PARAUAPEBAS
E FRONTEIRAS: EVIDENCIAS CRÍTICAS NA REGIÃO DO PA E DA ESCOLA SANTA RITA
Professor
Jasson Iran Monteiro da Cruz
A questão de fronteiras em Parauapebas
é uma questão a ser enfrentada pelo poder público municipal (CRUZ, 2007), desde
seu surgimento, no inicio dos anos de 1980, quando houve plebiscito na região
para a emancipação dos municípios de Parauapebas e Curionópolis. Paralelamente
a isso, o que se seguiu foi a distribuição desordenada de terras da união, a
exploração de madeira e a posterior instalação de fazendas, estimulada por um
projeto de ocupação regional proposto pelo GETAT (Grupo Executivo de Terras
Araguaia e Tocantins).
Observações em campo
revelam que foi em decorrência do projeto de ocupação regional proposto pelo
INCRA/GETAT, com a massiva distribuição desordenada de terras da união, a
exploração da madeira e a posterior instalação de fazendas, que surgem, os
municípios: Xinguara, Parauapebas, Curionópolis, Eldorado dos Carajás, Água
Azul do Norte, Ourilândia do Norte e Canaã dos Carajás. Agregada a isso, várias
questões histórico-geográficas, a exemplo da comunidade e escola Santa Rita, de
Parauapebas, na fronteira de Ourilândia do Norte.
O município de
Parauapebas no Sudeste do Pará apresenta características específicas, fazendo
limites de fronteiras com os municípios de Marabá ao norte; Curionópolis a leste;
Canaã dos Carajás e Água Azul do Norte e Ourilândia do Norte, ao sul; São Félix
do Xingu a oeste. Conforme estimativas do IBGE de 2018, sua população, girava
em torno de 202.882 habitantes, ocupando o sexto lugar entre os municípios mais
populosos do estado. Seu território, de 7.077,269 km², dos quais 80% estão
comprometidos pela empresa Vale, e pela Terra Indígena - TI dos indígenas
Xikrín. Além disso, o Governo Federal, através de projetos de preservação
ambiental (Área de Proteção Ambiental - APA, Reserva Biológica - REBIO, e
Floresta Nacional do Tapirapéaquirí - FLONATA), conforme figura 01.
Figura
01. Mapa do município de Parauapebas e localização da E. M. E. F. Santa Rita de
Cassia. Fonte: Google Mapas.
Conforme
está visível na figura 01, a localização em azul, a esquerda do mapa representa
o espaço real de onde foi construída a E. M. E. F. Santa Rita de Cassia, cerca
de 47 km do centro urbano do município de Ourilândia do Norte, a exatos 300 km
do centro urbano de Parauapebas.
BREVE
HISTÓRICO DA E. M. E. F. SANTA RITA DE CASSIA
Conforme pesquisa
documentada pela atual Diretora Florisa Simões, Escola Santa Rita de Cássia, no
PA Santa Rita foi criada em, 10/03/1994, na gestão do Sr. Pesconne (?????),
então prefeito de Ourilândia do Norte. Naquela ocasião, começou a ser responsabilidade
desse município, em função da proximidade administrativa, cerca de 48 km. A
demanda apresentava 20 alunos em turmas multisseriadas, da 1ª a 4ª série, no
período da tarde os alunos vinham a cavalo ou a pé por longas distâncias.
Recebeu
esse nome por situar-se na região da fazenda Santa Rita de Cássia. Naquela ocasião,
a escola surgiu em um galpão improvisado pelos moradores, coberto de palha, com
bancos de tronco de palmeiras. O início das atividades educacionais foi
realizado pelos professores Altemir Rodrigues Costa e Everaldo Alves da Silva) e
as mães como parceiras, com trabalhos voluntários na preparação da merenda de
seus filhos, e limpeza do espaço escolar.
A oficialização, com a autorização de
funcionamento pelo município de Ourilândia, foi a partir Decreto Municipal nº
008 de 1º de janeiro de 1998. Conforme (PPP, 2013), assim, decretam-se que o
espaço escolar recebe o nome de Escola Municipal Rural Santa Rita de
Cassia, sendo o mesmo nome da localidade Santa Rita. A partir desse ato legal, seria possível
de Sª
Maria de Jesus Silva Dias, ser a primeira servidora a trabalhar como
assalariada a partir de 1999, exercendo a função de ASG e merendeira.
Conforme o mesmo (PPP, 2013), a demanda
da escola na época, contemplava “os alunos residentes na zona rural, Colônia
Santa Rita, nas vicinais: Paranaguá, Xororó, “Geda” e Dr. Ferreira”, alunos
oriundos das famílias de agricultores e pecuaristas que ocupavam a região. Pela
falta de oportunidade de emprego, associado ao êxodo rural, muitos pais jovens
“viajam em busca de trabalho fora” deixando seus filhos, em muitos casos, na responsabilidade
dos avós, e/ou, outros parentes. Fenômeno este, que ainda identificamos na atualidade.
Na época da elaboração do Projeto Político Pedagógico/2013,
os
pais ou responsáveis dos discentes:
em
sua maioria desempenham suas responsabilidades no que diz respeito ao
acompanhamento das atividades. Vive uma agremiação diversificada, de culturas
diferenciadas, mas, abertos a novas aprendizagens. Os mesmos têm o seu credo
religioso em diversas denominações (católicos, espírita e protestantes). São de
classes sociais heterogêneo sendo de nível socioeconômico predominante médio a
baixo, percebendo entre um a três salários mínimos, aproximadamente oitenta por
cento (80%) das famílias (PPP,2013).
No
ano de 2002, a Prefeitura Municipal de Ourilândia do Norte reconstruiu a escola
em madeira, o que foi suficiente para seu funcionamento precário por mais 10
anos. Somente em 2012 recebeu nova atenção do poder público em parceria com a
VALE, quando foi construída em alvenaria, juntamente com uma casa, com três
quartos, dois banheiros e uma cozinha com dispensa, para alojamento dos
professores. Ao lado do prédio escolar também foi construído um posto médico e
uma casa para alojamento de profissionais da saúde, conforme figura 02.
Figura
02. Bloco 1, Direção/Coordenação/Biblioteca/Cozinha/ Uma sala de Ed. Infantil.
Bloco 2, três salas de aulas; 3, casa/alojamento dos professores; 4 banheiros;
5, Posto médico; 6, casa/alojamento de profissionais da saúde. Fonte: Google
Mapas.
A
atual estrutura da escola é composta de (04) sala de aulas, sendo uma (01) sala,
foi dividida em gesso para funcionar dois espaços, sendo um espaço para
direção/coordenação, e outro para sala de leitura, conforme figura 03. Possui uma
(01) cozinha, com mini dispensa, para guardar alimentos e matérias de limpezas.
Em prédios separados, banheiros masculinos e femininos, no quintal da escola, e
uma quadra de esportes, sem cobertura e sem instalações elétricas, que fica a
(500) metros distantes da escola. Devido à falta de manutenção, no decorrer dos
anos, a quadra riscos para uso das atividades escolar com as crianças devido ao
seu estado precário.
Por
ser localizada a uma longa distância, somente a partir de 2018 a escola passou
a ser reconhecida pelo município de Parauapebas-PA. Atualmente possui o quadro
de profissionais com 04 (quatro) professores, 01 (uma) coordenadora pedagógica,
02 (dois) vigias, 02 (duas) merendeiras, 02 (dois) motoristas, 02 (duas)
monitoras e 02 (duas) Auxiliares de Serviços Gerais. No ano letivo de 2019, escola
atende uma clientela de 58 (cinquenta e oito) alunos da educação infantil ao 9º
ano, e 12 alunos do Ensino Médio Modular, sendo (6) seis no 1º ano, (3) três no
2º ano e (3) três no 3º ano. A previsão para 2020 é que apenas (5) cinco alunos
ingressem no 1º ano, pois são esses os alunos que concluem o 9º ano em 2019.
ASPECTOS
SOCIOGRÁFICOS: CONSEQUÊNCIAS DO ISOLAMENTO HISTÓRICO
Considerando as convenções sociais, de
pensamento e comportamento que integram como indivíduos em sociedade, foi
aplicado um formulário de pesquisa sobre alguns aspectos da realidade na
Comunidade e da Escola Municipal Santa Rita de Cássia, entre os moradores e
circunvizinhança, para descrição dessa realidade. As análises preliminares
apresentam os dados que seguem.
Os
dados sócio gráficos apresentam alguns aspectos gerais, importantes para a
caracterização, de modo mais amplo sobre os moradores dessa região pertencente
ao município de Parauapebas, mesmo que separados por 320 km de distância da
sede do município.
A
primeira informação da pesquisa vem nos revelar uma realidade cosmopolita, em
relação ao nascimento e origem, ou local de origem dos entrevistados. Assim,
temos muitos moradores que vieram de outros estados, revelando uma realidade de
colonização recente (ocupação em torno de 30 anos) dessa região, conforme
tabela 01.
Tabela
01
Qtdd
|
Cidade/Região
|
Estado
|
Quantidade
|
01
|
Alto
do Xingu
|
Pará
|
1
|
02
|
Andina
de Goiás
|
Goiás
|
1
|
03
|
Aruanã
|
Goiás
|
1
|
04
|
Batalhas
|
Alagoas
|
1
|
05
|
Bela
Vista
|
Goiás
|
1
|
06
|
Brasilândia
|
Dist.
Federal
|
1
|
07
|
Candido
Mendes
|
Maranhão
|
1
|
08
|
Canela
|
Tocantins
|
1
|
09
|
Colmeia
|
Tocantins
|
1
|
10
|
Estrela
do Norte
|
Tocantins
|
1
|
11
|
Goiânia
|
Goiás
|
1
|
12
|
Guaraí
|
Tocantins
|
1
|
13
|
Gurupi
|
Tocantins
|
1
|
14
|
Itabaiana
|
Paraíba
|
1
|
15
|
Laranjeiras
|
Paraná
|
1
|
16
|
Nova
Esperança
|
Bahia
|
1
|
17
|
Ourilândia
do Norte
|
Pará
|
1
|
18
|
Palmeirópolis
|
Tocantins
|
1
|
19
|
Paragominas
|
Pará
|
2
|
20
|
Paraúna
|
Goiás
|
1
|
21
|
Pequizeiro
|
Tocantins
|
1
|
22
|
Rio
Verde
|
Goiás
|
1
|
23
|
Rondon
do Pará
|
Pará
|
1
|
24
|
Rubiataba
|
Goiás
|
3
|
25
|
Santa
Helena
|
Maranhão
|
1
|
26
|
São
Domingos
|
Maranhão
|
1
|
27
|
São
Félix do Xingu
|
Pará
|
1
|
28
|
São
Geraldo do Araguaia
|
Pará
|
2
|
29
|
Terra
Dourada
|
Bahia
|
1
|
30
|
Tocantinópolis
|
Tocantins
|
1
|
31
|
Tucumã
|
Pará
|
1
|
32
|
Vila
Gabriel Passos
|
Minas Gerais
|
1
|
33
|
Xinguara
|
Pará
|
1
|
Conforme
se observa na tabela 01, os atuais moradores dessa região, são oriundos de 33
municípios, e de vários estados do Brasil.
Em
relação a idade, nossa pesquisa conseguiu mapear entrevistados dos 18 anos, até
acima de 60, conforme apresentamos a seguir. Em função da brevidade do trabalho
não se buscou caracterização por sexo.
Os entrevistados entre
os 18 aos 23 anos foram a maior quantidade de entrevistados, representando
29,31%, enquanto que poucos entrevistados foram encontrados entre 36 aos 41
anos, representando apenas 3,44%. Segue tabela 2.
Tabela
02
Idade
|
Quantidade
|
%
|
18 aos 23
|
17
|
29,31%
|
24
a 29
|
7
|
12,06%
|
30
a 35
|
5
|
8,62%
|
36
a 41
|
2
|
3,44%
|
42
a 47
|
8
|
13,79%
|
48
a 53
|
4
|
6,89%
|
54
A 59
|
8
|
13,79%
|
Acima
de 60
|
7
|
12,06%
|
Base de cálculo, 58
entrevistados
|
A
escolaridade sempre revela o nível de desenvolvimento de uma sociedade a partir
da educação, assim, nossa pesquisa revela que o PA Santa Rita apresenta uma
demanda considerável que pode retornar à escola. Esse público pode começar
frequentando desde a alfabetização, 10,34% dos entrevistados, 15, 86% através
de programas como a EJA – Educação de Jovens e Adultos, para concluir o Ensino
Fundamental, e posteriormente, Ensino Médio e, quem sabe, ensino universitário.
Entretanto, a demanda que poderia estar cursando o Ensino Médio, representa 13,
22%, conforme tabela 3.
Tabela
03
Escolaridade
|
Quantidade
|
%
|
Não Alfabetizado
|
6
|
10,34%
|
Ens. Fund. Incompleto
|
15
|
28,86%
|
Ens. Fund. Completo
|
12
|
20,68%
|
Ens. Médio Incompleto
|
13
|
22,41%
|
Ens. Médio Completo
|
11
|
18,96%
|
Ens. Superior
Incompleto
|
|
|
Ens. Superior
Completo
|
1
|
1,72%
|
Base de cálculo, 58
entrevistados
|
Conforme
pode ser observado, a pesquisa não detectou estudantes do ensino superior, o que
pode levantar algumas outras questões como por exemplo: onde estão e o que
estão fazendo os egressos do Sistema Modular da Escola Santa Rita? Será que ao
concluir o Ensino Médio, muitos ex-alunos vão em busca de outras oportunidades
fora do convívio familiar?
A
renda familiar não apresenta diversificação, estando centrada, sua grande
maioria de 52,63%, tendo como base, principalmente na associação entre
Agricultura e Pecuária. Observa-se que há e poucos empregos formais, 14,03%,
certamente nos empregos ligados à escola (merendeiras, professoras, motoristas),
ou em algumas fazendas da região. Nesse universo do trabalho, 17,54% da renda
local, tem sua origem exclusivamente na agricultura cacaueira; 10,52%, da pecuária
leiteira; e 5,26% trabalham em outras atividades, principalmente, como donas de
casa.
Outro aspecto
importante da renda familiar apresentado é a sua representação tendo como base
o salário mínimo – (S. M.), (R$ 998,00). Assim, existem 27,11% das famílias
vivendo com menos de um salário mínimo; 38,98% vivem com a renda de um salário
mínimo; 32,20% acima de um salário mínimo e apenas 1,69% dos entrevistados
vivem com renda acima de 2 salários mínimos. Isso pode revelar uma real
necessidade do aparelhamento do poder público, para suprir a as carências e
necessidades dessa região.
Nesse contexto,
é imperativo saber se há alguma dessas famílias recebendo algum tipo de “ajuda”
do governo, relacionado à algum tipo de assistência ou programa social. Certamente
que, 50,81% não está vinculado a nenhum programa de assistência de nenhuma
esfera de governo. Os poucos 27,86% são uma pequena parcela de trabalhadores aposentados;
somente 22,95% recebendo Bolsa Família e nenhum entrevistado vinculado ao
PRONAF ou pensão de qualquer tipo.
Conforme
o Presidente da comunidade que contribuiu com informações para finalização do
formulário da pesquisa de campo, a Região do PA Santa Rita, é agregada ao (PA
Tucumã) e (PA Campos Altos), como regiões adjacentes administrativamente da
associação em que é o representante. Para tal caracterização, interessou-nos
saber há quanto tempo, nossos informantes entrevistados moram nessa região,
conforme tabela 04.
Tabela
04
Tempo de moradia na
região
|
Quantidade
|
%
|
1 a 5 anos
|
13
|
22,41%
|
6 a 10 anos
|
1
|
1,72%
|
11 a 15 anos
|
7
|
12,06%
|
16 a 20 anos
|
15
|
25,86%
|
21 a 25 anos
|
8
|
13,79%
|
26 a 30 anos
|
10
|
17,24%
|
Acima de 31 anos
|
4
|
6,89%
|
Base de cálculo, 58
entrevistados
|
Ao
que se pode constatar pela tabela 4, há três momentos em que o fluxo de
moradores foi mais acentuado. Podemos observar que ao longo das três últimas
décadas, essa ocupação tem se mantido razoavelmente equilibrada entre 12,06% a
25,86% e, após um declínio, pra 1,72%, recentemente deu uma guinada para 22,41%.
Esses números podem sugerem alguns questionamentos acerca de que atividades ou
atrativos fez com que essa região fosse promissora para essas pessoas?
Pelo
menos no início, a dinâmica de ocupação dessa região vem nos revelar a presença
do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA, nesse processo
de ocupação, mantendo o percentual de 21,81% dos entrevistados como
remanescentes desse processo de assentamento do INCRA já passa dos 30 anos. O
demais 74,54% já adquiriram suas terras comprando de antigos donos assentados;
3,63% são herdeiros e cinco entrevistados não responderam a essa pergunta.
Ninguém se manifestou como ocupante das terras como ocupação através de posse.
A
PRECARIEDADE DA PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS PÚBLICOS
Toda pesquisa busca
levantar informações sobre questões específicas da realidade em questão. Em se
tratando de uma realidade sem nenhum registro formal, foi importante tentar
descobrir, o quanto nossos entrevistados sabem da origem e da história dessa
comunidade e dessa escola (Santa Rita de Cássia)? Nesses termos, apenas 5,17%
revelam “não saber nada”, 65,51% disseram “saber pouco”, e 29,31% dizem “saber
muito” da origem e da história dessa comunidade e dessa escola.
Para uma análise social
mais específica sobre a satisfação, ou não, da prestação dos serviços públicos,
aos entrevistados foi aplicada a pergunta: “Como você classifica a cidadania e
as políticas públicas oferecidas pelo seu município?” com atribuição de
conceitos como respostas. Dessa forma, apresentamos às autoridades competentes
uma demanda a ser melhorada em termos de serviços públicos, de atendimento da
comunidade, conforme tabela 5.
Tabela
05
Oferta
de serviços públicos
|
Insuficiente
|
Regular
|
Bom
|
Ótimo
|
Excelente
|
Saúde
|
56,89%
|
34,48%
|
8,62%
|
|
|
Educação
|
16,94%
|
72,88%
|
10,16%
|
|
|
Transporte
escolar
|
13,79%
|
68,96%
|
12,06%
|
5,17%
|
|
Assistência
Técnica/Social
|
71,42%
|
23,21%
|
5,35%
|
|
|
Obs.: A análise da tabela 5 juntamente
com o conjunto de alunos/pesquisadores lava a concluir que essas respostas
estão mais relacionadas com a oferta dos serviços no primeiro semestre de 2019.
Ao que se pode
constatar, essa população do município se encontra completamente insatisfeita
pela falta da oferta dos serviços de saúde pública. Se somarmos os 56,89% que
consideram essa oferta insuficiente, com os 34,48% que consideram regular,
teremos um total de 91,37% dessa população consciente de que estão em completa
falta de assistência em saúde pública. E o que dizer dos 8,62% que consideram
os serviços de saúde Bom? Será que não adoece? Será que já se habituaram a se
deslocar até hospitais da região e não veem nenhum inconveniente nisso?
A questão da saúde só
não é mais grave que a falta de assistência técnica e social, que 71,42% as
consideram insuficiente e 23,21% ainda a vem como regular. Talvez possa ser
considerado que ao lado da escola existe construído o prédio do posto de saúde,
assim como uma residência para abrigar médicos, porém sem nenhum funcionamento
até a análise desses formulários.
A tabela 5 vem mostrar
que a situação da oferta da educação é um pouco melhor, tendo sua melhor
avaliação 72,88% como regular e 10,16% a consideram boa. Somente 16,94% a
consideram insuficiente. Esses números da educação podem ser confirmados,
quando os comparamos com a avaliação do transporte escolar, que até chegou a
ser considerado ótimo por 5,17% dos entrevistados.
Certamente que o
detalhamento dessa problemática, ou os rumos da educação que as famílias
almejam como ótima ou excelente, poderia ser explorado de forma mais específica
na construção do Projeto Político Pedagógico dessa escola, em que pese a
contribuição de todos os atores sociais dessa comunidade estudantil. Mesmo
assim, alguns entrevistados chegaram a sugerir para o ensino fundamental, “mais
investimento”; que haja “consciência que todos devem ter um bom estudo”; “ter
mais professores”; questões ligadas ao transporte, estradas e aos horários,
pois as residências são muito dispersas; “mais dedicação”; “ventilação nas
salas”; “um professor por série” e até mesmo mais empenho e responsabilidade da
gestão local e governamental.
Conforme já foi dito
anteriormente, a territorialidade do PA Santa Rita tem uma história, até certo
ponto controversa, em que pese seu pertencimento ao município de Parauapebas, com
sua localização cerca de 300 km dos equipamentos públicos e da gestão
municipal. Por outro lado, encontra-se a escola Santa Rita de Cassia,
localizada à 47 km do centro urbano de Ourilândia do Norte, município esse que,
até onde se sabe, manteve a oferta da prestação dos serviços públicos (saúde,
educação) aos moradores dessa região. Para descrever tal realidade, buscou-se
saber entre os entrevistados: “Como você avalia a prestação dos serviços
públicos e da cidadania antes de 2018?”. Ver Tabela 06.
Tabela
06
Oferta
de serviços públicos
|
Insuficiente
|
Regular
|
Bom
|
Ótimo
|
Excelente
|
Serviços
público/cidadania
|
31,57%
|
42,10%
|
26,31%
|
|
|
Ens.
Fundamental até 2018
|
12,28%
|
59,64%
|
28,07%
|
|
|
Ens.
Médio SOME 15ª URE de CDA
|
16,96%
|
54,71%
|
28,30%
|
|
|
Obs. Sobre a pergunta “Como você avalia
o Ensino Médio SOME, atendido pela 15ª URE do Município de Conceição do
Araguaia - CDA, antes de 2018?”, pelo menos oito formulários não apresentaram
respostas.
Para uma análise mais
atual e específica sobre a oferta da educação a partir de 2019, nos níveis
fundamental e médio/SOME, os resultados que podem ser verificados na tabela 07,
apresentam suave melhora, dentro de uma perspectiva de processo, que podem
avançar com o tempo.
Tabela
07
Oferta
de serviços públicos
|
Insuficiente
|
Regular
|
Bom
|
Ótimo
|
Excelente
|
Ensino
Fundamental/2019
|
12,28%
|
64,91%
|
22,80%
|
|
|
Ensino
Médio SOME/2019
|
48,21%
|
41,07%
|
8,92%
|
1,78%
|
|
Para nossa verificação
mais detalhada, foi acrescentada a pergunta: “O que você sugere para melhorar?”
Aqui seguem algumas
respostas dos entrevistados que sugerem, ao seu modo, “mais organização”; “mais
interesse empenho do governo”, “mais investimentos”, “um professor para cada
série”, “regulamentar a escola”, que “aulas regulares”, “educação”, “muitas
coisas”, “ter mais aulas”, “mais professores regularmente”, “ter mais assistência
no transporte escolar” e assim, sucessivamente, revelando alguns aspectos a
serem melhorados.
Para nos certificar de
que as pessoas entrevistadas estão cientes dessa situação de pertencimento ao
município de Parauapebas, porém distante do seu perímetro urbano, lançou-se a
pergunta: “Você sabe que a escola e sua comunidade são parte territorial e
administrativa vinculado(a)s ao município de Parauapebas a partir de 2018, e
com isso suas implicações?”. 87,30% a esmagadora maioria respondeu “Sim, sei”,
enquanto apenas 12,69% declararam “Não sei”, quer dizer, não sabem dessa
realidade.
Há anos que a SEDUC/PA
vem se organizando pra matricular os alunos do SOME em “escolas do Campo”, os
argumentos apresentados são de que a secretaria perde recursos federais,
estando os alunos da zona rural, vinculados às escolas urbanas. Para tentar
sanar esse problema, a partir de 2019, todos os alunos do SOME foram
matriculados em escolas do campo, e os professores também tiveram a lotação de
suas cargas horárias, também nessas escolas. Nos casos dos alunos e professores
do município de Parauapebas, 21ª URE, todos passaram ser vinculados à Escola do
campo “Crescendo na Prática”, localizados no Assentamento de Palmares II,
localizado a 20 km ao norte do centro urbano do município de Parauapebas.
Assim, à 320 km da escola Santa Rita de Cassia. Diante disso, buscou-se saber:
“Qual a importância dos alunos do SOME estarem matriculados em uma escola do
Campo?”. Nesse contexto, 26,22% declaram não saber a importância dos alunos do
SOME estarem matriculados em uma escola do Campo. 31,14%se declaram
indiferentes enquanto 40,66% alimentam a esperanças em “Deve ser para melhorar”.
Entretanto, quando
propomos uma análise mais específica, no que desrespeito a distância, o
deslocamento e as dificuldades agregadas a isso, as manifestações não aparecem
de modo muito favorável. Sobre a questão “de os alunos do Ens. Médio SOME
estarem matriculados na Escola do campo “Crescendo na Prática”, Vila Palmares 2
em Parauapebas, torna a vida dos alunos e de seus familiares.” 19,64%
consideram “muito melhor”, 52,45% consideram “complicada” e 27,86% consideram
“muito complicada”.
O que se percebeu, na
prática, foi que a SEDUC/CESOME tramitou todo esse processo de matricula de
alunos e lotação de professores nas escolas do campo a reveria. Sem que
houvesse qualquer debate com a categoria dos educadores, na grande maioria dos
municípios paraenses. Porém, especificamente no caso do Projeto de Assentamento
- PA Santa Rita o processo foi meio atropelado por lideranças da comunidade
que, através de telefonemas e ameaças de denúncias ao Ministério Público,
pressionaram o então diretor da 21ª URE, a formular o processo de vinculação
das turmas do SOME, da Vila Santa Rita, ao município de Parauapebas, o que
gerou um grande complicador na vida escolar das pessoas envolvidas. Dito de
outra forma, quando analisamos a cuidadosamente a questão anterior, podemos
constatar que 80,31%, são a soma dos que consideram esse vínculo com Palmares
II, complicado 52,45%, ou muito complicado 27,86%, conforme Figura 03.
Figura 03. Localização via Google
Maps entre os extremos, E. M. E. F Santa Rita de Cassia e Palmares II, E. E. E.
M. Crescendo na Prática, escola do campo onde se efetuou as matriculas dos
alunos e lotação dos professores do SOME. Fonte: Google Mapas.
Em termos históricos e
geográficos, a Escola Santa Rita de Cassia esteve até 2018, vinculada ao
município de Ourilândia do Norte em seu nível fundamental. O Ensino Médio
Modular surge no contexto da 15ª URE, de Conceição do Araguaia. Com o
desmembramento administrativo, surge a 21ª URE, localizada no município de
Parauapebas, para a gestão microrregional dos municípios de Canaã dos Carajás,
Parauapebas, Curionópolis e Eldorado dos Carajás. Por outro lado, com o
desmembramento administrativo, da 15ª URE, de Conceição do Araguaia, surge a
22ª em Xinguara, para a gestão microrregional dos municípios de Xinguara, Rio
Maria, Água Azul do Norte, Ourilândia do Norte, Tucumã e Bannach.
Diante de complexa
situação, os professores do SOME encontraram alunos, pais e liderança da
comunidade ansiosos por dar um encaminhamento mais viável para as demandas
dessa escola. Nessa direção, surge a proposta do estudo e compreensão dessa
realidade a partir de uma atividade prática da disciplina de Sociologia,
através da pesquisa de campo. Assim, a problemática apresentada nas reuniões
foram o elemento motivador da criação dessa pesquisa. Para finalizar a
discussão, foi colocada a pergunta: “Se você pudesse, democraticamente, ser
ouvido e atendidos pelas autoridades da SEDUC e escolher por onde os alunos do
Ens. Médio SOME e seus familiares ser atendidos, você considera mais prático
ser vinculado(a)s e atendido(a)s?”, 34,42% gostariam de ser atendidos pela 21ª URE de Parauapebas; 37,70%
escolheriam ser vinculado(a)s e atendido(a)s pela 22ª URE de Xinguara e 17,86%
consideram-se indiferente, posto que “o importante é ter a oferta do estudo.”
Conforme se pode constatar na figura 05, a distância entre a E. M. E. F. Santa
Rita de Cassia e a 22ª URE de Xinguara é bem mais perto, mais barato e mais
prático do que chegar até 21ª URE em Parauapebas.
Figura 04. Trajeto entre a E. M. E. F. Santa Rita de
Cassia e a 22ª URE de Xinguara.
Fonte: Google Mapas.
Foi solicitado aos
entrevistados que justificassem sua resposta pela URE de sua preferência. Os
que escolheram a 22ª URE de Xinguara, dizem: “porque é mais perto”, “pela
logística para o atendimento”, “É porque tem mais facilidade de comunicação”, E
assim sucessivamente. Algumas das escolhas da 21ª URE em Parauapebas, vão na
direção da busca pela sua identidade cidadã, “´por fazer parte do município de
Parauapebas, acredito que teríamos mais respaldo para cobramos”, já que a
comunidade pertence à “Parauapebas, é melhor que tudo seja resolvido por lá”,
“já somos pertencentes à Parauapebas e existe uma URE, temos que ser atendidos
por lá”, assim, entendem que “o município tem que assumir”. Portanto, mesmo
cientes da distância e das dificuldades, escolheram a 21ª URE, por pertencerem
ao município e pela necessidade de serem assistidos por sentirem-se
desamparados por décadas.
Por fim, ainda houve os
que se declaram indiferentes, “porque não importa por onde vamos ser atendidos,
mas que a educação é nosso direito”, “o importante é melhorar a educação... é
ter o professor para ensinar... é os alunos estarem estudando e eles estarem
tendo um ensino de qualidade... o importante é ter o estudo”, “desde que tenham
compromisso com os alunos do ensino médio”, “o importante é estudar e terminar
o ensino médio” e assim seguem esse pensamento.
Sobre essa questão,
faz-se importante registo das informações apresentadas pelo Prof. Messias
Marques, Diretor da Escola E. E. E. M. Crescendo na Prática, responsável pela
lotação dos professores do SOME e da matrícula dos alunos. Na ocasião da
socialização da pesquisa com os alunos, o referido diretor assegurou que a
partir de agora, não haverá transtornos nem complicadores para a vida escolar
dos estudantes do SOME. Assim, a escola se comprometeu a emitir declaração de
conclusão do ensino médio, assim como o certificado, via direção da E. M. E. F.
Santa Rita de Cassia, sem que nenhum pai, ou aluno, precise se deslocar 320 km
até a escola sede na Vila Palmares II.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A questão de fronteiras
em Parauapebas é uma constante a ser enfrentada pelo poder público municipal,
desde o seu surgimento, no início dos anos de 1980, quando houve plebiscito na
região para a emancipação dos municípios de Xinguara, Parauapebas, Curionópolis,
Eldorado dos Carajás, Água Azul do Norte, Ourilândia do Norte e Canaã dos
Carajás. Conforme podemos concluir nesse trabalho, a questão
histórico-geográficas, específica da comunidade e escola Santa Rita, de
Parauapebas, na fronteira de Ourilândia do Norte.
O
breve histórico da E. M. E. F. Santa Rita de Cassia vem nos mostrar o quanto a
Prefeitura de Municipal de Parauapebas foi ausente e omissa com o povo dessa
região até o ano de 2018, delegando ao Município de Ourilândia a pouca
cidadania que chegou até os residentes dessa fronteira. As figuras apresentadas
são testemunha da ausência de estradas que reforçaram ao longo dos anos a cidadania
por falta do acesso terrestre aos moradores da região, que não possuem uma
estrada, que os interliguem aos equipamentos públicos do seu próprio município.
Os
moradores dessa região são desbravadores originários de Norte a Sul do Brasil,
que colonizam a região há mais de 31, através de políticas de distribuição de
terras pelo INCRA, em que pese o fracasso desse modelo de “Reforma Agrária”,
que relegou a muitos a negociação da terra para buscar outras alternativas para
fugir da abandono no meio rural. Assim, ainda nos dias de hoje, encontramos o
fracasso na oferta dos serviços básicos de cidadania, representado pela falta
de assistência social e técnica, pela ausência do serviço de saúde, e pela
precariedade da educação, que por mais que tenha apresentado melhora no
exercício de 2019, ainda tem muito a ser feito.
Pelo
menos na regional 21, com relação a toda problemática identificada sobre o
ensino médio modular, pelo menos no que se refere a matrícula dos alunos, a
lotação dos professores do SOME na Escola do Campo Crescendo na prática, pode
concluir, parece-nos resolvida com o pronunciamento de Messias Marques, Diretor
da Escola. Pelo menos, no que se refere a parte administrativa de matrículas,
emissão de declarações de conclusão do ensino médio, assim como o certificado e
outros casos que podem ser resolvidos via direção da E. M. E. F. Santa Rita de
Cassia.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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do Norte: grandes projetos, garimpos e experiências sociais na construção
do município/Antônio Ronaldo Alencar, William Gaia Farias. 1. ed. - Belém:
Açaí, 2008. Disponível em : https://ourilandia.pa.gov.br/o-governo/prefeito/.
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escolar indígena e inclusão social: um estudo sobre os indígenas Xikrín –
Parauapebas/Pará. Parauapebas: Universidade Federal do Pará, 2007.
MACHADO. Igor José de Renó. Sociologia
hoje: ensino médio, volume único. Igor José de Renó Machado, Henrique
Amorim, Celso Rocha de Barros. 2. Ed. São Paulo. Ática. 2016.
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Pedagógico da Escola Municipal Santa Rita. SEMED. Ourilândia do norte,
20013.