Total de visualizações de página

domingo, 22 de março de 2015

Educação no Campo: Trilhando o ensino do Sistema Modular (VII)






No dia 13 de dezembro do ano passado, foi apresentada a dissertação como requisito parcial para obtenção do título de mestrado na Universidade Estadual do Pará,  pela técnica em educação Conceição de Nazaré de Morais Brayner, com o título Sistema de Organização Modular de Ensino: um estudo avaliativo da organização do trabalho pedagógico no ensino médio do meio rural.


A referida pesquisa que na verdade foi um Estudo de Caso, teve como objeto a Escola Municipal Álvaro Varges de Araújo, que se localiza na Vila de Boa União, em Igarapé Mirim, no Estado do Pará, onde funciona o Sistema de Organização Modular de Ensino – SOME.  Modalidade de ensino, gerenciado pela Escola Sede da Secretaria de Estado de Educação - SEDUC.

Segundo a pesquisadora “O estudo fundamentou num referencial teórico na perspectiva histórico-crítica e parte da premissa de que o projeto SOME se relaciona com a educação do campo e deve buscar caminhos para esse diálogo”

 E dessa forma, como apresentou Conceição Brayner:

a) Refletir o trabalho do Sistema de Ensino Modular pontuando aspectos inerentes à gestão do projeto político-pedagógico, com base nos princípios previstos nas Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo;

b) Analisar o processo ensino-aprendizagem considerando algumas implicações que derivam dos princípios da Educação do Campo. Os sujeitos são: alunos e professores do SOME, utilizando-se de técnicas tais como: Entrevistas semiestruturadas e questionário. A pesquisa apontou para o pressuposto de que educadores e educandos devem participar da construção do Projeto Político-Pedagógico, fortalecendo a identidade da escola do campo, que se caracteriza pela sua vinculação às questões inerentes à sua realidade. Os resultados revelam a preocupação dos professores com as taxas de evasão no Sistema e a necessidade de garantir o acesso dos jovens ribeirinhos à escolarização e conclusão da educação básica, além disso, os alunos apontam para perspectivas de trabalho ou continuidade de estudos. Os relatos de professores destacam:

1-      As condições de trabalho do professor (escassez de recursos didáticos e tecnológicos, falta de acompanhamento pedagógico, etc.);
2-       
3-       A necessidade de formação continuada de professores para o trabalho com disciplinas de carência e atendimento de exigências Sociais;


4-       A importância da realização de encontros para discussões teóricas metodológicas sobre as bases curriculares do Ensino Médio e a Educação do Campo. Os alunos pontuam a expectativa de a escola ser regular, dispor de oportunidades para continuidade de estudos e alternativas de trabalho para o sustento de suas famílias.


Em sua conclusão, este estudo, como diz a pesquisadora: “foi realizada com a finalidade de investigar a gestão do trabalho pedagógico no Sistema de Organização Modular de Ensino da SEDUC/PA, considerando os princípios e procedimentos estabelecidos nas Diretrizes Operacionais das Escolas de Educação Básica no Campo (2002).


 E continua “ fundamentos que afirmam e/ou contradizem as DOEBEC na opinião de alunos e professores do Sistema. As reformas educacionais se inserem no processo de discussão do estudo, pois, demandam novas exigências para a educação e especificamente aqui para as escolas do campo. Apresentam-se no escopo, diretrizes para desempenho docente e discente, parâmetros para a gestão escolar, novas formas de atuação e amplo debate sobre as concepções que envolvem o trabalho pedagógico. São definidos novos papéis para professores e alunos, além da rotina de aulas e jornada de trabalho. As DOEBEC além de apresentar o caráter político da Educação do Campo, trouxe referências explicitando princípios e procedimentos para o trabalho pedagógico, o que implica em reflexões e análises da prática educativa e das políticas educacionais implementadas no Estado. A amplitude do trabalho pedagógico compreende, entre outros afazeres, um conjunto de atividades ligadas ao processo ensino-aprendizagem, que demandam planejamento, acompanhamento e avaliação do atendimento dos alunos. Neste caso, os professores no Sistema Modular, atuam em diferentes localidades situadas no interior do Estado e lidam com situações diversas, o que deve estimular a contextualização dos conteúdos a partir das realidades campesinas. A análise das atividades próprias do trabalho docente no SOME, entendidas nesta dissertação, como a forma de se organizar o trabalho pedagógico, permite compreender que existe distância entre o que é prescrito nas Diretrizes Operacionais para as Escolas do Campo, e o que é de fato implementado. A ausência de momentos de reunião para planejamento docente e o desconhecimento do Projeto Político-Pedagógico relatado na pesquisa por alunos e professores, provoca o distanciamento dos profissionais e comunidades com as metas estabelecidas pelo projeto, o que devia ser provisório, passou a ser constante. A condição de deslocamento dos profissionais para as localidades, impõe a realização de um trabalho solitário, o que reafirma a necessidade de desenvolver vários momentos de trabalho coletivo, compartilhando as finalidades do E.M. experiências de planejamento interdisciplinar, metodologias para combater a fragmentação do conhecimento, etc. Os professores, que trabalham em forma de circuitos, passando por várias localidades e deparam-se muitas vezes com questões estruturais da educação, tais como: evasão, distorção idade/série, materiais didáticos e conteúdos que descartam os saberes culturais, tecnologias e material insuficiente para desenvolver suas atividades de ensino e ações educativas complementares, distanciamento das discussões dos Fóruns de Educação, etc. o que pode ser um fator estimulador da exposição/imposição de uma cultura urbana aos alunos do campo”.



Para a autora da dissertação “Outro fator de preocupação se refere ao aprimoramento profissional, reduzida participação dos docentes nos cursos de formação continuada, ocasionado pela distância dos polos e questões geográficas do Estado, que dificultam o deslocamento e a comunicação para muitos profissionais nas localidades, e assim, o docente tende a se afastar e acomodar-se com as circunstâncias (item V, art.67 daLei 9394/96). O Parecer do MEC a respeito das DCNEM (2012), permite uma melhor compreensão das novas formas de atuação demandadas para o trabalho docente. Esta análise deve ser feita em confronto com as orientações contidas nos cursos deformação de professores para a Educação Básica. Essas diretrizes contêm um conjunto de competências para os professores, estabelecendo relação entre ciência, cultura, tecnologia e trabalho. Os objetivos da escola do campo não são apenas diferentes, mas antagônicos aos da empresa capitalista; e, por este motivo, não é coerente utilizar métodos inerentes ao sistema dominante (Paro, 2002). O próprio aluno, ser humano, sujeito histórico, de cuja vontade depende o ato educativo, constitui-se em mais motivo para a diferença. A respeito do que afirma Oliveira (2012): as bases teóricas socioculturais e epistemológicas da educação do campo na Amazônia, apontando as matrizes educacionais emergentes: a autonomia, o trabalho, a cultura, a eticidade, a criticidade, a relação entre os saberes e o diálogo, acredito que a escola é um espaço de aprendizagem e não o centro de transmissão de conhecimentos e há necessidade de mudar concepções a respeito dos setores populares, suas lutas e seus conflitos. Nesse sentido, acredito que os movimentos sociais têm muito a contribuir com a escola. Através de suas práticas e de seus mecanismos de resistência à barbárie, todas as forças de luta que mobilizam a sociedade têm muito a ensinar ao sistema de ensino, seja ele regular ou modular, como instrumentos no processo de construção de uma sociedade onde todos tenham direito à dignidade. A reflexão sobre o significado do trabalho pedagógico do modular, das demandas por melhorias de condições de trabalho, por parte os professores, mostra que as resistências existem e se fazem presentes, embora assumam características tais como: ausência de completa adesão, não cumprimento de carga horária, descrédito em alguns movimentos de luta, desarticulação, falta de integração da categoria como um todo, etc”.



Ela aborda que “É interessante propor na discussão que se planeje a oferta do E.M. aderindo a outras modalidades, observando a Pedagogia da Alternância, para inserir calendário, produção e metodologias de ensino que aliem teoria e prática, bem como, estudo e trabalho. A cultura amazônica deve servir de inspiração na organização do trabalho pedagógico, para não desvincular o conhecimento científico dos saberes culturais. O que é encontrado no cotidiano escolar do SOME, devido às questões estruturais do Sistema e à consciência, que os professores têm desta realidade, pode representar indicadores de intervenções necessárias à ruptura, por parte dos próprios professores, no que se refere aos fatores que os levam a esta situação. Pensar equipes de acompanhamento para monitorar as atividades do Sistema e orientar a prática docente, precisa ser prioridade para o alinhamento com os princípios previstos nas DOEBEC, pois, a falta do apoio técnico citado pelos professores, tem contribuído para o distanciamento dos compromissos assumidos pelas Esferas Governamentais com as comunidades que demandam o Sistema”.



 Conceição Brayner relata que “Este trabalho não pode ter a pretensão de esgotar o assunto, mesmo porque as relações são complexas, e sofrem os reflexos de mudanças mais amplas, que ocorrem em contexto global e nacional. As recomendações ficam como resultado de reflexões no processo da investigação:


***   Elaboração de referenciais em nível de Estado do Pará para orientar a prática educativa no E.M. do campo;


***   Projeto Político-Pedagógico do SOME a ser discutido e construído com as comunidades;


***   Maior aproximação do SOME com o Fórum Estadual de Educação do Campo;


***  Encontro Estadual do Ensino Médio para a composição de políticas de educação tanto para a cidade como para o campo;


***  Formação Continuada para os professores do Ensino Médio;


***  Formação continuada para os Técnicos que acompanham as ações pedagógicas do E.M. (incluindo cursos específicos da Educação do Campo)


***  Sistema Estadual de Avaliação e Monitoramento dos resultados educacionais da Educação Básica para definição de políticas públicas de educação”.

Um comentário: