Em meado da década de 90, foi executado o Projeto Alternativo
Arte Livre Maguari – PALMA, no conjunto residencial “Jardim Maguari”, sendo
coordenado pela Associação dos Moradores do Conjunto Maguari – UMOJAM.
Em sua apresentação enfatiza que
nos primeiros anos da década de 80, dava-se início a entrega das chaves das
casas do Conjunto “Jardim Maguari”, localizado no Km 09, da Rodovia Augusto
Montenegro. Este audacioso empreendimento imobiliário foi projetado distante do
centro de Belém, afastado dos bairros populosos e consequentemente de seus
problemas sociais. Pioneiro em residenciais do seu porte e da sua estrutura no
município de Belém foi arquitetado para ser um residencial típico de uma “classe
média” em ascensão, algo como uma cidadela que concentrasse num mesmo espaço
físico-geográfico, estimado em mais de quatro quilômetros quadrados de
conforto, comodidade, tranquilidade e segurança.
Construído em duas etapas pelas
financeiras “Socilar” e “Vivenda”, atualmente ambas em liquidação. Este
grandioso projeto nunca chegou a ser concluído. Pensado para acomodar 2.500
casas, diferenciadas em cinco padrões A, B, C D e, sendo os tipos A e B no
padrão colonial, todas com amplos terrenos, distribuídas em trinta e três
espaçosas alamedas e duas avenidas centrais, com “áreas livres” para projetos
de quadras poliesportivas, mercado, escola, posto de saúde, praças, áreas
verdes e espaços de lazer, muito disso ficou apenas no papel.
Historicamente projetado numa
época de crise social, o “Conjunto Jardim Maguari”, cresce justamente com a
insatisfação popular pelo “lento e gradual” processo de “redemocratização”
político no Brasil, promovido pela ditadura militar. Esta insatisfação é demonstrada
pela indignação popular na luta por justiças política, econômica e social. A construção
do “Conjunto Jardim Maguari” que deveria ser destacada pela grandiosidade do
empreendimento, foi marcada pela onda do movimento popular que assolava as
principais capitais do Brasil. Desencadeando assim um processo de “ocupação”
das casas do Conjunto em construção, caracterizado neste momento histórico pela
bandeira popular da “Luta pelo Direito de Morar” e pela “reforma urbana”.
A partir desse momento o projeto
de construção residencial “Jardim Maguari” muda de rota e transforma-se num
palco de conflitos entre os ocupantes das casas e as financeiras Vivendas e
Socilar, representadas pela Policia Militar. Neste período, é fundada em 07 de
dezembro de 1983 a União dos Moradores do Jardim Maguari – UMOJAM, associação
dos moradores que no início da sua fundação caracterizou-se pela luta de
transporte, da escola e energia, mas destacando-se principalmente na “Luta pela
Moradia”. Em virtude disso, além das
ocupações das casas do residencial, muitas “áreas livres” que eram destinadas a
equipamentos comunitários e de lazer foram também ocupadas e as áreas que ainda
hoje são preservadas livres não estão sendo utilizadas na forma de lazer
comunitário como era o seu destino original.
Atualmente com mais de 3.500
famílias, algo em torno de 18 mil pessoas, se procurarmos as formas de lazer infanto-juvenil
que são desenvolvidas no Conjunto Maguari, principalmente no horário noturno,
veremos que a mesma é inexistente. A falta de espaços comunitários para a
prática saudável do lazer leva grande número de adolescentes e jovens ao
consumo de drogas, principalmente o álcool. Outros associam uma forma de “lazer
perigoso” com a necessidade de autoafirmação pessoal, envolvendo-se em
violência e marginalidade social.
Com a problemática da ocupação
que assola, até hoje, a vida dos moradores do Conjunto Maguari, o mesmo
tornou-se mais um dos palcos de concentração de problemas sociais das grandes
cidades, tais como: faltam de saneamento adequado, dificuldades econômicas,
ocasionando o desemprego e a falta de oportunidades educacionais e culturais,
essenciais ao desenvolvimento de qualquer sociedade. Tais carências estruturais
proporcionam um alto índice de violência por parte da crescente concentração de
jovens, que sem perspectivas básicas educacionais, importantes para formação sociocultural
de seu caráter, começam a prática quase que autodestrutiva atuando,
principalmente em “gangs” de pichadores e de rua, que com frequência digladiam-se
nas noites no Conjunto.
Percebendo a necessidade de
alternativas nas áreas de lazer, esporte e atividades culturais e, ainda,
observando possibilidades de construção de novos empreendimentos nos terrenos
que foram preservados, ou seja, não ocupados e percebendo a escola como palco
de novos projetos extraclasses e de envolvimento comunitário, a Associação dos
Moradores do Conjunto Maguari – UMOJAM, gestão “Alternativa Popular”, teve a
iniciativa de elaborar o Projeto Alternativo Arte Livre Maguari – PALMA,
visando associar arte, lazer, esporte e educação popular ao cotidiano dos
moradores do Conjunto Maguari, buscando, de sua dessa forma, melhorar a
qualidade de vida de sua comunidade associado à construção da cidadania.
Na justificativa, o Projeto
Alternativo Arte Livre Maguari – PALMA é construído a partir da análise e
reflexão acerca das relações sociais que se reproduzem na sociedade
capitalista. Este projeto nasce como uma forma alternativa de combater ao nível
crescente de violência entre jovem do Conjunto Maguari. O PALMA nasce também
como alternativa de combate a exclusão social de jovens e crianças que se veem obrigados
a procurar espaços da rua para prostituírem-se ou nela viverem, ocasionados
pela falta de políticas públicas que lhes possibilitem condições de desenvolver
suas potencialidades, quer seja através de uma política educacional voltada à
sua realidade, ou pela ausência de uma política de geração de emprego e renda a
seus familiares.
Os conflitos familiares
traduzidos pela relação autoritária, hierárquica e discriminatória entre pais e
filhos, o abandono, descaso e banalização de princípios de solidariedade, igualdade,
amizade e cooperação, promovidos pela grande mídia, também, são fatores
causadores de malefícios sociais aos jovens.
É a partir desta análise que a Associação dos Moradores do Conjunto Maguari - UMOJAM, propõe a implantação e implementação do Projeto Alternativo Livre Maguari -PALMA, que obedecerá a um processo de criação de grupos de teatro, música, esporte, dança e artes plásticas, envolvendo crianças, jovens, adultos e idosos que desenvolverão atividades artísticas, esportivas e culturais através de oficinas, possibilitando, assim, a construção e reconstrução de práticas sociais vivenciados por homens e mulheres visando a transformação da sociedade baseada em princípios éticos e solidários.
No objetivo geral, a UMOJAM com o
PALMA, se propõe formar, a partir da arte, lazer, esporte e educação popular
pessoas com senso crítico e potencialidades de serem verdadeiros atores sociais
na construção da cidadania.