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terça-feira, 3 de agosto de 2010

A atuação dos movimentos populares no Conjunto Maguari



Este texto é resultado parcial da pesquisa elaborada por alunos da Escola Estadual "Maria Gabriela Ramos de Oliveira" vinculados ao Projeto " A Contribuição da História Oral na Educação no Desenvolvimento Político-Pedagógico na Educação Publica"  cujo objetivo é entender a origem da formação dos movimentos populares no Conjunto Maguari, em Belém do Pará.


O processo habitacional do Conjunto Maguari deu-se através da luta popular muito forte, a começar pela própria associação dos moradores que foi construída num ambiente de luta pelo direito de morar, no início da década de 80.  Além da associação, outros movimentos populares também tiveram um papel de destaque como é o caso da Radio Comunitária Cidade Livre FM, o CIPES e o próprio MST que por aqui fincou suas bases por um certo período.


Nas ondas da rádio... comunitária.


De acordo com as narrativas obtidas pelos alunos junto aos Professores de Sociologia Marcos Roberto Sousa e Valdivino Cunha da Silva a Associação Popular de Radiodifusão Cidade Livre FM foi fundada em 27 de dezembro de 1997 sob as diretrizes da Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária - ABRAÇO por um grupo de pessoas que representavam diversas entidades (União dos Moradores do Conjunto Jardim Maguari - UMOJAM, Movimento de Mulheres do Campo e da Cidade - MMCC, Conselho Escolar da EEEFM “Maria Gabriela Ramos de Oliveira”, Centro de Formação 17 de abril, Grupo Espírita Paulo de Tarso) e segmentos do Conjunto Maguari, na sede da União dos Moradores do Conjunto Jardim Maguari – UMOJAM, que fica localizada na alameda 17, número 76 (Av.Principal).


Durante a entrevista, os professores estavam com a ata de fundação da Rádio pois, os mesmos estavam presentes na Assembléia de fundação . São considerados sócios fundadores da Associação as seguintes pessoas: Laércio Marruáz, José Ribamar Lira de Oliveira, Marco Antônio Benevides, Alcenir Monteiro, Osvaldo Mercês, Nilde Maria Fernandes de Sousa, Edila Rodrigues, Rafael Tadeu Lima, Carlos André Rodrigues, Claúdia Maués, Roberto Otávio Rodrigues, Maria de Fátima Santos de Oliveira e Clóvis Loureiro Junior. E tornando-se membros eleitos da primeira diretoria da Associação e da segunda Rádio Comunitária do Estado: Marcos Roberto da Silva e Sousa (Presidente: UMOJAM), Rafael Tadeu dos Santos Lima(Vice-Presidente:Cantor e Compositor), Alcenir do Nascimento Monteiro(Primeiro Secretário: Centro de Formação 17 de abril), Clóvis dos Santos Loureiro Junior( Segundo Secretário: Grupo Espírita Paulo de Tarso), Nilde Maria Fernandes Rodrigues de Sousa( Tesoureira: MMCC), José Ribamar Lira de Oliveira( Conselho Fiscal: do Conselho Escolar EEEFM”Maria Gabriela Ramos de Oliveira), Maria de Fátima Santos de Oliveira( Conselho Fiscal: Conselho Escolar da EEEFM”Maria Gabriela Ramos de Oliveira), Laércio Augusto Pires Marruáz( Conselho Fiscal: Corretor) e na suplência o senhor Osvaldo Barbosa das Mercês. A presidência da assembléia esteve a cargo do assessor parlamentar Roberto Otávio Rodrigues.


Compondo a segunda diretoria, foram eleitos e tomaram posse no dia 27 de janeiro de 2000 os seguintes membros: Nilde Sousa (Presidente), Marcos Sousa (Vice-Presidente), Claúdia Pires Maués (Primeira Secretária), Henrique Amoedo da Costa Neto(Segundo Secretário), Bruno Magno Sousa Neto(Tesoureiro) e conselho Fiscal: Lucidéia Cunha Paiva, Marlene Naoyo Abe, José Ribamar Lira de Oliveira e suplente Clóvis dos Santos Loureiro Junior.


Para o Professor de Sociologia Valdivino Cunha que é morador do Conjunto Maguari desde 1982 e participou dos movimentos sociais no conjunto em diversos momentos, iiniciou sua entrevista falando da “importância da comunicação, principalmente da mídia que hoje vem assumindo um perfil de manipulador e de massificação”. Segundo o referido Professor “...o surgimento das rádios comunitárias, que se deu no início da década de 80 por iniciativa dos movimentos sociais, para ir de encontro ao mecanismo de organização das programações de rádios que beneficiam as classes dominantes” e destaca o tamanho da importância das rádios comunitárias no país, como um movimento de oposição ideológica. Para Valdivino Cunha a “Rádio tem por objetivo apoiar os movimentos populares pela melhoria das condições sociais, econômica e culturais de nossa cidade e, desde sua inauguração, vem contando com uma programação variada, atendendo a diversas expressões comunitárias de nossa região e, de fato, dirigindo a sua programação no sentido de abraçar reclamos e anseios, que na prática nunca foram atendidos pelas emissoras comerciais. Pela freqüência 88,1 nossa comunidade pode pela primeira vez na história ouvir a sua própria voz”. Dessa forma, ressalta o Professor, que outro objetivo das rádios comunitárias é fazer com que os ouvintes tenham uma visão crítica em relação a sociedade, a diferença entre os dois tipos de comunicação se dá através da música, do locutor, etc., que fogem dos padrões, não mais fazendo uma comunicação voltada para o consumo, porém buscando a valorizar a comunidade que estão inseridos.


No conjunto Maguari, o movimento de rádio comunitária foi pioneiro na região metropolitana de Belém - Pará e surge na localidade em dezembro de 1997, sendo o Professor Valdivino Cunha, juntamente com os Professores Ribamar Oliveira e Marcos Souza os principais articuladores de sua implantação. Para o Professor Valdivino Cunha que ressalta “as dificuldades de implantar uma rádio comunitária, dentre os empecilhos encontra-se a de aprovação das mesmas, pela diretriz de uma emissora desse gênero ser de fazer uma comunicação diferenciada dos grandes grupos que existem, o interesse de congressistas e grupos de mídias atravancam o processo, justifica-se então dizer que implantar esse projeto foi uma ousadia por parte de seus articuladores”.


Na época da implantação o Conjunto Maguari passava por um momento de organização social e a rádio tornou-se um viés de grande utilidade para os movimentos sociais correntes no conjunto, a rádio comunitária no Brasil era muito recente, destaca o Professor, uma vez que o país emergia de um longo período ditatorial, ela se a constitui para contrapor as ideologias dominantes. Por ameaçar os poderes constituídos fazendo seus ouvintes adquirirem uma visão crítica da sociedade, a Rádio Cidade Livre constantemente virava um caso de polícia. O Professor nos conta que às vezes os articuladores da rádio, principalmente o Professor Marcos Souza, eram convidados a visitarem os aposentos da delegacia, por se recusarem a entregar os equipamentos da rádio para a Delegacia da Policia Civil de Icoaraci.


Durante os 10 anos de atuação da rádio comunitária no Conjunto Maguari, para garantir sua permanência, funcionou em diferentes pontos do conjunto, nas alamedas 17, 19, 4, 8 e 3. A programação abrangia um grande número de ouvintes. Cidade Livre não está mais no ar e ainda hoje muitos moradores questionam seu fim, que se deu em função de problemas ideológicos e políticos internos.


O Professor Valdivino Cunha termina sua fala ressaltando “o poder está presente na comunicação, pois o papel da mídia escrita, vista e ouvida é capaz de mudar gerações e pensamentos”.


Para o Professor de Sociologia da EEEFM “Maria Gabriela Ramos de Oliveira” Marcos Sousa “ a Rádio foi uma iniciativa de moradores e organizações comunitárias localizadas no Distrito Administrativo Benguí e coordenada pela Associação Popular de Radiodifusão Cidade Livre. “A Rádio Cidade Livre FM, operava em baixa potência pela freqüência 88,1 e estava sediada provisoriamente no Conjunto Jardim Maguari, em Belém”.


Para os professores, foi fundamental esse projeto para a comunidade, além da comunicação a rádio trabalhava com projetos sociais. Para ilustrar, temos o exemplo da manchete do Jornal Amazônia de 15 de agosto de 2000 que diz o seguinte :” Para incentivar o projeto das rádios comunitárias, a ONG para que trabalha com a educação popular, chamada Centro de Intercâmbio e Pesquisas Econômicas e Social – CIPES, capacita através de um curso que tem duração de cinco meses, cerca de 25 jovens, com idades entre 16 e 21 anos. Todos os jovens são moradores do Conjunto Maguari e vão aprender técnicas necessárias para se trabalhar em rádios comunitárias”.


E continua: ”Os cursos também fazem parte do projeto Comunicação e Cidadania, que é financiado pela Associação de Apoio ao Programa Capacitação Solidária. O coordenador geral do projeto, Marcos Souza, explica que os alunos aprenderam tudo a respeito do funcionamento de uma rádio, desde a criação e organização até os aspectos técnicos, de freqüência modulada, noções de rádio transmissão, dentre outros. E acrescenta: “ alguns alunos conseguiram até criar núcleos de produção, direção e locução. Noções do desenvolvimento do trabalho dentro de uma redação também foram dadas, juntamente com operação de áudio e programas jornalísticos, além das aulas de legislação e ética que não foram descartadas.”


Intitulada Rádio Comunitária Cidade Livre FM, o novo veículo de comunicação funcionou com questões de utilidade pública, entrevistas com artistas do bairro e abordagem dos problemas pequenos e complexos. “Além de veicular músicas com a “cara” da população do Maguari e adjacências , a idéia de Marcos Souza era engajar os jovens nas rádios e projetos que já existiam nos bairros da cidade , como exemplos, na Rádio Cidade Livre FM e também na Rádio FM Cidadania, no Bairro da Terra Firme.

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