Este trabalho desenvolvido pelos
alunos do 1º, 2º e 3º do Sistema de Organização Modular de Ensino – SOME, da
localidade da Vila do Galho, município de Concórdia do Pará é o resumo de
pesquisas que foram realizadas, dentro do projeto executado Vila do Galho:
História e Memória, sob nossa coordenação e apoio dos professores Mariza
Castro, Valdir Guilherme e Flavia Perdigão.
Os alunos que participaram,
foram:
- Alcione Maciel
- Aline Araújo de Araújo
- Alanilson Farias Lima
- Anderson da Silva
- Antoniel Ferreira e Silva
- Carla Costa
- Deivide Farias Lima
- Djair Bezerra
- Edna Lima Maciel
- Elizângela Maciel Felizardo
- Emesom Trindade
- Francisco Trindade
- Gisele Maciel Felizardo
- Isabel Araújo
- José Rodrigo
- LeidianeSeabra Farias
- Lucas da Silva Alves
- Lucas Santana Batista
- Larissa Cardoso
- Maria Dulcelina Maciel Farias
- Maria Irene Maciel Felizardo
- Marivalda Cordeiro da Silva
- Nelton Farias da Silva
- Patricia da Conceição
- Raiana Maciel
- Raimundo da Conceição Farias Filho
- Renilson da Silva Silva
- Ronilson da Silva Silva
- Rosana Barbosa da Silva
- Santana de Jesus Silva Martins
- Stela Regina Silva Martins
- Vanise dos Santos Oliveira
Histórico
Para a Diretora da Escola
Municipal “Santa Maria III”, Rosa Lúcia Ferreira da Silva “segundo os
antepassados, principalmente sua mãe, que ainda é viva, tem o igarapé principal
chamado João, popularmente denominado de
Igarapé João, sendo um afluente
do Igarapé Galho pela margem
esquerda. Esse nome se dá em virtude da
sua configuração com Igarapé João se assemelhar a uma ramificação, como um
galho de árvore”. E continua: ”A Vila
origina-se a partir da ‘Mãe de Deus’, que era um casarão construído perto do
Igarapé, próximo a Vila atual. O aterro foi levado por eles mesmos, a casa foi
feita através do trabalho braçal. Era uma casa muito bonita e segundo alguns
moradores antigos, possuía uma escada de
dez degraus”. Segundo a informante “A sua família que é descendente de
nordestino, já que sua avó era cearense e seu avô filho de português, vinha
fugindo da calamidade no estado do Ceará em decorrência da seca e vieram se
estabelecer por essa região. Demoraram alguns meses para chegar e apossaram-se das
terras que eram do governo, e quando chegaram eram compostos de cinco famílias:
A família Araújo descendentes de portugueses, a família Lima de cearenses e
mais três famílias apossaram-se do baixo galho. Construíram suas casas e
ficaram ali morando; enquanto aqui, Vila atual, a família Lima e a família
Araújo construíram a Casa ‘Mãe de Deus’, onde moravam as duas famílias. Tiveram
filhos, os quais foram casando e construindo outras casas, ampliando assim a
localidade”.
E a nossa Diretora continua: ”Quanto ao
aspecto econômico, os nossos avós e pais criavam bastante, sempre tiverem sua
vaquinha, o quarto do boi, sempre tiveram a ideia para a retirada do leite,
para a sobrevivência, além de outros tipos de animais. E se tratando em outro
aspecto, das atividades produtivas, entre eles, se juntavam para fazer dez
tarefas de roça, era mata, faziam mutirões, colhiam muito arroz, eram doze
cavalos para passar o arroz para o comércio, inclusive o pagamento desse arroz
como prestação de conta era realizado na safra. Trabalhavam, também, com a
mandioca, passavam noites e noites mexendo a farinha e entregava para os
marreteiros que chegavam até a casa de farinha, como o meu primo que mora em
São Domingos do Capim, O Nenê Teixeira, que fazia esse tipo de atividade, interessante
que ele chegava cedo à casa da farinha e contava o dinheiro de pagamento da
farinha, quando os proprietários da farinha chegavam pegavam a bolsa ,
denominada de “colchete” e começam a contar o dinheiro que estava na bolsa para
verificar se estava certo, pegavam a bolsa iam embora. importante frisar que a
bolsa ficava lá, e ninguém mexia, podia passar, ninguém mexia. Porém, nesse
momento, era muito difícil, para você sair para Belém, levava quatro dias, saia
sete da manhã, daqui até sua “Duca” Amaral, mais conhecido como Porto Grande,
onde hoje é do Seu Faustino, onde o Igarapé já era maior, com maior
profundidade, daí pegava o casco até a foz, onde levava três horas de remo até
chegar à foz do rio Bujaru para pegar o barco grande que levava até a capital
do estado”.
Para Seu Faustino Gomes da Silva,
líder comunitário da comunidade “A denominação Galho foi dado pelos primeiros
moradores, entre eles um Senhor chamado de ‘Passarinho’, e na vila tinha poucos
moradores, já que foi formada de algumas famílias que vieram fixar por essas
bandas, já que a comunidade evoluiu de certo tempo pra cá”. E aborda “Hoje, a comunidade do Galho esta
avançada, cada vez mais aumentando, antes tinha apenas cinco casas, hoje, já
tem na faixa de cinquenta casas, logo esta evoluindo, muito diferente. As casas
e a juventude eram bem pouquinho, assim como a Igreja Católica quando veio,
quem trouxe foi o Padre Zezinho, primeiro que apareceu, era do município de
Bujaru. Começou a conversar com o povo e aí começou os encontros, a catequese,
antes não tinha nada disso, já que essas questões religiosas eram tudo
realizado na “Grande Santana”, ou seja, a Igreja de Santana, em Bujaru,
primeira Igreja que foi fundada por essa redondeza, A partir daí foi sendo
criadas outras Igrejas e Capelas, expandindo o Catolicismo na Região. A
festividade religiosa das comunidades era na vila de Santana, no período todos
se organizavam iam pelo rio, onde tirava uma hora de viajem, para participarem
da Festa, dando muita gente, já que iam para um só lugar”.
E continua “Nesse período, o povo
daqui trabalhava apenas com a roça, principalmente com a mandioca, o arroz e o
milho”. A partir daí, começaram a plantar o açaí, a pimenta entre outras coisas
como o projeto do Dendê e do Cupuaçu, que contribuem bastante na renda
familiar, porém gostaria de ressaltar que uma parte significativa da juventude,
pelo fato de ser um trabalho braçal, está deixando a agricultura e indo residir
nas cidades, ou se dedicando somente ao trabalho do Dendê, trabalhando como
mão-de-obra na multinacional, que é subsidiária do Vale do Rio Doce, a BIOVALE
ou BIOPALMA, que ocupa grandes quantidades de terras de alguns municípios como
Bujaru, Concórdia do Pará, Moju, Tailândia. Dessa “forma, teve gente que vendeu
suas terras e, estão hoje trabalhando na empresa, como empregado, deixando de
produzir ou trabalhar nas atividades tradicionais da região, encarecendo,
assim, os preços dos produtos. Para se tiver ideia, enquanto o preço da
farinha, aqui custa R$6,00, em Belém, capital do Estado ela custa R$9,00. Subiu
cento e cinquenta por cento em relação ao mesmo período do ano passado”.
Para o informante Faustino Silva
a relação da Vila do Galho com a cidade de Concórdia é muito forte, já que
depende diretamente dela fazendo com que as “pessoas caiam para lá”.
Entre as localidades que tem
conexão com a Vila do Galho, já que tem um número significativo de alunos na
Escola Municipal “Santa Maria III” é o Igarapé João. Segundo os antigos
moradores esse nome está relacionado com a existência de uma família nesse
lugar, as pessoas moravam longe, não tinham vizinhos e a principal liderança
dessa família se chamava João Amaral, em homenagem a ele, chamou-se Igarapé
João, sendo que o igarapé possui vários braços indo desembocarem no rio Bujaru.
Para os informantes, “antigamente não tinha ramal, as pessoas andavam só pelo caminho,
canoa e barco, não tinha escola para os professores ensinar as crianças. Com o
passar do tempo, tudo foi mudando para as famílias que fixaram residências por
aqui. Com a abertura do Ramal fizeram escola e algumas mulheres foram estudar
para a cidade de Bujaru e se formaram para o magistério, qualificando os
professores daqui de nosso lugar”.
Entidades e Movimentos Sociais
O Sistema de Organização Modular
de Ensino – SOME, possui um raio de influencia muito forte nas áreas adjacentes
da Vila do Galho, por isso a importância e a necessidade de frisar as
comunidades que o projeto SOME atende. Entre as comunidades, nós temos, além da
Vila do Galho, Campo Verde, Igarapé João, Vila Castanheira, Ipanema, Sítio
Cajueiro, Livramento II, Baixo Galho, Nova Inácia, Santa Maria da Paz e Igarapé
Dona.
A comunidade Campo Verde foi
fundado em 1979, seus fundadores foram Lázaro dos Santos Silva e Manoel
Trindade, A religião predominante é a Igreja Católica. Antes de dezembro de
2010, as rezas dos fiéis eram numa Igreja de madeira, onde não cabiam todos que
gostaria de participar dos eventos religiosos. Com a inauguração da Igreja de
São Thomé, nessa data, já que houve participação efetiva da comunidade na
construção, foi possível fazer de alvenaria. Os santos referenciados pelos
comunitários são: São Thomé e Santa Maria. No mês de maio, além do mês mariano
é a festa de Santa Maria; já no mês de junho é comemorada a festa de São Thomé.
Segundo os alunos-pesquisadores, na comunidade tem quatro grupos de
evangelização, sendo que o primeiro grupo denominado de Fé em Deus foi fundado
em 1973, tem quarenta anos, sendo seu fundador “Zito Apolinário”. Em 1974seu
“Zito Polinário” funda outro grupo chamado de Deus Por Nós; logo após Sancre
fundou o grupo São Thomé, fundado em 1982, que tem trinta anos. Além desses,
tem, também o Movimento de Mulheres, sendo sua fundadora foi a Sra. Maria
Cristina; a Catequese, Crisma e o Movimento Jovem; sendo as rezas nos dias de
sábados. Na escola, tem alunos de 1ª a 4ª séries; dois campos de futebol, o
campo verde feminino e masculino, o Grêmio Masculino e a Arquinec, que
significa Associação Remanescente de Quilombo Nova Esperança de Concórdia do
Pará, fundada em 22 de dezembro de 2001, sendo seu fundador o Irmão Pedro, que
arrecada por ano R$ 1.200,00, que agora em 2013, com o Programa Minha Casa
Minha Vida, com três projetos assinados que proporcionará a construção de noventa
e um (91) casas. Com quatro projetos, a comunidade Campo Verde foi à primeira
da região a conseguir o título coletivo.
Em 12 de dezembro de 1988, foi feito o lançamento da pedra
fundamental da congregação, que foi denominada de Nova Aliança, pelo Pastor
Carlos Bittencourt, da Assembleia de Deus, Campo de Nova Conduta.
Levando em consideração a
fundação do Assentamento Colônia da Nova Inácia comunidade surgiu a partir das
necessidades de algumas famílias que não tinham um pedaço de terra para
trabalhar. Deu-se a ocupação da grande propriedade que estava desocupada, sem
nenhum trabalhador, havia muitas matas e onde hoje é a Vila era um grande
pasto. Com a ocupação possibilitou a chegada de novas famílias de outros
municípios ocupando novos terrenos, loteados nesse momento. Foi no dia 15 de
dezembro de 2003, com a chegada de 84 famílias, sendo 63 em “RB”, que residiam
na área doada pelo governo federal, que contaram com o apoio do Sindicato dos
Trabalhadores Rurais de Concórdia do Pará. Fundaram a Associação dos
Trabalhadores do Assentamento e seu deu a primeira eleição da primeira
diretoria e conselhos fiscais, sendo eleito o Presidente o Senhor José da
Conceição da Silva Pinto e o Vice-Presidente o Senhor Luiz Rondam Gomes de
Souza, com apoio do governo. Construíram as casas dos assentados, dando, então,
formação do núcleo da Agrovila.
Nova Inácia em virtude do
igarapé, que tem nome Inácia e Nova, pela conquista de transformações de um
lugar sem habitantes, transformando-se em um lugar novo, com características
novas. E as conquistas prosseguiram, os assentados foram contemplados com o
Agente Comunitário de Saúde (ACS), e Projetos como o Pronaf A, o qual ajudou
muitas famílias, depois foi feito a demarcação dos lotes, em seguida as
estradas, a energia elétrica e a escola, também foi feito um campo de futebol,
foram construídas duas igrejas, sendo uma católica e a outra evangélica, e um
posto de e assistência técnica para os agricultores, surgiram, ainda alguns
comércios e alguns bares.
Quanto à escola, no
primeiro mandato de Prefeito Elias, foi construída com duas salas de aulas, uma
secretaria, dois banheiros e uma copa. Sendo a primeira Diretora a Professora
Lúcia. As professoras Núria e Meris completavam o quadro de educadoras que
compõe a escola de Nova Inácia.
Considerando o campo de futebol,
para a prática de esporte e lazer da comunidade. O eleito o primeiro presidente
foi o Senhor Geraldo da silva Pinto e outros companheiros que ajudaram na
estruturação e organização do São Raimundo Futebol Clube.
A Igreja Católica foi fundada com
a chegada de uma família que veio de Santa Maria do Pará, sendo o padroeiro e
referência da família São Raimundo. Na coordenação ficaram o Seu Raimundo e sua
esposa Walderina. Nessa mesma época, fundam a catequese, que tinha como
professora de ensino religioso sua filha Isabel.
A Assembleia de Deus, no seu
início na comunidade de Nova Inácia, teve um ponto de pregação, que tinha como
dirigente o Senhor Serverio e contou com a contribuição dos irmãos e fizeram
uma pequena congregação, que foi denominada de Novo Sião.
O comércio no assentamento se
destaca o assentado João Moreira e a Dona Ângela que até hoje mantém seus
comércios. Para o Seu Oreste Rodrigues Farias “Antes era uma área de terra
muito grande que não havia nenhum morador. Essa área de terra era do senhor
Raimundo Gaspar. Ele não plantava nada só tirava o que tinha na terra, que era
a madeira. Daí então que chegaram os ‘invasores’ que começaram a lotear a
terra. Pra essa terra, chegaram capixabas, piauienses, maranhense, e eu e meus
amigos e filhos entramos nessa ‘barca’”.
E frisa “No dia 15 de dezembro de 2003, no seu barracão foi fundado a
primeira Associação, que contou com a participação de vários moradores”.
Em se tratando da comunidade de
Santa Maria da Paz, consideramos que na época de 1999, surgiu a Associação na
comunidade. O INCRA e o Sindicato dos Trabalhadores, juntamente com o povo do
assentamento fundaram a Associação ATRANSMA, pois nessa época existia um
projeto para o assentamento, mas o povo só poderia receber recursos do projeto,
se legalizassem a associação, o que aconteceu.
Nesse momento INCRA, Sindicato e
os comunitários se reúnem para a escolha da direção, incluindo Presidente,
Secretário, Tesoureiro e outros que representam a comunidade até hoje. A partir
desse momento, a Associação passou a ser reconhecida, tendo mais direitos e
recursos para o povo da localidade. Segundo uma comunitária: “Começou a ter
cursos, onde ensina muitas maneiras de ajudar a associação na renda, como
criação de galinha caipora, hortaliças, fabricação de pães e outros”.
Para o líder da Associação dos
Remanescentes Quilombolas, membro da comunidade do Cravo e Professor de Língua
Portuguesa Elias Borges Santana em entrevista frisou “que a ponta pé inicial da
criação da Associação partiu de dentro das comunidades, com as lideranças e
naquele momento foi uma necessidade, já que trabalhavam em forma de mutirões,
logo as Associações começaram a defender suas bandeiras como a terra e
políticas públicas para contemplar interesses que venha do poder público”. E
continua “Entre os benefícios tem a titulação de quatro comunidades: Dona,
Campo Verde, Ipanema e Santo Antônio. Elas foram tituladas por muita pressão
das comunidades, das principais lideranças que não arredaram pé da luta e
continuam arregaçando as mangas para o bem das diversas comunidades”. Para o
informante, das comunidades que são existentes no município de Concórdia do
Pará, 60% são comunidades quilombolas e hoje deveríamos ter pelo menos 12
comunidades tituladas, o que não aconteceu em virtude do processo burocrático,
junto ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA. Para ele
“A comunidade do Galho é uma localidade que falta assumir enquanto comunidade
quilombola, apesar de alguns membros acharem que não se identificam”. Para o
informante “As comunidades estão organizadas politicamente, ou melhor, as
comunidades têm muito orgulho por fazerem parte da Associação, daí a
importância da Associação dos Remanescentes Quilombolas de Nova Esperança de
Concórdia do Pará - ARQUINEC e a Associação dos Remanescentes Quilombolas do
Cravo – ARQUIC. As outras comunidades que não são tituladas são certificadas e
reconhecidas pela Fundação Cultural de Palmares de Brasília, órgão vinculado ao
Governo Federal, mas fica a mercê de grileiros e hoje com o projeto da
BIOPALMA, tomou conta de boa parte dessas terras e a gente sabe que área de
preservação em terras quilombolas não pode ser ‘invadidas’. E afirmo que se não
fossem essas entidades, com certeza 90% dessas terras não estariam nas mãos dos
filhos ou verdadeiros donos delas”.