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quinta-feira, 12 de agosto de 2010

PARABÉNS. ABAETETUBA. NÓS TE ABRAÇAMOS. (I)

Religiosidade e mitologia amazônica

Na edição Ano XIV, nº 56 de outubro/dezembro de 2009, da revista Diálogo – Revista de Ensino Religioso, o Professor de Religião do Sistema de Organização Modular de Ensino (SOME), Devison Amorim do Nascimento publicou matéria com o título Religiosidade e mitologia amazônica: Uma experiência de Ensino Religioso. No texto escreve que o SOME “proporciona os ensinos fundamentais e médios as localidades rurais dos municípios de difícil acesso. Formado por quatro módulos, cada um com 50 dias letivos e cinco disciplinas, oferece ainda a discussão sobre temas preventivos, como drogas, gravidez na adolescência, e outros; bem como, ações de auxilio à comunidade: tratamento odontológico, emissão de documentos e construção de espaços sociais”.

O Professor Devison Nascimento ressalta que atuou sete meses no SOME como Professor de Ensino Religioso em duas comunidades ribeirinhas nos município de Abaetetuba (Rio Caripetuba e Rio Urubuéua Luz) e uma de Bujaru (Traquateua).

Segundo ele “ foi nessas comunidades que considero ter feito as melhores experiências enquanto ser humano e como professor de Ensino Religioso, pois aprendi com seus moradores”.

O interessante é que relata sua vivência, como educador do Projeto SOME da Secretaria Estadual de Educação: “ Quando fui transferido do município de Bujaru, tive um grande impacto, a começar pela locomoção. Eu antes percorria duas horas de ônibus de Belém, capital do estado, até Traquateua, e no novo destino me deparei com uma viagem também de duas horas até Abaetetuba e mais vinte e cinco minutos a bordo de um barco pequeno e muito vulnerável às ondas do rio, conhecido pelo nome popular de ‘popopô’, devido o barulho do motor”.

Para o Professor que não estava acostumado com aquele cotidiano, percebeu que “a casa, a nós designada pela Secretaria de Educação, se localizava na margem oposta da escola. Logo, precisamos da ajuda diária dos alunos para atravessar o rio nos cascos, pequenas canoas usadas pela população”.

Diante da realidade cultural, o referido professor preparou seu plano de ensino e vários planos de aula, sempre tendo como eixos norteadores a LDB 9394/96 e o Parâmetro Curricular Nacional voltado para o Ensino Religioso.

E continua: “O significado de religião, a busca do transcedente, os símbolos religiosos, as tradições, como budismo, hinduísmo, islamismo e judaísmo, as mitologias gregas e amazônicas foram alguns dos temas selecionados em uma sequência lógica”.

Para o professor que sai da vida urbana, com hábitos e costumes diferentes, percebe que nas localidades de Abaetetuba difere de outros municípios, como frisa: “nas comunidades ribeirinhas de Abaetetuba ainda não há eletricidade, a não ser a que é gerada por motor a óleo, em breve período noturno, e que a maioria das famílias não possui. O fato repercute, evidentemente, num nível de informação mais restrita”, fazendo com que refizesse o planejamento.

Com esse cenário, buscou: “promover em 50 dias a aprendizagem significativa de assuntos completamente alheios à realidade dos alunos, resolvi rever meu planejamento e aproveitar melhor os itens da cultura local que já estavam inseridos no plano de ensino”.

Com isso, segundo o professor: “confesso que, ao pensar em partir da mitologia amazônica, eu estava certo da necessidade de fazer um resgate dos mitos, uma vez que nas zonas urbanas já quase não se houve falar em histórias como a da matintapereira,da mula-sem-cabeça, do boto, da vitória-régia e outras que outrora povoavam o imaginário amazônico e eram repassadas, oralmente, dos mais velhos aos mais jovens. Eu acreditava que também nas localidades ribeirinhas de Abaetetuba a mitologia houvesse enfraquecido”.

O professor relata sua metodologia de atividades pedagógicas, onde: ”na primeira aula sobre o tema, instiguei os alunos a comentarem os mitos amazônicos conhecidos e, para minha surpresa todos eles conheciam muitos. Organizei uma roda de contadores, onde cada aluno relatou um mito ouvido na família e fiquei impressionado com o nível de seriedade dos alunos e experiência (...) Resolvi tentar entender um pouco melhor a religiosidade ali manifestada e, a fim de como reagiam, disse que, na verdade, aquelas histórias eram fantasiosas. Minha afirmação imediatamente foi refutada por um dos alunos, que garantiu a veracidade da história do boto porque ele mesmo já havia visto o animal em forma de homem. Outros alunos afirmaram ter ouvido o assobio da matintapereira”.

Ressalta que o trabalho foi produtivo e que “a mitologia continua latente nas regiões rurais da Amazônia,o que, de modo inexorável, jogou por terra minhas convicções, e as de muitos autores, de que os mitos amazônicos são vistos hoje apenas como histórias fantasiosas, já destruídas da característica de religiosidade do caboclo amazônico”.

Com essa troca de experiência frisa que “ Por mais que seja difícil deixarmos o conforto de nossos lares e enfrentarmos as dificuldades de ir a locais distantes, no final de cada módulo do Projeto SOME que ver os alunos nos têm por ‘espelhos’ ”.

E conclui: “ E quando nós, professores, tomamos o barco para sair da localidade, sabendo que fizemos o melhor possível, com a certeza do dever cumprido, damo-nos conta de que uma das atividades mais belas e mais importantes criadas pela humanidade é o trabalho de educar” .

Sem dúvida, com essa vivência aprendemos que o planejamento é flexível, o que todo professor deve refazer e revisar seus conteúdos e metodologias para adequar a realidade do aluno. O relato mostrou, também, a força da religiosidade amazônica e a diversidade cultural que nós possuímos.

Em comemoração ao aniversário do município de Abaetetuba no dia 15 de agosto (Próximo domingo), nós estaremos resumindo e postando os diversos projetos desenvolvidos pelos professores do Sistema de Organização Modular de Ensino (SOME); assim como, também, alguns que  executei durante o desenvolvimento das atividades pedagógicas nos anos 2006, 2007 e 2008, nas ilhas desse querido município.

Parabéns, Abaetetuba. Nós te abraçamos.






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