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segunda-feira, 25 de maio de 2020

Memórias de viagem de um “moduleiro”





Em 2000, fui deslocado pela SEDUC/PA para trabalhar no município de São Félix do Xingu, pelo Sistema de Organização Modular de Ensino – SOME.  As informações que tinha do município era que, primitivamente tinha sido colonizado pelos primeiros habitantes do Brasil, sendo desmembrado do município de Altamira, do qual era distrito.



Nas décadas de 30, 40 e 50 em virtude do desenvolvimento da produção do arroz com casca, borracha, da seringa e do milho, o distrito da zona de Novo Horizonte, prosperou de forma significativa na região.  Vale destacar, que no inicio da década de 60 emancipa-se político-administrativamente, tornando-se município. Também no inicio de 2000, o município destaca-se na pecuária, tornando-se um dos maiores produtores de gado do Estado.  Além da pecuária, “São Felão”, como era chamado pelos professores do SOME naquele momento, vivia da agricultura, do minério, principalmente, das terras dos nativos, além da pesca.



Seus habitantes tinham diversas origens: além dos antigos moradores, vinham de outros Estados, como Goiás e Minas Gerais.



Com o SOME, política pública da Secretaria Estadual de Educação do Pará - SEDUC, que gerencia essa importante alternativa de Ensino Médio nos rincões do estado, continuei minhas aventuras "moduleiras".



Viajei no III Módulo, neste ano, a SEDUC disponibilizava a passagem de avião de Belém até Marabá e Marabá até São Félix do Xingu. Esta foi uma experiência que não foi fácil para “um marinheiro de primeira viagem”. Cheguei pela manhã no aeroporto de Marabá e fiquei aguardando a viagem para a localidade que seria pela parte da tarde. Saí por volta de 15 horas de Marabá com destino a São Félix em um bimotor onde apenas o piloto estava. Como primeira viagem em aeronave desse tipo, entrei e me apresentei. O piloto me ajudou com as duas sacolas que estava carregando. A aeronave foi decolada, com aquele friozinho no estômago, me senti mais seguro no ar. Quando saímos de Marabá, o tempo começou a fechar e de longe sentia que passaria por situações que jamais tinha vivenciado. Foi o que aconteceu depois de uma hora de viagem. O piloto tentava conversar para me confortar, porém pressentia que teria surpresas, o piloto, muito experiente fazia acrobacias para desviar de nuvens muito carregadas, eram nuvens escuras que provocaria raios e chuvas. Isso me chamava atenção, então, já com medo mandei o piloto retornar, mas ele disse que isso passaria. Mas, não passou nem o medo nem a chuva. O  piloto  teve que enfrentar o mau tempo. Cheguei a pensar que naquela hora a aeronave seria despedaçada por um raio e cairia. Mesmo com experiência, percebi o piloto preocupado com a situação, mas fomos passando pelas nuvens escuras e surgindo a claridade, fazendo com que respirássemos mais calmos e aliviados.



Outra situação aconteceu neste mesmo ano, quando estava trabalhando em Belterra, que era base física do Ministério da Agricultura, atualmente é município. Viajando de Santarém para Belém, na empresa de avião VARIG, mas em aeronave grande, diferente da outra viagem. A duração de viagem é de uma hora, mas quando chegou aos quarenta minutos de viagem, foi comunicado que deveríamos estar todos sentados e devidamente com cintos que em Belém estava chovendo bastante e com ventos fortes... Mal ouvimos o comunicado, apagaram-se as luzes do avião. O silêncio era sinistro! O voo começou a me preocupar, foram longos quinze minutos nessa situação, faltando cinco minutos para chegar a Belém, voltou à normalidade. Parou mais uma vez o susto.




Os deslocamentos dos educadores do SOME até 2003, passavam por várias viagens,  pegavam avião, o transporte terrestre e às vezes o marítimo. Depois desse ano, com a desestruturação e descentralização dessa importante política pública, considerada uma das maiores de inclusão social da Amazônia, regionalizou as viagens dos educadores, mesmo assim, temos localidades às vezes distantes entre a residência do educador e a localidade de trabalho. São sensações e aventuras que esses educadores passam nos ramais, nos rios, igarapés e vicinais. Mas, era gratificante, ao deixar a localidade já sentia saudade do dever cumprido.

domingo, 17 de maio de 2020

Educação no estado do Pará: Possibilidades e desafios no SOME





O Sistema de Organização Modular de Ensino - SOME completou no ultimo dia 15 de abril de 2020 40 anos de existência e resistência enquanto uma política pública educacional no Estado do Pará.




Como contribuição de minha trajetória de 29 anos dedicada neste sistema de ensino começarei a postar, a partir de hoje, algumas experiências vivenciadas e pedagógicas nas comunidades de territórios quilombolas, indígenas, camponesas e ribeirinhas.  




Em 1989, em processo seletivo de 12 candidatos realizado pela SEDUC, sendo três vagas, fui selecionado para trabalhar nessa importante política pública que desenvolvia suas atividades nos interiores, com o Ensino Médio e alguns poucos municípios com o ensino fundamental. O processo seletivo incluía a redação, a apresentação de um projeto para ser executado nas comunidades, a entrevista tendo como base o projeto e o curriculum. Portanto, posso afirmar que para ser professor do SOME significava estar disponível para descobrir “novas emoções” durante o trajeto de suas viagens.




Após o resultado, passei por um curso de formação sobre a estrutura e o funcionamento do SOME, no antigo Centro de Treinamento de Recursos Humanos “Arthur Viana” - CTRH. Foi uma semana, pela parte da manhã e pela parte da tarde, incluindo textos da literatura de educadores progressistas entre eles, Paulo Freire. No final de encerramento do curso, na sexta-feira, os técnicos responsáveis concluíram o evento e informando o circuito (quatro municípios) que trabalharíamos durante o ano. Meu primeiro Município foi Terra Santa (Fronteira com Amazonas).




A viagem de Belém para Terra Santa deu-se nos dias 13 e 14 de maio de 1989. Indo de avião de Belém/Santarém. De barco, Santarém/Oriximiná e Oriximiná/Terra Santa. Portanto, após dois dias de viagem, cheguei ao meu destino, já que o calendário iniciaria no dia 17, na segunda feira. Ressalto que durante a viagem entre as memórias nesse período foi quando ao sair do barco, no município de Oriximiná, com a água no meio das canelas, carregando uma sacola de roupas e a outra de material didático e livros fui logo “batizado” no SOME, com uma queda na saída da escada do barco para calçada da cidade. Da sacola do material consegui salvar alguns livros acadêmicos e a sacola de roupas toda molhada. Foi o primeiro momento marcante para minha vivência profissional, que até hoje não esqueço. Fiquei aguardando o barco que passaria em Oriximiná com destino a Terra Santa, por volta de 16 horas chegando ao meu destino em Terra Santa às 23 horas, com a cidade calma, sem a presença de pessoas, que informassem o endereço da Casa dos Professores. Enfim, cheguei a Casa dos Professores e sendo recepcionado pelo casal de professores: Cleber Barros e Zuleide Pamplona. Abriram a porta e me apresentei. Estava dando inicio a uma nova trajetória em minha vida.

sexta-feira, 15 de maio de 2020

O SOME em seus 40 anos




Como a educação nunca foi prioridade para as políticas públicas das elites financeiras do país fazendo o mesmo tratamento de uma sociedade escravocrata, o SOME foi uma alternativa e uma dívida histórica do Estado com a população dos interiores. Idealizado pela equipe técnica da Fundação Educacional do Pará - FEP sob o comando do Diretor Geral Manoel Campbell Moutinho,  mesmo no final da ditadura militar no Brasil, em 1980. 


Com experiência em 4 municípios : Curuçá, Igarapé Miri, Igarapé Açu e Nova Timboteua, de um projeto que deu tão certo que se expandiu tornando um política pública em 2014, com a Lei 8.706, da Alepa, após muita luta da categoria.


Ressalto que o SOME pode-se dividir historicamente em antes e depois de 2003. Neste ano, com a política de desmonte da educação no Estado, o governo tucano, através da Secretaria de Educação Rosa Cunha, em um jogo político, descentraliza e entrega nas mãos das oligarquias municipais e com a entrada de profissionais com outros vínculos descaracteriza e perde sua identidade com as comunidades. 


Porém cresceu tanto que de 4 localidades, atualmente funciona em 465 e 96 municípios. Nesses 40 anos de SOME todas as categorias lutaram pela consolidação de uma das maiores políticas públicas de inclusão social da Amazônia. 

quinta-feira, 14 de maio de 2020

Discutindo a educação modular nas regionais








Olá, gente!                                             

🔴 AO VIVO!

No sábado, às 17h, temos um encontro marcado.

"Discutindo a educação modular nas regionais" é o tema do nosso bate-papo. Vamos conversar com a
Professora. Rainilza Rodrigues (Coord. Ed. Campo do Sintepp/Santarém), Professora Íris Siqueira 
(SOME/CDA) e o Prof. Valdivino Cunha ( Prof. Do SOME/Bujaru)..

Mediadora: Professora Ellen Marvão (SOME/Moju)

Transmissão pela nossa página no Facebook:  https://www.facebook.com/ellen.marvao              https://www.facebook.com/sintepp   

  
Esperamos vocês!


Professora: Ellen Marvão

sexta-feira, 8 de maio de 2020

Juruti: Seus cantos, encantos, tradições e rituais (III).






Praticas educativas desenvolvidas durante o período letivo do III módulo, no município de Juruti pelo Sistema de Organização Modular de Ensino – SOME.



A atividade pedagógica pesquisada pelos alunos pesquisadores José Wilker, Wando Pimentel, Kened, Aneilson, Salomão, Lucenildo e Waino sobre o IX Festival Folclórico de Juruti, tendo como fontes as entrevistas com a comissão organizadora do evento e informantes que participaram do mesmo. Vale ressaltar a grande contribuição desses informantes na coleta de material através das entrevistas e documentos.



Segundo os informantes, no dia 26 de julho de 1994 foi realizado na quadra de esporte “Hudison Rabelo” no município o IX Festival Folclórico de Juruti, sendo uma realização da Prefeitura Municipal de Juruti, com a coordenação da Secretaria de educação e cultura, tendo na coordenação a Senhora Lucia Pantoja e José Roberto Azevedo André, com a participação efetiva dos comunitários e de comunidades adjacentes.



Entre os grupos destaques que participaram do maravilhoso evento, tinha os bumbas, como o Garantido da Vila de Tabatinga, com um número significante aproximado de 80 brincantes, escolhendo sua apresentação com 100% cultural e cômica, chamando atenção dos presentes, que ficaram admirados com as inovações e criatividades dos integrantes. Outro grupo participante do Festival foi o Boi Bumba Atencioso, da comunidade do Miri, com aproximadamente60 brincantes que não deixou a desejar em sua apresentação, com humildade e criatividade. O Boi Campineiro do município foi outro grupo a se apresentar, com um número significativo de 160 brincantes, apresentou a importância da Amazônia no meio cultural, se destacando com a evolução do tema, de seus integrantes, pela habilidade e magia corporal. Muito interessante, mesmo! Segundo fontes que participaram das entrevistas a disputa e concorrência aconteceram apenas entre os Bumba Atencioso e Garantido ao titulo de campeão de interiorano do Festival, enquanto o Campineiro teve uma participação especial, o que foi uma novidade naquele momento.



No Festival contou também com a participação especial do grupo folclórico Ou Vai ou Racha Mirim da sede do município, que proporcionou ao público um verdadeiro show, explorando o tema Dança Brasileira: Quadrilha, Timbalada, Dança de Chapéu, Xote, Carimbó e o frevo brasileiro, emocionando o público naquele momento em que seus 160 brincantes adentraram na quadra homenageando o ídolo maior do automobilismo brasileiro Airton Senna, relacionando com o devido acidente e triste ocorrido na dia primeiro de maio do mesmo ano. Trajando estilo característico de quadrilha roceira, o grupo Ou Vai ou Racha Mirim deu show de danças e irreverências.



Importante o registro dessas atividades, tendo como fontes principais os temas História, Memória e Oralidade para construção de dados utilizados e levantados pelos alunos pesquisadores sob nossa orientação.

quinta-feira, 7 de maio de 2020

A Luta Sindical nos 40 anos do SOME









Olá, gente!                                           

🔴 AO VIVO!

No sábado, às 17h, temos um encontro marcado.

"A Luta Sindical nos 40 Anos do Sistema de Organização Modular de Ensino (SOME) no Pará" é o tema do nosso bate-papo. Vamos conversar com o Prof. Thiago Barbosa (Coord. do Sintepp), Prof. Iraldo Veiga(Coord. Sintepp) e o Prof. Raimundo do Rosário (Ex Prof. Do SOME)..
Mediador: Prof. Vinicio Nascimento/SOME(Ex Coord do Sintepp).

Transmissão pela nossa página no Facebook:  https://www.facebook.com/profvinicionasc               https://www.facebook.com/sintepp   
Esperamos vocês!
Prof. Vinicio Nascimento

segunda-feira, 4 de maio de 2020

Educação no Campo da Amazônia Paraense







Nota aos leitores


No dia 15 de abril, um dos maiores sistemas de ensino do Brasil completou 40 anos de existência, luta e construção educacional. Trata-se do Sistema de Organização Modular de Ensino (SOME), uma política pública de inclusão educacional criada em 1980 no Pará e que serviu de bases para outros projetos ultrapassando a fronteira paraense. Nesse sistema é o professor, que em formato de rodízio, vai até onde aluno mora. Foi criado pra atender os estudantes do interior paraense que estavam excluídos da educação, por não ter escola no seu lugar de origem. O modular veio para atender os alunos do ensino médio e depois também o ensino fundamental, atendendo cerca de 30 mil alunos em mais de 90 municípios do interior do Pará.



É o tema do novo livro do escritor paraense e professor do SOME Arodinei Gaia a ser lançado nesse ano de 2020.



SOME: educação no campo da Amazônia Paraense, conta a trajetória histórica dessa importante política educacional paraense e as lutas pela sua defesa que culminou com a aprovação da Lei 7806/14.



As experiências vividas, as adversidades, as dificuldades, a viagem pelo "desconhecido" e o prazer de ser moduleiro são elementos que enriquecem a obra. A obra ainda faz um resgate histórico da implantação do Sistema Modular no município de Cametá, terra do autor.



O livro seria lançado em abril de 2020, mas por conta da pandemia foi adiado para outra data assim que a vida voltar ao normal.



A obra, em suas 208 páginas,  com rico acervo fotográfico e documental, é um importante elemento de pesquisa para os estudiosos da temática da educação capesina, mas com uma leitura saborosa para quem quer apenas conhecer o brioso interior paraense e a atividade pedagógica do docente moduleiro e a realidade do discente interiorano.

sexta-feira, 1 de maio de 2020

Juruti: Seus cantos, encantos, tradições e rituais (II)






Outra atividade pedagógica voltada para a cultura local realizada no município de Juruti, em 2001, com os alunos  matriculados no primeiro ano médio do Sistema de Organização Modular de Ensino – SOME: Laura, Aparecida, Luciely, Cristina, Jomara, Jackison, Onielzio e Vânia apresentado em sala de aula foi sobre a gêneses da Tribo Mundurukus.




A Associação Folclórica Tribo Mundurukus teve inicio, segundo o Diretor de Arte da Tribo Munduruku, na época (2001) era bacharel em direito formado pela Universidade Federal do Pará – UFPA, o Senhor Edvander Veiga Batista. Segundo o informante tudo começou: “Era julho de 1993, precisamente no dia 04, quando um grupo de jurutienses liderados por Carmem Barroso, Adecias Batista, Edvander Veiga e Júnior Batista, resolveram lançar uma dança folclórica para concorrer ao VIII Festival Folclórico de Juruti”. E, continua: “Na época o ápice do festival era a disputa das danças folclóricas, idealizadas por diversos grupos, sendo as mais tradicionais a dança “Ou Vai ou Racha” e a dança “O Cangaço”“. “Sendo que para aquele ano a dança O Cangaço, liderado pelo artista Clemente Santos, resolveu não mais apresentar-se, vindo seus componentes a unir-se com os jovens que sonhavam e apresentar uma dança inovadora, de cunho totalmente amazônico”. E assim, “Estava, portanto formada a “união” entre as pessoas que mais tarde proporcionaria ao município a projeção regional e nacional a partir de sua riqueza cultural”.




Para o informante assim será chamada... ”Naquele momento, sabia-se que a nova dança, viria exaltar o Maravilhoso Universo Indígena, faltando apenas sua denominação”. 




E continua: “Reuniram-se então, os lideres dos grupos para escolherem o futuro nome. E como num ritual de ‘Nominação’ que acontece em diversas tribos amazônicas, por ocasião do batismo da criança, escolheram como seria chamada a recém-criada Dança Jurutiense ‘Mundurukus’...’Mundurukus’...Assim será chamada.. – Alguém falou. Não importa mencionar quem havia falado, o que importava é que a nova dança, já tinha um nome e era Mundurukus. Que segundo os jovens lideres viria a homenagear a tribo Munduruku que por volta de 1818, sob a liderança do Padre Jesuíta Manoel de Sanches e Brito, deu origem ao núcleo de povoamento, que futuramente seria o embrião de nossa amada Juruti”.




Muito interessante o que o informante continua abordando: “Louvável foi à escolha da denominação, pois através da diversão, os brincantes da dança Mundurukus, homenageariam os seus ancestrais, que num passado glorioso, deram origem ao município”. Nascia assim, a marca “Tribo Mundurukus de Juruti”.




Sendo os primeiros passos rumo à realidade o informante continua: “Envolvidos na nova onda do momento aproximadamente 60 brincantes, começaram a ensaiar primeiramente na quadra de esportes da Paróquia e  no perímetro compreendido entre as ruas Joaquim Gomes do Amaral e Marechal Rondon, da Rua Lauro Sodré. Já na última semana que antecedia o Festival, os ensaios foram realizados na quadra de esportes “Hudson Rabelo”, local onde acontecia a disputa de danças. Ao som de um pequeno gravador, os jovens ensaiavam atentos as coreografias tribais idealizadas por Clemente Santos, Jim Jones Batista, Edvander Batista e outros. A música escolhida para reger a nova dança foi a toada indígena “Yamãnd” de Ronaldo Barboza, compositor do Boi Caprichoso, de Parintins. A temática escolhida para a dança desenvolver-se foi Mundurukus 93: “A Ira dos Deuses”. Em linhas gerais seria o desenrolar de uma revolta dos deuses contra a Tribo Munduruku, que encontrava-se em guerra interna, ocasionadora assim da fúria dos deuses da mitologia indígena, tais quais, Tupã, Jaci, Guaraci, entre outros”. Sendo que a primeira indumentária utilizada pelos brincantes: ”Assim que terminava o ensaio, os brincantes saiam aos arredores da cidade em busca de bambu (Palmeira naturalmente pintada de verde e amarelo) e sementes de seringa para confeccionar a indumentária que iam se apresentar no Festival. Basicamente as peças eram: saiote de bambu cortado em pequenas partes, adornados com penas coloridas, Uma gargantilha longa no mesmo estilo, acompanhado de cocar”.   




Da imaginação, o sonho de um artista: “Fazer uma pequena quadra municipal, transforma-se em um palco a céu aberto, para apresentar um espetáculo que Juruti jamais viu..Este era o sonho dos lideres do grupo Mundurukus. E foi assim que os coordenadores imaginaram um grande templo tribal, onde aconteceria a ‘Ira dos deuses’”. 




Quem eram aqueles guerreiros: “Na antiga residência de Adecias Batista, os componentes da Tribo, no início da noite de 31 de julho, começaram a transforma-se em guerreiras e guerreiros Mundurukus. Pareciam que iam para guerra, pintados com cores enegrecidas, muitos arcos e flechas, adornados de cocares, colares e belamente vestidos com as indumentárias de bambu. Em poucas horas não se reconhecia mais ninguém, pareciam que haviam perdido a identidade, esquecido sua civilidade e seus costumes. O visual era inesquecível, parecíamos estar diante dos primitivos e temidos Índios Mundurukus”.




Da pajelança sonho realizado: “Das tabas guerreiras runfa tamurá/Aldeias inteiras, um canto no ar”. Assim era o canto, que ecoava na quadra municipal na noite do dia 31 de julho, revelando como num passe de mágica, em passos totalmente tribais a Tribo Munduruku, que freneticamente fez o povo das arquibancadas delirarem, com a nova dança. Na beleza da porta estandarte, que sustentava com orgulho, um humilde pano pintado com as frases, “Munduruku: Em a Ira dos Deuses”, na beleza das fantasias dos destaques especiais, no som que ecoava no bater dos pés do Mundurukus, estava portanto dado início a primeira apresentação da tribo, que completou-se com a chegada do pajé e a aparição de deus-tupã, representando todos os deuses, no alto de uma alegoria representando o “templo dos deuses”. Entre fogos, danças, emoção, o pajé desenvolveu sua pajelança apaziguando a cólera dos deuses, transformando desunião em paz e festança na aldeia Munduruku. No resultado final a Tribo Munduruku que empatou com a dança “Ou Vai Ou Racha”. Isso foi importante, já que: “Mas muito mais importante que isso é que Juruti, havia ganhado uma inovadora, cheia de garra e emoção. Dança esta que mais tarde veio revolucionar a cultura local. Com bastante criatividade, originalidade e a cima de tudo humildade”.