Quando se trata de falar sobre
memórias é o momento de resgatar o tempo do passado. Estarei relatando alguns
momentos que vivenciei durante esses vinte e oito anos, de Sistema de Organização
Modular de Ensino – Some, enquanto política pública, voltado para a educação no
Estado do Pará. Queria ressaltar, que essas histórias de vida se entrelaçam com
diversos momentos da educação, entre o período de maio de 1989, momento em que entrei para o quadro de educadores na Secretaria Estadual de
Educação do Estado do Pará – Seduc e provavelmente, no presente ano, que
estarei dando entrada ao processo de aposentaria, que tenho direito nesses
trinta anos de magistério.
Como historiador, não poderia deixar
de registrar esses momentos e muitos deles, tive como laboratório pedagógico as
salas de aulas, por onde desenvolvi minhas atividades, juntamente
com os profissionais de equipes; assim como as trocas de experiências com os
alunos, onde aprendi muito nestes rincões de nosso Estado. Umas das
referências, nestas atividades foram vários pensadores, entre eles, o Antônio
Torres Montenegro, Paul Thompson e Ecléa Bosi, que frisa em uma de suas obras “Por
muito que deva à memória coletiva é o individuo que recorda. Ele é o
memorizador, e das camadas do passado a que tem acesso pode reter objetos que
são para ele, e só para ele, significados dentro de um tesouro comum”.
Recordo quando tive a
oportunidade de ser selecionado por um processo de concurso interno na Seduc e
a minha primeira viagem de deslocamento para Terra Santa, município do Estado
do Pará, fronteira com o Estado do Amazonas, que corresponderia o primeiro
módulo. Recebi da Secretaria a passagem de avião de Belém – Santarém. Viajei
cedo para o destino do voo, onde ficaria o dia todo aguardando o barco que
sairia pela parte da noite para Oriximiná.
No final da tarde, fui recomendado para deslocar para a embarcação, que
teria melhor lugar para atar rede. Cheguei sozinho na embarcação, me apresentei
para um dos funcionários e ele mandou entrar e me arranjar. Tive um impacto
neste momento, tirei a rede da sacola, porém, a rede era curta e precisaria de
corda, para armá-la. Vantagem que o porto, onde estava o barco, ficava perto do
comércio, então, corri para comprar o que necessitava, claro, que mandei o
funcionário ficar responsável pelas minhas sacolas. Quando cheguei à embarcação
coloquei um punho em uma escápula, só que a outra necessitava da dita corda.
Fui tentar amarrar, mas sempre ficava frouxo, foi quando um Senhor, com mais de
setenta anos, viu que eu estava enrolado para armar a rede, pediu licença pra
mim e me ensinou como faria um laço de porco, na rede. Não lembro o nome dele,
também, tanto tempo, me apresentei e disse que era “marinheiro de primeira
viagem”, comecei a conversar e disse que o melhor presidente que o Brasil já
tinha tido fora Getúlio Vargas, a partir daí a conversa se aprofundou até altas horas,
com a embarcação lotada. Saímos do porto
de Santarém por volta das 19h.,com horário previsto de chegada às 04h.
Ressalto que nessa viagem, vivenciei
momento importante de minha trajetória no Some, conhecendo novas pessoas, outro
lado do Pará, que não conhecia até então. Com essas trocas de experiências, serviram
como amadurecimento para o que iria enfrentar ao longo período que ficaria no
magistério, até por que esse Senhor que encontrei na embarcação, era apaixonado
pela história, a vida do Getúlio Vargas e Ditadura Militar dominava quase tudo,
inclusive datas, porém, era uma autodidata, com apenas o fundamental, mas,
muita leitura sobre o que defendia. Até, hoje, não esqueço e foi um privilégio tê-lo
em companhia de viagem.