Valdivino Cunha*
Na semana em que o assassino da adolescente Nayara Rodrigues foi julgado e condenado, a violência contra a mulher continua. Nem mesmo numa semana de grande repercussão que o caso Nayara teve, a violência contra a mulher avança impiedosamente. A Conferência das Nações Unidas sobre direitos humanos aprovado em Viena em 1993 reconheceu formalmente a violência contra as mulheres como uma violação aos direitos humanos.
O problema da violência contra a mulher tem raízes profundas, pois, já no apogeu “democracia ateniense” o seu exercício era só para homens porque a mulher era considerada incapacitada para exercê-la. Na Revolução Industrial com a implantação do capitalismo, a mão-de-obra mais barata e mais explorada foi da mulher.
Quando os conflitos entre homens e mulheres ocorrem, os homens com raras exceções se acham superiores, mais fortes e que as mulheres lhes são submissas. Os maiores causadores dessa violência contra as mulheres são exatamente aqueles os quais deveriam protegê-las. Eles são na maioria das vezes, os maridos, amantes, namorados, pais, padrastos, irmãos, chefes, outros homens e até filhos que acham que têm o direito de impor suas vontades às mulheres.
A questão sexual e sentimental é muitas vezes dramática para as mulheres. A grande maioria dos crimes contra elas têm esse viés. Os homens espancam, molestam e as matam por ciúmes, por acharem que as mulheres não têm o direito de escolha e por isso ceifam suas vidas. Esses monstros fazem da mulher uma posse. Não admitem perdê-las com seus machismos repugnantes.
Os elementos que compõem as estatísticas da criminalidade contra as mulheres são de duas naturezas: são químicos, quando entram na fórmula álcool e drogas ilegais. O outro elemento é de cunho social que tem raízes mais profundas e mais difícil de ser combatida, pois se fundamenta na maneira como a sociedade ver o papel masculino, que já o faz diferente já na idade tenra adotando formas diferenciadas de educar meninas e meninos. Os Meninos são incentivados a serem dominadores, a usar a força física, a ação, os mandos, a satisfazer seus desejos, inclusive os sexuais. Já as meninas são valorizadas pela beleza, sensibilidade, delicadeza, fidelidade, sedução, amabilidade, compassividade.
Em que pese os avanços da lei, como é o caso da Lei Maria da Penha, só isso não basta. É preciso que a sociedade se indigne contra essa violência. É preciso mudar a cultura do machismo e essa mudança deve começar em casa e urgentemente. Não basta dizer que precisamos educar nossas crianças para que no futuro não venhamos mais ter violência contra a mulher, a mudança tem que ocorrer agora.
Nós adultos, homens e mulheres não podemos ficar impassíveis diante dessa crueldade. Temos que denunciar e fundamentalmente agirmos no aqui e no agora, dentro o fora de nossa casa, mesmo que o criminoso seja nosso irmão, pai, vizinho, colega de trabalho e fundamentalmente, mesmo que a violentada não seja contra nossa mãe, irmã, amiga ou colega de trabalho. Temos o dever de denunciar e combater a violência, em todas as formas, mesmo que para isso tenhamos que dilacerar nossa própria carne. Somente assim poderemos diminuir as estatísticas da violência contra a mulher, tão cruéis e inaceitáveis.
Esta semana as redes de televisões mostraram além do julgamento do caso Nayara, um filho que assassinou a mãe e uma mulher sendo espancada em Pernambuco no meio da rua sem que ninguém ao menos tentasse socorrê-la, exceto um cão que bravamente tentou sem sucesso através de latido mordidas, evitar que um outro animal, desta vez da espécie humana, não violentasse com pancadas e pontapés uma mulher indefesa e que por mais gritasse de dor ninguém a socorreu. Precisamos dar um basta nesta barbárie.
* O autor é sociólogo e professor da rede pública estadual de ensino