sobre esse dia de aventura, quando você saiu atrás de açaí.

THAÍS: É mesmo, professora. Nem tinha pensado nisso.

PROFESSORA LAURA: Bem, gente! Então, mãos à obra!

PAUSA: Começam as atividades. Alguns alunos conseguem até terminar suas histórias durante aquela aula. Mas, a maioria, levou as atividades pra continuar em casa, após tocar a campainha.

 

 

FIM DA NONA CENA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

QUARTO ATO

 

 

 

 

 

 

 

 

CENA 10

 

PERSONAGENS:

PROFESSORES(AS): Sônia, Damasceno, Laura, Zenilda, Salomão, Socorro, Ivani, Paulo e Inácio.

ALUNAS: Laíla, Deise, Thaís, Fabíola, Ana Cristina e a Roniquele

No intervalo das aulas do turno da manhã de uma terça-feira, 12 de abril, por volta das 10 horas, a professora Sônia e o professor Damasceno, ambos da UFPA, chegam à escola Paulo Freire, a pedido dos professores Paulo, Laura e Ivani, para reunir com eles e orienta-los de como desenvolver um projeto pra motivar alunos e alunas a lerem mais, a criarem seus próprios textos científicos ou de ficção. Eles se dirigem para uma sala reservada e, ali, fazem-se as apresentações. Todos sentam. Estão presentes também a professora Zenilda, a professora Socorro, o professor Inácio, o professor Salomão. A professora Laura toma a palavra e começa a reunião.

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PROFESSORA LAURA: Bem gente, bom dia a todos e a todas. Pra quem ainda não conhece, esta é a professora Sonia, e este é o professor Damasceno. A professora Sônia tem pós-doutorado em educação, é professora do Centro de Educação da UFPA e faz parte do quadro docente do Mestrado em Educação. Coordena o Grupo de Pesquisa “Constituição do Sujeito, Cultura e Educação” – Grupo ECOS. Publicou artigos sobre Educação e Cultura Amazônica, particularmente na Ilha do Marajó. Inclusive, eu mesma faço parte de um projeto que a professora Sônia coordena intitulado “Educação e Cultura em José Veríssimo: apontamentos para a compreensão da discriminação e do preconceito étnicos no Brasil”. Eu já até comentei um pouco desse projeto com a professora Ivani e com o professor Paulo. Bem, e este é o professor Dr. Damasceno, que também faz parte do corpo docente do Centro de Educação da UFPA, já foi secretário de Estado no Governo Ana Júlia e ministra uma disciplina chamada Planejamento Educacional, ou seja, é um professor que conhece tudo sobre projetos. Bem, dito isso, passo a palavra à professora Sônia e ao professor Damasceno.

PROFESSORA SÔNIA: Bom dia, gente! A professora Laura já me apresentou. Realmente, eu coordeno o Grupo ECOS, que é um grupo de pesquisadores que dedicam parte de seu tempo útil buscando mais conhecimento sobre cultura, educação, principalmente na nossa região, a região amazônica. Bem, eu e o professor Damasceno temos alguma experiência com projetos, justamente por estarmos vivenciando isso durante o ano inteiro, orientando e incentivando nossos alunos bolsistas, pra que eles se tornem mais tarde os novos pesquisadores, doutores, professores que vão continuar esse árduo trabalho de elevar o conhecimento da educação, da cultura, da etnologia a um patamar mais nobre, mais digno que sabemos que merece. Essa é a nossa luta do dia-a-dia. É o que eu gosto de fazer. Aliás, se vocês querem trabalhar em um projeto, seja qual for, só se envolvam se gostarem, porque vocês têm que gostar do que fazem, senão, não dará certo, não irá muito longe. Faça acreditando que vai dar certo. Não é isso, professor Damasceno?

PROFESSOR DAMASCENO: Sim, isso mesmo. Um projeto de pesquisa sempre tem os seus percalços, como qualquer outro projeto, como tudo que a gente faz na vida. Quando a gente está pensando o projeto, a gente sonha com os resultados; quando a gente está cuidando da montagem do projeto, a parte teórica, estrutural, a gente começa a enxerga-lo como algo que pode ser palpável, que toma corpo, que tem uma meta, uma ideia que pode se transformar em algo concreto; quando a gente passa para o trabalho de campo, a gente começa a experimentar uma mistura de sensações. Uma hora parece que os nossos objetivos estão sendo alcançados, outra hora parece que ainda estão distantes, com tantas pedras no meio do caminho, principalmente quando se trata de verbas pra apoio à pesquisa. Até as bolsas pros nossos alunos que precisam, porque gastam com transporte, material e até mesmo pra ajudar na compra de livros, é uma batalha. Mas quando a gente segue adiante com o trabalho e vê os resultados, então, pode ter certeza que valeu a pena todo o esforço pra chegar ali. Principalmente, quando podemos aplicar esses resultados na vida prática.

PROFESSORA SÔNIA: Muitas dessas pesquisas são partilhadas em Congressos, Colóquios, Encontros, Seminários e até são transformadas em livros. Assim, mais gente pode ter acesso ao nosso trabalho, com informações mais exatas. E eu acho que é isso que vocês querem também pros alunos de vocês, não? Começar um projeto no qual eles acreditem que dará certo e, por acreditarem, possam ser motivados a participar, e que o resultado possa ser compartilhado com outras pessoas, com a comunidade, quer seja através de edição de livros, quer seja através de seminários, congressos, palestras. O importante é fazer com que as pessoas leiam, assistam, ouçam e façam, coloquem em prática. Agora digam: em que podemos ajuda-los?

PROFESSOR PAULO: Nós queremos estimular nossos alunos a lerem mais, mas não só lerem apenas, e sim, lerem com vontade, tendo consciência do que estão lendo. Não temos a pretensão de formar escritores ou poetas, não. Queremos formar cidadãos pensantes, críticos, que tenham independência de opinião, que sejam úteis à sociedade, que valorizem a educação, que se tornem homens de caráter, pois, só assim - acredito eu - a nossa Belém, o nosso Pará, o nosso Brasil terá condições de passar por transformações sociais positivas, que tragam melhorias reais pra aquilo que é a parte mais importante em nossa nação: o povo brasileiro, o indivíduo; e, portanto, que consigamos, com isso, contribuir, mesmo que seja com uma pequena parcela, porém significativa para nós, no combate à desigualdade social, diminuindo as distâncias entre as classes, as separações de cor, sexo, escolaridade, acabar com os diversos tipos de bairrismos que existem na nossa sociedade. E por que não começar aqui, pela nossa própria escola?

PROFESSORA IVANI: Mas isso, professores, não quer dizer que, aqui, da nossa escola, não possa sair um novo Machado de Assis, uma Eneida de Moraes, um Carlos Drummond de Andrade, uma Clarice Lispector, uma Nelly Cecília ou Lúcia Medeiros, que são escritoras da terra e foram professoras titulares do Centro de Letras e Artes da UFPA.

PROFESSORA LAURA: E também não quer dizer que não possamos descobrir um novo crítico literário como foi José Veríssimo, não é? E que também foi educador e escreveu sobre a educação no Brasil em seu livro intitulado A educação nacional, além de ter enveredado na ficção com a obra de cunho naturalista Cenas da vida amazônica, uma seleção de contos que retratam com uma descrição ímpar o cotidiano do homem amazônico, costumes, hábitos, etnias, características antropológicas, sociais, ou seja, um estudo etnográfico.

PROFESSOR DAMASCENO: Sim, é verdade. Bem, então, vamos por parte. Vamos entender um pouco sobre o que é planejamento com prática educativa. O que é um planejamento pra vocês? Como vocês entendem isso? Pra que serve?

PROFESSOR SALOMÃO: Pra mim, planejamento é a forma como você se organiza, ou organiza as suas ideias, afim de pô-las em prática. E eu entendo que ele serve para você vislumbrar metas, objetivos, passos a serem seguidos, pra não se atrapalhar pelo meio do caminho e perder o foco de onde você quer chegar.

PROFESSORA LAURA: É, eu também acho isso que o professor Salomão falou. Nós não podemos começar um trabalho sem saber aonde nós queremos chegar. Eu já estou, inclusive, aprendendo isso na prática com a professora Sônia. Através do projeto de pesquisa que ela coordena; eu aprendi a fazer o esboço de um projeto, procurar o tema adequado, descobrir qual o problema que precisa ser trabalhado, a causa do problema e as consequências, saber porque eu quero realizar tal pesquisa e qual a contribuição dela pra sociedade, e, por aí vai...

PROFESSORA ZENILDA: Eu acho que nós queremos construir algo sólido, que não seja fugaz, que tenha início, meio e fim. E que os nossos alunos sintam prazer em participar, mas não participar como personagens secundários, não. Queremos que eles se sintam ativos, necessários, e que se vejam como o foco, os personagens principais do projeto, e que eles façam parte da construção desse ideal.

PROFESSORA IVANI: Eu também acho que, se fizermos um bom projeto, e conseguirmos fazer com que os alunos participem da sua construção, poderemos obter bons resultados.

PROFESSORA SOCORRO: Pois é, sabemos que haverá muito trabalho pela frente, mas eu estou muito otimista de que vai dar certo. Será uma ferramenta a mais que teremos em mãos em favor da educação de nossos alunos. Se fizermos um trabalho coletivo, com cada um fazendo a sua parte pra contribuir pro todo deste projeto, pra mim, não tem como não dar certo. Eu acho que o principal é a boa vontade de cada um de nós em doar um pouco do nosso tempo, que já é tão escasso, pois temos professores trabalhando em três escolas públicas e até em escolas particulares. Mas o primeiro passo nós já demos: estamos aqui reunidos pra buscar ações que possam melhorar a vida de nossos estudantes e, consequentemente, do bairro onde está localizada a escola.

PAUSA: Neste momento chegam alguns alunos representantes de cada turma, pra participar da reunião. Entram e se sentam.

PROFESSOR PAULO: Antes de continuar, quero apresentar pra vocês algumas alunas que são chefes de turma e vieram representar as suas classes e também dar sugestões, se quiserem, afinal, eles são o centro deste projeto e os principais interessados. Então, temos aqui a Laíla, a Deise, a Thaís, a Fabíola, a Ana Cristina e a Roniquele representando suas turmas.

PROFESSOR DAMASCENO: Oi, bom dia pra vocês. Sejam muito bem vindas.

ALUNAS: Obrigada!

PROFESSOR DAMASCENO: Bem, continuando com o que estávamos falando sobre planejamento, a primeira coisa que nos vem à mente quando perguntamos sobre a finalidade do planejamento é a eficiência. A eficiência é a execução perfeita de uma tarefa que se realiza. Por exemplo: a telefonista é eficiente quando atende a todos os chamados, e faz, a tempo, todas as ligações. Um planejamento e um plano ajudam a alcançar a eficiência. Isto é, elaboram-se planos, implanta-se um processo de planejamento a fim de que seja bem feito aquilo que se faz dentro dos limites previstos para aquela execução. Estão entendendo?

PARTICIPANTES: Sim!

PROFESSOR DAMASCENO: O planejamento visa também a eficácia. Chamamos de eficiência aquilo que se faz bem feito; chamamos de eficácia aquilo que tenha sentido, que realmente importa fazer porque é desejável. No planejamento temos em vista a ação, isto é, temos consciência de que a elaboração é apenas um dos aspectos do processo e que há necessidade da existência do aspecto executado e do aspecto avaliação. Temos em mente que a função do planejamento é tornar clara e precisa a ação, organizar o que fazemos, sintonizar ideias, realidade e recursos para tornar mais eficiente nossa ação. E não esquecermos de que todo autoritarismo é pernicioso e que todas as pessoas que compõem o grupo devem participar de todas as etapas, aspectos ou momentos do processo.

ANA CRISTINA: Que processo, professor?

PROFESSOR DAMASCENO: O processo de planejamento e desenvolvimento de um projeto. Não é, professora Sônia?

PROFESSORA SÔNIA: Isso. Muitas vezes, definir é seco e morto, enquanto descrever é esclarecedor e motivador. Isto acontece quando se fala em planejamento. A descrição que se segue não é a descrição do que existe, mas do que deveria existir ou, dito de outra forma, daquilo que se pode colocar como ponto de referência para ser perseguido na tarefa do planejamento. São três as perguntas básicas a serem feitas e continuamente retomadas, de forma dialética, em um processo de planejamento. Primeiro, o que queremos alcançar? Segundo, a que distancia estamos daquilo que queremos alcançar? E, terceiro, o que faremos concretamente, num prazo predeterminado, para diminuir essa distância?

THAÍS: É pra gente responder, professora?

PROFESSORA SÔNIA: Sim, Thaís, se quiser, pode responder. Vamos interagir.

THAÍS: Quanto à primeira pergunta, professora, eu acho que queremos formar pessoas de caráter. E isso pode se dar também através do acesso à leitura, não?

PROFESSORA SÔNIA: Sim, claro.

ANA CRISTINA: Na segunda pergunta, eu diria que estamos ainda um pouco longe. Não sei se muito, muito, mas acho que estamos um pouco longe do objetivo, se é que se trata da questão da leitura. A maior parte dos estudantes daqui não gosta de ler.

LAÍLA: É, e vocês sabem que muitos trabalhos que são levados pra casa, são feitos na internet, né? Chegar, eles chegam até a pesquisar, mas quando acham o assunto, copiam e colam numa folha em branco no Word, fazem uma capa, salvam pro pen drive se não tiver impressora em casa, tiram xerox e entregam pro professor ou pra professora.

DEISE: E eles nem tem o trabalho de procurar saber se aquela pesquisa foi copiada da internet ou não. Aceitam assim mesmo. Não querem ter dor de cabeça com aluno.

RONIQUELE: É verdade. Não quero dizer que seja o caso de vocês, professores, aqui. Mas tem alguns professores que não tão nem aí se o aluno tá aprendendo ou não. Eu não concordo quando o professor diz que não tem tempo pra dar mais atenção aos seus alunos porque dá aulas em três, quatro escolas. Se não tem tempo pro aluno, por que vem dar aula? E que qualidade de aula é essa?

PROFESSORA SÔNIA: Tão vendo? É isso que queremos que vocês façam; que digam o que pensam, que deem suas opiniões. Temos que saber o que vocês pensam a respeito do ensino que vocês estão tendo. Queremos que apontem as falhas, os problemas.

PROFESSOR SALOMÃO: A professora Sônia tem razão, Roniquele. Só vocês sabem o que realmente é bom pra vocês.  E é verdade também que o professor vive espremido pela máquina do estado que cobra resultados, só faz cobrar resultados. Não importa pra eles se o professor dá aulas em três ou quatro escolas, eles querem saber de resultados, e resultados positivos. Não quero relevar a responsabilidade do professor em relação à qualidade do ensino, mas também temos que entender que há um sistema trabalhando contra ele. Agora, em relação à terceira pergunta, eu acho que, o que podemos fazer de concreto pra diminuir a distância entre o ponto em que nós estamos e aonde queremos chegar, ou seja, o nosso objetivo é construir o projeto e colocá-lo em prática.

FABÍOLA: Mesmo com o projeto feito, eu acho que não vai ser fácil fazer os alunos participarem, pelo menos a maioria. Tem muito aluno que não quer nada.  Tem aluno que é membro de gangue, que vende droga, que vem pra escola só por causa das meninas.

PROFESSORA ZENILDA: Pois é. É por isso que é importante trabalharmos um projeto coletivo que envolva toda a escola, com cada professor dando a sua contribuição pra que os alunos sejam motivados a participar. E vocês também meninas, que são chefes de turma, têm que incentivar suas turmas a participar ativamente deste trabalho. Precisamos de todos.

PROFESSORA SOCORRO: Bom pessoal, então, vamos deixar que a professora Sônia continue.

PROFESSORA SÔNIA: Pois bem, modelos e metodologias dependem das concepções de homem e de sociedade que tem cada grupo. Por isso, podem variar sem grandes efeitos. Mas, se não forem respondidas as três perguntas, e de forma que uma resposta ajude na resposta das outras, não se poderá dizer que haja planejamento. Por outro lado, o esforço em responder continuamente a estas três questões, na ação-reflexão, não apenas dá eficiência ao trabalho como é o processo educativo humano mais fundamental.

PROFESSOR DAMASCENO: Então, o que queremos alcançar? A maioria dos planos que vi supunham que esta era uma pergunta já respondida. Assim, preocupavam-se em melhorar o que já estava sendo feito, sem perguntar-se acerca do “para quê” das ações. A pergunta “o que queremos alcançar?” terá conotações diferentes quando respondida na indústria, no comércio, no governo, nas tarefas sociais. Na educação ela supõe, certamente, a busca de um posicionamento, sempre pronto e sempre provisório, a respeito do homem e da sociedade, a respeito da pedagogia. É um duplo posicionamento: político, no sentido de uma visão do ideal de sociedade e de homem; e pedagógico, no sentido de uma definição sobre a ação educativa e sobre as características que deve ter a instituição em que se planeja, uma escola, por exemplo.

PROFESSORA SÔNIA: A que distância estamos daquilo que queremos alcançar? A resposta a esta pergunta nos traz aquilo que se deve chamar de diagnóstico. Deveremos perguntar se estamos longe ou perto disto, se a distância é de um tipo ou de outro, se há tendências de melhoria ou de degeneração. E se fizéssemos a pergunta de uma outra maneira? Por exemplo: O que estamos fazendo contribui (até que ponto?) para a existência daquilo que queremos alcançar?

PROFESSOR DAMASCENO: O que faremos, num prazo determinado, para diminuir essa distância? Respondidas as questões anteriores, pode-se estabelecer aquilo que é fundamental no planejamento: o que é necessário e possível concretamente para diminuir a distância entre o que se faz e o que se deveria estar fazendo.

PROFESSORA SÔNIA: É o que chamamos de programação. Inclui os objetivos e as políticas de ação; os primeiros, ações que nos comprometemos a realizar num determinado período para atingir fins, e as segundas, princípios que regerão nossa ação no período de validade do plano. O que descrevemos até aqui, é a parte de elaboração do planejamento. As outras duas partes são a execução e a avaliação, que é a revisão contínua de cada parte e de cada aspecto no processo. Assim, planejar é elaborar, executar e avaliar.

ANA CRISTINA: Apesar das explicações, parece ser um pouco complicado fazer um projeto de pesquisa. Pelo menos pra mim é.

PROFESSOR DAMASCENO: (Dá um leve sorriso) Às vezes, parece sim, um pouco complicado, mas quando for posto em prática, você vai entender bem.

PROFESSORA LAURA: (Olhando pro relógio no pulso. São 11h50m) Bem, professores e demais alunas, nosso tempo está no fim, passou muito rápido. A professora Sônia e o professor Damasceno têm compromisso daqui a pouco. Por isso, vamos marcar outro dia pra continuarmos a falar sobre a construção do nosso projeto. Professora Sônia e professor Damasceno, as palavras são suas. Vocês têm autonomia para marcar a próxima reunião.

PROFESSORA SÔNIA: (Olhando para as pessoas em volta) Bem pessoal, é verdade que eu e o professor Damasceno temos outros compromissos daqui a pouco, mas amanhã eu acho que dá pra terminarmos esse projeto com vocês. O que o senhor acha, professor?

PROFESSOR DAMASCENO: Sim, com certeza. Amanhã terminamos.

PROFESSOR SALOMÃO: (Olhando pra professora Sônia) A que horas, professora?

PROFESSORA SÔNIA: Acredito que nesse mesmo horário, logo após o recreio.

PROFESSOR PAULO: Ok professora! Então, amanhã depois do recreio.

 

PAUSA: Termina a reunião. Todos saem. Os professores da escola vão para as suas salas de aula, enquanto que a professora Sônia e o professor Damasceno saem da escola, pegam seus carros e vão para a Universidade Federal do Pará.

 

 

FIM DA DÉCIMA CENA

 

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