É sabido que ao longo de nossa história a característica multicultural de nosso povo foi estruturada tendo como referência uma visão eurocêntrica, resultando em um processo histórico de ocultação da verdadeira história de organização do povo africano e afro- descendentes.
Após a abolição, a luta pela conquista da cidadania continuou. A República trouxe ideal de liberdade e igualdade, mas também as transformações do mundo moderno como a “ordem”, “progresso” e “Civilização”, neste modelo de sociedade o discurso da “inclusão ‘’do negro será fortalecido pelo mito das relações harmoniosas, objetivando a preservação da unidade nacional e retardando os debates sobre racismo. No entanto, surgem idéias contrárias a essas idéias , é quando o negro assume o processo interno de reconhecimento, ou seja , é a auto- afirmação da negritude o que dá sentido de pertencimento `a identidade negra. Verena Alberti (2007) nos alerta que,” A força do mito da democracia na formação da identidade brasileira acabou constituindo o primeiro grande desafio para o movimento negro “ . Assim, os negros organizados enquanto grupo social fundaram , por exemplos, a Frente Negra Brasileira (1931), União dos Homens de Cor (1943), Associação Cultural do Negro (1950)
Para Flávio Gomes (2005) a chamada “imprensa negra” é a parte mais conhecida e citada da mobilização nas primeiras décadas republicanas” através das abordagens editoriais , contribuiu também para a auto-valorização da população negra,como também, a participação dos partidos de esquerda como PCB e PC do B. Vicente Sales na obra O negro no Pará (2004 ) menciona “Alguns escritores negros contribuíram através da arte literária para defender a causa negra como Inglês de Sousa, Marques de Carvalho, Lauro Palhano e o marajoara/Pa., Dalcídio Jurandir que também usa personagens negros e faz denúncias sociais.
Dalcídio, na obra Passagem dos Inocentes (1986) revela uma Belém no inicio do século XX: bairros com problemas infra-estruturais, greve de coveiros, crianças morrendo na Santa Casa de Misericórdia do Pará, falta de placas na Estrada de Nazaré, Greve na fábrica Aliança, educação e a metodologia fora do contexto do alunado, enfim, Dalcídio Jurandir, por ser comunista ( PC do B ), negro e pobre teve um olhar mais atento das mazelas sociais de Belém , é o outro lado da história que a Belle Époque não revela.
A década de 70 foi considerada vital para o movimento negro contemporâneo, pois, a reivindicação da cidadania sugere organização e assim,experimentando possibilidades desenvolveram diversas estratégias como a criação do Movimento Negro Unificado- MNU(1978), entidade que expandiu a noção de “ movimento negro “, ou através de reuniões de estudos que foi um meio utilizado para a percepção das características que os diferenciavam , como a existência da discriminação racial , uso da panfletagem e outras formas de organização : I Encontro Memorial l Zumbi ,( 1980 -AL., MG,RJ, MA, ES...), Encontro de Negros do Norte e Nordeste , e ainda, no Sul e Sudeste, Encontros Estaduais e Nacionais de Mulheres Negras . Enfim, novas lideranças foram surgindo em 1991-, SP-I Encontro Nacional de Comunidades Negras Rurais Quilombolas que deu origem à CONAQ(1996) .
No Pará, destaca-se a criação do Cedenpa ( Centro de Defesa do Negro no Pará).
Dando prosseguimento aos anseios da população negra a década de 80 , também promoveu história de mudança , inclusive ampliando reflexões sobre o papel do negro na historia do Brasil.
A III Conferência Mundial de Combate ao Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata, realizada em Durban, África do Sul, Set.2001, trouxe para o debate a questão racial no Brasil e é polêmico quando o assunto trata-se de cotas.
Outra vitória do movimento negro é a Lei 10.639/2003 que determina a inclusão no currículo oficial do estudo da história e cultura africana e afro-brasileira. Se junta ainda às diferentes ações e iniciativas de inclusão que o Movimento Negro vem desenvolvendo entre os diferentes setores da sociedade.
É fato, que as vitórias conquistadas não foram fáceis pois, o Negro permeou diferentes formas de organização como as sociedades secretas, associações de auxílio mútuo de homens de cor, irmandades, as Leis contemporâneas e, muitas outras conquistas virão se a sociedade organizada , entender que a diversidade é algo complexo, que o racismo existe , mas principalmente perceber que o problema de negro, também é nosso, pois, é através da união que iremos construir uma sociedade democrática pautada no direito e na justiça social para todos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário