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sábado, 21 de agosto de 2010

MAGUARI: UMA PRAÇA DE GUERRA

Este texto é parte do projeto de pesquisa de história oral executado pelos alunos da EEEFM "Maria Gabriela Ramos de Oliveira", do Conjunto Maguari, no ano de 2009.

Manchetes como estas estampadas no jornal O Liberal do dia 28 de agosto de 1986, sempre foi uma constante nos jornais locais, o que demonstra como se deu o processo de habitação(ocupação) no conjunto. Era impressionante a coragem e a ousadia dos novos moradores, ditos, “posseiros” atualmente denominados de “Sem-Tetos” os quais ocuparam as casas desabitadas, porém encontrando resistência por parte do ostensivo policiamento a serviço do Estado e das financeiras.

A líder comunitária Nises Lourinho lembra que em primeiro de janeiro de 1981, as incorporadoras começaram a entregar as casas e a partir de 1982 começam as ocupações de forma ilegal.

Por várias vezes a polícia tenta retirar os moradores que ocupavam as casas, mas não conseguem, pelo poder de mobilização das lideranças e organização. 1986 é o ano das incertezas de muitas famílias, e o Conjunto Maguari, torna-se uma praça de guerra. Os jornais daquela época noticiam algumas mortes que ocorreram no conjunto Maguari. Vale destacar aqui que com o processo de ocupação de forma ilegal, alguns desses posseiros não tinham moradia fixa, abrindo precedentes para aventureiros. Esses fatores podem ter contribuído para que alguns crimes ocorressem naquele período

No momento em que se dava o processo de ocupação do conjunto, estávamos em um processo de redemocratização da sociedade brasileira, após vinte anos de Ditadura Militar e diversos movimentos organizados ou isolados começam a lutar pelos seus direitos, como as Diretas Já, Direito à Liberdade e Direitos políticos e sociais e direito a moradia. Dentro deste cenário, o Movimento Popular Nacional de Moradia organiza e mobiliza uma gama de excluídos pelo direito de morar. Com a bandeira popular “Luta pelo direito de morar” começa a ocupação do conjunto no início da década de 80. Com a ocupação “o conjunto transforma-se num palco de conflitos entre ocupantes das casas e as financeiras, que acionaram a Polícia Militar do Estado para defender seus interesses”.

Os moradores perceberam que organizados eram mais fortes e com esse objetivo foi criada a Associação dos Moradores do Conjunto Maguari (UMOJAM), em 07 de dezembro de 1983. Nesta época, o governo do Estado era representado pelo atual Deputado Federal Jader Fontenele Barbalho.

Para o Presidente da UMOJAM, daquela época, o advogado José Maria Costa diz que “aparentemente não havia nenhum candidato ou partido político respaldando o movimento de ocupação do Conjunto Maguari. Aqui estão morando cerca de 15 mil eleitores e não será uma boa política para quem governa”. Costa conclui: “que ninguém fará especulação entre os ocupantes. Os que forem descobertos serão retirados das casas que estão ocupando e a casa, oferecida a outra família carente”.

Ainda segundo o jornal acima citado o dia de muita tensão no conjunto foi no dia 27 de agosto de 1986, segundo dia de ocupação das 163 últimas casas marcado por um clima de tensão e medo da ação da PM. Praticamente todos os ocupantes daquelas casas corriam até os motoristas de ônibus para perguntar se haviam visto caminhões de transporte de tropas se dirigindo para o local dos desalojados. Durante toda manhã, colocadas a Rádio de Poste, ouviram informações desencontradas dos radialistas, dando conta de que caminhões “tomara-que-chova” estavam sendo preparados com homens da polícia. Procurada pelos jornalistas, a Socióloga Benedita Pereira de Barros, vice-presidente da UMOJAM, declarou que “os ocupantes do Conjunto Maguari estão bem mobilizados, garantiu que todos os ocupantes das alamedas 26 a 33 haviam hipotecado. Todos ocupantes estavam cientes dos atos que estão praticando e perguntou o que era mais imoral, a ocupação de casas abandonadas e entregues a especulação ou de que existem milhares de pessoas vivendo nas condições mais subumanas possíveis, na cidade de Belém ”?.

Neste dia o Presidente da União dos Moradores do Conjunto Maguari, mesmo fazendo denúncias para a imprensa foi ameaçado de ser preso o que fez com que fizesse recolher para sua residência solicitando ajuda dos vizinhos e dos membros da UMOJAM. A Alameda 07, onde ficava a residência de José Costa, foi bloqueada,já que ,o objetivo da Divisão de Ordem Política e Social (DOPS) era prender as lideranças comunitárias para desarticular o movimento.

Os pedidos do vereador Humberto Cunha, que foi detido, naquele momento,também foi ignorado, pois não foi levado em consideração a prisão violenta de uma mulher e de um rapaz que protestavam contra a ação da polícia.

O ocupante Ronaldo Lopes da Silva que residia há mais de quatro anos no Conjunto ficou indignado com o aparato policial para desocupar as casas onde moravam trabalhadores e diz: “E agora o governador permite que a Polícia Militar e a Divisão de Ordem Política e Social venham despejar os posseiros, gente indefesa, que vieram de barracos, outros de baixo de pontes sem ter onde morar, inclusive a maioria já fizeram benfeitorias nas casas”. Neste momento, Ronaldo Silva foi preso no famoso camburão e levado para a Delegacia da Marambaia; assim como à senhora Oneide Carvalho, proprietária do Pronto Socorro e Ambulatório “São José” no Conjunto Maguari. Mesmo com toda a situação em que passaram os ocupantes, após a saída dos policiais, eles retornaram a ocupar as residências.

Através das memórias percebe-se a organização e participação do coletivo nos conflitos com os agentes policiais, por outro lado, o representante do Estado e coordenador da operação, o Capitão Calandrini afirma: “(...) Eu tenho ordens explícitas: desocupar as casas”.

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